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Feliz Dia dos Pais!

Posted by Cottidianos on 03:07
Domingo, 10 de agosto

Pai!
Pode crer, eu tô bem
Eu vou indo
Tô tentando, vivendo e pedindo
Com loucura prá você renascer...

Pai!
Eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Prá falar de amor
Prá você...”

(Pai – Fábio Júnior /
tema de abertura da novela Pai Herói)



“Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, venha nós o vosso reino, seja feita vossa vontade, assim, na terra como no céu”. É com o início da mais bela e profunda das orações cristãs, que vos saúdo neste domingo especial, no qual comemoramos o Dia dos Pais. 

Quando elevamos os nossos olhos aos céus e dizemos, “Pai Nosso”, essas palavras, por si só, já nos transmitem uma grande sensação de alívio, conforto e segurança, ao sabermos que não estamos sozinhos em meio a esse vasto, infinito e misterioso universo. Quando dizemos “Pai Nosso”, estamos reconhecendo que há um Deus que está acima de nós e, ao mesmo tempo, dentro de nós e ao nosso lado, que nos conforta, orienta e nos conduz pelos caminhos da vida, agora e por toda eternidade. O amor de Deus por nós, filhos seus, é eterno.
Amor de pai, assim como o de mãe, é um amor que não acaba nunca. É tão verdadeiro que nem a morte consegue romper os laços desse amor, quando ele é realmente sentido, querido e gravado no coração como marca indelével.

Pode meio ser meio tímido, se comparado à expansividade do amor materno, porém, é tão grandioso quanto. Foi nosso pai que nos guiou em nossos primeiros passos. Que se alegrou quando começamos a pronunciar as primeiras palavras. Quanta alegria brotou do coração dele quando, balbuciando, dissemos, pela primeira vez: “pápá”.

 Pais são protagonistas do nosso nascimento e por isso nos amam tanto. Mas há também os pais que nos receberam quando já havíamos nascido, nos adotaram e nos amaram de modo tão intenso, que os queremos bem como se tivessem sido eles a depositar no ventre de nossa mãe, a semente da vida. Aquela semente que nos fez ser fortes para vencer a corrida dos espermatozoides na fecundação do óvulo.

Costumamos dizer que o tempo é implacável. Acho essa frase muito injusta para com o tempo. A força do tempo apenas cumpre a sua função na intrincada roda da vida. É ele que nos conduz ao crepúsculo da vida, uma fase onde voltamos a ser crianças e, na qual, os filhos passam a desempenhar o papel de pai. Feliz o homem que pode desempenhar o papel de pai para seu pai-filho. Nada mais justo do que amparares aquele que em todos os momentos da vida, foi para você, um refúgio seguro. Se estiveres a cumprir o papel de filho para teu pai que, agora, precisa dos teus cuidados, é porque Deus te deu a graça de teu pai ter tido a oportunidade de ver nascer, crescer e se tornar um homem ou mulher responsável e com aflorado senso de dever e gratidão.

Lembro-me de um homem que, quando o sol estava iluminando a terra com seus raios primeiros, ele já estava de pé, preparando-se para o duro trabalho na roça. Após o café, ele pegava da enxada, do facão e do alimento para a hora do almoço, preparado com carinho pela esposa ,e saia para mais um dia de labor.

Passava o dia inteiro, ora lutando contra as ervas daninhas, ora afagando e acariciando a terra, para depois fecundá-las com as sementes do feijão, do milho, do algodão, do maxixe, do quiabo e da abobora. Dessa relação intima entre homem e terra, nasciam alimentos gostosos saudáveis, saborosos... E sem nenhum agrotóxico. Que tempos bons eram os tempos da colheita. Eram dias prazerosos e de festa. Era a realização do milagre do pão oferecido gratuitamente pela terra.

 Esse homem só voltava para casa ao final do dia, quando o astro rei estava a recolher da terra os seus derradeiros raios. Ao chegar em casa, cansado e afadigado, tomava um banho e, a primeira coisa que fazia após o banho, era sentar-se na sala de seu humilde lar e ouvir, pelo rádio que funcionava a pilha — nessa época energia ainda não havia chegado ao povoado — a sanfona de Luiz Gonzaga, tocando seus belos xotes, xaxados, baião e forró, ritmos tão característicos do nordeste. E ali ficava, descansando da difícil, mas ao mesmo tempo, risonha batalha da vida. Digo difícil, por que não é fácil aguentar o sol do nordeste nos campos e lavouras, e risonha, pois o homem da terra, que lida com esse elemento vital, não tem o coração duro e infeliz. Lidar com a terra lhe traz sensação de paz, afinal, um dia também nos uniremos à mãe-terra. É a lei da vida. Um processo natural ao qual, todos os seres humanos, sem exceção, estão submetidos.

Quando a mulher terminava de preparar o jantar — uma saborosa comida, preparada no fogão de lenha — chamava o marido camponês e os filhos, e todos se irmanavam em volta da mesa e agradeciam a Deus pelo alimento tão abençoado.

Antes de dormir, o homem ainda tinha tempo de apreciar a miríade de estrelas a iluminar a noite. Deus do céu! Como era bonito aquele céu infinito de estrelas a reluzir. Uma verdadeira obra da criação. Um presente do Pai Maior para seus humildes filhos.

Esse homem era meu pai adotivo: Francisco Henrique Pedro e a mulher, minha mãe adotiva, Maria Julieta. Duas estrelas de brilho intenso em minha vida. Agora, essas duas estrelas estão a me iluminar e acompanhar minha caminhada, do plano espiritual onde se encontram.

A eles, e também a meu pai biológico, João Dias de Carvalho, com o qual eu não convivi, mas o conheci, dedico esse texto.

Dedico-o também com muito carinho a todos vocês que acompanham este blog e, por extensão, aos seus queridos pais. Que Deus os abençoe a todos!

Complementando esse texto, partilho com vocês, uma bela mensagem escrita por Fabrício Carpinejar, poeta, cronista e jornalista Gaucho, da cidade de Caxias do Sul. A crônica foi publicada no Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em 16 de outubro de 2013. Nesta sexta-feira (09), o Programa Eldorado Total, da Rádio Eldorado, de Santa Catarina, resgatou essa preciosidade. 

***




Dia dos Pais e a crônica Pai de Meu Pai

Fabrício Carpinejar

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como Se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso. É quando aquele pai que segurava, com força nossa mão, já não tem como levantar sozinho. É quando aquele pai outrora Firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.  É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel  E aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que  Nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai. Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe, seja curiosamente Nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro. Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no Box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados sob a forma de corrimãos. Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada, Mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência, observaremos cada detalhe Com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os nossos pais adoecem E precisariam da gente.

Nos arrependemos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependemos, a cada obstáculo e tapete. E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, E triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus verdadeiros minutos. No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, Quando Zé gritou de sua cadeira:

Deixa que eu ajude. Colocou o rosto de seu pai contra o seu peito. Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: Pequeno, enrugado, frágil, tremendo. Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente A sua infância, um tempo equivalente a sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para outro. Animou o pai. Acalmou o pai. E apenas dizia, sussurrado:

- Estou aqui, estou aqui, pai!


O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida: É que seu filho está ali.

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