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Ebola: Um inimigo perigoso. Uma ameaça à humanidade
Posted by Cottidianos
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00:03
Sábado,
16 de agosto
Terça-feira,
12 de agosto de 2014
Madrid.
Em
clima de tristeza e apreensão, um porta voz do hospital La
Paz-Juan Carlos III, anunciava: “Ele morreu hoje, às 9h28”. O funcionário do
hospital se referia ao missionário Miguel Pajares: A primeira — e espera-se a
última — vítima fatal do Ebola em solo europeu.
Pajares
tinha 75 anos, pertencia a Ordem Religiosa de São João de Deus, uma ordem
milenar, fundada na Espanha, por São João de Deus, em 1572. A Ordem está
presente em 52 países e o serviço de seus membros consiste em servir aos
doentes e as pessoas mais necessitadas.
O missionário
espanhol trabalhava no hospital Saint José de Monróvia. Capital da Libéria, a
Monróvia é a maior e mais importante cidade de país, sendo seu centro financeiro
e cultural. Miguel Pajaros, como tantas outras pessoas que dedicam suas vidas a
cuidar das vidas dos outros, viu a ameaça tomar conta do lugar onde vivia, e
cuidou de muitos africanos afetados pelo vírus. Até que ele próprio foi vitimado
pela doença. O governo espanhol, juntamente com a ordem religiosa à qual o
missionário pertencia, apressou-se em levá-lo de volta a Espanha. Cercado de
toda uma operação criteriosa, como exigia a urgência do caso, ele foi levado à
Europa, aonde chegou no dia 07 de agosto, já com saúde muito debilitada.
O
Hospital La Paz-Juan Carlos III preparou um forte medidas de segurança
sanitária. O espanhol não foi o único a contrair o vírus dentre os que
trabalhavam no hospital São José de Monróvia. Antes dele, já haviam morrido
mais quatro pessoas, inclusive o diretor do hospital, o camaronês, Patrcik
Nshamdze. As autoridades liberianas resolveram então fechar o hospital, fato
que aconteceu no primeiro dia de agosto.
A porta
voz da ordem religiosa admitiu que pudesse ter havido erro no primeiro exame
que atestou que o diretor do hospital São José não estava infectado. Por certo,
houve um grande alívio por parte das pessoas que o rodeavam, inclusive por
parte de Miguel Pajaros. Pode ter sido esse, o maior erro da equipe. Ao relaxarem
nos cuidados com a saúde, abriram as portas para um inimigo letal.
A ameaça
ebola não admite erros. Basta apenas um pequeno descuido para ela mostrar suas
garras demoníacas. Às vezes, não precisa nem se descuidar, o vírus se apodera
dos corpos humanos e os destrói. Foi assim com Umar Khan, o médico que era
referencia no tratamento da doença. “É
com pesar que o Ministério da Saúde informa ao público que o único virólogo de
Serra Leoa, Shiekh Umar Khan, morreu na tarde de hoje no centro de tratamento
em Kailahun”, afirmava o comunicado oficial, divulgado pelo governo de
Serra Leoa, país no qual o médico nasceu e onde atuava. Foi assim com o médico
Umar Khan e com centenas de outras vidas.
Todas
essas vidas ceifadas, em pleno vigor e atividade, foram vítimas apenas do
ebola, ou será que também não foram vítimas da falta de condições mínimas de
higiene, tão frequentes nas periferias do mundo?
Pode
se refletir sobre isso a partir a mensagem enviada à família, no dia 09 de
julho, pelo missionário espanhol, Miguel Pajares: “Hoje tivemos a primeira morte por ebola no hospital. Muitos do que
trabalham aqui, incluindo eu, estiveram em contato com o falecido, e não tínhamos
luvas para nos proteger”. Cinco dias mais tarde, ele voltou a relatar novos
fatos à família: “Parece mentira, mas nos
faltam as coisas mais elementares para a prevenção: luvas, roupas isolantes,
máscaras, desinfetante, etc.”
Vila
de Yambuku, norte do Zaire, atual República Democrática do Congo.
1976.
Um
nativo do Zaire tinha viajado pelo país. Ao retornar foi acometido de febre
alta e intensas dores de cabeça. Encaminhado a uma unidade hospitalar, os
médicos o diagnosticaram como estando com Malária, um mal simples de tratar. Deram-lhe
medicamentos, a febre e a dor de cabeça arrefeceram, e ele foi mandado de volta
para casa. Os médicos deram um diagnóstico falso e, silenciosamente, uma ameaça
impiedosa e altamente letal, apoderava-se do corpo de sua primeira vitima.
