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Rompimento da barragem de Fundão: Uma tragédia anunciada
Posted by Cottidianos
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00:04
Terça-feira,
19 de janeiro
“Desde os primórdios /Até hoje em dia
O
homem ainda faz / O que o macaco fazia
Eu
não trabalhava / Eu não sabia
Que
o homem criava / E também destruía
Homem
Primata
Capitalismo
Selvagem
Ô!Ô!Ô!
Homem
Primata
Capitalismo
Selvagem
Ô!Ô!Ô!”
(Capitalismo Selvagem - Compositores: Sérgio
Britto /
Marcelo Fromer / Nando Reis / Ciro Pessoa)
A
ambição desmedida já foi causa de ruína para muitos e já arruinou a muitos. Ela
é tão danosa que pode matar não apenas pessoas, mas também rios, lagos, oceanos
e toda a fauna e flora a eles ligados. E matando fauna e flora a ambição
desmedida traz no bojo de suas consequências, a morte da esperança do homem que
desses recursos depende. Além de ser passível de causar danos ao meio
ambientem, causa também danos à sua saúde do homem. Foi o que acontece no
rompimento da Barragem de Fundão, em Minas Gerais.
A
tragédia ambiental ocorreu no dia 05 de novembro de 2015. Naquele dia a
barragem de Fundão, localizada no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana,
Minas Gerais, se rompeu e destruiu completamente o distrito. Em lugar da
localidade, restou apenas um mar de grossa lama tóxica. A lama chegou ao Rio
Doce e seguiu por ele, devastadora, destruindo o próprio rio e toda a fauna e
flora que nele havia, prejudicando a vida de milhares de pessoas que dependiam
da pesca e da própria água do Rio para sua subsistência.
O
mar de lama de rejeitos tóxicos de minérios seguiu por milhares de quilômetros,
chegando aos rios do estado do Espírito Santo, e de lá para o mar. As empresas
responsáveis pelo empreendimento são a Vale do Rio Doce e anglo-australiana BHP
Billiton.
No
dia 13 último, a Polícia Federal indiciou a mineradora Samarco e mais sete
executivos da empresa. Um deles é o diretor-presidente da empresa, Ricardo
Vescovi. A Vale, uma das donas do empreendimento, também foi indiciada. A PF
também indiciou a consultoria VogBR. Os
indiciados se posicionam contrários ao indiciamento, como se não lhes coubesse
nenhuma responsabilidade pela tragédia, quando na verdade, quando os laudos
apontam o contrário. Por exemplo, a Vale diz que o indiciamento: “reflete um
entendimento pessoal do delegado e ocorre em um momento em que as reais causas
do acidente ainda não foram tecnicamente atestadas e são, portanto,
desconhecidas”.
Neste
domingo, o Fantástico mostrou, em reportagem exclusiva, que a Samarco, sabia
desde 2013, que havia risco de rompimento da barragem de Fundão. Segundo a
apurou a reportagem, baseada em investigação do Ministério Público Federal, o
problema começou em 2007, há 9 anos. Aquele foi o ano em que a Samarco pediu
autorização do governo de Minas Gerais para a construção da barragem. O
rompimento da barragem, em 05 de novembro do ano passado, começou na base, ou
seja, no licenciamento da obra. Na fase chamada de licença prévia, a Samarco
deixou de apresentar o projeto executivo, um projeto de fundamental importância
para o andamento da obra, que apresenta todos os detalhes técnicos sobre a
construção. Ao invés disso, a empresa apresentou apenas dados básicos do
projeto.
Mesmo
com essas informações incompletas, o projeto foi aceito pela Fundação Estadual
do Meio Ambiente. Essa falha permitiu que o processo entrasse em sua segunda
fase, sem que houvesse estudos essenciais que atestassem a segurança da
estrutura. O Fantástico mostrou o relatório feito naquela época a Geraldo
Abreu, atual Subsecretário de Regulamentação Ambiental de Minas Gerais. “È um erro grave. Se não havia Projeto
Executivo, nós temos um problema grave”, disse ele.
A licença
para o início das obras de instalação da barragem foi concedida em 15 de junho
de 2007, representando a segunda fase do processo de licenciamento. Tendo em
vista a enorme burocracia que há em nosso país, o licenciamento pedido pela
Samarco foi concedido em tempo recorde.
