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25 anos sem o maluco beleza, Raul Seixas
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00:22
Sexta-feira,
22 de agosto
“Enquanto
você se esforça prá ser
Um
sujeito normal
E fazer
tudo igual
Eu do
meu lado, aprendendo a ser louco
Um
maluco total
Na
loucura real
Controlando
a minha maluquez
Misturada
com minha lucidez...”
(Maluco
Beleza - Raul Seixas , Claudio Roberto)
São
Paulo, capital.
21
de agosto de 1989.
O
sol acabara de dar bom dia à cidade que nunca dorme. Antes era assim, São Paulo
nunca dormia mesmo, eram vinte e quatro horas de atividades ininterruptas.
Hoje?! Hoje São Paulo continua tão frenética quanto antes... Porém a violência tem mudado muitos dos hábitos dos
paulistanos. Muitos estabelecimentos que funcionavam vinte e quatro horas,
estão tendo um pouco mais de precaução e baixado suas portas por volta da meia
noite. Voltemos à manhã daquele triste dia 21.
As
buzinas dos automóveis não favoreciam a qualquer reflexão filosófica, a não ser
que se quisesse filosofar sobre o caos urbano. Aí sim, o filósofo teria vasto e
amplo material. Os pontos de ônibus estavam repletos de trabalhadores, uns
voltando para suas casas, almejando desfrutar um merecido repouso. Outros, ao
contrário, se armavam de coragem, e dirigiam-se a uma longa jornada que só
terminaria quando o sol estivesse recolhendo da cidade os seus últimos raios. Aos
que se utilizavam do metrô ou dos trens urbanos, a situação não fugia à regra.
Em
meio a esse tumulto matinal, a empregada doméstica, Dalva Borges, chegava ao
Edifício Aliança, localizado à Rua Frei Caneca, 1.100, região central de São
Paulo. Ao passar pela portaria, foi informada pelo porteiro do edifício que, na
noite anterior, seu Raul tinha chegado muito bêbado ao prédio e ele, o porteiro,
teve de carregá-lo até o elevador. Dalva concluiu então que o patrão dormiria
um pouco mais naquela manhã. Não ficou preocupada com o fato, pois era comum
seu Raul chegar bêbado em casa. Entretanto, não tão bêbado quanto relatara o
porteiro.
Subiu
ao apartamento 1003. Já passava um pouco das sete horas da manhã. Procurou em
sua bolsa a chave do apartamento, conseguiu encontrá-la com alguma dificuldade
entre as muitas coisas que trazia consigo. Colocou a chave na fechadura e, após
ouvir o barulho da briga entre chave e fechadura, girou a maçaneta e
entrou. O apartamento estava uma
verdadeira bagunça. Roupas espalhadas pelos quatro cantos da casa, sapatos e
meias jogados a esmo, sem nenhum critério. Um copo de cerveja pela metade. O
aparelho de VHS ejetava uma fita de vídeo com um show de Elvis Presley. “Deve
ser a milésima vez que seu Raul vê essa fita”, pensou Dalva.
Dalva
já trabalhava há algum tempo com o patrão famoso, Raul Seixas. Conhecia-lhe
muito bem seus vícios e suas virtudes. Sabia do sofrimento do patrão com o álcool
e as drogas. Ouvia-o falar de seus sonhos,
projetos e também de suas decepções. Seu Raul sempre tivera para com ela as
melhores palavras, as melhores intenções, os melhores sentimentos. Ele
costumava dizer-lhe que eram todos iguais não importava se ela era doméstica e
se ele era cantor famoso. Na verdade, o patrão dizia o óbvio ululante que passa
despercebido por tanta gente que acha que tem o rei na barriga. Se fosse uma
atriz atuando no palco daquele apartamento, Dalva desempenharia vários papeis
em uma mesma peça: Uma hora era empregada doméstica, outra hora era
conselheira, psicóloga, enfermeira. Muitas vezes, também se sentia no papel de
amiga, outras no papel de mãe. Amava desempenhar todos esses papéis para uma
pessoa tão especial quanto Raul Seixas.
Abriu
caminho entre a bagunça em que estava o apartamento e dirigiu-se ao quarto,
como de costume. Após abrir a janela a claridade invadiu o ambiente, o que lhe
permitiu ter uma melhor visão do ambiente. Tudo parecia tão normal. O lençol
cobria o cantor até, mais ou menos, a altura do peito. Dentro do quarto havia
mais um pouco de bagunça que, tão logo ele acordasse, ela trataria de limpar. Deixou-o
dormindo tranquilamente e foi cuidar dos demais afazeres da casa.
