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Rede Globo e Roberto Marinho: Duas faces de um mesmo império — Parte II
Posted by Cottidianos
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01:39
Sábado,
02 de maio
“A minha tv não se conteve
Atrevida
passou a ter vida
Olhando
pra mim.
Assistindo
a todos os meus segredos,
minhas
parcerias, dúvidas, medos,
Minha
tv não obedece.
Não
quer mais passar novela,
sonha
um dia em ser janela e não quer mais ficar no ar.
Não
quer papo com a antena nem saber
se
vale a pena ver de novo tudo que já vi”.
(Xanel no 5 - Zeca Baleiro e
Fernando Anitelli)
Ao
refletir o porquê de escrever esse texto falando sobre a Rede Globo, fico a me
lembrar dos muitos momentos, bons momentos de entretenimento que essa TV já me
proporcionou, em diversas fases da minha vida, a partir do final dos anos 70,
que foi quando conheci a televisão. Lembro-me bem do Sítio do Pica-pau Amarelo
que, todos os finais de tarde, era aguardado por mim, e por todas as crianças
da comunidade, na qual morava, no Rio Grande do Norte. Ah, como era bom viajar
naquele mundo de sonhos, fantasias e aventuras criado por Monteiro Lobato e adaptado
para a TV com grande sucesso. Lembro-me também, com saudades, de novelas de
grande sucesso como Escrava Isaura, Roque Santeiro, Tieta do Agreste e, mais
recentemente, Avenida Brasil. Isso sem falar das excelentes coberturas
jornalísticas, minisséries e demais produtos da emissora.
Quando
se fala em veículos de comunicação e principalmente, de uma das maiores redes
de televisão do mundo, fala-se, na verdade, em relações de poder. Às vezes nada
precisa ser dito, está tudo nas entrelinhas.
Por
exemplo: Roberto Marinho fez oposição à ditadura de Getúlio na década de 40. Ao
voltar ao poder no início da década de 50, agora em regime democrático, Getúlio
Vargas veta o pedido de concessão de uma rede de televisão — que já havia obtido parecer favorável da Comissão Técnica de Rádio — feita pela Rádio Globo, da qual
Roberto Marinho era presidente, o que está implícito aí, senão uma relação de
poder? Claro que Getúlio deve ter sido muito mal assessorado ao revogar esse
parecer, pois, assim como os meios de comunicação precisam dos governos, os
governos, por sua vez, também precisam dos meios de comunicação. Penso que
Getúlio só teria a ganhar se tivesse aprovado o pedido de concessão para a TV
Globo. Ele, provavelmente, deve ter se arrependido disso, mas não teve mais
como voltar atrás.
Ao
ver seu pedido negado por Getúlio, Roberto Marinho partiu para o confronto político
com ele, mais uma vez, fazendo-lhe oposição. Getúlio era um líder populista e o
povo o amava. Quando ele cometeu suicido — ou foi assinado, essa questão ainda
permanece um mistério, apesar da historiografia oficial, declarar o caso como
suicídio — em agosto de 1954, a população se voltou contra todos os veículos de
imprensa que faziam oposição a ele. Aliás, o presidente não havia contado com o
apoio dos veículos de imprensa escrita e falada, mais influentes à época de sua
volta ao poder, em 1951. A campanha de Getúlio foi feita com caminhões
equipados com altos alto falantes e impressos que divulgavam o seu plano de
governo, coisa impensável nos dias de hoje. Por parte da imprensa, havia
motivos para essa oposição, afinal, em 1937, Getúlio havia proibido a liberdade
de expressão e submetido os veículos de comunicação à censura. Para divulgar as
realizações de seu governo nesse segundo mandato, Getúlio apoiou a criação do
jornal Última Hora: Um jornal bastante moderno e inovador, idealizado
pelo jornalista Samuel Wainer.
Em
1953, a oposição a Vargas tornou-se mais acirrada, tendo em Carlos Lacerda, uma
das suas maiores expressões. Lacerda fazia uso dos microfones da Rádio Globo,
para atacar Vargas, no que era apoiado por Marinho. Em 05 de agosto de 1954,
Lacerda sofre um atentado. Os jornais, inclusive, O Globo, dão ampla repercussão ao caso. A pressão sobre o governo
aumenta. Alguns jornais acusam diretamente o presidente de ser o mandante do
atentado. Jornais como Folha de Manhã
e O Globo, preferem fazer uma
cobertura mais objetiva dos fatos, sem acusar Vargas diretamente. No dia 24 de
agosto daquele mesmo mês, as emissoras de rádio dão uma informação que abala o
país e muda os rumos da nação: Getúlio Vargas havia se suicidado. A população
se revolta contra os meios de comunicação. Automóveis das empresas de
comunicação são depredados, outros incendiados, inclusive veículos de O Globo,
apesar de o jornal ter feito uma cobertura objetiva, acabou pagando o preço
pela Rádio Globo, que era onde Lacerda fazia seus inflamados discursos contra
Vargas.
