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Uma estrela que se apaga
Posted by Cottidianos
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00:09
Terça-feira,
04 de outubro
As
eleições de primeiro turno para prefeitos e vereadores foram realizadas. Em muitas
cidades houve uma definição já em primeiro turno, em outras a batalha será
decidida no segundo round. Algumas situações dessa eleição chegam a ser
pitorescas, quase folclóricas, outras sérias, mas todas refletem um momento da
política brasileira.
Imagine
uma candidata à vereadora em pleno campo de batalha da eleição municipal,
buscando uma vaga na casa legislativa de seu município. Ela imprimi santinhos. Distribui-os
entre os eleitores. Corre na casa de um e de outro pedindo votos. Grava mensagens
para programas do horário eleitoral gratuito exibido em cadeias de rádio, e de
TV.
Enfim,
chega o dia da eleição. Ela ainda tenta obter mais alguns votos. Como todo cidadão,
toda cidadã brasileira ela se dirige a seção eleitoral. Realiza os
procedimentos de praxe, e dirige-se à urna eletrônica, para, orgulhosa, votar
em si mesma. Digita o número de sua candidatura e... Algo sai errado. Em vez de
a própria foto aparecer na tela da urna, aparece a mensagem “candidato
inexistente”. Apenas após essa desagradável situação é que ela descobre que
havia atravessado os 45 dias de campanha eleitoral fazendo propaganda da
própria candidatura com número errado.
Esse
fato verídico aconteceu na cidade de Guajará-mirim, Rondônia. O nome da
candidata é Edilamar Quintão. Após o ocorrido ela fez boletim de ocorrência,
mas, como diz o ditado popular “não adianta chorar pelo leite derramado”. O jeito
mesmo foi ela chorar a própria incompetência.
Prédio da Prefeitura Municipal de Campinas |
Em Campinas venceu fácil em primeiro turno, o candidato à reeleição, Jonas Donizete
(PSDB). Digo fácil porque não havia candidatos à altura. Havia o Artur Orsi
(PSD), e Márcio Pochmann (PT). Apesar de ser um candidato inteligente, e, de
certo modo, preparado, era do PT, mas depois dos fatos ocorridos desde a época
do mensalão, o olhar de desconfiança sobre políticos do PT vem aumentando
consideravelmente a cada eleição. Orsi teve seus votos prejudicados por causa
do candidato Hélio (PDT). Em algumas pesquisas Hélio chegou a estar em segundo
lugar, com pouca quantidade de votos, é verdade, mas esteve. Então muita gente
preferiu votar no candidato do PSDB para não correr o menor risco de ver o
pedetista ter alguma chance de vitória na disputa. Apesar de ter permanecido na
disputa, Hélio não teve os votos contabilizados devido pendência judicial
relacionada à impugnação de sua candidatura.
Em
São Paulo, João Doria, candidato do PSDB, em uma eleição surpreendente, venceu a
disputa eleitoral no primeiro turno. Ninguém acreditou nele, a não ser o atual
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Político experiente, não é a toa que
ocupa o cargo de governador do Estado pela quarta vez, Alckmin viu algo de
diferente no seu apadrinhado. No início da campanha, Doria tinha cerca de 5%
das intenções de voto. Nem Marta Suplicy (PMDB), nem Fernando Haddad (PT), nem
Celso Russomanno deram a menor bola pra ele. Ficaram brigando entre si, e,
quando perceberam, Doria já havia passado na frente, não havendo mais tempo
para que os adversários desconstruíssem sua imagem.
Talvez
o maior vencedor das eleições em São Paulo tenha sido o governador Geraldo Alckmin.
A aposta em Doria partiu dele. Medalhões do partido como por exemplo, José
Serra e Fernando Henrique, opuseram-se a candidatura do candidato eleito do
PSDB.
Quem
perdeu em São Paulo? O PT e o PMDB. São Paulo é menina dos olhos dos políticos
quando se visa à eleição presidencial. Grande colégio eleitoral, São Paulo
representa uma grande força na política nacional. Perder na capital paulista é,
de certo modo, sair perdendo em uma eventual corrida ao governo do Estado e ate
mesmo, a corrida presidencial.
Porém
de todos os perdedores, o maior deles foi o PT. Alguns fatores contribuíram fortemente
para isso: os frequentes escândalos de corrupção nos quais o partido tem se
envolvido, e a situação econômica do país, mergulhado em quadro de inflação, recessão
e desemprego, em parte, devidos à má administração do governo Dilma Rousseff. A Lava Jato e o impeachment da presidente
Dilma, também deram importante contribuição para que isso acontecesse.
O
Partido dos Trabalhadores murchou tal qual balão vermelho açoitado pelo vento. Das
capitais brasileiras, o PT ficou só com Rio Branco, no Acre. Se considerados
números, a queda do PT foi abrupta. Em 2012, o partido tinha 630 prefeituras. Nestas
eleições conseguiu eleger apenas 256 prefeitos. Porém, dentre todos esses
fatores que fizeram do PT um perdedor nessas eleições, talvez tenha sido a
falta de autocrítica do partido, que nunca admitiu um erro sequer, sempre
colocando a culpa por sua péssima situação na política nacional, em parte da
sociedade, e na imprensa, segundo eles “os golpistas”.
Quem
teve um desempenho pequeno nestas eleições foi o partido do atual presidente, o
PMDB. O partido tinha em 2012, 1015 prefeituras, e agora em 2016 subiu para
1028. Pouca diferença. Ainda assim, não precisa chorar nem reclamar, continua
sendo o partido com o maior numero de prefeituras.
Quem
está sorrindo de orelha a orelha é o PSDB. O partido, que em 2012 havia
conquistado 686 prefeituras viu esse número subir para 793. Nada mal.
De
certo modo, o cenário projetado pelo resultado das eleições municipais projeta
o desenho das campanhas para o governo do Estado e para a Presidência da
República.
Outro
fato que chamou a atenção nessas eleições foi o enorme número de eleitores que
se abstiveram de votar, ou que votaram nulo. A cidade de São Paulo, por
exemplo, em seis eleições, essa foi a que teve maior percentual de eleitores
que se abstiveram do voto, ou que o anularam. Se votos em branco, nulos e
abstenções fossem um candidato em potencial, ele teria vencido João Doria
(PSDB). Doria obteve 3.085.187 votos. Enquanto que brancos, nulos e abstenções
somaram 3.096.304.
Em
Campinas não foi diferente. Os votos brancos, nulos e abstenções somaram
327.875. Se também fossem um candidato teriam derrotado o reeleito, Jonas
Donizete (PSBD). Jonas obteve 323.308 votos.
Falo
de Campinas e São Paulo, mas resultados semelhantes ocorreram em todas as
cidades brasileiras. Isso representa um descontentamento do eleitor brasileiro
para com a classe política que aumenta a cada ano, e, principalmente, após
todas as fases e desdobramentos da Lava Jato, que tem mostrado uma face da
política brasileira que já sabíamos era feia, só não sabíamos que era tão
assustadora e danosa ao país. Não que anular voto, se abster, ou votar em
branco seja uma atitude consciente, muito pelo contrário, mas acho que serve de
reflexão para as raposas, vampiros, marimbondos e outros semelhantes que empestearam
as nossas casas legislativas, e para nós mesmos, enquanto cidadãos brasileiros
que queremos um país melhor e mais digno de se viver. Um país do qual possamos
ter orgulho de nele viver e morar.
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