Arrumou
a sala. Foi à cozinha preparou o café da manha e iniciou o preparo do almoço. Achou
estranho que até àquela hora o patrão ainda não tivesse acordado. Ela já havia
feito tanto barulho pela casa e ele não acordara. Achou isso estranho, pois,
geralmente, seu Raul despertava ao menor sinal de barulho. Uma nota de
preocupação surgiu em sua testa. Será que ele não estava bem. Preocupada foi ao
quarto ver o que estava acontecendo. Abriu a porta com cuidado e verificou que
ele se encontrava na mesma posição na qual o encontrara pela primeira vez
naquela manhã.
Entrou,
tocou no braço dele, chamando-o pelo nome. Nada. O patrão não esboçava a menor
reação. Um suor frio percorreu-lhe o corpo, junto com a dúvida: “Será que ele
está morto”?
Saiu
imediatamente do quarto e correu para o telefone. Ligou para os amigos de Raul.
Primeiro para Marcelo Nova e depois para Jerry Adriani. Não conseguia falar com
nenhum dos dois. Em desespero, ligou então para José Roberto Romeiro Abrahão,
parceiro musical de Raul. Contou o que estava acontecendo. Foi orientada a
colocar um espelho nas narinas do cantor e verificar, através do vapor que se
formaria no espelho, se ele ainda estava respirando. Foi ao quarto. Fez o
procedimento. Lívida, voltou à sala. Pegou o telefone e falou que não havia
respiração no patrão, nem o menor sinal de vida. Silencio do outro lado da
linha. Em seguida, José Roberto lhe disse para ficar calma que ele logo estaria
chegando.
Após
falar com Dalva, José Roberto, ligou para Marcelo Nova. Junto com o médico Luciano
Stancka foram ao apartamento de Raulzito. Após exames preliminares o médico
atestou que o cantor já estava morto há algumas horas, provavelmente tivesse
morrido por volta das cinco da manhã, e deu o atestado de óbito. O motivo da
morte, segundo atestou o medico, fora pancreatite aguda, doença causada pelo
excesso de bebida.
Tristes,
os amigos cuidaram de avisar os mais próximos. Cuidaram também para que a
notícia não vazasse para a imprensa tão depressa. Queriam evitar tumulto no
prédio.
À tarde,
quando a imprensa os jornais e TVs de todo o país, noticiaram a morte do astro,
houve uma grande tristeza por parte dos fãs do cantor. Sob comoção, o corpo do
cantor foi velado no Palácio das convenções do Anhembi, em São Paulo. Milhares de
fãs enfrentaram filas intermináveis para ver, pela última vez, corpo do cantor
e dar-lhe o último adeus.
Alguns
fãs choravam, outros cantavam sucessos consagrados de Raul. Alguns faziam as
duas coisas juntas.
Após
o velório, um caminhão do Corpo de Bombeiros, levou o corpo de Raul até o aeroporto.
De lá Raul voou, como pássaro livre, para sua terra natal, onde foi sepultado.
Raul
dos Santos Seixas nasceu em Salvador, no dia 28 de Junho de 1945 e morreu em
São Paulo, no dia 21 de agosto de 1989.
Raul
Seixas ainda vive através de suas belas canções, regravadas e cantadas por todo
o país, vinte e cinco anos após sua morte.
A arte
de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal.
Aprendi
o segredo da vida
Vendo
as pedras que choram sozinhas
No
mesmo lugar."
È
sempre mais fácil achar que a culpa é do outro, evita o aperto de mão de um
possível aliado.
Sou tão
bom ator que finjo ser cantor e compositor e vocês acreditam.
Tente
me ensinar das tuas coisas
Que a
vida é séria e a guerra é dura,
se não
puder cale essa boca
E deixa
eu viver minha loucura.
As
pessoas não morrem, só acordam do sonho da vida.
Prefiro
ser louco, em um mundo onde os normais, constroem bombas.
Um
sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha
junto é realidade.
Nunca é
tarde demais pra começar tudo de novo...
Não
diga que a vitória está perdida se é de batalhas que se vive a vida.
Eu não
sou louco,
É o
mundo que não entende minha lucidez...
Todos
os partidos são variantes do absolutismo. Não fundaremos mais partidos; o
Estado é o seu estado de espírito.
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