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Feliz Dia dos Pais!
Posted by Cottidianos
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03:07
Domingo,
10 de agosto
***
“Pai!
Pode crer, eu tô
bem
Eu vou indo
Tô tentando,
vivendo e pedindo
Com loucura prá
você renascer...
Pai!
Eu não faço
questão de ser tudo
Só não quero e
não vou ficar mudo
Prá falar de
amor
Prá você...”
(Pai – Fábio
Júnior /
tema de abertura
da novela Pai Herói)
“Pai
Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, venha nós o vosso
reino, seja feita vossa vontade, assim, na terra como no céu”. É com o início
da mais bela e profunda das orações cristãs, que vos saúdo neste domingo
especial, no qual comemoramos o Dia dos Pais.
Quando
elevamos os nossos olhos aos céus e dizemos, “Pai Nosso”, essas palavras, por
si só, já nos transmitem uma grande sensação de alívio, conforto e segurança,
ao sabermos que não estamos sozinhos em meio a esse vasto, infinito e
misterioso universo. Quando dizemos “Pai Nosso”, estamos reconhecendo que há um
Deus que está acima de nós e, ao mesmo tempo, dentro de nós e ao nosso lado, que
nos conforta, orienta e nos conduz pelos caminhos da vida, agora e por toda
eternidade. O amor de Deus por nós, filhos seus, é eterno.
Amor
de pai, assim como o de mãe, é um amor que não acaba nunca. É tão verdadeiro
que nem a morte consegue romper os laços desse amor, quando ele é realmente sentido,
querido e gravado no coração como marca indelével.
Pode
meio ser meio tímido, se comparado à expansividade do amor materno, porém, é tão
grandioso quanto. Foi nosso pai que nos guiou em nossos primeiros passos. Que
se alegrou quando começamos a pronunciar as primeiras palavras. Quanta alegria
brotou do coração dele quando, balbuciando, dissemos, pela primeira vez:
“pápá”.
Pais são protagonistas do nosso nascimento e
por isso nos amam tanto. Mas há também os pais que nos receberam quando já
havíamos nascido, nos adotaram e nos amaram de modo tão intenso, que os
queremos bem como se tivessem sido eles a depositar no ventre de nossa mãe, a
semente da vida. Aquela semente que nos fez ser fortes para vencer a corrida
dos espermatozoides na fecundação do óvulo.
Costumamos
dizer que o tempo é implacável. Acho essa frase muito injusta para com o tempo.
A força do tempo apenas cumpre a sua função na intrincada roda da vida. É ele
que nos conduz ao crepúsculo da vida, uma fase onde voltamos a ser crianças e, na
qual, os filhos passam a desempenhar o papel de pai. Feliz o homem que pode
desempenhar o papel de pai para seu pai-filho. Nada mais justo do que amparares
aquele que em todos os momentos da vida, foi para você, um refúgio seguro. Se
estiveres a cumprir o papel de filho para teu pai que, agora, precisa dos teus
cuidados, é porque Deus te deu a graça de teu pai ter tido a oportunidade de
ver nascer, crescer e se tornar um homem ou mulher responsável e com aflorado
senso de dever e gratidão.
Lembro-me
de um homem que, quando o sol estava iluminando a terra com seus raios
primeiros, ele já estava de pé, preparando-se para o duro trabalho na roça.
Após o café, ele pegava da enxada, do facão e do alimento para a hora do almoço,
preparado com carinho pela esposa ,e saia para mais um dia de labor.
Passava
o dia inteiro, ora lutando contra as ervas daninhas, ora afagando e acariciando
a terra, para depois fecundá-las com as sementes do feijão, do milho, do
algodão, do maxixe, do quiabo e da abobora. Dessa relação intima entre homem e
terra, nasciam alimentos gostosos saudáveis, saborosos... E sem nenhum agrotóxico.
Que tempos bons eram os tempos da colheita. Eram dias prazerosos e de festa.
Era a realização do milagre do pão oferecido gratuitamente pela terra.
Esse homem só voltava para casa ao final do
dia, quando o astro rei estava a recolher da terra os seus derradeiros raios.
