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Você tem sede de que?
Posted by Cottidianos
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00:27
Terça-feira,
03 de março
“Você tem fome de que? Você tem sede de que?”
Perguntam os Titãs, no refrão do hit “Comida”. Perguntas simples, porém que
escondem grande significado. Afinal de contas, se o homem é o que come, também
é o que bebe. O que o homem come e bebe pode fazer a grande diferença em sua
trajetória, podendo, inclusive, levá-lo a derrota ou ao sucesso. Comida e
bebida são dois lados de uma mesma moeda chamada vida. Saber aproveitar e bem
saborear a vida independe de ter muito ou pouco dinheiro, depende sim, de
produtos que andam em falta nas prateleiras da vida, tais como, prudência,
sabedoria e bom senso.
Ainda
assim, pelas estradas da vida, encontramos jovens perdidos, incapazes de
pensar, questionar, e recusar a taça de veneno que lhes é oferecida. Por essas
mesmas estradas, encontramos também jovens que seguem em frente, decididos, que
traçam um rumo certo, sem dele se desviar. Esses, se bebem, bebem da água da
vida, ou taças do bom vinho da sabedoria, permanecendo sempre distantes das
maléficas taças de veneno.
Nesse
texto apresento dois acontecimentos díspares: Um que nos entristece e outro que
nos inspira. Vamos ao primeiro.
Competição mortal
No
último sábado, dia 28 de fevereiro, os estudantes da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), estavam animadíssimos. Participavam de um grande evento, em
uma chácara, no bairro, Residencial Parque Granja Cecília, em Bauru, cidade do
interior paulista. Cerca de dois mil estudantes participavam da festa open bar,
batizada pelos organizadores com o nome de Inter Reps Bauru 2015. Ali estavam
reunidos estudantes em uma espécie de competição entre várias repúblicas da
cidade. Aliás, o objetivo era promover a integração entre os estudantes da
Unesp, cujas aulas, haviam começada há uma semana.
Os
cartazes de divulgação do evento anunciavam a realização de dez competições. Algumas
saudáveis, dentre elas, o cabo de guerra, truco, concurso de miss e doação de
sangue. No programa havia três outras competições destinadas a testar a
resistência dos jovens, e envolviam o consumo exagerado de álcool. Essas insensatas
competições receberam o nome de: Maratona, Beer Pong e circuito alcoólico.
No
circuito alcoólico, vencia a competição que conseguisse tomar o maior número
possível de copos de bebida alcoólica. Os jovens empolgados, querendo mostrar
aos outros que podiam mais, sorviam goles e mais goles da bebida, sem perceber,
nem questionar o mal que estavam causando a seus próprios corpos.
Humberto
Moura Fonseca, 23 anos, estudante do curso de engenharia elétrica — um dos mais
concorridos da universidade — era um dos mais animados. Ele pagou com a vida o
preço da insensata competição. O excesso
de bebida causou-lhe um coma alcoólico. Ele foi levado ao hospital pelos
organizadores das festa, mas já chegou sem vida ao hospital. O jovem era
natural da cidade de Passos, em Minas Gerais e, por causa do curso
universitário, morava na cidade Bauru. Outros seis jovens que participavam da
perigosa brincadeira, também foram levados ao hospital, sendo que três deles
continuam internados em estado grave. Ao chegar ao local, a polícia cancelou a
festa por motivo de os organizadores não terem alvará e nem autorização para a
venda de bebidas alcoólicas.
“Ao
chegarmos na festa, pudemos presenciar a degradação dos estudantes, muitos
bêbados”, disse o tenente Osnei Rodrigues Cesetti, em entrevista à imprensa.
A vitória do esforço e da persistência
O
bom exemplo nos vem da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte.
O
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
(IFRN), instituição que oferece aos alunos, ensino nos níveis médio, técnico-profissional
e superior, é uma das mais conceituadas na região, possuindo unidades de ensino
em várias cidades potiguares. Ingressar no IFRN é o sonho de todo estudante,
porém, não se entra pela porta da instituição, senão após vencer uma acirrada
concorrência.
Este
ano, o jovem Thompson Vitor, 15 anos, entrou pela porta do IFRN com o pé
direito. O jovem passou em primeiro lugar para o curso de Multimídia.
Até
aí, tudo bem, não fosse o fato de o jovem ter vindo de origem muito humilde,
sem ter experimentado as benesses das quais desfrutam os filhos de gente das
classes mais abastadas.
A mãe
de Thompson é uma catadora de lixo e o pai trabalha fazendo salgados para
vender. A vida difícil que levaram não os possibilitou ir na escola, além do
ensino fundamental. A família mora em uma casa muito simples e humilde, no
bairro no Paço da Pátria, na Zona Leste de Natal. O bairro não é um bairro do
qual se possa dizer “tranquilo”, pelo contrário, é detentor de altos índices de
violência. Foi nesse ambiente adverso que o jovem encontrou forças para superar
os próprios limites. “Eu me vejo como exemplo aqui nessa comunidade, porque
apesar de todas as dificuldades, de todas as tentações das drogas, eu me sobressaí
para realizar o meu sonho”, diz ele.
Para
vencer a batalha, Tomphson teve que contrariar os próprios pais, que queriam
que ele parasse de estudar para ajudar nas despesas de casa. O jovem foi
irredutível: “Eu ajudo vocês, desde que isso não atrapalhe meus estudos”. Curiosamente,
foi a mãe do jovem que instigou nos filhos a busca pelo conhecimento, ainda
quando eles eram muito pequenos. Enquanto catava lixo pelas ruas, notou que as
pessoas ricas jogavam muitos livros no lixo. Ela passou a levar para casa todos
os livros que encontrava e, com isso, ajudou a despertar nos filhos, a paixão e
o gosto pela leitura e pelos livros. “Estudar para mim não é uma obrigação, é
uma arte. Eu estudo porque é uma forma de me alimentar de conhecimento”, diz
Tomphson.
Na
maioria das vezes, uma guerra não se ganha na primeira batalha, no primeiro
confronto. Nesses casos, o guerreiro sente vontade de desistir. É necessária
uma palavra amiga, uma voz de incentivo que o ajude a continuar. Assim também
acontece com o jovem potiguar. Ele fez os testes para o IFRN, porém não
conseguiu nota suficiente para ser aprovado. Quis desistir, mas foi incentivado
pelos professores a continuar, principalmente, por Ana Lúcia, professora de
matemática.
A aprovação
de Tomphson parece ser apenas o início de um sonho, uma vez que, ao terminar o
curso no IFRN, o garoto pretende ingressar na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. O objetivo dele é chegar ao cargo de desembargador. “Eu
acredito que o mercado de trabalho hoje está muito restrito a pessoas com
qualificação. Através do IFRN, conseguirei ao mesmo tempo estudar as
disciplinas do ensino médio e me qualificar profissionalmente através do ensino
técnico. Eu pretendo concluir o curso de Multimídia, fazer a prova do Enem e
ingressar na UFRN para cursar Direito”, diz ele.
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