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Uma nova sociedade, se faz com novas atitudes
Posted by Cottidianos
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23:27
Segunda-feira,
25 de outubro
“Amanhã
Mesmo
que uns não queiram
Será
de outros que esperam
Ver
o dia raiar
Amanhã
Ódios
aplacados
Temores
abrandados
Será pleno, será pleno”
(Amanhã – Guilherme Arantes)
Em
20 de agosto de 2015, o deputado Eduardo Cunha, foi denunciado ao Supremo
Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por um
suposto envolvimento parlamentar no esquema de corrupção na Petrobrás,
investigado pela Operação Lava Jato. A denúncia, com 85 páginas, pede a
condenação do parlamentar pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. Janot afirma em sua denúncia que Cunha recebeu, entre junho de 2006 e
outubro de 2012, pelo menos 5 milhões de dólares, para viabilizar a contratação
de navios sonda da Petrobrás. Na mesma denúncia a Procuradoria informa que
foram identificadas 60 operações envolvendo lavagem de dinheiro, dentre as
quais, remessa de dinheiro ao exterior, contratos simulados de consultoria,
emissão de notas frias e transferências de dinheiro suspeitas.
Em
03 de março deste ano, já em meio aos esquentados debates sobre o impeachment,
o Supremo Tribunal Federal, por 10 votos favoráveis e nenhum contrario, aceitou
a denuncia de Rodrigo Janot, apresentada no ano passado. Com a decisão, Cunha
passou a condição de réu em ação penal no STF, em consequência dos
desdobramentos da Operação Lava Jato. Janot pediu o afastamento de Eduardo
Cunha da presidência da Câmara, mas o STF não tem data definida para julgar o
pedido. Extremamente apegado ao cargo, Cunha anunciou a jornalistas que mesmo
se tornando réu não se afastaria da presidência da casa. O peemedebista alega
que as acusações contra ele não significam condenação.
Um
dia antes dessa decisão do Supremo, a Câmara dos Deputados havia aprovado na
madrugada de quarta-feira (02) de março deste ano, a admissibilidade da
representação que pede a cassação de Eduardo Cunha. No Conselho de Ética da
Câmara, Cunha é acusado de quebra de decoro parlamentar por ter mentido aos
seus pares, durante a CPI da Petrobrás, ao dizer que não tinha contas no
exterior. A admissibilidade da representação é apenas um passo. Agora Cunha
terá que apresentar defesa e arrolar testemunhas. Da decisão, porém ainda cabem
os tais recursos que podem atravancar ainda mais o processo.
Na
orquestra dos horrores que foi a votação do prosseguimento do impeachment de
Dilma Rousseff, Cunha atuou como maestro. Tarefa na qual foi muito bem
sucedido. O processo que tramitou Câmara e que jogou nas mãos do Senado a
responsabilidade sobre o futuro de Dilma Rousseff e os destinos da nação andou
rápido como uma lebre, enquanto que o processo de cassação arrasta-se tal qual
a uma tartaruga, daquelas mais lentas possíveis.
Como
disse em outra postagem a respeito desse assunto, a oposição, e os aliados
fieis de Cunha, principalmente os deputados da bancada evangélica, venderam a
alma ao diabo. O acordo era o seguinte: o diabo (Cunha) daria um jeito de o
processo de impeachment seria votado na Câmara em tempo record, e como
recompensa ele ganharia salvo conduto pelos crimes cometidos. O capeta cumpriu
sua parte... E agora cobra seu preço, ou pelo menos, se não cobra, os aliados,
se sentem na obrigação de recompensá-lo por tamanha eficiência. E já começam a
dar sinais disso.
Na
terça-feira (19), o 1o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão
(PP-MA), anunciou que as investigações do Conselho de Ética em relação ao
deputado Eduardo Cunha sofrerão limitações. O Conselho de Ética vem se reunindo
regularmente para elaborar o parecer favorável a cassação de Cunha. Waldir
Maranhão, a decisão lida em plenário, anunciou que não podem ser anexados ao
processo, documentos e provas que não se relacionem com ao fato de Cunha ter
mentido à CPI da Petrobrás, em março de 2015, ao dizer que não tinha contas no
exterior. Waldir afirmou ainda que, caso sejam o parecer a ser elaborado pelo
relator, contenha provas que fujam da base da acusação, o processo se tornará
nulo.
Dessa
forma, acusações gravíssimas contra o presidente da casa feitas pelo Ministério
Público, e relacionadas a Lava Jato, ficariam de fora. Com isso, até mesmo
acusações apresentadas por Rodrigo Janot ao STF, também ficariam de fora.
E
as manobras dos “nobres” deputados para blindar Cunha não param por aí. Ao
contrário, desde o final do ano passado, elas têm tornado-se intensas. No final de 2015, já bem próximo ao recesso
parlamentar, o deputado Marcos Rogério, do PDT de Roraima, apresentou um
parecer favorável à admissibilidade da cassação de Cunha. Em fevereiro deste
ano, Waldir Maranhão tratou de anular o parecer de Marcos Rogério, fazendo com
isso que o processo de cassação que já é lento, voltasse à etapa zero. Com a
decisão tomada pelo 1o vice-presidente da casa, tudo leva a crer que
os deputados querem recompensar Cunha com a absolvição pela sua atuação no
processo de impeachment de Dilma.
