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O impossível acontece
Posted by Cottidianos
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00:20
Quinta-feira,
14 de janeiro
“To dream the impossible dream
To fight the unbeatable foe
To bear with unbearable sorrow
To run where the brave dare not go”
(The Impossible Dream - Compositor:
Joe Darion e Mitch Leigh)
Enfim,
depois de poucos mais de quatro horas de atraso de voo, ele, finalmente,
desembarcou no aeroporto de Goiânia. Por ele, me refiro a Wendell Silva Lira,
27 anos. Junto com ele, desembarcou também a noiva, Ludymila Miranda. E, entre
os dois, um troféu cobiçado por jogadores do futebol do mundo inteiro, troféu,
que, a esta hora, poderia estar nas mãos do melhor deles: Leonel Messi, mas...
Quis o destino que o mais belo gol do ano de 2015, viesse parar nas mãos de um
esportista simples, jogando por uma equipe simples de Goiânia.
Wendell
foi pego de surpresa quando anunciaram seu nome como vencedor da categoria que
disputava, na festa organizada pela FIFA. Categoria na qual concorria com o
argentino, Leonel Messi, o melhor do mundo, e com o italiano, Alessandro
Florenzi. Assim como foi pego de surpresa quando saiu da área de desembarque do
aeroporto. Lá estavam os familiares, os amigos, e centenas de admiradores —
cerca de mil pessoas. Isso porque estava chovendo na hora em que Wendell
chegou, não fosse isso, muito mais gente teria ido esperá-lo.
Na
recepção, foi coberto por dezenas de microfones e sua face reluziu com a luz de
centenas de flashes saído de máquinas fotográficas e celulares ávidos pelo
registro daquele momento. E ali, no saguão do aeroporto, sob aplausos da
multidão, Wendell ergueu o troféu cobiçado pela elite do futebol mundial.
Essa
história, parecida com histórias do tipo “o impossível acontece”, começou na
noite de 11 de março de 2015.
No
Estádio Serra Dourada, em Goiânia, no Estado de Goiás, jogavam as equipes
Atlético-GO e Goianesia. Quando aos 28 minutos do primeiro tempo começou a bela
troca de passes entre Nonato e Da Matta e que acabou nos pés de Wendell, que,
numa jogada que foi um misto de bicicleta, voleio e artes marciais, mandou a
bola pra dentro da rede. Nem o público de 342 pagantes, que estava assistindo à
partida, nem os jogadores de ambas as equipes, nem os técnicos, e muitos menos
o autor do gol, imaginavam, nem em sonhos mirabolantes, que tinham acabado de
testemunhar, em primeira mão, o gol mais bonito do futebol mundial de 2015.
Lembro
que, no dia seguinte, acompanhei pelo noticiário esportivo, os comentários
sobre o lance, e lembro dos apresentadores elogiando, e muito, o gol de
Wendell. Thiago Liffer apresentava o Globo Esporte naquela ocasião, e lançou
uma campanha para que o gol do goiano concorresse ao melhor gol do ano. Porém,
senti na campanha, um tom de brincadeira, saudável brincadeira. Acho que também
a equipe do Globo Esporte não acreditava que isso pudesse se tornar realidade.
É
tanto que após o Campeonato Goiano, Wendell saiu da equipe em que atuava,
ficando cerca de três meses desempregado, — recebendo ajuda financeira de
familiares nesse meio tempo em que ficou sem emprego — somente sendo contratado
pelo Vila Nova, após a divulgação, no dia 06 de novembro do ano passado, pela Federação
Internacional de Futebol (FIFA), de que era concorrente ao prêmio Puskas, que
escolhe o gol mais bonito do ano, concorrendo com estrelas do futebol mundial.
E
assim continuou o atleta após a divulgação o anuncio de seu nome: um cara
simples, batalhador, correndo atrás dos seus sonhos, e que já havia passado
momentos muito difíceis em sua carreira como futebolista, pensando, inclusive,
em abandonar os gramados.
Enfim,
aproximava-se o dia da premiação, e o atleta já se dava por satisfeito apenas
por estar lado a lado, e conhecer pessoalmente seus heróis dos jogos de vídeos
game. É tanto que, em entrevista ao jornal El País Brasil, em 04 de dezembro de
2015, quando, ao ser perguntado pelo jornal “Como você imagina que como será o dia da premiação?” Wendell
simplesmente reponde: “Só de estar na
premiação já é um sonho realizado. Vai ser um sonho. Vou tietar muito os caras,
tirar muitas fotos, aproveitar o momento. Curtir. Quem tem a pressão de ganhar
é o Messi, que tem nome. Eu vou lá pra curtir a festa e guardar para sempre
esse momento”.
Enfim,
chegou o grande dia de fazer as malas e partir para a Suíça, participar da
grande festa “Bola de Ouro” da Fifa. E tietar os caras. No início da festa, na
noite de 11 de janeiro, todos os olhares, como era de se esperar, estavam
voltados para as grandes estrelas. Começou a premiação, Messi, ganhou, com
méritos e louvor, a quinta bola de ouro, até aí tudo normal. A surpresa veio no
momento do anúncio do vencedor do prêmio Puskas: Wendell Lira. Emocionado, o
jovem subiu ao palco e desabafou: “Eu queria deixar uma passagem bíblica,
quando Golias apareceu, todo mundo olhava pra ele e falava “ele é muito forte,
ele é muito grande, não tem como ganhar dele”, e Davi, quando olhou pra Golias,
disse “ele é muito grande, não tem como errar”. É assim nós temos que lidar com
nossos problemas diários, em nossa vida, e é assim que eu agradeço a todos”.
Merecida
vitória do Messi. Merecida vitória do Wendell. Aplausos para os dois atletas.
Em
seu pequeno discurso, Wendell colocou uma coisa importantíssima perante nosso
posicionamento na vida, em nossa caminhada diária. Tudo é uma questão de ponto
de vista: Para quem olhava de longe seria impossível a Davi vencer o gigante.
Para Davi, era muito fácil, pois tendo um gigante à sua frente, seria bem mais
fácil acertar o alvo. Ocorre que, muitas vezes, em nossa jornada, damos ouvidos
aos negativistas. Acreditamos nele e, por causa disso, tolhemos nossa
criatividade, nossas capacidades. Deixamos o sonho morrer, na maioria das
vezes, sem ter ao menos tentando.
É isso:
quando a gente acredita, o infinito abre as portas, e o impossível acontece.
Acredite você também. Mas acredite sem hesitar, porque o infinito é sensível:
Se ele perceber alguma hesitação de sua parte, as portas se fecham novamente e
você não alcança o que deseja.
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