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Uma carta aberta e os muitos trabalhos de cada um de nós
Posted by Cottidianos
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22:35
Segunda-feira,
07 de abril
“Na
Grécia Antiga o grande herói nacional foi Héracles, ou Hércules, como se chamou
depois. Era o maior de todos — e ser o maior de todos na Grécia daquele tempo
equivale a ser o maior do mundo. Por isso, até hoje, vive Hércules em nossa
imaginação. A cada momento, na conversa comum a ele nos referimos, à sua imensa
força ou às suas façanhas lendárias. Dele nasceu uma palavra muito popular em
todas as línguas, o adjetivo "hercúleo", com a significação de
extraordinariamente forte. A principal característica de Hércules estava em ser
extremamente forte, extremamente bruto, mas dotado de um grande coração. No
calor das façanhas muitas vezes matava culpados e inocentes — e depois chorava
arrependido. Disse Anatole France: "Havia em Hércules uma doçura singular.
Depois de, em seus acessos de cólera, golpear culpados e inocentes, fortes e
fracos, Hércules caía em si e chorava. E talvez até tivesse dó dos monstros que
andou destruindo por amor aos homens: a pobre Hidra de Lerna, o pobre
Minotauro, o famoso leão do qual tirou a pele para transformá-la em peliça.
Mais de uma vez, ao fim dum daqueles feitos, olhou horrorizado para a clava
suja de sangue... Era robustíssimo de corpo e mole de coração."
O
trecho acima abre o primeiro capítulo da obra Os Doze Trabalhos de Hércules, do grande escritor brasileiro,
Monteiro Lobato. É um diálogo entre Dona Benta e seu neto Pedrinho. O assunto
sobre o herói grego surgiu enquanto o menino recordava suas façanhas na Grécia
antiga, narradas em outra obra, O
Minotauro, também de Monteiro de Lobato.
Uma
rápida pincelada na história de Hercules. O herói era casado com Mégara com a
qual teve alguns filhos. A deusa Hera ainda ressentida com o adultério de Zeus
e querendo vingar-se dele, fez com que Hércules, num acesso de loucura, matasse
todos os seus filhos. Desejando se purificar desse crime Hércules deverá
realizar doze tarefas impossíveis aos mortais, dentre essas tarefas está a luta
com monstros terríveis e perigosos, vencendo-os todos.
Todós
nós temos um pouco do extraordinário herói grego, Hércules. Metade humano,
metade divino, o herói teve que travar várias batalhas, saindo vitorioso em
todas elas, dado o caráter de sua força extraordinária. Todos nós temos um
pouco de Hércules, pois em nós habita o humano e o divino. Também todos nós
temos que vencer nossas próprias lutas e monstros interiores. Diferentemente do
grego, algumas lutas a gente ganha, outras a gente perde e, assim, vamos nesse
caminho de aperfeiçoamento que é via terrena. Foi para isso que viemos aqui,
para aprendermos aperfeiçoarmo-nos.
Foi
fazendo referência à mitologia, que o jovem Luís Vinicíus, dirigiu-se ao seu
pai, quando este veio lhe dar os parabéns, após a missa de formatura dos alunos
do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, celebrada
no dia 26 de março, na Igreja Santa Rita de Cássia, em Campinas.
Como
vencer nossos monstros interiores são lições que têm que ser aprendidas a cada
dia. No campo do Direito, que é a area em que o jovem Luís Vinícius deverá
exrecer os seus dons, é preciso enfrentar o monstro da injustiça e lutar para
fazer prevalecer o sol da verdade. Cada um de nós, na condição de seres
humanos, temos que combater o monstro da maldade, do egoísmo, da inveja e
tantos outros que podem nos lançar nas trevas da ignorância, fazendo com que
nos desviemos da missão que nos foi destinada.
