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Crônica de uma festa anunciada
Posted by Cottidianos
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00:43
Terça-feira,
15 de julho
“Aqui
é o meu país / Nos seios da minha amada / Nos olhos da perdiz /
Na lua na
invernada / Nas trilhas, estradas e veias que vão /
Do céu ao coração /
Aqui é
o meu país / De botas, cavalos, estórias
/
De yaras e sacis / Violas cantando glórias /
Vitórias, ponteios e
desafios /
No peito do Brasil / Me diz, me
diz /
Como ser feliz em outro lugar”?
(Meu
país – Autores: Ivan Lins, Vitor Martins)
Por
um mês, convivemos com a diferença. O diferente nos visitou na pessoa de várias
nacionalidades, credos e culturas. Torcedores das mais diversas equipes, das
mais diversas seleções, andando lado a lado. Falando uma linguagem que é
compreendida em qualquer idioma: a linguagem do amor e da amizade. As
provocações existiram por parte da multidão de torcedores, espalhados pelas
ruas e amontoados nos estádios. O mais legal disso tudo era o fato de fato de
serem provocações saudáveis e alegres brincadeiras. Todos queriam que suas
seleções vencessem, entretanto, no limiar desse querer ver o seu futebol
vitorioso, existia o respeito por aquele torcedor que está do meu lado, que
caminha junto comigo, e que tem o mesmo desejo que eu: ver a taça ser levantada
por seus valentes guerreiros.
Vamos
sentir saudades da legião de estrangeiros que invadiu o país e por ele se
apaixonaram. Os brasileiros foram, como sempre são, excelentes anfitriões e
receberam a todos de braços abertos. Foram camaradas, solidários, irmãos.
Vamos
sentir saudades das ruas enfeitadas de verde e amarelo... Das crianças ainda no
colo dos pais, mas já vestidas com as cores de seu país e, mesmo sem o saberem,
sendo protagonistas de dias que ficarão para a história escrita e serão
recontadas pela tradição oral. Vamos sentir saudades das ruas lotadas em dias
de jogo do Brasil e das buzinas barulhentas. Que bom ver o orgulho se ser
brasileiro estampado na face de cada homem, de cada mulher, de cada criança.
Vamos
sentir saudades dos estádios lotados, do Hino pátrio entoado com amor e emoção,
das lágrimas choradas de alegria ou de tristeza. Essas coisas não são para
serem esquecidas, ao contrário, devem ser revividas sempre. São essas chamas de
amor e essas avalanches de paixão, que nos farão andar de cabeça erguida e, de
cabeça erguida, marcharmos para as urnas daqui a alguns meses e passarmos o
Brasil à limpo.
Nos
céus do Brasil, 32 estrelas reluziram com fulgores e intensidades diferentes.
Foi bonito de se ver as Américas; do Sul, do Norte e Central; Europa; África e
Ásia renderem-se aos encantos e à magia do futebol. Povos que invadiram nossas
ruas, lotaram nossas praças, festejaram em todos os recantos desse Brasil,
celebrando a grande festa do esporte. Tive vontade dizer a cada estrangeiro que
passou por aqui: “Ah! ouve estas fontes
murmurantes, aonde eu mato a minha sede e onde a lua vem brincar. Ah! Esse
Brasil lindo e trigueiro, é o meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro”.
Mas nem foi necessário: Eles rapidamente descobriam isso.
Foi
bonito de se ver o futebol bem jogado, bem organizado, bem traçado dentro do
gramado. Como esses craques sabem tratar bem uma bola! Nos pés deles, ela se
torna criança levada que não para quieta, nem por um instante... E como a
Brazuca deu trabalho para os goleiros. Mas os goleiros também eram bons. Verdadeiras
muralhas de talento a impedirem que o adversário fizesse alguma graça. Algumas
vezes eles conseguiram, e de forma brilhante... Em outras vezes, a danada da
bola foi colocar-se no fundo do gol, balançando a rede e fazendo a festa de uns
e a tristeza de outros.
Agora,
passados os momentos de brilho e esplendor, resta-nos os jogos medíocres do Campeonato
Brasileiro. Que se pode fazer? Há que se comer o feijão que tem na mesa, não é
mesmo? Como diz o ditado: “É o que tem para hoje”. E seguir sorrindo, torcendo
pelo time do coração, afinal, acabou o show dos melhores do mundo, mas não
acabou a paixão pelo futebol.
Nessa
festa, fica para nós o gosto amargo de perdemos de para a Alemanha, numa
goleada histórica de 7 x 1. E depois sofrer mais três gols da Holanda na
disputa pelo terceiro lugar. Oh, seleção canarinho, nem ao menos o terceiro lugar,
tu nos proporcionaste. Que decepção! Que vontade de não escrever este
parágrafo, de pular essa parte. Que vontade de varrer essa vergonha para
debaixo do tapete. Na era da tecnologia, entretanto, isso soaria ridículo —
como ridícula foi a atuação da seleção brasileira. Ainda que faltassem as
câmeras de TV, ainda haveria as páginas dos jornais, e, se esses viessem a
faltar, milhões de bocas falariam desse vexame.
Ficamos
atordoados, sem rumo, mas não percamos a esperança, lembremos que a Fênix
quando morria, passava por um processo de autocombustão e, depois de algum
tempo, renascia das cinzas. A Alemanha, também não chegou ao fundo do poço e, a
exemplo da Fênix, também não ressurgiu campeã no templo sagrado do futebol?
Porque não pode também o futebol brasileiro trilhar igual caminho? Felipão
passou. Fez um bom trabalho no passado, sem dúvida, mas não soube atualizar-se.
Que venha um novo técnico e, muito mais que isso, que venha uma renovação no
futebol brasileiro.
Que
Copa inesquecível!!! Que lances maravilhosos!!! Quantos recordes quebrados!!!!
Os tão esperados problemas não aconteceram. As manifestações tão temidas
silenciaram. Um ou outro foco de incêndio foi detectado, mas eram baderneiros e
não eram, de forma alguma, representantes da ordem e da democracia. A pequenez
desse grupo que não sabe exigir seus direitos de forma ordeira, não chegou a
ofuscar o brilho da festa.
Que
povo maravilhoso que fez os estrangeiros se sentirem em casa! Ò nação
brasileira, acorda! Você pode muito mais. Seja como a Fênix, renasça das
cinzas! Nação soberana, não deixe que atitudes mesquinhas, praticadas por
alguns políticos infames, apague o brilho das estrelas de sua bandeira. Povo
brasileiro, não baixe a cabeça diante das dificuldades. Reconheça que baixar a
cabeça é um grande passo para perder a batalha. Só assim, no final, podereis
cantar: “Já podeis, da pátria filhos, ver
contente a mãe gentil; Já raiou a liberdade no horizonte do Brasil.”
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