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Brincando de roda... De capoeira
Posted by Cottidianos
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00:22
Segunda-feira,
20 de abril
Ê
Maior é Deus
Maior é Deus, pequeno sou eu
(Tudo) O que eu tenho foi Deus que me
deu
(Tudo) O que eu tenho foi Deus que me
deu
Na roda da capoeira
(Hahá!) Grande e pequeno sou eu
Camará…
(Mestre Pastinha)
Ontem
foi domingo de Páscoa e, com certeza, muita gente saiu à procura dos
coelhinhos. Não exatamente em busca dos coelhinhos, mas de seus deliciosos ovos
de chocolate. Huuuummm!! Que delícia que são os ovos de chocolate! Na verdade,
por trás da corrida a esses deliciosos ovos, se esconde um significado muito
mais profundo e rico, que indica a passagem para uma nova vida. Páscoa
representa uma das maiores e mais importante festa para os cristãos. Nessa
época, eles comemoram a vitória de Jesus Cristo sobre a morte. Se cristo não
tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé, como diz o apóstolo Paulo.
Teve
gente aqui em Campinas para quem o coelhinho chegou mais cedo e eles comemoraram
uma Páscoa antecipada. É sobre isso que gostaria de falar a vocês.
Faz
tempo que o domingo é um dia especial. Desde civilizações antigas que ele é
tratado como um dia diferente e propício para se reverenciar as forças
espirituais que regem o mundo. Os babilônicos aproveitavam o este dia da semana
para celebrar o Deus Shamash (Sol), os egípcios e assírios o utilizavam para
fazer suas preces e orações ao deus Ra (Sol). Para os cristãos o sol é Jesus
Cristo e o dia propício para lhe render graças também é o domingo. Afinal foi
nesse dia que ele ressuscitou.
Foi
também no domingo (06), dia tão rico de significado e de força cósmica, que fui
ao bairro de Vila União, conhecer uma roda de capoeira praticada por crianças.
Eram
9h30 da manhã quando cheguei ao Terminal Central de Campinas, onde tomaria um
ônibus com destino a Vila União. Manhã tranquila, terminal de ônibus também.
Poucas pessoas esperavam ônibus no terminal. Durante a semana, o lugar parece
um formigueiro humano, tantas são as pessoas que circulam pelo local.
Enquanto
aguardava o ônibus, aproveitei para continuar a leitura do ensaio, Da Felicidade, de Sêneca, advogado,
escritor, filosofo e um dos mais influentes intelectuais do Império Romano. O
ônibus chegou uns vinte minutos depois. Após um percurso de cerca de meia hora,
cheguei ao bairro de Vila União.
O
evento acontecia na enorme praça de esportes do bairro. No momento em que
cheguei, as crianças se divertiam em uma gincana, cuja tarefa, era encontrar
ovos coloridos. Cada um desses ovos possuía uma pontuação diferente. Vencia a
competição quem conseguisse encontrar o maior número de ovos com maior
pontuação. Após essa brincadeira o instrutor dos pequenos, Mestre Salário,
chamou-os para formar a roda a roda de capoeira, ali mesmo, no gramado, à
sombra das árvores.
Enquanto
era organizada a roda, lancei um olhar em volta, observando a beleza e a
quietude do lugar, que era rodeado de muitas árvores. Enfim, sob a sombra das
árvores da praça, soou o inconfundível toque do Berimbau e, em seguida, os
cantos que dão ritmo ao jogo. As crianças se posicionaram á frente do conjunto,
aos pés do Berimbau. O Berimbau solista indicou o início do jogo, os pequenos
capoeiristas giraram seus corpos na direção do adversário e iniciaram o jogo.
Os
raios de sol daquela manhã dominical, abriram espaço por entre a copa das
árvores e também vieram apreciar uma roda de capoeira cheia das boas energias
que emanam do universo infantil. Notei que, além da brilhante luz do astro rei,
o ambiente era iluminado por outra luz tão intensa e tão benéfica quanto o sol
da manhã: a luz da felicidade. Luz essa que emanava de fontes diferentes; da
expressão de alegria com que pais e mães acompanhavam a prática de esportes dos
filhos; no brilho que se fazia notar no olhar concentrado das crianças; no
carinho e na firmeza com que o Mestre Salário e seus auxiliares organizavam a
roda e incentivavam os pequenos capoeiristas.
