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Planeta de zumbis
Posted by Cottidianos
on
20:53
Segunda-feira,
07 de setembro
Conhecem
a letra da música, Sinal Fechado, do
grande cantor e compositor Chico Buarque, que diz:
- Olá! Como vai?
- Eu vou indo. E
você, tudo bem?
- Tudo bem! Eu
vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E você?
- Tudo bem! Eu
vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é, quanto
tempo!
- Me perdoe a
pressa, é a alma dos nossos negócios!
- Qual, não tem
de quê! Eu também só ando a cem!
- Quando é que
você telefona? Precisamos nos ver por aí!
- Pra semana,
prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?
- Quanto tempo!
- Pois é… Quanto
tempo!
- Tanta coisa
que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...
- Eu também
tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
- Por favor,
telefone! Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente…
- Pra semana…
- O sinal…
- Eu procuro
você…
- Vai abrir, vai
abrir…
- Eu prometo,
não esqueço, não esqueço…
- Por favor, não
esqueça, não esqueça…
- Adeus!
- Adeus!
- Adeus!
A
música fala de duas pessoas que, após algum tempo sem se ver, reencontram-se em sinal fechado, em uma rua
qualquer, de uma cidade qualquer. Enquanto esperam o sinal abrir, conversam, ou
pelo menos tentam fazê-lo. Os dois personagens estão apressados, mas ainda tem
tempo para se falarem, para dizer um alô. Preocupam-se um com o outro, mesmo em
meio à correria.
Os
habitantes das grandes cidades sempre viveram assim, com pressa. Agitados. Correndo
para cá e para lá. Mas mesmo assim, tinham tempo, ainda que pouco tempo, para
prestarem atenção uns nos outros.
Porém,
eis que certo dia aparece entre os homens e mulheres de boa vontade, uma grande
maravilha da tecnologia, um aparelho útil e mágico, chamado celular. Os homens
passaram a se falar um pouco menos, entretidos em suas conversas na pequena
caixinha que fala, ainda assim continuavam se falando.
Até
que um dia, um mago da tecnologia descobriu que a pequena caixinha que fala,
poderia ir muito mais além. Descobriu que, com ela se poderia integrar múltiplas
funções. Então o telefone celular tornou-se agenda, maquina fotográfica, aparelhos
de som portáteis, e uma infinidade de outras coisas. Ele instaurou novas modas
e manias que se proliferaram pelo mundo, como por exemplo, as selfs. Ah, as selfs!
Elas estão por todos os cantos e por todos os lugares. Nas reuniões sociais,
nos bares e restaurantes, nos momentos públicos e nos momentos íntimos, nos
grandes eventos, como cerimônias do Oscar, só para citar um desses eventos que
recebem total destaque da mídia. Não nos esqueçamos também dos recursos de
gravação de vídeos, que tanto tem servido para ajudar as pessoas como para
prejudicá-las, elevando ou rebaixando a sua moral.
Descobriu-se
que ele também serve para ajudar a medicina, através de programas que fazem o
trabalho que antes era feito por complicados aparelhos. Os negociantes também
se beneficiaram da tecnologia que ele proporciona, fazendo dele máquinas de
cartões de crédito. E tantas outras infinidades que só vem a acrescentar coisas
positivas ao nosso dia-a-dia, facilitando-o, tornando o mais ágil e mais célere.
Muita
gente pensa, que toda essa revolução chamada telefone celular começou
recentemente. Que nada! Engana-se quem pensa assim. Essa coisa de criar um
sistema de comunicação entre telefones sem fio já passava pela cabeça dos
engenheiros em comunicação e tecnologia, ainda no ano de 1947, antes mesmo da
humanidade colocar os pés nos anos 50. A ideia era excelente, mas a tecnologia
usada na época não ajudava muito no desenvolvimento do projeto. Porém, os engenheiros não desistiriam da
ideia. Continuaram pesquisando, experimentando, até que, em abril de 1973, foi
feita a primeira ligação de um telefone móvel para um telefone fixo. Foi uma
experiência empolgante. A partir dela, descobriu-se que aquelas ideias
começadas em 1947, poderiam funcionar com êxito. Foi uma experiência que,
praticamente, passou despercebida, mas que mudaria, de modo irreversível, a
forma dos homens se comunicarem entre si.
Mas
não nos empolguemos. Não pensemos que os nossos cidadãs e cidadãs da década de
70, se empolgaram e saíram por aí usando telefones móveis. Para se chegar ao
topo é necessário um passo de cada vez, não é verdade?
Quem
saiu na frente nessa corrida tecnológica, foi a Motorola. A empresa foi a
primeira a apresentar um telefone móvel que funcionava. Denya TAC era o nome
dele. As pessoas devem ter ficado com muita vontade de usar, mas ficaram só na
vontade mesmo: O modelo era apenas um protótipo
e não estava disponível para comercialização.
