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De volta ao paraíso
Posted by Cottidianos
on
00:36
Segunda-feira,
30 de março
“Ah! e estas fontes murmurantes
Aonde
eu mato a minha sede
E
onde a lua vem brincar
Ah!
esse Brasil lindo e trigueiro
É
o meu Brasil brasileiro”
(Aquarela do Brasil – Ary Barroso)
Já
falei para vocês uma vez que minha imaginação é um pouco rebelde, e continuo
pensando a mesma coisa. Por exemplo, na postagem de ontem, falei que postaria
uma dica de saúde e bem estar. Ao sentar-me para escrever o texto — que, na
verdade é mais uma tradução de um texto do site VOA News — essa tal de
inspiração foi me levando a mares nunca d’antes navegado, a gêneses, a origem
de tudo. As palavras foram me navegando... Me navegando... E quando dei por mim
estava no paraíso, em meio à gente nua, cujas armas eram o arco, a flecha e o tacape.
Não tive como recuar, nem voltar atrás, restando postar este texto apenas como
introdução ao assunto o qual havia prometido.
Convido-os
a me acompanhar nessa viagem ao passado, em direção a um paraíso ainda não
chamado, Brasil...
***
De
volta ao paraíso
Para os índios que ali estavam, nus na
praia, o mundo era um luxo de se viver, tão rico de aves, de peixes, de raízes,
de frutos, de flores, de sementes, que podia dar alegria de caçar, de pescar,
de plantar e colher a quanta gente aqui viesse ter. Na sua concepção sabia e
singela, a vida era dádiva de deuses bons, que lhes doaram esplendidos corpos,
bons de andar, de correr, de nadar, de dançar, de lutar. Olhos bons de ver
todas as cores, suas luzes e suas sombras. Ouvidos capazes da alegria de ouvir
vozes estridentes ou melódicas, cantos graves e agudos e toda a sorte de sons
que há. Narizes competentíssimos para cheirar e fungar catingas e odores. Bocas
magníficas de degustar comidas doces e amargas, salgadas e azedas, tirando de cada
qual o gozo que podia dar. E, sobretudo, sexos opostos e complementares, feitos
para as alegrias do amor.
O pequeno
trecho que descreve esse imenso paraíso que era o Brasil pré-descoberta, são
do mestre Darcy Ribeiro, descritas em sua clássica obra, O Povo Brasileiro.
E assim
era. Os índios esbanjavam saúde. Não conheciam doenças. Os poucos males que os
acometiam eram curados com as rezas dos pajés e com recursos da colossal farmácia
natural que cobria todo o território nacional.
Vieram
os europeus, o elemento branco, um dos participes da formação de nossa cultura,
com seu séquito de doenças e demais problemas existenciais, e tudo mudou... O paraíso
acabou e, junto com ele, seus habitantes primeiros.
Isso
decorreu de vários fatores, mas basicamente, do conflito entre sistemas de
valores diferentes. No texto, Native
American Culture (Cultura Indígena Americana), publicado no livro, Leia e Pense em Inglês, organizado
pelos editores da revista Think English!,
há uma boa analise desses conflitos. Falando entre os primeiros nativos
americanos e os colonizadores europeus, o texto diz:
O sistema de valores era diferente para
cada grupo. Os nativos estavam em sintonia com o ritmo e o espírito da
natureza. Natureza para os europeus era negócio: uma colônia de castores era um
número de peles, uma floresta, madeira para construção. Os europeus esperavam a
posse da terra e a reivindicavam. Por outro lado, os europeus consideravam os índios nômades e sem
interesse na posse da terra. Era essa visão materialista dos europeus em
relação a terra que os índios achavam repulsiva...”
Tal
como nos Estados Unidos, tal como no Brasil, tal como em todo o continente
americano. O padrão de colonização era o mesmo, uma vez que a mentalidade dos
colonizadores era a mesma. Aliás, penso que os homens de todos os tempos,
estejam eles na América, África, Ásia, Europa ou Oceania, tenham vivido eles
nos dias atuais, ou em épocas remotas, parecem ter sempre um jeito próprio de
agir próprios de sua época, que os universaliza a todos. Jeito próprio de agir
hoje intensificado e massificado pela velocidade de informação e pelo
desenvolvimento dos meios de comunicação com que foi tomada de assalto a
própria sociedade da informação.
Uma
vez extinguido o paraíso e sua gente de corpos belos e saudáveis, vieram os
hospitais, manicômios, remédios, cirurgias, problemas existenciais...
Voltando
os olhos àquele passado distante, vemos que os índios não conheciam farmácia e
viviam saudáveis... Não conheciam fast-foods e se alimentavam muitíssimo bem...
Não conheciam academias e personal treiners e ostentavam corpos esculturais... Não
faziam cirurgias plásticas e envelheciam com beleza e sabedoria... Não usavam
roupas e, “nem mesmo Salomão, em toda a
sua grandeza, jamais se vestiu como um deles”...
E
hoje? Podemos comprar de tudo e nos alimentamos mal... Fazemos cirurgias
plásticas e nunca estamos contentes com nossos corpos... Estamos sempre tomando
remédios que, por sua vez, nos fazem depender de outros remédios, formando uma
verdadeira teia que nos torna dependentes de fármacos...
E
ainda quando se fala em curas espirituais, alimentação natural, e remédios
naturais, muita gente ainda “torce a cara”, “dá de ombros”... Nem sabem que
estão rejeitando as próprias origens.
Será
que, em meio a nosso mundo ultramoderno, não encontraríamos, de vez em
quando,um tempinho para entrarmos na máquina do tempo, e viajar de volta ao
paraíso, para ver se lá aprendemos a ser novamente “natural”?
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