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A esperança que nasce das sementes
Posted by Cottidianos
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22:56
Quinta-feira, 02 de fevereiro
A manhã de terça-feira (31) estava
propicia ao plantio de árvores: sol brilhando no céu, buracos escavados, pás à
postos esperando o momento de jogar para dentro dos buracos a abençoada terra.
A manhã estava propicia ao plantio de árvores assim como um coração esperançoso
é solo propício ao plantio de sonhos.
Para crescerem ambos vigorosos, plantas
e sonhos, não basta apenas que se plante mudas, é necessário, acima de tudo,
que se cuide das que foram plantadas, regando, adubando, podando.
Transpondo essas imagens para o campo
metafórico, pode-se dizer ser necessário que, no coração de nosso país, se
plante, novamente, as sementes do sonho. Sementes essas que um dia já foram
plantadas, mas que por falta de cuidado de nossa classe política, e da parcela
da população que os elegeram, secaram, murcharam, mirraram.
E nessa luta para que se faça os campos
do Brasil florescerem em flores e frutos da educação, prosperidade, saúde,
cultura, e segurança, não basta apenas o esforço de uma classe, é necessário,
mais que tudo, e acima de tudo, a união de todas as classes, de todas as áreas
da sociedade, e do esforço de cada coração brasileiro.
Nessa luta, ganha papel de destaque as
empresas e instituições públicas e privadas. Pois se tem as que mancham e
envergonham a nossa bandeira, há também aquelas que se empenha para que a ética
e a moralidade sejam reestabelecidas em nossa terra.
Nesse cenário ganham papel de destaque
instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil, representada nesse texto,
pela Subseção de Campinas, a Prefeitura Municipal de Campinas, e empresas como
a MRV Engenharia.
Se, na sociedade, há uma luta pela
moralidade a vencer, não há que se esquecer das políticas e iniciativas
públicas de melhoramento do meio ambiente, pois o que seríamos nós sem um meio
ambiente bem cuidado. Tirando as flores de um campo e plantando-as em outro, as
coisas se tornam como diz o apóstolo Paulo, no capítulo 13, da I Carta aos
Coríntios, versículo primeiro, na qual ele diz sabiamente: “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens
e dos anjos, e não tivesse o amor, seria como sino ruidoso, ou címbalo
estridente”.
Pois assim também é com uma sociedade
que não dá o devido o valor às questões climáticas e de meio ambiente: torna-se
tal qual homem no coração do qual lhe falta o amor e a misericórdia, e ele
passa pela vida apenas como sino ruidoso, sem tocar nenhuma música que seja
agradável aos ouvidos.
Enquanto se faziam os preparativos para
o plantio das 65 árvores nativas cujas mudas — que não demorarão a se tornarem
árvores frondosas — nas dependências da OAB-Campinas, este blog conversou com
Marcos Roberto Boni, advogado atuante na área ambiental, e Diretor do
Departamento do Verde e do Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura Municipal
de Campinas.
O clima era o que deveria dominar o
cenário brasileiro: de empolgação, alegria, e esperança. A conversa aconteceu
embaixo de um solitário, mas frondoso, e frutífero abacateiro, que já havia
antes no local, e que foi aproveitado por ocasião da construção da Casa da
Advocacia de Campinas. Conversar sobre a questão ambiental, embaixo de uma
abacateiro carregado de frutos, tem um quê de poético, e, ao mesmo tempo de
simbólico. De poético porque a natureza, por si mesma, respira poesia, e
simbólico, porque a fartura é aquilo que almejamos para o nosso país, seja nos
campos da luta ambiental, ou
nos campos social e econômico.
Marcos Boni traz desde pequeno essa
vocação que o envolve na luta por uma cidade mais arborizada, bem como na luta
pelo equilíbrio ambiental. Isso desde os tempos dos bancos das primeiras séries
escolares, depois na faculdade, e, posteriormente, na sua vivência como
advogado.
Na entrevista abaixo ele fala dessa sua
paixão pela causa ambiental, de como nasceu essa paixão, do Banco de Áreas
Verdes da Prefeitura de Campinas, e de outros assuntos importantes e
pertinentes a área ambiental. Marcos Boni é Diretor do Departamento do
Verde e do Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura Municipal de Campinas.
***
As árvores trazem um equilíbrio
ecológico
Entrevista Marcos Roberto Boni
Marcos Boni |
Cottidianos - Há quanto tempo o Sr. milita na área
ambiental?
Marcos
Boni
– Sendo honesto, eu, no colégio, aqui em Campinas, chamado Externato São João,
com seis, sete anos de idade aprendi da importância de plantar árvores. Aquilo
me marcou de uma forma que, desde menino, eu pegava a mudinha de árvore que
tava nascendo perto de uma árvore e cavava um buraquinho, um pouco mais longe,
e plantava, e aquilo ali nasceu comigo.Com a faculdade, eu tive a oportunidade
de conhecer a interpretação das leis, fiz Direito na PUC (Pontifícia
Universidade Católica de Campinas), me formei em 2003 e, desde então, eu
comecei a fazer a militância como advogado, lendo as leis de arborização, e
vendo que elas não eram cumpridas. Em 2005, já inconformado com tudo o que
acontecia, entrei na Comissão de Meio Ambiente da OAB, entrei no Conselho
Municipal de Meio Ambiente de Campinas, o Comdema, e então, de forma oficial,
desde 2005. São 12 anos militando como advogado na causa ambiental, mas desde
pequeno que eu tenho essa paixão, esse vínculo com o plantio de árvores.
