0
Navegando em direção a águas seguras
Posted by Cottidianos
on
23:41
Quinta-feira,
28 de abril
“E
há muito estou alheio e quem me entende
Recebe
o resto exato e tão pequeno
É
dor, se há, tentava, já não tento
E
ao transformar em dor o que é vaidade
E
ao ter amor, se este é só orgulho
Eu
faço da mentira, liberdade
E
de qualquer quintal, faço cidade
E
insisto que é virtude o que é entulho
Baldio
é o meu terreno e meu alarde
Eu
vejo você se apaixonando outra vez
Eu
fico com a saudade e você com outro alguém”
(Os
barcos – Legião Urbana)
Quando
pensamos em reformar uma casa para que possamos viver nela com maior conforto,
logo sabemos que a tarefa vai dar trabalho. É preciso mudar coisas de lugar, é
necessário derrubar paredes, há o problemas da poeira e dos entulhos, sem
contar os gastos e desgastos que isso traz àquele que se propôs reformar.
Acho
que é isso que está acontecendo com a sociedade brasileira. Estamos nos
reformando. E por isso, talvez, estejamos sentindo tanto desconforto. Há muita
poeira no ar, cegando nossos olhos, mas também há muita lama sob os nossos pés,
e quem sabe, até uma falta de perspectiva. Reforma, como já disse, é um
processo doloroso em uma residência, imagine em uma sociedade.
Os
desmandos e atitudes viciosas para os quais estamos abrindo os olhos agora, já
existiam em nosso país há muito tempo. Se olharmos para trás, veremos que tudo
gira em torno da mesma mor: Polícia Federal investiga, Ministério Público
denúncia, manchetes de jornais estampam casos de corrupção abundantes em suas
capas. Enquanto tudo isso acontecia é como se estivéssemos apáticos. Como se
nos bastasse o pseudo conforto de nossa velha e carcomida casa.
Até
chegamos a construir no quintal dela, castelos de areia, belos castelos que
embelezavam os jardins de nossa casinha. Olhávamos, admirados para os castelos,
e por algumas vezes, até chegamos a pensar que morávamos no castelo. Por fim,
descobrimos que não tinham sido colocados alicerces sobre os castelos de nossos
jardins, e que o que vivíamos era apenas uma ilusão.
Belo
dia, sopraram ventos fortes, e derrubaram de uma vez só, nossos castelos de
areia e nossas ilusões. Após esses ventos fortes que vieram acompanhados de
impiedosas tempestades foi que descobrimos que nossa casa não era resistente,
que os seus pisos de sustentação não eram seguros, e madeira e vigas que
sustentavam o telhado estavam apodrecidos.
E foi aí que, até mesmo com certa revolta e
descontentamento percebemos que necessitávamos de uma reforma urgente. Não
sabíamos bem por onde começar. Mas a questão se tornava imperiosa. Era preciso
reformar. É preciso reformar.
E
a indignação, sadia indignação, que invade nosso peito, dá forças para as
instituições que lutam por um Brasil mais justo, como a Polícia e o Ministério
Público, para que essas instituições atuem com mais vigor no combate à
corrupção. É como se fosse a água sendo movida pela força do moinho do senso de
justiça.
Finalmente
acordamos, e percebemos que os nossos líderes políticos não nos representam, e
não adianta eles saírem de debaixo da capa protetora de um partido e irem para
debaixo de outro. Não mais os toleramos, nem a eles, nem a suas ideias
pífias, nem aos seus partidos sem compromisso com a sociedade. Na verdade nós
não os queremos lá. Não o queremos lá vai bem mais lá do que isso pode
significar. Na verdade, queremos longe de nossas casas legislativas os
corruptos e desonestos, tanto os que estão por lá, quanto os que pretendem ir
pra lá.
É
bom que a nossa classe política perceba esses sinais. Serão muito tolos se não
olharem para o exemplo do que acontece com a Dilma e com o próprio PT. Desde
2013 que o povo vai às ruas gritar, protestar, mostrar sua indignação. O
governo e seu partido pareciam não ouvir esse grito que vinha das ruas. Talvez
se achassem indestrutíveis, ou melhor, inatingíveis. E deu no que deu.
Estamos
navegando em meio a sérias crises, mas é bom que tenhamos a consciência de que
a crise tanto pode ser uma escada que nos leva ao sucesso e bem-estar, ou
também pode ser uma escada que nos precipite no abismo. Nós brasileiros estamos
no meio dessa encruzilhada. Então, porque não escolhermos a primeira opção, e
pressionar os nossos políticos a fazerem as reformas que necessitam ser feitas
para que o trem realmente ande nos trilhos. E são tantas essas reformas:
educacional, partidária, previdenciária, fiscal, financiamento de campanha
eleitoral, e tantas outras.
Aproveitemos
também para fazer uma reforma pessoal, pois é o homem que faz a sociedade. Sem
homens como seria possível haver sociedade? Tratemos de nadar contra a corrente
que nos leva para o abismo da corrupção e das facilidades baseadas no ilícito.
No início vai parecer estranho nadarmos contra a corrente, mas, passados esses
primeiros momentos perceberemos que o mar para o qual nos dirigimos é muito
mais seguro e justo. Aí já não quereremos navegando ao nosso lado, os corruptos
e corruptores, sejam eles políticos ou não.
Postar um comentário