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Ovelhas desgarradas
Posted by Cottidianos
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00:34
Quinta-feira,
14 de abril
Li,
no site do jornal, El País Brasil, a
entrevista do uruguaio, Luis Almagro, que há menos de um ano atua como
secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dizia ele quando
perguntado sobre como via a incerteza política do Brasil “O Brasil tem instituições muito fortes que têm a capacidade para responder. Para nós o feito fundamental é que está sendo realizado
um processo de impeachment de uma presidenta [Dilma Rousseff] que não é acusada
de nada, não responde por nenhum ato ilegal. É algo que verdadeiramente nos
preocupa, sobretudo porque vemos que entre os que podem acionar o processo de
impeachment existem congressistas acusados e culpados. É o mundo ao contrário.”
Daí,
fiquei pensando: Para se compreender o tabuleiro de xadrez que é o Brasil, atual,
é preciso estar no Brasil. É uma velocidade estonteante, com que se movimentam
as torres, os bispos, os cavalos, o rei, e a rainha, e os peões, através do
tabuleiro. Se ficamos, nós brasileiros, atordoados com tantos movimentos,
imagine quem, apesar de entender bem de política, olha o jogo de fora. E assim,
entre xeque mates, jogadas regulares, irregulares, leais e desleais, confesso
que, nem nós, que estamos sobre o solo e sob o céu brasileiro, conseguimos
compreender com exatidão se haverá vencedores nos jogos, nem quais são as
regras dos jogadores.
Se,
como afirma o uruguaio, não há provas contra Dilma, sobram contra ela
evidências. Evidências de má gestão, de crime de responsabilidade fiscal, de
obstrução da justiça. Muitos afirmam em alto e bom som “a presidente Dilma é
uma mulher honesta”. Sim, é bem verdade, que até, agora não tenham surgido
provas cabais de seu envolvimento direto no esquema de corrupção. Mas, convenhamos,
Rousseff não foi conivente foi, no mínimo omissa, em todos esses escândalos que
marcaram a era PT no governo, não digo apenas no mandato dela, mas também no de
Lula. É bem verdade que ela não pode ser responsabilizada pelo que aconteceu
durante o governo de seu padrinho e antecessor, mas...
A
herança que Dilma deixará ao Brasil caso sofra impeachment é gigantesca: o
gigantesco o rombo nas contas públicas, que em fevereiro estava na casa dos R$
23,04 bilhões, o pior resultado em 15 anos; o gigantesco o prejuízo causado à
Petrobrás, que era a menina dos olhos do Brasil; a gigantesca a crise econômica,
o desemprego, e a falência de indústrias e estabelecimentos comerciais. Permitir
que a presidente continue ocupando a cadeira presidencial é como colocar um
carro sem freio para descer uma ladeira íngreme, ou seja, aventura total.
Também,
acho estranho o processo de impeachment que a presidente sofre, e olhem que
digo estranho, não digo golpe, pois está tudo dentro da mais perfeita
legalidade. E porque acho estranho? Já falei disto neste blog, mas volto ao
assunto. Quem deu o sinal o verde para deflagrar o processo de impeachment foi Eduardo
Cunha, um corrupto que goza da proteção que lhe confere o cargo de presidente
da Câmara — e de seus aliados, com certeza, tão corruptos quanto ele — para
manter-se no cargo. Com esses escudos ilegítimos, Cunha tem feito manobras mil
no sentido de atrapalhar ao máximo, o próprio processo de cassação.
Não
foi à toa que o ex-deputado Roberto Jefferson, preso e perdoado da prisão no
processo do mensalão, disse em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo que era
Eduardo Cunha que deveria conduzir o processo de impeachment, porque ele foi o
adversário à altura que Lula encontrou. Jefferson diz ainda que Lula nunca
esperou encontrar um bandido com as mesmas qualidades morais e intelectuais que
ele (Lula). E vejam que Roberto Jefferson conhece como ninguém o submundo da
política, dessa política suja que impera no Brasil.
Permitam-me
tirar um pouco os holofotes de cima da presidente Dilma Rousseff, e lançá-lo
sobre o seu algoz, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Se lermos
a biografia de Cunha apenas na superficialidade, sem pararmos para ver o homem
por trás da biografia, sem observarmos o homem que se esconde por trás da
máscara, diremos “Eis um homem santo, um homem de Deus, um homem do povo”. Ledo
engano.
Além
de deputado peemedebista, e presidente da Câmara desde fevereiro de 2015, Cunha
é economista e radialista. Além dessas qualificações, é ardoroso seguidor da
igreja neopentecostal Sarah Nossa Terra. O deputado possui programas de rádio
nos quais prega as mensagens de paz e amor, possui mais de duas centenas de domínios
na Internet, sendo que boa parte deles são dedicados às praticas religiosas. O
Jesus do evangelho passa bem longe do Jesus das pregações de Cunha. A julgar
pelas próprias palavras de Cristo: “pelo fruto se conhece a arvore”, os frutos
da árvore de Cunha estão bem corroídos pelas pragas.
No
mês de agosto do ano passado, a Procuradoria-Geral da Republica denunciou Cunha
ao Supremo Tribunal Federal pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. Contra
ele pesava a acusação de ter recebido R$ 5 milhões em propina. Cunha negou a
acusação. Após este fato muitos outros surgiram apontados provas robustas de
que o deputado havia praticado os crimes de que era acusado, e ele, irônica e
debochadamente, sempre afirmando que não era culpado de nada.
Em
03 de dezembro, o PT retirou o apoio a Cunha no
Conselho de Ética da Câmara, possibilitando a abertura do processo de cassação
de Cunha. Bastou isso para que ele aceitasse um dos pedidos de impeachment
contra a presidente que lhe haviam sido apresentados. Quando os petistas dizem
que o impeachment de Dilma é fruto de uma vingança de Cunha, eles não estão de
todo errados.
É
assim que vejo o processo de impeachment de Dilma Rousseff: Um homem com a
corda no pescoço que puxa a corda a corda envolta no pescoço de uma mulher
sobre o cadafalso.
Não
vejo inocentes na cena. Nem no homem, nem na mulher, nem nos seus julgadores,
nem nos seus acusadores, nem muito menos em seus defensores.
O
problema é que o homem com a corda no pescoço é um lobo em pele de cordeiro, e
essa gente é perigosa. Outro problema é que a mulher com a corda no pescoço
pode não ser lobo, mas está no meio deles, e como diz o ditado: “diz-me com
quem andas e eu te direi quem és”, a mulher pode ser perigosa.
E
ficam os brasileiros, como ovelhas desgarradas, olhando a tétrica cena, com
medo de serem eles os próximos a serem atacados e devorados pelos lobos com ou
sem pele de cordeiro.
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