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Polícia Legislativa ou jagunços de Renan?
Posted by Cottidianos
on
01:45
Quinta-feira,
27 de outubro
Na
noite de terça-feira (25), sob controvérsia entre diversos setores da
sociedade, a Câmara aprovou, em segundo turno, Proposta de Emenda à
Constituição que limita os gastos públicos pelos próximos 20 anos. Agora a PEC
241 segue para o Senado para aprovação definitiva e, então, passar a fazer
parte da Constituição Federal. O problema é que agora começou um incêndio no
Senado, e o governo Temer, como diz o ditado popular, vai ter que rebolar para
fazer aprovar a PEC no Senado. Temer vai ter que ser um bombeiro muito astuto
para apaziguar o incêndio, digo, os ânimos.
Mas
antes de voltar a esse assunto, responda: Você sabe o que é jagunço? Jagunço, no interior do nordeste, ou mesmo
nas fazendas de café do sul e sudeste, era o homem contratado pelo fazendeiro,
senhor de engenho, ou por agentes políticos. Esse funcionário era tanto mais
qualificado quanto mais violento, cruel e obediente ao patrão fosse. Eles ainda
existem em alguns recantos afastados do Brasil, geralmente mais para os
povoados nos quais a justiça é exercida pelos quem tem mais dinheiro e poder. Mas
não se enganem: os jagunços não estão apenas nos povoados longínquos. Não de
modo algum. Pode-se encontrá-los também no centro do poder. Em Brasília? Sim,
isso mesmo. Há jagunços em Brasília.
Isso
foi claro na sexta-feira, (21) quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Métis,
e prendeu o chefe da Polícia Legislativa do Senado, e mais três agentes. A acusação
contra eles é de atrapalhar as investigações da Lava Jato, ao destruir provas
advindas de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. A PF havia começado a
investigação há cinco meses. Os agentes responderão pelos crimes de corrupção,
associação criminosa armada, e obstrução da justiça. Contra os acusados pesa
ainda o fato gravíssimo de terem feito um trabalho de contrainteligência em
casas de alguns senadores, e até de ex-senadores, fora do Congresso. Se alguma
escuta fosse descoberta, a ordem era desativar o equipamento. Esse tipo de
procedimento até pode ser adotado pela Polícia Legislativa dentro do Congresso,
mas não fora dele.
O
chefe da Polícia Legislativa foi solto na terça-feira (25), em meio a uma crise
institucional. Os outros três agentes já haviam sido soltos sob a condição de
colaborar com as investigações.
É fato
improvável que um diretor de Polícia Legislativa tomasse decisões de tamanha
envergadura, sem o total consentimento do chefe. E quem era o chefe dele? Renan
Calheiros. Ora, se houve tentativa de obstrução de Justiça então, supõe-se que a
ordem veio de cima, do chefe, ou do chefe sob influência de outros senadores
investigados na Lava Jato.
Pedro
Araújo deve muitos favores a Renan Calheiros, afinal ele entrou para a Polícia
do Senador em 1993. Em 2005 na primeira passagem de Renan como presidente do
Senado, ele foi alçado ao cargo de diretor da Polícia Legislativa. Desde então,
passou a ser homem de confiança tanto de Renan Calheiros, atual presidente do
Senado, quanto do ex-senador e ex-presidente, José Sarney.
Ora,
depois da prisão do seu protegido, Renan teve uma reação absolutamente
descontrolada. Ofendeu a justiça na pessoa do juiz, Vallisney de Souza Oliveira,
que autorizou as prisões. Renan o chamou de “juizeco”. Quanto ao ministro da
Justiça, Alexandre Padilha, Renan o chamou de “chefete de polícia”. No caso de
Alexandre, todo mundo reconhece que ele fala demais, e quem fala demais, sem
refletir naquilo que diz, acaba falando bobagem. O que não justifica a
deselegância de Renan.
Carmem
Lúcia, presidente do Supremo não gostou nenhum pouco das declarações de Renan a
respeito do juiz que autorizou as prisões dos policiais legislativos. É tanto
que o presidente Michel Temer a convocou para uma reunião na quarta-feira (26),
e ela recusou o convite. Deu uma desculpa esfarrapada e não compareceu. Detalhe:
nessa reunião estaria também o presidente do Senado, Renan Calheiros.
É a
atitude de uma magistrada descontente com a postura do presidente do Senado, e
porque não, também com Michel Temer, pois segundo Temer, e seus ministros,
houve exagero por parte da justiça em relação à prisão dos policiais. É também
a atitude de uma mulher corajosa, afinal, o convite veio do presidente da
nação.
Configura-se
aí uma troca de farpas, um princípio de incêndio que pode prejudicar o
andamento da democracia e o desejo de Temer de aprovar medidas importantes como
a aprovação da PEC 241, PEC para a qual Renan é peça chave para aprovação. Coincidentemente,
Carmem Lúcia havia marcado para quinta-feira (03) de novembro, o julgamento de
uma ação que pode ser uma ameaça ao posto que Renan ocupa no Senado. A ação,
apresentada pelo partido Rede Sustentabilidade, argumenta que o presidente da
República não pode, no exercício das suas funções, responder a ações penais por
crimes comuns. Renan é um homem na linha sucessória e pode vir a ocupar esse
posto... E Renan é alvo de 11 inquéritos que tramitam no STF.
Eles,
a elite da política brasileira — e nós brasileiros, temos uma vergonha imensa
dessa elite — estão morrendo de raiva e de medo da Lava Jato. Não foi a
primeira que eles tentaram obstruir a justiça, isso considerando o que foi
mostrado pela imprensa, e o que ficou escondido nos bastidores? Deve ser de
arrepiar. Não minimizemos o episódio da prisão da Polícia Legislativa e das
suas tentativas de obstrução da justiça e de contraespionagem. E nem muito
menos, minimizemos o fato de o presidente do Senado ter sido o possível
mandante desses crimes. O caso é grave, sim, e providências devem ser tomadas
no sentido de descobrir quem é o coronel por trás dos jagunços. Afinal, a
Polícia do Senado está lá para defender os interesses da nação, e não para
servir de escudo e proteção a uma meia dúzia de bandidos que fazem farra com
dinheiro público.
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