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Brasil: É preciso arrancar o mal pela raiz
Posted by Cottidianos
on
23:23
Domingo,
10 de janeiro
“Neste Brasil corrupção
pontapé
bundão
puto
saco de mau cheiro
do
Acre ao Rio de Janeiro
Neste
país de manda-chuvas
cheio
de mãos e luvas
tem
sempre alguém se dando bem
de
São Paulo a Belém”
(Brasil Corrupção – Ana Carolina e Seu
Jorge)
Se
lhe perguntassem qual o maior problema do Brasil, atualmente? O que você
responderia? Crise econômica? Saúde? Educação? Segurança? Fuga dos investidores? Se dissesse que é
qualquer um dos itens acima, ou todos os itens acima juntos, não estaria
errado, ao contrário, estaria certo, muito certo. Mas, porém, contudo, todavia,
entretanto, não estaria apontando a causa, a raiz de todos estes problemas. E qual
a raiz de nossos problemas? Aquilo que, colocado na raiz, impede que a árvore
se desenvolva tão bela e forte como é de sua natureza? Penso que a resposta que
melhor fecharia a questão proposta acima seria: corrupção.
Pense
bem, quantas escolas poderiam ser construídas com o gigantesco desvio de
dinheiro das empresas públicas? Quantos hospitais poderiam ser construídos? Quantas
pessoas carentes poderiam ser alimentadas, amparadas? Não tenho uma estatística
pronta, mas pelo montante que tem sido roubado dos cofres públicos, certamente,
centenas, milhares, milhões de benefícios poderiam ser conquistados com todo esse
dinheiro, nosso dinheiro.
Ademais,
a corrupção tem efeito devastador sobre o desempenho econômico do país, provoca
uma crise de representação da população em relação aos seus governantes, por
exemplo, hoje, que brasileiro se sente, verdadeiramente, representado pela
classe política? A legitimidade dos governos está abalada. Temos visto também
que os altos níveis de corrupção e incapacidade de o governo de gerenciar as
contas públicas têm afastado os investidores internacionais, e sem
investimento, não há desenvolvimento econômico e social.
Esse
terrível mal que, há tempos está na base de nossas relações políticas e
empresariais, e que se fez sentir de modo mais forte no momento presente,
também tem consequências psicológicas para a sociedade, como um veneno potente,
capaz de contaminar os honestos. É preciso muita convicção e uma boa base ética
e moral para não sucumbir aos apelos de facilidades e acenos de vida fácil com
a qual a corrupção nos acena.
Temperando
todo esse indigesto prato, há, em nosso país, um forte senso de impunidade, um
completo descaso pelas leis e pelas autoridades. Tanto é que, mesmo a Operação
Lava Jato estando a pleno vapor, o esquema continuou, desafiando os poderes as
instituições públicas e a sociedade. A polícia tem feito seu trabalho, e
prendido figuras importantes, levando em conta que isso de prender poderosos é
coisa nova em nosso país, quem sabe outros não se sintam intimidados á prática
do ilícito? A nossa esperança é de que isso se torne realidade.
Assim,
quem sabe, temendo a lei e a sociedade, os políticos e empresários corruptos se
lembrem de que a missão deles é trabalhar pelo Brasil e pelo seu povo, e não
apenas para eles mesmos, aliados e familiares. Exterminando o veneno da
corrupção, certamente, teremos uma república completa, em vez de uma república
pela metade.
Abaixo,
compartilho como vocês, uma entrevista da americana, Barbara Weinstein, publica
neste domingo (10), pela Folha de São Paulo. Bárbara é especialista em estudos
sobre o Brasil, e na entrevista, feita pelo Skipe, ela de Brasil, crise política
e corrupção.
***
No
Brasil o que espanta é a certeza da impunidade, diz norte-americana
Para
a brasilianista norte-americana Barbara Weinstein, o que chama mais atenção nos
casos de corrupção brasileiros que se noticiam nos EUA é a atitude dos
envolvidos, "com a certeza da impunidade e ainda fazendo o possível para
não serem pegos e não terem de retroceder a uma situação de brasileiros
comuns".
Professora
da Universidade de Nova York, Weinstein acaba de lançar "The Color of
Modernity" (Duke University Press), em que analisa as representações de
São Paulo em dois momentos da história do século 20 –a Revolução de 1932, e o
quarto centenário da cidade, em 1954. "Nessa época, houve grande produção
de livros e de outras interpretações cujo objetivo era identificar São Paulo
com um Brasil que deu certo."
Leia,
abaixo, a entrevista que Weinstein concedeu à Folha, por Skype.
*
Folha - O que chama sua atenção sobre
a corrupção no Brasil e a atual crise política?