Após
a morte de Vargas, Juscelino Kubistchek assume o poder, tendo sido apoiado em
campanha por Roberto Marinho. Finalmente, em julho de 1957, Juscelino concede a
tão sonhada concessão de um canal de televisão para a Rádio Globo. Com o
decreto de concessão, publicado no dia 30 de dezembro daquele ano, pelo
Conselho Nacional de Telecomunicações, foi definitivamente concedido à TV
Globo, o canal 4 do Rio de Janeiro. Era
hora de arregaçar as mangas e tornar o sonho realidade. Para isso era preciso
levantar o capital. Para isso, Roberto Marinho, e os irmãos, recorreram ao
grupo americano Time-Life. O grupo americano via com interesse os mercados do
Brasil, Argentina e Venezuela, pois achava que esses mercados poderiam dar
lucro e eles podiam abocanhar uma parte deles.
Com
a Time-Life, Roberto Marinho firmou um acordo que lhe possibilitou um
financiamento de 6 milhões de dólares. Se isso hoje representa uma boa quantia,
imaginem há 53 anos. Era muito dinheiro. Para se ter uma ideia, a maior
emissora do país na época, a TV Tupi, havia sido fundada com um capital de 300
mil dólares.
Na
verdade, foram firmados dois acordos com a Time-Life: Um de assistência
técnica, e outro de joint venture. Joint venture é a união de duas ou mais
empresas, cujo objetivo é realizar uma atividade comum, por certo período de
tempo. Foi repassado pelo grupo americano um adiantamento financeiro a empresa
brasileira, para os primeiros investimentos no negócio, tendo como garantia
notas promissórias. Roberto Irineu Marinho, filho de Roberto Marinho, e atual
presidente do Grupo Globo, em entrevista ao jornal Valor Econômico, no dia 24
de abril, relembra esse acordo: “O
contrato de assistência técnica vigorou efetivamente. A Time-Life se
comprometeu a enviar à TV Globo, na qualidade de assessor da diretoria, pessoas
capacitadas no campo de contabilidade e finanças e assegurava também o
treinamento da equipe da TV Globo nas especialidades necessárias para a
operação técnica. Mas a parte que tinha joint venture na produção de programas
nunca se realizou. Com o dinheiro que eles tinham adiantado para isso,
compraram o prédio e cobravam aluguel do prédio. Quando a gente acabou não
formando a tal joint venture para fazer uma produtora de programas, eles
disseram: “Não? Então dá o prédio como garantia”. Aí o papai fez empréstimo
para recomprar o prédio e encerrar o contrato de assistência técnica”
Projac: centro de produções da TV Globo |
Os
olhos de Roberto Marinho eram como os olhos de uma águia: enxergam longe. Onde
todos enxergavam fracasso, ele via sucesso. Resolveu assumir um risco enorme. Arregaçou
as mangas e foi em busca do empréstimo milionário. O empréstimo foi concedido
pelo Banco Citybanc, tendo como avalista, o Banco do Estado da Guanabara (BEG).
Este último fez um levantamento de todos os bens que Roberto Marinho possuía e
hipotecou tudo. Barcos, carros, quadros, ações, imóveis, inclusive o belíssimo
casarão no Bairro do Cosme Velho que, para Marinho, possuía um inestimável
valor sentimental. A sorte estava lançada. Era tudo ou nada. Naquela arriscada
jogada, Roberto Marinho poderia ficar muito rico ou muito pobre, mesmo assim,
ele resolveu correr o risco.
Efetuar
o pagamento não foi fácil, ao contrário, as dificuldades foram gigantescas.
Quando o contrato venceu, Roberto Marinho e seus irmãos, sócios no negócio, não
tinham dinheiro suficiente para efetuar o pagamento. Evidentemente, o banco não
quis renovar o empréstimo e eles tiveram que recorrer a outro banco, para novo
empréstimo, dessa vez, o Banco Nacional. Foi o segundo teste de nervos para a
família Marinho, pois para quantia tão elevada, quase cinco milhões de dólares,
era preciso a aprovação do conselho do banco, finalmente na última hora, o
dinheiro foi liberado. O primeiro teste de nervos havia sido por ocasião da
hipoteca dos bens.
