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Sempre ao seu lado: Uma lição para nós, humanos

Posted by Cottidianos on 22:59
Quarta-feira, 16 de abril

Imagem: http://danielthame.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html


 “A amizade é um amor que nunca que nunca morre
Mário Quintana

Prólogo

Vidas que se cruzam como se entrelaçam os cruzamentos das linhas férreas. Caminhos que seguem paralelos como os trilhos, pelos quais passam os trens que se destinam a cidades e povoados distantes. Nas estações ferroviárias da vida se desenrolam cenas de alegria pela chegada daqueles a quem aguardamos com ansiedade. Na mesma estação capta-se o olhar melancólico, a lágrima que escorre pela face no triste momento da partida.

Destinos que se cruzam. Vidas que se enlaçam e se desenlaçam. Nas plataformas da vida, quem escolhe quem? Escolhemos ou somos escolhidos? A verdade é que somos todos iguais a instrumentos musicais que são regidos por um maestro, uma força misteriosa e invisível que está acima de nós e, ao mesmo tempo, está dentro de nós. Que está fora de nós e, ao mesmo tempo, está em nosso interior nos movendo como se movem como movem as rodas de um moinho.

Em nossas limitações humanas, sabemos o dia em que chegamos à aldeia. Outros nos tornaram cientes do dia em que descemos do trem e começamos a habitar essa aldeia chamada vida.

Entretanto, não nos é dado saber o dia nem a hora em que a deixaremos, subiremos a plataforma e embarcaremos no trem que nos levará para montanhas e colinas distantes. O trem é um mistério. O destino é um mistério. Os passageiros são um grande mistério...

Imagem: http://www.ogritodobicho.com/2014/04/morador-de-rua-e-internado-e-seu-cao.html

Sempre a seu lado

Li, por esses dias, uma história que me chamou  a atenção e me fez refletir sobre valores como amizade e lealdade.

Lauri da Costa, um morador de rua, da cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul foi internado em uma unidade hospitalar daquela cidade gaúcha, no dia 31 de março deste ano.

Lauri havia sido atingido, no rosto, por uma pedra jogada por um agressor não identificado. Enquanto tratavam desses ferimentos, os médicos descobriram que o morador de rua tinha um problema mais grave: câncer de pele. Os médicos informaram ao paciente que, devido a esse problema, ele precisava ficar mais tempo no hospital para que fosse submetido a uma cirurgia.

Do lado de fora, mais precisamente, no estacionamento do hospital, o amigo de Lauri aguardava pacientemente o seu retorno. O melhor amigo do paciente, e que esperava lá fora,  era seu cão de estimação. Comovidos com a atitude do animal, os funcionários do hospital resolveram dar água e comida ao cachorro, ao qual deram o nome de Seco, durante o tempo em que Lauri permaneceu sob cuidados médicos.

Quando o paciente estava em condições de receber visitas, as enfermeiras tiveram a idéia de promover um encontro entre o cão e seu dono. Uma vez que a entrada de animais era proibida pelo regulamento, elas resolveram levar Lauri até o estacionamento, onde o animal estava acomodado. O reencontro entre os dois foi emocionante e comoveu a equipe. Bastou o paciente, em cadeira de rodas, ainda com as roupas do hospital e entre faixas e curativos, chegar ao local onde estava o cachorro para este, imediatamente, se lançar no colo do dono com uma alegria contagiante, como a dizer: “Você voltou! Que bom! Eu estava com muitas saudades”.

Passaram-se oito dias. Durante todo esse tempo nenhum parente do morador de rua compareceu ao hospital para lhe fazer visitas. O seu cão de estimação, ao contrário, não se afastou do local um só instante.

Essa história real me fez lembrar o filme Sempre a Seu Lado (Hachiko: A Dog’s Story), baseado em uma história real.

Era fins do ano do 2009, quando o filme entrou em cartaz nas salas de cinema em todo o Brasil, fui assistir ao filme por indicação do amigo Nacle. Nacle me falou que o filme era muito bom, que eu devia ir ver, que havia chorado de emoção durante a exibição, e que muitas outras pessoas também haviam feito o mesmo e coisas desse tipo. Achei um certo exagero da parte dele, mesmo assim fui ver o filme. Achei a história muito bonita e muito forte, mas não a ponto de ir às lagrimas, o que reforçava a minha tese de que o meu amigo havia exagerado. Quando a história se encaminhava para o seu final, percebi que algumas lágrimas começavam a escorrer pelas minhas faces. Ao findar a exibição do filme, notei que o mesmo acontecera com muitas outras pessoas.

Uma das cenas mais marcantes desse filme, além das cenas finais, é uma cena na qual o professor universitário, interpretado no filme por Richard Gere, brinca no quintal com o pequeno cãozinho que apenas acabara de encontrar em uma estação de trem. Enquanto os dois se divertem, Cate, a mulher do professor, interpretada por Joan Allen, olha a cena através de uma janela. Ela era, terminantemente contra a presença do animal no lar deles e força o marido a espalhar folhetos no qual anuncia a adoção do animal. Justamente no momento em que ela observa os dois brincando no quintal, chega uma ligação de alguém interessado em adotar o cachorro. 

_ Ah, os folhetos do cachorro. Não ninguém apareceu ainda. Só queremos que ele tenha um bom lar... Ah, um momento, preciso achar uma caneta. Enquanto revira a bolsa em busca da caneta, olha novamente para o quintal e, ao ver a harmonia que existia entre os dois, homem e animal. Voltando novamente a falar ao telefone, ela diz:

_ Alô, já acharam quem vai ficar com o cachorro. Sinto muito mesmo.

No decorrer da trama, vai se construindo e se fortalecendo uma forte relação de amizade entre o professor e cachorro. Em uma estação de trem eles se encontram e em uma estação de trem eles se despedem. Após a morte de seu dono, em decorrência de um infarto fulminante, o cão retorna a estação a estação na qual, várias vezes, havia ido esperar o dono voltar do trabalho, pontualmente, às cinco da tarde.

Sempre a seu lado foi baseado em um fato real, acontecida na Tokyo dos anos 20. Hachiko era o cão fiel do professor universitário, Eisaburo Ueno. Quando Ueno morre, Hachiko fica aguardando seu retorno á estação durante os nove anos seguintes.

Epílogo

Amizade e lealdade, quem os poderá definir? Quem os poderá compreender? Os animais podem até não saber expressá-los através das palavras, mas sabem vivê-lo de uma forma tão intensa que suas atitudes servem de lição para nós, humanos. Confesso a vocês um segredo revelado pelo grande poeta e jornalista brasileiro, Mário Quintana: “O segredo não é correr atrás das borbolestas... É cuidar do jardim para que elas venham até você”.                                                                                                                                                            

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