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Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza
Posted by Cottidianos
on
00:26
Terça-feira,
05 de janeiro
Estava
a ler o romance, Terra Sonâmbula —
apontado pelos críticos como um dos melhores livros africanos do século XX —,
escrito pelo jornalista e biólogo moçambicano, Mia Couto, quando me deparei com
um parágrafo, em especial, que me chamou a atenção. Imediatamente, meu
pensamento começou a fazer outra leitura, procurar outros caminhos de
pensamento, dentro do pensamento de Mia Couto, e acabei, inevitavelmente, vindo
parar nas praias de um Brasil tão castigado pelas aves de rapina.
O trecho
ao qual me refiro fala de uma baleia na beira da praia. Mas o que tem a ver uma
baleia encalhada na beira da praia, com o atual momento da vida política
brasileira? Explico-me mais adiante. Primeiro, peço que leiam o trecho do
romance ao qual me referi:
Enquanto me preguiçava sem destino, ia
ouvindo os ditos da gente: esse Kindzu apanhou doença da baleia. Falavam da
grande baleia cujo suspiro faz o oceano encher e minguar. Minhas parecenças com
o bicho traziam lembranças do antigamente: nós, meninitos, sentados nas dunas.
Escutávamos o marmulhar das ondas, na quebra do horizonte, enquanto esperávamos
ver a baleia. Era ali o lugar dela aparecer, quando o sol se ajoelhava na
barriga do mundo. De repente, um ruído barulhoso nos arrepiava: era o bichorão
começando a chupar a água! Sorvia até o mar todo se vazar. Ouvíamos a baleia
mas não lhe víamos. Até que, certa vez, desaguou na praia um desses marmíferos,
enormão. Vinha morrer na areia. Respirava aos custos, como se puxasse o mundo
nas suas costelas. A baleia moribundava, esgoniada. O povo acorreu para lhe
tirar carnes, fatias e fatias de quilos. Ainda não morrera e já seus ossos
brilhavam no sol. Agora, eu via o meu país como uma dessas baleias que vêm
agonizar na praia. A morte nem sucedera e já as facas lhe roubavam pedaços,
cada um tentando o mais para si. Como se aquele fosse o último animal, a
derradeira oportunidade de ganhar uma porção. De vez enquanto, me parecia ouvir
ainda o suspirar do gigante, engolindo vaga após vaga, fazendo da esperança uma
maré vazando. Afinal, nasci num tempo em que o tempo não acontece.
Poderíamos
traçar um paralelo dessa baleia encalhada na praia com o nosso querido Brasil. Se
houvesse a intenção de salvar o enorme mamífero haveria condições, sim. Um plano
coletivo bem traçado que a devolvesse ao seu ambiente natural, onde ela pudesse
se desenvolver com toda pujança, força e vitalidade. Mas não houve por parte daquela população
beira-mar, uma intenção humanitária de salvar o animal. Ao contrário, como
abutres, partiram de facas em punho, cada qual, querendo abocanhar o seu pedaço
de carne, e, enquanto a baleia ainda respirava, e se contorcia de dor, suas
carnes eram impiedosamente dilaceradas.
Na
história contada por Mia Couto, o povo é quem dilacera as carnes da baleia. Transpondo
esse quadro para os nosso cenário político, o povo não vê nem a cor da carne da
baleia. Os abutres são quem a tomam toda para si. E os abutres são os partidos
políticos, e os seus insensatos integrantes, que sem ideologia alguma, abusam
de suas vãs demagogias. Não falo apenas de um partido, mas de todos os
partidos, contaminados com o vírus da injustiça e do egoísmo. Obviamente, há
políticos honestos, mas eles são tão poucos, que chega até a ser difícil a eles
próprios nadar contra a maré.
Inevitavelmente,
não há como falar do vilão maior: O Partido dos Trabalhadores. Em minha opinião,
um dos partidos mais nocivos ao Brasil. Eu pensava, bem como milhões de outros
iguais, que ao assumir o poder o partido fosse fazer um belíssimo projeto
cidadão que levasse o Brasil ao topo das nações, cujos governos, querem o
melhor para seu povo, sua gente, mas não foi isso o que aconteceu. Ao invés de
um projeto educacional, cultural, econômico, o PT se engajou, ferrenhamente, em
traçar um projeto de poder, que como vemos, levou o Brasil à falência. Como abutres,
os líderes petistas sugaram da gigante baleia até o último pedaço de carne. Lotearam
o Brasil entre os seus mais próximos: parentes, amigos, aliados.
A culpa
é apenas do PT? Não, claro que não. A arte da falcatrua já existia no Brasil
faz tempo. Eu diria apenas que o PT aperfeiçoou esta prática, deu-lhe ares de um
vil refinamento. É tudo tão óbvio. Desde o primeiro mandato do presidente Lula
até o recente mandato da presidente Dilma, todos os principais assessores,
diretos e indiretos, destes governos estiveram envolvidos em escândalos de
corrupção. Muitos deles, inclusive, tendo sido presos por crimes de formação de
quadrilha, lavagem de dinheiro e outros do gênero. Há um velho ditado, muito
popular, que diz: “Diz-me com quem andas, e te direi quem és”.
Há
também outro que diz: “Uma maça podre, estraga todo o cesto”. O problema é que
se apenas o PT fosse responsável por tudo que acontece de ruim em nosso país,
seria bom, pois bastaria apenas trocar a legenda e seus dirigentes e estaria
tudo em paz. Mas o pior é que parece que a praga da corrupção se espalhou por
todos os níveis de governo, e todos os partidos, de alguma forma, possuem
integrantes envolvidos em atos criminosos. Criminosos? Eles, por acaso, não deveriam
estar na cadeia, ao invés de cadeiras em cargos legislativos ou executivos?
Há
dois dias, Jacques Wagner, o Chefe da Casa Civil da presidente Dilma Rousseff, falando
acerca dos erros do seu partido, disse em entrevista à Folha de São Paulo: “Quem
nunca comeu melado, quando come, se lambuza”.
O pior
é que eles se lambuzaram, e a dor de barriga, e de cabeça, sobra pra todos nós.
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