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Maju: Uma negra cheia de classe
Posted by Cottidianos
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00:25
Terça-feira, 07 de julho
“Ouve o barulho
do rio, meu filho
Deixa esse
som te embalar
As folhas que
caem no rio, meu filho
Terminam nas
águas do mar
Quando amanhã
por acaso faltar
Uma alegria
no seu coração
Lembra do som
dessas águas de lá
Faz desse rio
a sua oração
Lembra, meu
filho, passou, passará
Essa certeza,
a ciência nos dá
Que vai
chover quando o sol se cansar
Para que
flores não faltem
Para que
flores não faltem jamais”
(O Rio - Seu
Jorge, Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes, Marisa Monte)
Caros leitores, ontem, 06 de julho, fez,
exatamente, dois anos que fiz a primeira postagem neste blog. Sendo assim,
gostaria de agradecer a vocês pela companhia.
Não sei de que forma esse blog os têm ajudado
na caminhada diária, isso só vocês podem analisar. Espero que de uma forma
positiva. Quanto a mim, digo que ele tem me ajudado a ficar mais atento em
minha conexão com o mundo e tudo o que acontece nele, e a ter um agir mais
coerente e humano.
Devido ao fator tempo, não consigo
trazer para este espaço, toda a gama de fatos e notícias que formam a imensa
teia que percorre essa nossa imensa aldeia global, mas procuro apresentar fatos
significativos, aqueles que provocam no leitor uma reflexão.
E, enquanto amamos, vivemos e lutamos,
sob nossos pés, corre, veloz, o rio da vida. O importante é que nunca sejamos
os mesmos: a cada vez que as águas rolarem, tenhamos evoluído um pouco mais. Dessa
forma, evoluindo um pouco a cada, um dia, atingiremos a perfeição. É como diz
um pensamento atribuído ao filósofo Heráclito: “Um homem não entra duas vezes
no mesmo rio. Da segunda vez, não é o mesmo homem nem o mesmo rio".
Sendo assim, eu vos desejo que a cada
vez que vocês mergulharem no rio da vida, que saiam transformados, pois vocês
já não serão os mesmo, bem como o rio não será o mesmo, e que ambos, homem e
rio, purificados possam continuar a caminhada com mais leveza.
Mais uma vez, obrigado pela companhia.
***
Maju: Uma negra cheia de classe
Os apresentadores do jornal com o cartaz "Somos todos Maju" |
WILLIAN BONNER: A Maria
Júlia recebeu, nesta sexta (3), uma demonstração de carinho do tamanho do
Brasil.
O
dia 3 de julho é o dia nacional de combate à discriminação racial e uns 50
criminosos publicaram comentários racistas, de maneira coordenada, contra ela,
na página do Jornal Nacional no Facebook.
Só
que o que aconteceu depois, de uma forma absolutamente espontânea e
avassaladora, foi que milhares e milhares e milhares de pessoas manifestaram a
indignação e o repúdio aos criminosos. Na internet, a expressão "Somos
Todos Maju" ganhou todas as redes sociais.
RENATA VASCONCELLOS: E isso
também acabou provocando a reação das autoridades. No estado do Rio, por
exemplo, o Ministério Público pediu à Promotoria de Investigação Penal que
acompanhe o caso, com rigor, na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.
E, em São Paulo, o promotor criminal Cristiano Jorge dos Santos instaurou
inquérito para apurar os crimes de racismo e injúria qualificada.
WILLIAN BONNER: A Globo
espera que essas ações cheguem a bom termo e que os criminosos sejam punidos.
E, além disso, a própria Globo também está estudando as medidas judiciais
cabíveis.
WILLIAN BONNER: Maria
Júlia, me deixa pedir um favor pra você. Divide com o público do Jornal
Nacional aquela mensagem linda que você mandou pra gente por e-mail hoje à
tarde, porque estava todo mundo preocupado com você. Você mandou uma mensagem
maravilhosa. Divide aqui com todo mundo.
MARIA JÚLIA COUTINHO (Maju): Estava todo
mundo preocupado. Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos
corredores, mas na verdade é o seguinte, gente: eu já lido com essa questão do
preconceito desde que eu me entendo por gente. Claro que eu fico muito
indignada, fico triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo, que eu
acho que é isso que é o mais importante. Eu cresci numa família muito
consciente, de pais militantes, que sempre me orientaram. Eu sei dos meus
direitos. Acho importante, claro, essas medidas legais serem tomadas, até para
evitar novos ataques a mim e a outras pessoas. Eu acredito que isso é muito
importante. E agora eu quero manifestar a felicidade que eu fiquei, porque é
uma minoria que fez isso. Eu fiquei muito feliz com a manifestação de carinho
mesmo, como vocês disseram. Eu recebi milhares de e-mails, de mensagens. Acho
que isso que é o mais importante. E a militância que eu faço, gente, é com o
meu trabalho, é fazendo o meu trabalho sempre bem feito, sempre com muito
carinho, com muita dedicação, com muita competência, que eu acho que é o mais
importante. E, pra finalizar, Bonner e Renata, é o seguinte: os preconceituosos
ladram, mas a caravana passa. É isso.