Barbara Weinstein - Me
escandaliza menos a questão sobre se os envolvidos nos escândalos tinham ou não
direito de fazer o que fizeram –obviamente que não tinham. O que mais me
espanta é a capacidade de atuarem dessa forma com a certeza de uma total
impunidade. Essa atitude certamente não existiria num país que, historicamente,
fosse mais igualitário.
A
desigualdade é o que permite que certas pessoas no Brasil de hoje se achem
capazes de roubar e, além disso, de se proporem a fazer de tudo para não serem
pegos ou correrem o risco de retroceder, de ficarem mais pobres ou de terem de
viver como um brasileiro comum.
Existe,
no Brasil, a combinação de duas coisas: uma ideia enraizada de que se deve fazer
o possível para conseguir obter o máximo de sua posição de privilégio e, ao
mesmo tempo, uma sociedade que não se vê capaz de colocar um freio nessa
situação.
Quando compara com os EUA, o que vê?
Os
EUA têm uma particularidade. Muita coisa coisa que acontece aqui não conta como
corrupção porque está dentro da lei, mas é moralmente errado e isso tem impacto
na situação de pessoas menos privilegiadas.
A sra. acha que o desrespeito histórico
do Brasil com a "res-publica" (coisa pública) demonstra que nossa
transformação em República foi incompleta?
Sim,
está incompleta, o que descrevi acima é um exemplo disso, o outro é o fato de
ainda estar disseminada a ideia de que se chega a um cargo público para ajudar
amigos, parentes e aliados, e não para realizar um serviço público.
Creio
que no Brasil hoje o que estamos vendo é uma atitude errada tanto dos
governantes como do setor privado. Dos dois lados está sendo uma vergonha,
portanto não creio que seja um problema de opor o desenvolvimentismo estatal ao
neoliberalismo. Não é nem isso nem aquilo, há outro problema por trás de tudo.
E
há também uma questão circunstancial, houve um crescimento muito rápido do país
nos últimos anos, antes da crise, e isso abriu espaço para que muita gente
tentasse aproveitar ao máximo essa situação de prosperidade, ao mesmo tempo em
que não existiam ainda os mecanismos para controlar esse tipo de comportamento.
O modo como se responsabiliza o
presidente, na América Latina, é parecido ao modo como se responsabiliza o
presidente nos EUA, em situações similares?
Não,
a América Latina tem uma relação mais forte de amor e ódio com o governante de
turno. Enquanto na Europa, pelo fato de boa parte dos países serem
parlamentaristas, os partidos costumam ser mais responsabilizados do que os
chefes de governo, com exceção de casos como os de Margaret Thatcher
(1925-2013).
Nos
EUA, temos uma situação híbrida, o presidente é o alvo de muitas críticas, mas
ao mesmo tempo é também bastante identificado com seu partido. Quem odeia Obama
hoje odeia também os democratas. Assim como quem odiava George Bush odiava
também o partido republicano.
A sra. acredita que a América Latina
esteja dando uma guinada à direita, com as recentes vitórias da oposição na
Argentina e na Venezuela?
Outro
dia assisti a uma conferência do intelectual mexicano Jorge Castañeda, ele
dizia exatamente isso, que vivemos uma guinada à direita, e a explicação seria
que há uma incapacidade dos governos de manter o mesmo nível de gastos sociais
de antes. Isso dá espaço, portanto, para propostas políticas menos
comprometidas com esses mesmos programas sociais.
Mas
eu faria uma ressalva, creio que estamos num contexto econômico tão difícil que
o problema não é a falta de disciplina dos governos da esquerda. Não creio que
novos governos nem de direita nem de esquerda terão facilidade para lidar com
essa situação.
Como especialista em Brasil, o que as
pessoas nos EUA perguntam, quando se referem à atual crise?
Muita
gente tem me procurado para falar da situação, o que é bom sinal, porque
significa que a ignorância sobre o Brasil, que ainda existe, diminuiu. Não me
perguntam apenas sobre o Pelé, hoje querem saber também o que está acontecendo.
Mas
de modo geral as pessoas têm um preconceito de que o Brasil é um país corrupto
e as notícias apenas confirmam esse preconceito.
Outra
coisa que sempre me perguntam é se a bronca das pessoas com Dilma tem a ver com
o fato de ela ser mulher. E se fosse um homem enfrentando a mesma situação, se
seria criticado de forma tão feroz. Perguntam se ela está mais vulnerável por
isso. Acho que é uma reação interessante, e costumo responder dizendo que esse
não é o elemento principal da crise, mas concordo com o fato de que o tom das
críticas e a linguagem forte que vem sendo usada contra ela se refere, sim, ao
fato de ela ser mulher.
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