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Reflexões de um brasileiro
Posted by Cottidianos
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23:39
Sábado,
16 de abril
Os
olhos, as lentes, e os pensamentos do Brasil e do mundo estarão voltados neste
domingo em uma só direção: Brasília, centro do poder público brasileiro.
A
Capital Federal estará dividida por um muro que separara os manifestantes pró e
contra o impeachment.
Dividido
também estará todo o país. Com a imensa maioria de sua população querendo o impeachment
da presidente. Na verdade, a presidente Dilma é apenas o alvo, pois o que o
povo brasileiro quer mesmo, é o impeachment do PT. Partido que se anunciou há
treze anos como salvador da pátria, mas que se tornou, ele próprio, pior do que
aqueles aos quais criticava, subverteu os ideais nos qual acreditava, aliou-se
aos poderosos, e virou às costas à nação. Criou programas sociais, e verdade,
mas deu o peixe, em vez de ensinar o povo a pescar. E enquanto o povo comia o
peixe, barato peixe, eles comiam caviar no palácio e bebiam vinho francês
servido em taças do mais puro cristal. Seus brindes tilintavam pelos salões da
corte, em festas milionárias, comemorando acordos espúrios com empreiteiros,
acordos esses que vinham recheados de ricas propinas para os seus bolsos, e
para os cofres de seus partidos, que por sua vez, se encarregavam de abastecer
campanhas eleitorais.
Nesta
semana, estava em uma gráfica e papelaria da cidade, esperando pela impressão
de um trabalho, quando vi uma senhora que iria imprimir uma camiseta com os
dizeres: “Lula mexeu comigo, mexeu com o Brasil”. Tive pena daquela mulher pela
ignorância que não a deixa ver a realidade tal qual ela se apresenta, e nem as
pessoas tal qual elas são. Tive raiva da ignorância. E tive pena do
ex-presidente Lula, que poderia ter construído uma biografia invejável e,
contudo, tem sido biografado pelo seu pior ângulo, jogando fora toda uma
história que poderia ser a história de um verdadeiro líder, que guiaria o
Brasil e o povo brasileiro as altas montanhas do progresso.
Também
lamento pela presidente, que está mais para teatro de marionetes que para
presidência da República. Em vez de usar a maquiagem para torná-la um pouco
mais bela, a presidente usou a maquiagem para mascarar a realidade brasileira
que surgia por entre números e dados estáticos, e apresentou aos eleitores um
Brasil belo e pujante em sua economia. Mostrou aos brasileiros um Brasil
surreal onde não haveria aumento de combustíveis, aumento das tarifas de energia
elétrica, nem desemprego. Enfim, aos brasileiros desatentos e cegos pela
ignorância, que a elegeram, a presidente mostrou um Brasil de capa de revista, como
diz o ditado “coisa para inglês ver”. Mentiu, enganou, e conseguiu se reeleger.
Mas como diz outro ditado popular: “mentira tem pernas curtas”. Logo aos
primeiros dias do segundo mandato do governo Dilma Rousseff, as promessas se
desfizeram como se desfazem os castelos de areia na beira do mar. Tal quais
estes, as promessas do governo não tinha alicerces sólidos e firmes que os
sustentassem.
Sua
popularidade despencou. O povo foi às ruas e pediu seu impeachment. Não apenas
uma, mas várias vezes. Prepotente, se achando inabalável e inatingível, o
governo fez pouco caso do grito das ruas, bem como fez pouco caso dos políticos
que a procuravam para conversar, tentando discutir com ela soluções para sair
da crise e do impasse. Dilma se fez de
muda e surda. O resultado é que, às 14 horas da tarde deste domingo (17), começa
na Câmara dos Deputados, em Brasília, a sessão que decidirá se encaminha ou não
o processo de impeachment ao senado.
É esquisito,
pois apesar de estar entre aqueles que querem o impeachment da presidente, e
que não veem tal ato democrático como golpe, não me sinto feliz por isso, nem
satisfeito, ou com qualquer sentimento desse tipo. Não vejo líderes no
horizonte capazes de reconduzir o Brasil ao caminho do progresso, e considero
essa coisa de não ter líderes sérios e comprometidos com os verdadeiros
princípios democráticos para os quais foram eleitos, uma pobreza sem tamanho. Pobre
não é o pai ao qual lhe faltam condições de desenvolvimento, pobre é o país ao
qual faltam líderes capazes de conduzir o povo e nação aos caminhos da educação,
da prosperidade, da modernidade e do desenvolvimento.
A oposição?
Que oposição não temos? Tenho até vergonha dos oposicionistas que temos. Pergunto
aos senhores, que oposição houve ao governo Lula? Da própria presidente Dilma,
que oposição houve, a não ser durante a campanha eleitoral, e nessa reta final
do impeachment? E por que a oposição não se fez mais presente? Porque não
cumpriu o seu verdadeiro papel? Ora, se estavam todos, governo, aliados e
oposição, se banhando nos rios de dinheiro que jorrava da Petrobrás e de outros
órgãos públicos, como haviam eles de reclamar de alguma coisa?
A
começar do maestro do impeachment, Eduardo Cunha, “nobre” presidente da Câmara,
réu na Operação Lava Jato, com contas milionárias na Suíça não declaradas ao fisco
do Brasil, é esse vil maestro, cuja música não é das mais agradáveis, que está
dando celeridade ao processo de impeachment. Se o Lula ainda não havia
encontrado um adversário com as mesmas qualidades morais que ele, esse
adversário surgiu na pessoa de Cunha. De uma coisa não podemos duvidar: Cunha
é, de fato, um político hábil e ardiloso.
Meu
lamento aqui também vai para essa oposição que se tornou refém de um bandido,
para conseguir atingir o seu objetivo de tirar de Dilma a cadeira presidencial.
Com uma Câmara dos Deputados com mais da metade deles envolvidos em alguma
espécie de falcatrua ou corrupção, a oposição fez uma espécie de pacto com o
diabo para queimar Dilma na fogueira das vaidades. Depois? Depois vêem o que se
faz com Eduardo Cunha, que por sua vez, enfrenta um processo de cassação.
Trazendo
à tona o impeachment de Collor, os políticos que participaram dele podiam se
orgulhar de sair na foto dos que fizeram aquele momento histórico. Se o impeachment
passar amanhã pela Câmara não vejo motivo de orgulho algum em que algum deles
saia na foto. Acresça se a isso, o fato de que não poderão evitar que Cunha
saia na foto também, pois como poderão eles expulsar da foto aquele que
comandou o espetáculo?
O
clima de alta tensão e intensa disputa. Quem vencerá essa guerra? Esperemos o
amanhecer e entardecer deste domingo, e aguardemos que a noite nos traga o
resultado desse combate.
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