Enfim,
em uma segunda-feira, 10h45min, do dia 26 de abril de 1965, a TV Globo, canal 4
do Rio de Janeiro, com a transmissão do programa infantil Uni Duni Tê. Outros
programas destes primeiros dias eram o infantil Capitão Furacão e o telejornal
Tele Globo. Apesar de ter estreado com os melhores recursos técnicos para
época, os primeiros oitos meses de operação da emissora foram um completo
fracasso em termos financeiros. O jovem de 29 anos, chamado Walter Clark, foi
contratado para assumir a direção-geral da emissora. A partir da chegada de
Walter Clark a emissora começa um caminho de crescimento.
Veio
o ano de 1966, e com ele também vieram contrariedades. Com a emissora operando
sempre no vermelho, os irmãos e sócios de Roberto Marinho, desanimaram. Achavam
que aquele negócio de televisão era um negócio destinado ao fracasso.
Resolveram então sair da sociedade. Os
irmãos continuaram com a sociedade no jornal e na rádio, mas a televisão passou
a ser um sonho somente de Roberto Marinho.
Também
em 1966, foi aberta uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o
acordo firmado entre Roberto Marinho e a Time-Life. Os parlamentares afirmavam
que o acordo era ilegal, pois o artigo 160 da Constituição Federal proibia a
participação de capital estrangeiro na propriedade ou gestão de empresas
nacionais. O relator desta CPI foi o deputado Roberto Saturnino Braga e o
presidente, o deputado João Calmom. O parecer da CPI foi desfavorável à Globo.
A alegação era que a Time-Life estava orientando a emissora brasileira, tanto
na gerência quanto na parte intelectual. No ano seguinte, houve uma mudança na
legislação, em relação às telecomunicações, que criou restrições a
investimentos externos nessa área. Entretanto, o Consultor Geral da República,
Adroaldo Mesquita da Costa, reconheceu a legalidade do acordo entre Globo e
Time-Life. Apesar disso, Roberto Marinho, encerrou a parceria com o grupo
norte-americano, passando a ter o controle total da TV.
Curiosamente,
foi uma tragédia na cidade carioca que fez com que a Globo alavancasse a
audiência. Ainda no ano de 1966, a cidade do Rio enfrentou uma forte temporal que
causou uma das piores inundações na história da cidade. O número de mortos
naquela tragédia passou de cem, e mais de 20 mil ficaram desabrigados. A Globo,
com imagens ainda em preto e branco, passou a fazer transmissões ao vivo
daqueles tristes fatos, bem como, começava a fazer sua primeira rede de
solidariedade, arrecadando donativos para os desabrigados.
Ainda
em 1966, a Globo que começou como canal de TV local, no Rio de Janeiro, chegou
também a São Paulo, e em 1968, a Belo Horizonte, começando então a tecer sua
teia enorme de emissoras afiliadas. Em 1969, essas afiliadas ajudavam a
transmitir o primeiro telejornal em rede nacional: O Jornal Nacional, que até hoje é um dos carros-chefes da programação
da emissora.
Roberto
Marinho e Rede Globo sempre foram muito elogiados e muito criticados. Criador e
criatura sempre estiveram no centro de polêmicas. Antes de prosseguir com esse
raciocínio retorno a outro. Quando a população enfurecida voltou-se contra o
jornal O Globo, por ocasião da morte de Getúlio, Marinho ficou assustado, e por
vias das dúvidas, sempre procurou aliar-se aos governos. Aliás, Roberto Marinho
sempre foi um homem diplomático, mesmo quando fazia oposição a Getúlio, fazia-o
de forma moderada. Era também um homem de muito autocontrole. Nunca gritava com
seus funcionários, ou quem quer que fosse. Talvez tenha aprendido isso com as
dificuldades pelas quais passou na vida, ou talvez isso lhe fosse inerente ao
caráter.
Só houve uma pessoa que fez Roberto Marinho
perder a linha, digamos assim. Foi Carlos Lacerda. Enquanto os dois faziam
oposição a Getúlio, estava tudo bem. Lacerda era frequentador assíduo da Rádio
Globo e os dois se entendiam bem. Porém, quando Lacerda, que governou o Rio
entre 1960 e 1965, decidiu sair candidato à presidência da República e Roberto
Marinho não quis apoia-lo, os dois se tornaram adversários. Lacerda foi um dos
líderes da campanha promovida contra a Rede Globo, por causa do acordo com a Time-Life.
