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Onda verde e amarela: Milhões vão às ruas contra a corrupção e contra o governo Dilma Rousseff
Posted by Cottidianos
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00:20
Segunda-feira,
16 de março
Desde
as marchas pela redemocratização não se via tanta gente nas ruas.
Gostosos
raios de sol desceram a terra neste domingo com a missão de iluminar um dia
especial. Logo pela manhã, por volta das oito e meia, já havia muito barulho de
buzinas no Largo do Rosário, no centro de Campinas. Um carro de som parado
interrompia o trânsito em um trecho da Avenida Francisco Glicério. O verde e
amarelo, as buzinas, e as cerca de oito mil pessoas que reuniam-se no local,
davam uma prévia do que seria a manifestação marcada para uma hora da tarde. De
todas as bocas se ouviam os gritos de “Fora Dilma!”. “Chega de PT!”. “Abaixo a
corrupção!”. Achei que faltou o grito contra os outros partidos também, afinal,
não são apenas os políticos do PT a ser corruptos. Para muitos outros políticos,
de muitos outros partidos, falta muito de consciência ética. Claro, o PT pode
ter intensificado a corrupção, mas não lhe atribuamos toda a culpa pelo mar de
lama no qual está mergulhada a política brasileira.
Fiquei
um pouco de tempo por ali, depois resolvi ir para casa. Afinal de contas, havia
que voltar ao local para as manifestações da tarde. O evento estava marcado para uma da tarde. Nem
consegui almoçar direito, tamanha era a expectativa. Após o quase almoço, rumei
para o local do evento. Ainda no caminho, ouvi um coro de milhares de vozes,
cantando o Hino Nacional. Uma emoção me invadiu o peito. Uma alegria também. Nos
dias anteriores tudo era expectativa. Ninguém sabia ao certo se, de fato, a
população de Campinas iria aderir aos protestos. Eu pensava que, por causa das
manifestações violentas que ocorreram em 2013, muita gente tivesse receio de
voltar às ruas. Quando ouvi ao longe aquele coro de vozes cantando o hino
pátrio, fiquei aliviado, pois tive então a certeza de que a vontade de mudar
havia vencido o medo.
Quando
cheguei em frente da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, deparei-me com os
últimos manifestantes que engrossavam a multidão de pessoas que já deixavam a
Avenida Francisco Glicério e entravam na Avenida Moraes Salles. Logo percebi
que a multidão era imensa e que eu teria grande dificuldade em alcançar os que
estavam à frente da marcha, com o trio elétrico no qual estavam os organizadores
que puxavam a multidão.
Tive
que correr quatro quadras pela rua paralela, para chegar ao pessoal que
estava á frente do movimento. Foi uma boa ideia, pois consegui acompanhar com
perfeição as palavras de ordem gritadas pelos organizadores, bem como os
discursos que eram feitos por algumas pessoas que estavam em cima do trio
elétrico. Coisa boa: Não ouvi nenhum deles levantar bandeira de partido algum. A
única bandeira que vi ser levantada, tanto pelos organizadores, quanto pelos
que seguiam a marcha, era a bandeira brasileira. Esta era segurada, enrolada no
corpo, agitada, com muito orgulho, amor e carinho. Muitas eram as bandeiras
verde, amarela, azul e branco. Pra falar a verdade, eram milhares delas. Quem
não foi para a rua, manifestava-se, a seu modo, das sacadas dos prédios, sempre
com gestos de apoio aos milhares que passavam pelas ruas e avenidas.
As
ruas são um espaço democrático. Elas são feitas para todos. Hoje elas também
eram um retrato de nosso Brasil tão diversificado. Ali estavam brancos, negros,
altos, baixos, jovens, velhos, crianças. O hap Vem pra rua era uma das trilhas
sonoras do protesto e o refrão era cantado por todos:
“É eooh, Vem pra rua,
Porque a rua é a
maior arquibancada do Brasil.
Ooh, Vem pra
rua,
Porque a rua é a
maior arquibancada do Brasil”.
A música,
composta por Henrique Ruiz Nicolau, foi criada para uma campanha publicitária
da FIAT, durante a Copa das Confederações, em 2013. Tornou-se “hino” dos
protestos, em 2013, e voltou a animar a multidão novamente e com razão, pois
ela traduz perfeitamente o sentimento de quem deseja ver as ruas ocupadas por
quem quer mudanças.
A marcha
seguia agora, pela Avenida Júlio de Mesquita, seguindo em direção ao Centro de
Convivência. Quando chegou ao local, o carro de som parou para os discursos. Antes
foi cantando, com muito respeito, quase devoção, o Hino Nacional. Em nenhum
momento falou-se que Dilma Rousseff tenha roubado alguma coisa, mas a sua
omissão é imperdoável. Esse foi o tom dos discursos.
De
lá a marcha, seguiu pela Rua General Osório, indo em direção ao Largo do
Rosário, mesmo local onde havia se iniciado. Não se conseguia enxergar o final
da marcha, de tanta gente que acompanhava a marcha.
Chegamos
ao local onde havia iniciado a marcha. No rosto de todos, havia uma mistura de
sensações e emoções. Raiva. Indignação. Orgulho de ser brasileiro. Vontade de
mudanças. Desejo de ver seus direitos de cidadão contribuinte respeitados. Um
dos palestrantes fez um discurso que se afinava com meus pensamentos e com os
pensamentos de muita gente. Fala ele que o grito contra a corrupção não valia
apenas para o PT, mas também era direcionado ao PMDB e a outros partidos.
À
noite vi uma entrevista de uma manifestante que estava na Avenida Paulista, em
São Paulo. Dizia ela: “Só estando aqui para sentir realmente a emoção de
participar dessa manifestação”. Era assim mesmo: Estar ali era uma emoção indescritível.
As
manifestações contra o governo Dilma Rousseff e contra a corrupção ocorreram em
todos os 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal. A estimativa é de que
mais de 2 milhões de pessoas tenham ido para as ruas, em mais de 160 cidades. Para
alivio de todos, no geral, todas as manifestações foram pacíficas. Estima-se
que, apenas na cidade de São Paulo, 1 milhão de pessoas tenham ido para as
ruas. Também vi, aqui em Campinas, como em outras cidades, pela TV, faixas em
favor da intervenção militar. A esses considero oportunistas, reivindicando
algo que é inconstitucional. Além do mais, temos amargas lembranças do tempo em
que os militares estiveram no poder. Fazê-los voltar ao poder seria, em minha
opinião, um retrocesso.
Manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo |
Com
certeza, as manifestações desse domingo, assustaram o Palácio do Planalto. Enquanto
o povo estava nas ruas, Dilma se reunia, em Brasília, com alguns ministros para
discutir os protestos e as atitudes a tomar depois deles. De fato, hoje à
noite, os ministros, José Eduardo Cardozo, ministro (Justiça) e Miguel Rosseto,
(Secretaria-Geral), foram escalados por Dilma para falar a imprensa sobre as
manifestações. Eles negaram que o governo esteja fragilizado, minimizaram os
protestos ao dizer que quem foi às ruas, foram apenas as pessoas que não
votaram na Dilma nas ultimas eleições. Também prometeram um pacote de medidas
para acabar com a corrupção.
Chega!
Dessas promessas nós estamos fartos delas. Sempre há esse discurso após algum
ato de protesto, e logo após as promessas são engavetadas e tudo volta ao
normal. Mas, desta vez, a onda verde e amarela pode voltar, e até com mais
força, se nenhuma providência for tomada.
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