WILLIAN BONNER: É isso. A
Majuzinha passa, como você gosta de dizer. Os cães ladram.
MAJU: Os preconceituosos ladram, mas a
Majuzinha passa.
WILLIAN BONNER: Eu e a
Renata falamos em nome de todos os colegas da Globo. É claro que todos aqui
dentro repudiaram essas agressões absurdas. Somos todos Maju, né Renata?
RENATA VASCONCELLOS: Somos todos
Maju. Hoje e sempre.
MAJU: Obrigada, gente!
Quis apresentar este trecho do Jornal
Nacional, exibido na sexta-feira 03 de julho, na íntegra, para melhor
compreensão do leitor acerca dos fatos.
Os racistas — que se deixe bem claro —
uma parcela ínfima deles, atacaram novamente. Desta vez, contra a moça do
tempo, como se costuma dizer daquelas que trazem até os telespectadores,
aspectos relativos ao clima.
Comemorava-se naquele dia, o Dia
Nacional de Combate à Discriminação Racial. Segundo informações do site, Pordentro da áfrica, “A data faz referência à aprovação da Lei 1.390, em 1951,
mais conhecida como Lei Afonso Arinos. O documento ‘inclui entre as
contravenções penais a prática de atos resultantes de preconceito de raça ou de
cor’. Primeira legislação brasileira contra a temática da igualdade racial, a
publicação foi modificada em 1985, com a Lei nº 7.437/1985”.
Internacionalmente, o Dia Internacional
de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, foi criado pela ONU, e é
celebrado em 21 de março, em memória aos mortos no Massacre de Sharpeville, em
21 de março de 1960, em Joanesburgo, na África do Sul. Na ocasião, cerca de
20.000 pessoas, marchavam pacificamente pelas ruas da cidade, em protesto contra
um cartão que a população negra era obrigada a usar. Esse cartão, chamado Lei
do Passe, indicava em que locais públicos os negros podiam circular. Mesmo
sendo pacífica a manifestação, o regime do aparthaid não quis saber de
conversa: abriu fogo contra a multidão, matando 68 pessoas e deixando 186
feridos.
Voltando ao Brasil, neste dia de luta,
Maria Julía Coutinho, recebeu dois presentes: um bastante desagradável, e outro
reconfortante.
Como já exposto no texto que abre esse
artigo, 50 internautas, publicaram na foto da jornalista, no Facebook, na
página do Jornal Nacional, mensagens ofensivas à jornalista, do tipo: “Só
conseguiu emprego no ‘Jornal Nacional’ por causa das cotas. Preta imunda”.
“Alguém poderia jogar um biscoito para ela, logo?”. “Não tenho TV colorida para
ficar olhando essa preta, não”.
Sempre que assito Maju, nos telejornais
da emissora, acho-a muito cheia de classe. Além de admirar sua beleza e seu jeito
leve de transmitir a notícia, como se estivesse conversando, informalmente, na
própria sala do telespectador. Passei a admirá-la ainda mais por sua firmeza e equilíbrio
após esse desagradável episódio. Afinal de contas, essa não é uma situação
fácil de segurar. Porém, como disse Maju, “Muita gente imaginou que eu estaria
chorando pelos corredores, mas na verdade é o seguinte, gente: eu já lido com
essa questão do preconceito desde que eu me entendo por gente”. Que chorar pelos
corredores que nada! Os preconceituosos não devem ter o poder de fazer verter
as lágrimas da jornalista, nem de qualquer outra pessoa a quem tenham atirado
pedras. Afinal, quem eles são eles para que alguém se sinta atingido pelo
veneno de sua língua maldita?
O outro presente recebido por Maju — e
acho que nem ela mesma esperava por isso —, foram as milhares de mensagens de
apoio e carinho que ela recebeu do público, e dos amigos de profissão. No Facebook, William Bonner e Renata Vasconcelos, gravaram um vídeo em que, junto
com a equipe do JN, seguram um cartaz e dizem: “Somos Todos Maju”
A jornalista é formada pela Cásper
Libero e após uma breve passagem pela TV Cultura, começou a informar a previsão
do tempo, na TV Globo, em Dezembro do ano passado, no Hora 1, primeiro
telejornal da emissora que vai ao ar de segunda a sexta, a partir das cinco da
manhã. Está no Jornal Nacional desde 27 de abril. Comenta-se que ela é uma das repórteres
mais simpáticas da emissora, e que ela tem uma legião de fãs nas redes sociais.
Maria Julia Coutinho, em seu desabafo,
representou milhões de pessoas, que sofrem na pele, todos os dias, situações
parecidas, em qualquer parte do mundo. Mas deu a resposta, firme, de cabeça
erguida. Irritada, mas sem se mostrar indignada, a moça foi altamente didática,
e com a classe que lhe é peculiar ao apresentar a previsão do tempo.
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