Passada
uma semana o nativo que havia sido diagnosticado com Malária, voltou ao
hospital ainda mais doente que antes. Vomitava sangue e a febre era tão intensa
que o fazia ter delírios. Os médicos ficaram atônitos e confusos sem saber que
doença era aquela, enquanto o homem se esvaia em sangue, até que veio a
falecer, após muito sofrimento.
Não
sabiam os médicos que o pior ainda estava por vir. Passados cerca de dez dias,
da morte daquele homem, outros paciente do hospital começaram a apresentar os
mesmos sintomas e a morrerem de forma semelhante. Repentinamente eram
acometidos de febre, dores musculares, dores de cabeça, inflamação na garganta.
Em seguida, passavam a apresentar vomito diarreia, deficiências nas mucosas
hepáticas e renais, coceiras, além de sangramentos internos e externos. Hoje se
sabe que essas secreções e sangramentos expelidos pelas pessoas atacada pelo
terrível vírus são altamente perigosas, contagiosas, e repleta de vírus.
Na
condição de vírus, o Ebola é uma espécie de parasita: precisa infectar uma
célula e, a partir disso, se reproduzir. Infectada a célula o vírus passa a
aproveitar-se do sistema imunológico. Os vasos sanguíneos, impermeáveis por
natureza, tornam-se permeáveis a fim de transmitir o trafego de células contaminadas
para os tecidos em volta. Os vasos continuam permeáveis perdem sangue, enquanto
as células malignas alastram-se pelo corpo. O sangue derramado vai formando coágulos
e onde ele deixa de chegar, os tecidos vão morrendo. Quando o sangue começa a
vazar para os pulmões e para o intestino, o paciente começa a ter diarreia,
tosse e vômitos. Todas essas secreções estão repletas de vírus e qualquer
pessoa que tenha contato com elas, inevitavelmente, ficará infectada.
Inocentemente,
sem dar-se conta da terrível ameaça, os habitantes daquele humilde vilarejo
continuavam a colocar em prática seus hábitos culturais. No continente
africano, de modo geral, os funerais são longos, demoram pelo menos uma semana.
Os corpos dos mortos são lavados e exibidos ao público. Através destas
práticas, o africano quer demonstrar amor e respeito para com seus mortos. As pessoas
querem tocar o corpo que já não tem mais vida. Em algumas aldeias africanas,
preparam-se os corpos para o funeral, retirando os órgãos internos do morto e
lavando-os manualmente. Todos esses costumes ancestrais ajudavam a propagar a
doença mortal. Poucas são as pessoas que conseguem sobreviver após serem
afetadas pelo vírus. Cerca de 90% das pessoas infectadas naquele ano, não
sobreviveram.
Os
costumes não mudaram muito de lá para cá. Idem as condições sanitárias. Naquela
época, missionários cuidavam dos doentes. As condições de higiene eram tão
precárias que os voluntários chegavam a usar às mesmas agulhas e seringas em
várias pessoas. A julgar pela carta que Miguel Pajaro enviou a família,
percebemos que as coisas continuam mais ou menos as mesmas.
O povo
da África sofria com uma ameaça até então desconhecida. Surgiu a luz da ciência
e uma equipe comandada pelo cientista belga Guido van Der Groen conseguiu,
finalmente, descobrir o mistério. Guido era chefe do laboratório de
Microbiologia do Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia, na Bélgica. Ele e
sua equipe isolaram o vírus e deu-lhe o nome de Ebola, nome de um rio nas
proximidades da região afetada pela doença.
Sexta-feira.
08 de agosto de 2014
Genebra
Suíça.
Organização
Mundial da Saúde (OMS) declara que o surto de ebola na África Ocidental é uma
emergência pública de alcance internacional e recomenda medidas excepcionais
para conter sua transmissão, principalmente nos países nos quais se concentra o
surto da epidemia.
Os
países onde foi detectada uma transmissão do vírus são Guiné, Libéria e Serra
Leoa.
Esta
epidemia do vírus é pior desde que surgiu em 1976.
Já
passam de 2000 os casos de pessoas infectadas e mais de 1000 o número de
pessoas vitimadas pela doença.
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