Ao chegar em casa, cansado e afadigado, tomava um banho e, a primeira coisa que
fazia após o banho, era sentar-se na sala de seu humilde lar e ouvir, pelo
rádio que funcionava a pilha — nessa época energia ainda não havia chegado ao
povoado — a sanfona de Luiz Gonzaga, tocando seus belos xotes, xaxados, baião e
forró, ritmos tão característicos do nordeste. E ali ficava, descansando da
difícil, mas ao mesmo tempo, risonha batalha da vida. Digo difícil, por que não
é fácil aguentar o sol do nordeste nos campos e lavouras, e risonha, pois o
homem da terra, que lida com esse elemento vital, não tem o coração duro e
infeliz. Lidar com a terra lhe traz sensação de paz, afinal, um dia também nos
uniremos à mãe-terra. É a lei da vida. Um processo natural ao qual, todos os
seres humanos, sem exceção, estão submetidos.
Quando
a mulher terminava de preparar o jantar — uma saborosa comida, preparada no fogão
de lenha — chamava o marido camponês e os filhos, e todos se irmanavam em volta
da mesa e agradeciam a Deus pelo alimento tão abençoado.
Antes
de dormir, o homem ainda tinha tempo de apreciar a miríade de estrelas a
iluminar a noite. Deus do céu! Como era bonito aquele céu infinito de estrelas
a reluzir. Uma verdadeira obra da criação. Um presente do Pai Maior para seus
humildes filhos.
Esse
homem era meu pai adotivo: Francisco Henrique Pedro e a mulher, minha mãe
adotiva, Maria Julieta. Duas estrelas de brilho intenso em minha vida. Agora,
essas duas estrelas estão a me iluminar e acompanhar minha caminhada, do
plano espiritual onde se encontram.
A
eles, e também a meu pai biológico, João Dias de Carvalho, com o qual eu não
convivi, mas o conheci, dedico esse texto.
Dedico-o
também com muito carinho a todos vocês que acompanham este blog e, por
extensão, aos seus queridos pais. Que Deus os abençoe a todos!
Complementando
esse texto, partilho com vocês, uma bela mensagem escrita por Fabrício
Carpinejar, poeta, cronista e jornalista Gaucho, da cidade de Caxias do Sul. A
crônica foi publicada no Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em 16 de outubro de
2013. Nesta sexta-feira (09), o Programa Eldorado Total, da Rádio Eldorado, de
Santa Catarina, resgatou essa preciosidade.
Dia
dos Pais e a crônica Pai de Meu Pai
Fabrício Carpinejar
Há
uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a
ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.
É
quando o pai envelhece e começa a trotear como Se estivesse dentro de uma
névoa. Lento, devagar, impreciso. É quando aquele pai que segurava, com força
nossa mão, já não tem como levantar sozinho. É quando aquele pai outrora Firme
e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de
seu lugar. É quando aquele pai, antes
disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de
seus remédios.
E
nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel E aceitar que somos responsáveis por aquela
vida. Aquela vida que Nos gerou depende
de nossa vida para morrer em paz.
Todo
filho é pai da morte de seu pai. Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe, seja
curiosamente Nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para
devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir
o amor com a amizade da escolta.
E
assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e
colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos
pais.
Uma
das primeiras transformações acontece no banheiro. Seremos pais de nossos pais
na hora de pôr uma barra no Box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é
simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.
Porque
o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de
nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos
nossos braços nas paredes.
A
casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços
estarão espalhados sob a forma de corrimãos. Pois envelhecer é andar de mãos
dadas com os objetos, envelhecer é subir escada, Mesmo sem degraus.
Seremos
estranhos em nossa residência, observaremos cada detalhe Com pavor e
desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores,
engenheiros frustrados. Como não previmos que os nossos pais adoecem E
precisariam da gente.
Nos
arrependemos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependemos, a
cada obstáculo e tapete. E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte,
E triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por
dia.
Meu
amigo José Klein acompanhou o pai até seus verdadeiros minutos. No hospital, a
enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis,
Quando Zé gritou de sua cadeira:
Deixa
que eu ajude. Colocou o rosto de seu pai contra o seu peito. Ajeitou em seus
ombros o pai consumido pelo câncer: Pequeno, enrugado, frágil, tremendo. Ficou
segurando um bom tempo, um tempo equivalente A sua infância, um tempo
equivalente a sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou
o pai de um lado para outro. Animou o pai. Acalmou o pai. E apenas dizia,
sussurrado:
-
Estou aqui, estou aqui, pai!
O
que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida: É que seu filho está ali.
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