O problema é que Carlos Lacerda era um exímio orador. Seus discursos eram como
navalha afiada. Roberto Marinho, apesar de arrojado homem de comunicação, era tímido
em frente aos microfones. De um lado, estava Carlos Lacerda com seus brilhantes
discursos e, do outro, Roberto Marinho, suando para fazer, pelo menos, um
mínimo de discurso para se defender.
Retomo o raciocínio começado no penúltimo parágrafo. Por ter passado por aquela
desagradável experiência com a destruição de patrimônio, pela população
carioca, com a morte de Getúlio, Marinho passou a ser ainda mais diplomático,
tendo sido um apoiador do regime militar, que resultou na instauração da
ditadura no Brasil. Roberto Marinho tinha um medo enorme do regime comunista. Para
ele era preferível os horrores da ditadura a viver sob o regime comunista, e
sempre foi muito criticado por este apoio.
Sabemos
que, naquela época, a censura aos meios de comunicação era terrível. Só se podiam
noticiar fatos que aconteciam no Brasil, se os militares permitissem. Tudo
tinha que passar pela censura. Fatos do noticiário internacional, esses não
sofriam vetos. Tanto isso é verdade que, em 1972, o presidente Emílio
Garrastazu Médici, durante um festival no qual inaugurava a TV em cores, disse
ironicamente: “Todas as noites quando
vejo o noticiário, sinto-me feliz. Por quê? Porque no noticiário da TV Globo, o
mundo está um caos, e o Brasil está em paz”. O Presidente citou a Globo
porque a TV já influenciava a opinião pública desde seus inícios, mas a frase
valeria para qualquer veículo de comunicação brasileiro, e não para a Globo.
Porém,
como tudo na vida são relações de poder, um dia Roberto Marinho reagiu ao
regime imposto pelos militares. Quando o governo passou a interferir nas
redações dos jornais de maneira mais incisiva, Roberto Marinho foi contra. Por
causa desse posicionamento, em 1975, a novela, Roque Santeiro, foi censurada no
dia de sua estreia. Naquele dia, Roberto Marinho chamou José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho, mais conhecido como Boni, para conversar, e lhe perguntou por
que que ele estava pondo em risco os negócios da emissora. Boni falou que não
havia motivo para os militares censurarem a novela. Marinho pediu a fita com os
primeiros capítulos gravados e assistiu a ela junto com o Boni. Riram muito ao
assistir os capítulos, e Roberto Marinho compreendeu que a censura não era
contra a novela, mas contra a pessoa dele mesmo. Ele então elaborou um editorial
falando criticando o veto à novela. Foi a primeira vez que se manifestou
contrário a censura.
Um
momento controverso foi no final da década de 80, quando Fernando Collor de
Melo e Luís Inácio Lula da Silva, disputavam a primeira eleição direta para a
presidência do país desde 1960. A Globo
organizou um debate entre os dois candidatos. No dia seguinte, a edição dos
telejornais da emissora, claramente, favoreceram o candidato Collor de Melo,
que era o candidato apoiado por Roberto Marinho. Recentemente, foi apresentada,
durante o Jornal Nacional, uma série especial com os principais repórteres da
emissora relembrando os momentos jornalísticos durante os 50 anos da emissora.
William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, que comandou esta série,
referiu-se ao fato, como sendo “um erro de edição”, opinião das qual também
partilham os filhos de Roberto Marinho.
A
Globo também cometeu erros históricos, ao ignorar o início da campanha pela
abertura democrática, chamada Diretas Já.
Era início dos anos 80. O país iniciava uma abertura lenta e gradual para o
sistema democrático. A população invadiu as ruas do país pedindo a volta da
liberdade, a volta da democracia, a volta das eleições diretas. No dia 25 de
janeiro de 1984, dia do aniversário de São Paulo, cerca de 300 mil pessoas se
reuniram na Praça da Sé, na cidade de São Paulo, em um comício no qual pediam eleições
diretas. Todos os outros veículos de comunicação deram ampla cobertura ao
evento. O jornalismo da Globo simplesmente ignorou o fato. O Jornal Nacional
até exibiu imagens da multidão na Praça da Sé, dizendo, entretanto que a
multidão estava ali reunida para comemorar os 430 anos da cidade. Era isso, mas
não era só isso. Outras manifestações em prol das eleições diretas, que
ocorriam por todo o país, também foram ignoradas pela emissora. A Globo só veio
a cobrir a abertura democrática quando ela já era um fato irreversível. Esse
foi um erro que deixou marcas profundas no bom jornalismo da emissora.
