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Teus pecados estão perdoados
Posted by Cottidianos
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00:25
Terça-feira,
18 de outubro
A impressão
que se tem dos políticos brasileiros, é que eles não estão preocupados em fazer
leis que levem moralidade e dignidade ao país, em suas mais diversas formas,
inclusive, em relação a bens preciosos como saúde, educação e
segurança. Já foram várias as tentativas de abafar a Lava Jato, ou mesmo de
favorecer os corruptos envolvidos nessa nebulosa teia de irregularidades.
A sociedade
está de olhos, vigilante, e esses projetos acabam sendo retirados de pauta. Não
parece, mas eles, os políticos, no fundo, no fundo, têm medo da opinião
pública.
Entretanto
as aves de rapina são espertas e, sorrateiramente, acabam fazendo passar
algumas leis e decretos, que objetivam beneficiar uma maioria, mas na verdade,
o objetivo é salvar a pele dos comparsas.
Em
um desses descuidos da sociedade, a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff,
deu um presente de natal que beneficiou envolvidos no mensalão, e pode ainda
beneficiar outros tantos ladrões engravatados.
O decreto publicado nas vésperas do natal, no Diário Oficial da União, concede
perdão a presos de todo o país que se enquadrem em certos critérios, definidos
pelo Conselho Nacional de Política Criminal. Só para citar duas situações as
quais esses tais critérios beneficiam:
— condenados
que estejam em liberdade condicional ou regime aberto, cujas penas
remanescentes não sejam superiores a oito anos, se não reincidentes, e seis
anos, se reincidentes, desde que tenham cumprido um quarto da pena, se não
reincidentes, ou um terço, se reincidentes;
— condenados
que tenham mais de 70 anos e tenham cumprido um quarto da pena, se não
reincidentes, ou um terço, se reincidentes;
O presente
dado por Dilma é tão bom, que além do prisioneiro ficar livre de cumprir o
restante da pena, nem precisa se apresentar periodicamente à justiça. É um
verdadeiro tirar as algemas.
De
fato, se era o objetivo de Dilma, beneficiar o companheiro de partido, ela
conseguiu. Luís Roberto Barroso, ministro
do Supremo Tribunal Federal, responsável naquele órgão pelas execuções das
penas do mensalão, concedeu este ano, o benefício do indulto natalino, tão
esperado pela defesa do ex-ministro, José Dirceu. Entretanto, a tentação do
dinheiro fácil advindo da corrupção é como melado. Diz o ditado que “quem nunca
comeu melado, quando come se lambuza”. Assim é a tentação do dinheiro fácil que
se pode ganhar em esquemas corruptos. E Dirceu não se lambuzou somente nas
piscinas cheias de ratos do mensalão, como também nadou de braçada nos dutos
sujos da corrupção da Petrobrás. E está preso também por esse motivo. Não fosse
a machada pesada de Sérgio Moro, que o mandou para trás das grades por causa do
envolvimento de Dirceu no esquema de desvio de dinheiro da Petrobrás, ele
poderia ter se livrado por completo da cadeia.
Críticas
a Barroso? Ele apenas agiu baseado numa lei preexistente. Se a ex-presidente
não tivesse assinado nenhum decreto desse tipo, ficaria mais difícil ao
ministro, indeferir o pedido da defesa de Dirceu. Ressalta-se que essa decisão
de perdoar Dirceu também teve o aval de Rodrigo Janot, procurador-geral da
República. Em meio a todo esse blá-blá-blá, soou um tanto vaga e sem sentido a
desculpa que Barroso arranjou para justificar a própria decisão. Disse ele: “...
Em segundo lugar, a sociedade brasileira
deverá estar ciente de que o aumento da efetividade e da eficiência do sistema
punitivo exige o aporte de recursos financeiros substanciais. Isso porque será
necessário um conjunto de providências, que vão do aprimoramento da atuação
policial a investimentos vultosos no sistema penitenciário. Embora estas sejam
pautas institucionais importantes, é preciso explicitar que em momento de
escassez geral de verbas, os valores que forem para o sistema punitivo deixarão
de ir para outras áreas mais vistosas e populares, desde a educação até obras
públicas”.
Lendo
nas entrelinhas, pode-se afirmar que manter um sistema penal mais eficaz gerará
maior custo para a nação. E que se esse endurecimento do sistema penal for
feito, a sociedade pagará um preço, pois serão tirados recursos de outras áreas
para esse fim. Pelo menos é isso que se pode inferir da fala do ministro.
Agora,
pense o leitor nos milhões, e bilhões de reais que, ilicitamente, saem dos
cofres do maquina estatal, para financiar campanhas eleitorais e mordomias de
políticos sem escrúpulos. Esse dinheiro, certamente, serviria para financiar um
sistema penal mais eficiente e mais justo, e não apenas isso, serviria também
para proporcionar uma educação de qualidade que, por sua vez, seria a mola
propulsora de nosso desenvolvimento.
E o
que esperar do próximo indulto natalino? Mais liberdade para os corruptos poderem
torrar o dinheiro público sem serem incomodados pela lei? Por muito tempo, a
impunidade foi aliada e parceira fiel da corrupção. É preciso deixar esse tempo
enterrado nas areias do passado.
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