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Vale de lágrimas
Posted by Cottidianos
on
00:24
Domingo,
02 de outubro
“A correnteza do rio vai levando aquela flor
O
meu bem já está dormindo
zombando
do meu amor
zombando
do meu amor
Na
barranceira do rio o ingá se debruçou
E
a fruta que era madura
a
correnteza levou
a
correnteza levou
a
correnteza levou, ah”
(Correnteza – Tom Jobim)
Vida.
Vale de lágrimas? Terra de sorrisos? Passagem?
Tudo
isso quem sabe, e talvez um pouco mais. E quem sabe sabe que os caminhos da
vida são tão imprevisíveis quanto um romance de Sidney
Sheldon. Às vezes você
quer ir por aqui e ela te leva pra acolá, igual à Roda Viva de Chico Buarque.
Quem
imaginaria que, sendo protagonista de uma novela de grande sucesso, Domingos Montagner
gravasse o último capítulo de sua vida, mergulhado no fundo nas águas do Velho
Chico. Final bom? Final ruim? Quem dentre nós, pobres mortais, que acha saber
alguma coisa diante da infinidade e dos mistérios da vida e do universo poderia
arriscar um palpite? Que é água senão a nossa condição de existência nesse
pequeno planeta chamado Terra? Sem ela não existiria verde, não existiria vida,
não existiria homem. Também no útero materno vivemos nove meses mergulhados em
água, igual a um peixinho aspirante a homem. E Domingos partiu para os braços
da eternidade nos braços de nossa mãe água. Dizem os sábios que nenhuma folha cai
de uma árvore sem autorização do criador. Então deve algum motivo pelo pelo qual uma pessoa se vai, e para o modo como se vai. Nós que ficamos não
entendemos, mas a eternidade se encarregará de dar as devidas explicações
àquele que se foi.
Está
de parabéns, Benedito Ruy Barbosa, autor da novela Velho Chico, a produção, e todo o elenco da novela. Após o fim
trágico de Domingos, eles trataram Santo dos Anjos, o personagem por ele interpretado na
novela, com muita delicadeza e honradez. Não lhe arranjaram nenhuma viagem
inesperada, nem também lhe arranjaram nenhuma morte trágica — Afinal, já
houvera sido bastante tristes os acontecimentos reais. A solução encontrada foi
deixá-lo participando do restante da novela — que já estava nos últimos
capítulos quando Domingos se foi. Não havia Santo dos Anjos, mas havia o olhar
da câmera envolta num halo de luz, como se fosse o olhar do personagem, e a
esse recurso os personagens que contracenavam com ele se dirigiam.
Foi
emocionante o casamento de Tereza (Camila Pitanga) com Santo dos Anjos
(Domingos Montagner) — sempre representado pelo olhar da câmera. Ao final da cerimônia
de casamento uma lágrima começou a brotar dos olhos de uma das imagens da
igreja, a lágrima tornou-se chuva que banhou a noiva e todos os convidados, que
sob tal benção sorriam emocionados. Chuva que tanto representava as lágrimas de
felicidade por ter convivido com uma pessoa como o Domingos Montagner, quanto
podia representar a forma como o ator deixou o vale de lágrimas. Resumindo tudo
o que foi dito após a tragédia sobre a pessoa de Domingos Montgner: iluminado. Um
iluminado que agora se torna aquilo que realmente era: luz.
Também
é preciso falar de eleições. Hoje, daqui a algumas horas, os brasileiros
estarão se dirigindo às urnas para as eleições municipais para os cargos de prefeito
e vereador. E pergunto eu aos senhores e senhoras: que motivação temos nós
brasileiros para nos destinarmos aos locais de votação, às vezes perto, às
vezes nem tanto, para votarmos nos candidatos? Seria muito pessimismo dizer que
pelo menos uns 90% dos brasileiros vão às urnas apenas porque o voto é
obrigatório, mas não é. Faça-se uma pesquisa séria, sem manipulações, que o
resultado não será muito diferente disso. Isso representa falta de civilidade
dos brasileiros? Não isso representa a falta de caráter da grande maioria da
elite dirigente da política em nosso país.
Só
para refrescar a memória: Uma presidente cassada por crime de responsabilidade,
um presidente da Câmara dos Deputados cassado por mentir aos seus pares no
Congresso ao dizer que não possuía contas no exterior, um ex-presidente acusado
de conluio com as empreiteiras, homens fortes do governo petista na cadeia ou
em vias de ir, ministros do governo Temer suspeitos de envolvimento em
corrupção. E agora, a Lava Jato está no calcanhar do terceiro homem na linha de
sucessão à cadeira presidencial, Renan Calheiros, que, por sinal, pertence ao PMDB,
mesmo partido que o atual presidente Michel Temer. A revista Veja desta semana, trouxe reportagem que
relata a delação premiada de Felipe Parente, empresário e advogado, que diz que
grande parte do dinheiro desviado da Transpetro, ia para a cúpula do PMDB,
sendo dois grandes beneficiários os senadores, Renan Calheiros, presidente do
Senado, e Jader Barbalho, ambos do PMDB.
Aqui
em Campinas, concorre o candidato Helio de Oliveira Santo, mesmo enfrentando o
processo de impugnação de sua candidatura. Ex-prefeito cassado de Campinas, que
teve como pivô de um escândalo de corrupção, sua mulher, Rosely, que è época era
chefe de gabinete. Nessas eleições, eis que o homem aparece pousando de bom
moço. A pergunta que fica é a seguinte: Se eleito, será que a chefe se gabinete
seria novamente a mulher, Rosely? Outra pergunta interessante é: O que fizeram
Hélio e Rosely com o muito dinheiro que desviraram da Prefeitura?
É assim
em Campinas, como o é em qualquer cidade brasileira. E o eleitor, não tendo
muitas opções, e tendo muito poucos candidatos realmente comprometidos com os
interesses da população, vota naquele que é menos ruim. O ideal seria que
pudesse escolher entre o melhor e o pior, mas o melhor deve ter sumido por aí,
e deve estar tão bem escondido que ninguém consegue encontrá-lo.
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