Na
verdade, Roberto Marinho tinha medo de que, durante as manifestações pelas
eleições diretas, pudesse haver alguma possibilidade de instauração do regime
comunista. Foi preciso muita conversar para convencer Roberto Marinho a não
ficar de fora daquele importante momento político que o país atravessava. “O Dr. Roberto, nesse momento das Diretas Já,
eu o Armando Nogueira e a Alice Maria, tentamos convencê-lo a entrar no
processo, coisa que só fói possível depois, graças ao Roberto Irineu Marinho,
que convenceu o Dr. Roberto que iria montar um controle na sala dele, onde, se
tivesse alguma coisa, que fosse diferente daquilo que a gente imaginava, que
fugisse do escopo de uma campanha de redemocratização, nós cortaríamos, mas
enquanto fosse uma campanha para trazer a liberdade para o país, nós
continuaríamos com o jornalismo no ar”,
afirma Boni, no documentário Roberto
Marinho – O senhor do seu tempo. Boni deixou o cargo de vice-presidente de
Operações, no fim de 1998, para se dedicar
projetos pessoais.
O
fato é que, entre erros e acertos, a TV Globo tornou-se uma das mais poderosas
TVs do planeta, sempre imprimindo aos seus produtos, um excelente padrão de
qualidade.
Quando
perguntado, pelo Valor Econômico, sobre a que fatos creditava o crescimento da
Globo, Roberto Irineu, filho de Roberto Marinho, assim respondeu: “A TV Globo cresceu apoiada em pilares:
excelência técnica, talento criativo e profunda sintonia com a sociedade
brasileira. Inovou em toda tecnologia de gravação e transmissão, culminando na
criação do Projac, maior conjunto de estúdios televisivos das Américas. Foi
pioneira na transmissão de programação nacional por satélite e, em 1969,
colocou no ar o “Jornal Nacional”, primeiro telejornal de rede do país.
Implantou a grade de programação horizontal, com conteúdos locais e nacionais
combinados em rede. Criou novos formatos, inventou a interatividade televisiva
antes mesmo de surgirem as tecnologias digitais (“Você Decide” é um exemplo).
Esteve sempre profundamente sintonizada com a alma brasileira, tanto no
telejornalismo como na teledramaturgia. Coberturas jornalísticas e narrativas
de ficção ficaram impregnadas na memória afetiva dos brasileiros durante os
últimos 50 anos, campanhas de merchandising social mobilizaram a sociedade com
resultados surpreendentes avaliados por diversas instituições internacionais.
Foi isso que permitiu a consolidação do que ficou conhecido como “Padrão Globo
de Qualidade”.
Depois
de viver intensamente, Roberto Marinho, finalmente descansou, no dia 06 de
agosto de 2003 aos 98 anos. O jornalista e empresário do ramo das comunicações
morreu na UTI do Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, vítima de um edema
pulmonar. Foi sepultado no Cemitério São João Batista, no Rio.
Penso
que Roberto Marinho voou tão alto, não apenas pelo fato de ser um excelente
jornalista e um excelente empresário, mas porque seu melhor dom era conhecer
bem as pessoas, saber lidar com cada uma delas, talvez esse seja seu grande
segredo. Lidar com o elemento humano é mais difícil do que lidar com as
máquinas, porque dentro do ser humano, está a mais complexa de todas as
máquinas: o cérebro. “O mais interessante
da personalidade do papai, foi a capacidade que ele desenvolveu de radiografar
as pessoas, de traçar um perfil psicológico, entender como é que a pessoa
pensa, reage, quais são os defeitos, quais são as qualidades das pessoas. Papai
com meia hora de conversa, ele poderia descrever uma pessoa perfeitamente,
então quando ele escolhia alguém para fazer determinada tarefa, dificilmente
ele errava, dificilmente ele precisava fazer uma substituição no meio do
caminho de um projeto. Ele armava bem as equipes, ele sabia as pessoas em que
deveria confiar, e ele sabia cada pessoa o que poderia render, realmente, para
a empresa e para a sociedade”, diz Irineu Marinho, no documentário, Roberto Marinho – Senhor do seu tempo.
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