Fiquei
a observar o empenho com que aqueles meninos e meninas se entregavam ao jogo da
capoeira, resgatando, dessa forma, toda uma tradição iniciada com os africanos
que aqui aportaram no início do processo de colonização de nossa terra Brasil.
Era notável a maneira respeitosa com que eles se comportavam na roda e a
seriedade com que encaravam esse momento. Também era gostoso ver com que
agilidade e leveza, giravam seus pequenos e frágeis corpos, realizando
movimentos característicos da luta.
A
capoeira, sem dúvida, dentre outras benesses, ajuda a criança a se posicionar
diante da vida. Quando pratica capoeira a criança aprende não apenas a jogar,
mas também a cantar, tocar os instrumentos necessários a marcação do ritmo do
jogo. A prática do esporte em questão fortalece nos pequenos a base emocional,
e estimula a prática da observação e da defesa pessoal, evitando com isso, o
incentivo à prática da violência e da agressividade. São inúmeros os benefícios
que uma roda de capoeira pode proporcionar àqueles que estão dando os primeiros
passos na estrada da vida; disciplina, organização, desenvolvimento do corpo e da
mente; ampliação do campo de conhecimento, dentre outras.
Eu
havia conhecido o Mestre Salário no dia anterior, sábado, dia 05 de abril, em
uma roda de capoeira organizada pelo Mestre Topete, em frente à Catedral. Na
breve conversa que tivemos, o capoeirista me falou do trabalho que desenvolvia
com crianças. Contou-me também que faria um evento no dia seguinte e me
convidou para ir participar.
Mestre Salário
Mestre
Salário é capoeirista há 26 anos. Além da Academia que mantém na Vila União, dá
aulas em várias escolas particulares de Campinas. Em seu trabalho, procura
valorizar a integração entre os alunos e trabalhar também o aspecto da inclusão
social.
Ele
decidiu fazer uma roda de capoeira especial, uma espécie de Páscoa antecipada,
devido ao fato de que, por ocasião da Páscoa, estaria em Natal, capital do Rio
Grande do Norte, participando de um evento de capoeira. Nem é preciso dizer que
as crianças gostaram e muito. Para elas foi uma oportunidade de participarem de
uma confraternização, jogar capoeira e ainda ganhar chocolates. Para os pais
foi uma oportunidade de acompanhar o desenvolvimento esportivo dos filhos, uma
vez que, durante a semana, muitos deles estão trabalhando e não podem fazer
isso.
Mestre
Salário também é representante, no Estado de São Paulo, da Fundação
Internacional Capoeira Arte das Gerais, e representante geral dessa mesma
fundação, em Campinas.
Há
um trecho do ensaio de Sêneca, Da
felicidade, que estava lendo, e que se aplica muito bem a esse momento: “Em primeiro lugar, a mente deve estar sã e
em plena posse de suas faculdades; em segundo lugar, ser forte e ardente,
magnânima e paciente, adaptável às circunstâncias, cuidar sem angústia do seu
corpo e daquilo que lhe pertence, atenta às outras coisas que servem para a
vida, sem admirar-se de nada; usar os dons da fortuna, sem ser escrava deles.
Compreendes, ainda que não claramente, que, além disso, advém uma constante
tranquilidade e liberdade, uma vez afastadas as coisas que nos perturbam ou nos
amedrontam. Em lugar de prazeres e gozos mesquinhos e frágeis, até mesmo
prejudiciais em sua desordem, que venham uma grande, inabalável e constante
alegria e, ao mesmo tempo, a paz e a harmonia da alma, a generosidade com
doçura. Qualquer tipo de maldade é resultado de alguma deficiência”.