Ainda
segundo as investigações do MP, um uma questão que merece atenção especial é
com relação a uma pilha de material descartada de outra mina vizinha, de
propriedade da Vale. A empresa havia colocado a pilha no local dois anos antes
da construção da Barragem de Fundão. Sendo que no dia em que houve o rompimento
dessa barragem o material ainda se encontrava no local. Como o escoamento da
água da chuva sobre a estrutura poderia ter algum efeito na barragem, a Samarco
pediu a Vale que apresentasse um projeto que solucionasse o problema, mas, ao
que parece, o projeto não chegou a ser realizado.
Procurada
pelo Fantástico, a Vale respondeu, por e-mail, que a retirada do material era
de responsabilidade da Samarco, e que nunca houve contato entre a referida
pilha de material e o reservatório da barragem.
Porém,
as irregularidades, e porque não dizer, descaso, continuaram acontecendo. Em
2013, a Samarco contratou uma consultoria de engenharia para elaboração de um
estudo sobre a estrutura de segurança da barragem. O relatório apontou risco
operacional da barragem, e a equipe que o realizou, alertou a Samarco. Segundo
a empresa que fez o relatório, a VogBR, a água acumulada na base da pilha
comprometeria a segurança operacional da barragem, ao gerar pressão em um dos
diques de Fundão.
“O licenciamento todo é uma colcha de
retalhos, cheio de inconsistências, omissões, e graves equívocos, que revelam
uma ausência de política pública, voltada à proteção da sociedade”, afirma
o promotor de justiça, Carlos Eduardo Ferreira Pinto, ao Fantástico.
Ainda
há mais inconsistências e irresponsabilidades da Samarco no caso. Em depoimento
a Polícia Federal, o engenheiro, Joaquim Pimenta de Ávila, afirmou que, um ano
antes do desastre, em 15 de setembro de 2014, alertou a Samarco que havia
trincas na base da construção, que a situação era grave, e que exigia
providencias mais sérias do que as que a Samarco estava tomando. Em 2014, Ávila
atuava como consultor da Samarco e vendo, que aquele princípio de ruptura
poderia se tornar algo grave, recomendou que a barragem fosse observada
diariamente usando um aparelho, chamado Piezômetro, que é mede o nível de água
no solo.
Quando
leio as matérias sobre essa horrível tragédia ambiental, ocorrida em Minas
Gerais, ou vejo as imagens pela TV, fico me perguntando: Os responsáveis por
ela serão punidos? Ou ficarão impunes como se seus atos irresponsáveis fosse
sujeira que devesse ser empurrada para debaixo do tapete? O fato é que estamos
fartos da impunidade que mancha a nossa bandeira, e nos enche de vergonha. É
hora que punir a quem faz o mal, seja ele empresário, político, ou cidadão
comum. Pois há até há bem pouco tempo era assim, — e ainda não deixou de ser de
todo, apenas a prisão dos poderosos na Lava Jato, acena com a possibilidade de
mudança — quem ia para a cadeia era apenas negro e pobre.
No
caso de Mariana, houve um total desrespeito pela vida humana. Os empresários do
ramo de mineração envolvidos pensaram apenas e tão somente nos seus lucros e
deixaram a população a mercê da sorte. A tragédia ambiental — a maior do Brasil
— deixou um saldo de 17 mortos, 2 desaparecidos, e um incalculável prejuízo a
mãe natureza. E poderia ter sido pior, pior bem pior, se os moradores da
região, não tivesse conseguir, às pressas, procurar abrigo em lugar mais alto.
Houve
desleixo também do poder público ao deixar seguir em frente uma imitação de
projeto de construção de barragem. Haveria alguém recebido dinheiro, “propina”,
para deixar que um projeto cheio de falhas, prosseguisse? Pelo que temos visto
com os desdobramentos da Operação Lava Jato, não é de se duvidar de que isso
tenha ocorrido.
Será
que esses aproveitadores, filhos da desonestidade, tem alguma consciência
dentro de seus cérebros? Será que, ao deitar a cabeça no travesseiro, conseguem
dormir tranquilo, ao refletir sobre as terríveis consequências que o seu
egoísmo provoca?
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