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Teto de vidro
Posted by Cottidianos
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00:30
Sexta-feira,
14 de outubro
“Quantos caminhos
Um
homem deve andar
Pra
que seja aceito como um homem?
Quantos
mares
Uma
gaivota irá cruzar
Pra
poder descansar na areia?
Quanto
tempo
As
balas de canhões explodirão
Antes
de serem proibidas?”
(Blowin In The Wind – Bob Dylan)
Música
é literatura? Literatura é poesia? Bob Dylan é um gênio? Ora, todos sabemos que
música é música, e literatura é literatura, mas quanta poesia há nos versos de
uma música bem elaborada, daquelas feitas com a sensibilidade, com o coração, e
quando o momento exige, com consciência social e política. Dylan foi pego de surpresa
com o Prêmio Nobel de Literatura que recebeu na manhã desta segunda (13).
Afora, os que foram favoráveis e os que torceram o nariz, talvez por inveja, o
prêmio concedido a Bob Dylan pela academia sueca foi mais que merecido. Parabéns, ao gênio, poeta, Bob Dylan.
Também
é fato recente que o ex-presidente Lula se tornou réu pela terceira vez em um
dos processos ligados a Lava Jato. E de novo, ele se diz perseguido. Por Deus,
ex-presidente, perseguido por quem? Diga-me o nome de seus inimigos tão
terríveis, quem sabe até não mudemos de ideia a seu respeito? Mas assim,
apontando o dedo para fantasmas, fica difícil alguém acreditar que o senhor
esteja sendo vítima de injustiças. Claro, devo afirmar a crença e o apoio que o
senhor tem por parte daqueles que ainda enxergam o Brasil vermelho. É possível
que, em um futuro não muito distante, eles até fiquem vermelho de raiva por
terem sido enganados. Em alguns orelhões antigos a ficha demora a cair, mas
cai, e, só então, as pessoas podem fazer as devidas ligações.
Prossigamos
falando da PEC 241. Assunto vencido, ultrapassado, para ser tratado aqui neste
blog? Que nada! Esse é um assunto mais do que atual... E quente.
Na
segunda (10), a Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno, Proposta de
Emenda Constitucional, que deverá congelar os gastos do governo federal pelos
próximos vinte anos. Haverá uma segunda votação para essa emenda
constitucional, mas é pouco provável que ela seja rejeitada. Afinal, que mais
gritou contra a aprovação dela foram os partidos de esquerda, e, se os votos
dos partidos de esquerda decidissem alguma coisa no momento atual da política
brasileira, Dilma nem teria saído do Palácio da Alvorada.
Ah,
caros leitores e leitora, quantos contrassensos por parte dos políticos,
dirigentes do nosso país, não é mesmo? Hummm... Contrassenso... É uma palavra
que fica meio em cima do muro, vamos ser mais diretos... Quanta incompetência por
parte da elite dirigente de nosso Brasil, não é mesmo? Eles cometem uma burrada
atrás da outra, e, no fim, nós todos é que pagamos o pato, isso quem tem
dinheiro para pagar o pato... Pois pato, hoje em dia, está muito caro. Ora, se
os frangos estão caros, imaginem os patos? Mas enfim, querendo ou não, podendo
ou não, todos nós pagamos o tal do pato.
Por
muito tempo, o governo brasileiro, e com mais intensidade nas duas últimas
décadas, viveu como se estivesse numa ilha da fantasia. Era um oba-oba total. E
jogava dinheiro ao vento... E vamos gastar, e gastar, e gastar. Sempre mais
gastar. E quando o buraco parecia abrir-se aos seus pés e tragar os gastadores,
o que eles faziam? Aumentar os impostos! O povo paga o prejuízo. Já repararam
que é sempre o povo a pagar a conta? Cortar privilégios da elite política
dirigente? Alguém já ouviu falar disso? Que nada! O deles, eles não deixam
mexer em nada. Não deixam cortar o mínimo de privilégios, e olha que esses privilégios
são incontáveis.
Mas,
voltando a PEC 241. O objetivo dela é limitar os gastos do governo à inflação
dos últimos doze meses, procedimento que deve ser adotado pelos próximos vinte
anos. Claro, nisso está previsto mudanças na forma de limitar os gastos a
partir do décimo ano.
É um
teto? É. Mas para que um teto cumpra exemplarmente a sua função, e nos proteja
do frio, das chuvas, e de outros fenômenos naturais, o que é preciso? É preciso
que, embaixo desse teto, sejam fixadas paredes, vigas, colunas, de outra forma,
o teto pode ser até bonito, ter boa intenção, mas não servirá para nada. Não se
sustentará o tão falado teto se lhe faltarem as bases necessárias.
E quais
seriam essas bases necessárias? As reformas. As tão faladas reformas que a
gente tanto ouve falar, mas ninguém nunca as viu de fato. Elas parecem até
extraterrestres que a gente vê em filmes e ouve relatos em livros ou documentários,
mas que ninguém, pelo menos não dentre os nossos conhecidos, viu algum. Você,
por exemplo, conhece alguém que viu um extraterrestre?
A reforma
previdenciária é a primeira delas, pois a previdência é um problema não apenas
do Brasil, mas de todos os países. Os gastos com a previdência continuarão a
crescer como uma criança faminta por bolo. Não adianta dizer para ela que o teto
está congelado, ela vai comer um pedaço, cada vez maior a cada ano, do bolo. Como
os gastos do governo estarão congelados, é preciso reeducar a criança
Previdência, disciplinar-lhe, ensinar-lhe novas regras, para que ela se
comporte direitinho e não coma o bolo que deve ser repartido entre todos.
O governo
agora tenta um modo de parar o carro alegórico da ilusão que quase levou o país
ao caos. Ainda dá tempo de não mergulhar nele. O congelamento dos gastos é um
paliativo. Ele não é a varinha de condão que, como num passe de mágica, servirá
de ponte para atravessar a crise. É uma saída suave. Haveria outras mais
dramáticas. Não custa nada apostar que, a longo prazo, o congelamentos dos
gastos federais seja solução. Talvez custe alguma coisa para nós, porque nada
nos tem sido dado de graça. Mas sem reforma previdenciária, fiscal, e
trabalhista, e, principalmente, se o governo não tiver o bem senso de parar de
gastar “a torto e a direito” o teto não demorará muito a desabar.
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