Apenas
em 1983, dez anos após a primeira experiência realmente eficaz, os celulares
começaram a ser comercializados nos Estados Unidos e em alguns países. Os
primeiros modelos ainda não eram aquela maravilha de se dizer “Oh, quanta
praticidade! Dá para se levar na palma da mão”! Não! Não dava. Eles eram um pouco
desengonçados e pesavam cerca de um quilo. Isso mesmo, um quilo. A grande
maioria deles foi projetada para instalação em automóveis. O tamanho não
ajudava muito. Imagine-se andando na rua com um celular que pesa um quilo e
mede trinta centímetros de altura. Nada prático. Outra coisa que assustava nos
primeiros modelos, além da altura e de peso, era o preço. Esse ia lá nas
alturas. Lógico, era apenas o início, e quem podia comprar um celular,
apelidado de “tijolão”, se achava o máximo por poder portar um trambolho
daqueles.
Apenas
no início da década de 90, os engenheiros resolveram aliviar o peso de quem
queria saí por aí, fazendo uso de uma comunicação mais eficiente. Surgiram os
modelos mais práticos e fáceis de transportar. Surgiram também novas
tecnologias de comunicação. Novos recursos foram sendo instalados, como por
exemplo, as mensagens de textos, as famosas SMS. Sabem que deu o primeiro passo
nesse sentido? Uma operadora da Finlândia. Foi desse país que, em 1993, foi
enviada a primeira mensagem de texto. No Brasil, a rede de telefonia celular
chegou aos poucos, em 1990. Primeiro no Rio de Janeiro, depois em Salvador.
Belo
dia, os magos da tecnologia resolveram dar o pulo do gato, e acresceram a toda
essa tecnologia, a maravilha da Internet... E o mundo e, consequentemente seus
habitantes, nunca mais foram os mesmos.
A Internet
nos celulares é útil? Sem dúvida. Maluco e lunático seria eu se dissesse que
não. Provavelmente seria linchado por meio mundo por demonstrar minha grande
ignorância. Porém, ele trouxe novos hábitos... E também novas doenças. Há os viciados
em celular, mas não um viciozinho qualquer. Há pessoas que chegam a precisar de
tratamento médico e psicológico. Pois tornam tão dependentes dele, que já não
conseguem mais dormir — pois o celular está o tempo todo, ao lado da cama, despertando-as
com suas mensagens — nem comer direito, ou ter vida social, pelos mesmos
motivos.
Hoje,
já não se ouve mais aquela conversa no sinal fechado, uma vez que as pessoas
estão tão entretidas com seus aparelhos de telefonia móvel, que não conseguem
nem ver quem está do lado, para falar a verdade, elas nem mesmo notam quem está
ao lado, e o que é pior ainda atravessam a rua — o que é perigoso — digitando
mensagens de texto. Pode a banda tocar, pode a moça de linda voz, cantar, pode
o ambulante gritar. Não adianta. Todos parecem estar em seus mundos paralelos
que cabem na palma da mão. A rua, espaço público de socialização, está se
tornando, cada vez mais, espaço particular de navegação.
Essa
dependência do celular é tão grave, que, ás vezes, as pessoas se esquecem de
preservar aquilo que ela tem de mais importante: a vida. Aqui no Brasil, no
Estado de Santa Catarina, um rapaz, dirigindo uma bela e possante caminhonete
L200, ia de uma festa de aniversário na casa de um amigo. As cidades que os
separavam distavam cerca de 1.000km. No caminho, o rapaz resolveu gravar um
vídeo usando o celular, simultaneamente enquanto dirigia o veículo, avisando o
amigo que já estava chegando para o churrasco. A intenção dele era colocar o
vídeo na rede social. Porém, enquanto grava a própria imagem, a L200 entrou
embaixo de uma carreta que trafegava na mesma rodovia, e o rapaz, não resistindo
ao grave acidente, faleceu no local. O fato aconteceu no dia 31 de março do
corrente ano.
Usar
celular é bom? É ótimo. Mas você não deve permitir que ele faça de você um
zumbi, que apenas obedece o comando de uma pequena máquina. Não deixe de viver
o momento presente. Olhe ao seu redor. Veja a criança que passa sorrindo seu
sorriso inocente; o casal de namorados apaixonados que se abraça e se beija; a
mãe zelosa que empurra seu carrinho de bebê; o artista que toca aquela música
melodiosa na rua.
Lembrem-se
do professor John Keating — brilhantemente interpretado por Robin Williams, no
filme Sociedade dos Poetas Mortos —
dizendo aos seus alunos: “Carpe diem!”
Carpe Diem! Digo eu também a vocês. Aproveitem o momento presente. Bebam do
cálice da vida, cada hora, minuto e segundo. Vivam ao máximo o agora, o momento
presente. Abram os olhos e, simplesmente, apreciem a vida que acontece ao seu
redor. Afinal, ela foi dada a vocês gratuitamente por um Deus que muito os ama
e protege.
Façam
uso da tecnologia, mas permitam se tornar zumbis. Zumbis vivem mecanicamente. Humanos
são dinâmicos.
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