Outra
solução possível em direção a esse plano vergonhoso dos aliados de Cunha é
tentar desqualificar a acusação no Conselho de Ética de que Cunha mentiu quando
disse que não era dono de contas não declaradas no exterior. As estratégias
desses aliados de Cunha e inimigos do Brasil é admitir que Cunha é proprietário
de contas no exterior, mas que esse dinheiro é advindo de negociações
relacionadas a exportações de carne feitas pelo deputado. O detalhe
perturbador, é que o Ministério Público brasileiro e autoridades suíças dizem ter
provas contundentes de que o parlamentar realmente tem contas no exterior.
As
autoridades suíças, que nada tem a ver com o peixe, mesmo assim, estão
preocupados com ele. Essas autoridades dizem que Eduardo Cunha e família, são
donas de duas contas no país, e que essas contas movimentaram cerca de R$ 23
milhões.
E
porque os deputados, aliados de Cunha, se esforçam tanto para que ele não seja
julgado pelo Conselho de Ética? Simplesmente, porque se ele for julgado por
aquele órgão, perderá o foro privilegiado e passara a ser julgado pela justiça
comum.
Qual
o risco de uma absolvição de Cunha pela Câmara dos deputados? Isso deixaria
para o país uma imagem altamente negativa, pois que autoridade teria o congresso
ao destitui uma presidente por crimes de responsabilidade fiscal e premia um
corrupto que comandou o processo de impeachment dela? Isso também nos deixaria
perante a comunidade internacional, a imagem de que somos um país, onde a
justiça que se faz, não é justiça de fato.
Outra
consequência possível de todo esse circo dos horrores, e pesadelo do Ministério
Público Federal, é a de que, com tantos políticos envolvidos em algum tipo de
corrupção, esses políticos façam de tudo para desintegrar a Operação Lava Jato,
ou pelo menos reduzir o campo de atuação da PF e do MP. Ora se todos os grandes
partidos foram apanhados nas redes de corrupção como nos têm feito ver a
Operação Lava Jato, é bem provável que eles queiram ver a Lava Jato morta
enterrada. A Dilma e o Lula já estavam trabalhando para isso, como nos
mostraram as gravações telefônicas divulgadas pela Lava Jato.
Essa
preocupação dos investigadores faz sentido, pois com o impeachment de Dilma, o
Brasil ficaria completamente no comando do PMDB. No Palácio do Planalto estaria
Michel Temer, na presidência da Câmara, Eduardo Cunha, e na presidência do
Senado, Renan Calheiros, os três tiveram seus nomes citados por delatores da
Lava Jato. Renan é investigado na Lava Jato e Cunha, além de investigado na
mesma operação, é réu em processo que corre no STF. A situação de Temer também
é frágil, pois com novas delações o nome dele pode ser ligado de maneira mais
contundente aos escândalos na Petrobrás.
Então
é compreensível a preocupação do Ministério Público e da Polícia Federal, pois
pode ser que haja um acordo tácito para abafar a operação, e, uma vez que,
metade dos deputados sofrem acusação de algum tipo de falcatrua, eles podem
atuar como escudos defensores de Cunha, blindando-o e livrando de pagar, perante
a lei, pelos crimes que praticou.
Já
nos tiraram tantas coisas boas, não vamos deixar que nos tirem também a
autonomia da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, que tem nos feito
perceber quão horríveis são os políticos que se escondem por trás dos belos
rostos maquiados e pelos discursos ornados dos teleprompeters.
Há
algo de muito errado no Executivo e no Legislativo brasileiros, mas de modo
mais abrangente, há algo de errado com a sociedade brasileira, pois se há tanta
mediocridade no Palácio do Planalto e no Congresso, os políticos que lá estão
não entraram naqueles recintos por um passe de mágico, muito pelo contrário,
eles receberam milhares ou milhões de votos. Você pode dizer: “Ah, mas eu não
votei nesses bandidos”. Correto, eu não votei, você não votou, mas muita gente
votou.
Acho
que o momento político no qual vivemos merece uma profunda reflexão, não apenas
sobre a nossa ação política, mas também, e principalmente, uma reflexão
interior sobre o nosso agir ético. Não podemos, em nossas consciências,
legalizar o roubo e a corrupção. Não. Políticos não tem que roubar, como é
costume se dizer “todo político rouba” “cada qual que entrar lá vai fazer a
mesma coisa”. Essa nossa atitude mental é uma atitude conformista e derrotista,
e faz parte de um campo semântico de uma sociedade que já se acostumou à falta
de ética e de caráter. Políticos tem que servir à nação, e não aos seus
próprios interesses. Eles tem que fazer a nação produzir valores econômicos e
morais, além de ter atitudes realizadoras eficientes nos campos social e econômico.
Os plenários de nossas casas legislativas não podem ser apenas balcão de negócios
onde se comercializam apoios, e se oferecem cargos em troca de favores. Não, os
balcões de nossas casas legislativas precisam ser espaços onde se discutam os
problemas da nação e sua efetiva solução.
Nós
precisamos pensar diferente hoje, se quisermos uma sociedade mais justa amanhã.
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