Preenchendo
o tempo dos filhos com o esporte e, com isso, acertando algumas deficiências na
personalidade deles, os pais estão, mesmo sem o saberem, afastando-os da
maldade.
***
Ao
final da apresentação daquela iluminada roda de capoeira, conversei com os pais
de três dos garotos que lá estavam, preparando-se para serem grandes
capoeiristas, quem sabe, futuros mestres. Nas fotos, optei por apresentar a
imagem dos garotos, apesar de ter conversado com os pais deles.
Conversei
primeiro com o Estavam Bertucci Lorençon. Ao lado dele, a esposa, Juliana
Franco Milton Lorençon. O casal tem três filhos: Rafael, Lucas e Guilherme, o
mais novo da turma. Aliás, meu primeiro contato com alguém do grupo foi,
justamente com o pequenino Guilherme, que estava em seu carrinho de bebê, se
divertindo com um brinquedo. Tem gente que fala, meio que com descaso: “Ah, é
apenas uma criança”, mas se esquecem de que as crianças também se comunicam se
não com palavras, mas muito com o olhar, com as mãos, com o sorriso.
Evidentemente, o pequenino Guilherme ainda não é praticante da capoeira, mas
enquanto os irmãos estão na roda, sua mente está captando o toque do Berimbau,
ouvindo os cantos ritmados, enfim, mesmo que forma inconsciente está absorvendo
a energia da roda de capoeira.
Lucas e Rafael
José Flávio – Há quanto
tempo os filhos de vocês estão na capoeira?
Estavam Loreçon – O Rafael, que
é o mais velho, está há um ano. O Lucas há um mês.
José Flávio – Vocês notaram
alguma diferença no comportamento deles, depois que começaram a frequentar as
aulas?
Estavam Lorençon – Sim! Eles já
começaram a melhorar no aspecto disciplinar. O respeito e atenção também
melhoraram. Eles já melhoraram de forma significativa.
José Flavio – Eles estão
gostando?
Estevam Loreçon – Estão sim. No
dia da aula são eles mesmos que nos lembram do compromisso: “Hoje tem aula de
capoeira”.
Em
seguida a essa entrevista, conversei também com Bruno Finotelli Pires, pai Paulo
Henrique Gonçalves Ficag, mais conhecido como Paulinho – outro garoto, mais
novo, porém com mais tempo de prática no jogo da capoeira. Paulinho é irmão de
Rayssa, que também pratica capoeira. Bruno é esposo de Márcia.
Paulinho Ficag
José Flávio – Quantos anos
têm o seu filho?
Bruno Finotelli – Cinco anos.
José Flávio – Há quanto
tempo ele pratica a arte da capoeira?
Bruno Finotelli – Que ele está
na capoeira, vai fazer quatro anos. Ele começou com dois anos, quando ele
completar seis anos, ele faz quatro anos de capoeira.
José Flávio – Como surgiu a
ideia de matriculá-lo em uma aula de capoeira?
Bruno Finotelli – A iniciativa surgiu através da escola. O
Mestre Salário fazia um trabalho junto à Escola Gênius e, como ele é aluno do
Gênius, iniciou a capoeira lá. Depois de um ano, ele foi convidado a vir para a
Academia, pois já estava se diferenciando dos outros alunos.
José Flávio – Percebi que
ele entra na roda de capoeira com bastante seriedade...
Bruno Finotelli – Ele é
bastante dedicado. Na verdade, é o seguinte: na roda, ele quer jogar a toda
hora, mas o mestre vai impondo uma disciplina a ele. Pois, é preciso deixar as
outras crianças jogarem também.
José Flávio – O que mudou
no comportamento dele com a frequência as aulas e aos treinos?
Bruno Finatelli – O
comportamento dele melhorou muito. Ele era muito agitado, agora está mais
calmo. Ele tem um diferencial no comportamento que todo mundo percebe de longe.
Para
mais informações sobre o trabalho de Mestre Salário, acesse página do Facebook,
Salário Capoeira: https://www.facebook.com/salario.capoeira?fref=ts
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