A
seguir apresento uma carta aberta, endereçada ao autor deste blog, escrita pelo
jovem advogado, Luís Vinícius de Almeida, da cidade de Paulínia, no Estado de
São Paulo. A ele, os meus parabéns e os votos de que
desenvolva bem, não apenas doze trabalhos, mas, uma infinidade deles. E que os
realize com êxito, e não desanime diante das dificuldades, por maiores que elas
possam parecer. Sobre essa questão de manter-se firme diante dos revezes da
vida, há dois mil anos atrás, o mestre Jesus já exortava seus discípulos — palavras
estas que tomamos como herança — dizia ele: “Neste mundo vocês terão aflições,
mas tenha coragem, eu venci o mundo” (Jo 16:33), ao que eu complemento com um versículo do Livro de
Isaías: “Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu
Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; eu o segurarei com a minha mão direita
vitoriosa” (Isaías, 41:10).
A
carta foi escrita no dia em que o país lembrava os 50 anos de um longo e triste
capítulo da história do Brasil: a ditadura militar, e o jovem formando faz
referência a esse lamentável episódio no último parágrafo do texto.
Carta aberta ao caro amigo José
Flávio,
É
com muita honra que escrevo para o blog Cottidianos,
como bom fã de Raul Seixas não pude deixar de ler seu post sobre nosso
inesquecível Maluco Beleza, meus parabéns por resgatar sua memória.
Pois
bem, vamos ao que nos é conveniente tratar aqui, vamos falar da alegria desta
etapa cumprida e que o senhor e seus colegas de Coral Pio XI puderam acompanhar,
fato que muito nos alegrou, pois a cerimônia foi algo inesquecível e que
realmente ficará marcada na história.
Passada
a euforia deste momento especial, já recuperado dos quatro dias de festividades
passo a me dar conta do quanto sentirei falta da rotina de estudos e projetos
para a formatura. Mas o que fica é uma saudade boa, um sentimento de que esta
missão fora cumprida e que não faltarão boas lembranças.
Que
as novas etapas que vislumbramos superar nos deixem tão orgulhosos quanto esta
de hoje e que nos proporcionem novas, boas e inesquecíveis lembranças.
Sempre
haverá algo pelo que vale a pena lutar! E, penso que hoje seja esta nossa
principal missão enquanto recém-formados, lutar por promover igualdade e
dignidade a todos, lutar para que todos tenham pelo menos um pouco de tudo que
tivemos até hoje e que nos proporcionou estarmos hoje, aqui.
Disse
para meu pai, ao este vir me dar os parabéns, em referencia ao mito grego de
Hércules, que, apesar de toda essa grande felicidade, este era somente um de
nossos doze trabalhos, e, que mesmo tendo tanta maestria em sua conclusão,
novos e maiores desafios virão. Afinal, haveria faculdade mais complexa e mais
árdua do que a própria vida?
Desejamos
utilizar nossa graduação como mais um degrau rumo à vitória na vida, executando
os doze trabalhos e assim como o herói Hércules, perpetuar nossa jornada por
este mundo e ter a certeza de que contribuímos para torná-lo habitável as
próximas gerações em todos os sentidos, sejam eles, naturais, sociais e
econômicos.
Agradecemos
a todos que até aqui colaboraram para que, pelo menos o prefácio desta história,
fosse escrito com sucesso. Agradecemos a todos que hoje nos depositam sua
confiança. Agradecemos, desde já, a todos que se juntarão a nós e também farão
parte desta história, enfim, a todos que nos ajudarão a nos tornarmos inesquecíveis.
Por
fim, gostaria de lembrar que hoje é uma data histórica em que lamentamos um
nefasto episódio ocorrido a exatos 50 anos atrás, um dia que infelizmente
demorou 21 anos pra acabar, um dos pesadelos mais longos pelos quais passou
este país. Concentremos esforços para que jamais ocorram tais atrocidades e
tais violações aos direitos do cidadão.
Um grande abraço, obrigado pela
oportunidade.
Paulínia, 1 de Abril de 2014.
Luís Vinícius de Almeida.
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