Cottidianos – Voltando ao colégio, como foi que o colégio
lhe…
Marcos
Boni
– Era um colégio de padres, o Externato São João, o diretor lá chamava Pe.
Geraldo, que nos educava muito bem. Antes de entrar na sala de aula, a gente
tinha que estar, todos os alunos, do pré (escolar) a 8ª (série), em fila,
ouvindo ele falar, rezando, e uma das coisas que ele mais apontava era da
importância de termos árvores. Ele explicou tudo isso que a gente veio
aprendendo ao longo do tempo, que ela melhora o ciclo das chuvas, que ela evita
erosão, que ela evita enchentes, que ela proporciona alimentos para os
pássaros, e onde tem passarinho tem menos mosquito, menos pernilongo. A gente
tá enfretando, antes era dengue, dengue e chincungunha, dengue, chincungunha, e
zica, dengue, chicungunha, zica e febre amarela. É um desiquilíbrio ecológico.
As árvores, elas trazem um equilíbrio ecológico. Onde tem árvore sempre chove,
a água escorre pelas folhas e troncos, penetra no solo e alimenta o lençol
freático, garantindo água pra população, recupera as nascentes, recupera peixe,
alimento pra população. Sequestra o gás carbônico de tantos carros e ônibus
jogando toneladas de fumaça todos os dias na nossa atmosfera. São as árvores
que sequestram esse carbono, que absorvem esse carbono, e transforma em folhas,
galhos, madeira, então ele explicava isso tudo lá, e aquilo de alguma forma me
tocou, tanto que quando eu via qualquer arvorezinha, eu queria saber o que que
era, é algo inato mesmo despertado pela educação do colégio Externato São João.
Cottidianos – Como surgiu o projeto Muda Campinas?
Marcos
Boni
– Na verdade, não é só o projeto Muda Campinas, o Projeto Muda Campinas ele tá
dentro de um projeto maior que são as compensações ambientais, na esfera da
Secretaria de Meio Ambiente de Campinas. Quando alguém vai construir mais de
2.500 metros quadrados, quando alguém precisa cortar árvores em Campinas, e
precisa plantar árvores em compensação. Se ele cortar uma exótica, ele vai
plantar quinze nativas. Se ele cortar uma árvore nativa ele vai plantar vinte e
cinco árvores nativas, para cada uma cortada, e, assim, surgiu o Banco de Áreas
Verdes que coordena todo esse volume de árvores que tem que ser compensadas no
processo de licenciamento ambiental da prefeitura de Campinas. Com isso o muda
Campinas é uma das esferas que nós temos, mas o projeto principal é o Banco de
Áreas Verdes, responsável, em quatro anos, de 2013 até final de 2016, pelo
plantio de 211.134 mudas de árvores nativas em Campinas. Recuperando APPs
(Áreas de Preservação Permanente), nascentes, matas ciliares, calçadas, praças.
Cottidianos – Esse Projeto de Identificação Digital de
Árvores é criação de vocês também?
Marcos
Boni
– Isso. É uma criação nossa porque quando eu assumi a diretoria do Departamento
do Verde, do BAV (Banco de Áreas Verdes), o volume de árvores a serem plantados
é muito grande, tem compensações de cinco mil, treze mil, dezessete mil, vinte
mil mudas, como é que se controla isso. Era a festa dos picaretas. E o Brasil é
um país de picaretas. Então as pessoas plantavam um número de árvores menor do
que o que tava compromissado, plantava espécies diferentes pra plantar mudas
mais baratas. Muda de uma pitanga é mais barato que a muda de um cedro, de um
jequitibá, de um jatobá. Então o sujeito punha menos árvores, e árvores diferentes
daquelas que realmente a gente tinha que plantar. Com o QR Code, que é um
aplicativo gratuito, baixa seu aplicativo de forma gratuita no celular, o
controle fica fácil porque daí eu sei exatamente a identidade, o RG, de cada
árvore. E elas são georeferenciadas. Eu sei exatamente o ponto específico onde
ela foi plantada. Não é o ponto aproximado. É o ponto específico. Com isso, se
naquele trecho morrer alguma árvore, ou algumas, eu consigo identificar
exatamente quais foram as que morreram, quais são as que tem que ser
substituídas. E o volume também. Se a quantidade era 7.249 mudas, eu vou que
ter a relação dessas 7.249 mudas. Cada QR Code funciona como um Raio-X do
plantio, e um RG de cada árvore.
Cottidianos - Que dificuldades o Sr. encontra para implantar
essas políticas ambientais aqui na cidade de Campinas?
O grande problema, o pior problema que a gente tem, é a própria ação de
vandalismos praticado por uma parte da população, que destrói pelo simples
prazer de destruir, que joga lixo em cima, que põe fogo, que taca lixo e põe
fogo, e aí queima o plantio, que põe animais: bodes, cabras, cavalos, bois pra
pastar comendo as mudas. Então o maior problema enfrentado pelo Banco de Áreas
Verdes, pela Secretaria do Meio Ambiente, é justamente a falta de apoio da
população em respeitar aquelas áreas plantadas, não interferir, deixar que o
plantio ocorra naturalmente, que eles vão lá pra se beneficiar do ar puro, se
beneficiar dos frutos que podem ser consumidos no local, de ter uma sombra pra
ficar com a família se divertindo, mas não tão vendo esse valor. Então a
questão mais problemática é a questão do vandalismo, os atos de destruição dos
plantios que nós fazemos.
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