0
Pedras no caminho
Posted by Cottidianos
on
00:20
Terça-feira,
10 de fevereiro
“Esses seus
cabelos brancos, bonitos, esse olhar cansado, profundo
Me dizendo
coisas, um grito, me ensinando tanto, do mundo...
E esses passos
lentos, de agora, caminhando sempre comigo,
Já correram
tanto, na vida,
Meu querido, meu
velho, meu amigo”.
(Meu
querido, meu velho, meu amigo – Roberto Carlos e Erasmo Carlos)
No
meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Este
poema de Carlos Drummond de Andrade é bastante expressivo e muito aplicável a
cada um de nós. Afinal de contas, quem não tem, ou nunca teve uma pedra no meio
do caminho. Note que o poeta não diz que
a danada da pedra estava ao lado, ou próxima do caminho. Assim ficaria tão mais
fácil... Mas não, ela tinha que se posicionar bem no meio do caminho. Assim não
tem como o passante — digo passante, porque a nossa vida não é nada além de uma
estrada, e as estradas apenas servem de passagem — desviar ou passar ao lado.
O que
fazer quando se tem uma pedra no meio do caminho? Chutá-la? Grande idiotice!
Você apenas quebraria o pé e não conseguiria nem dar sequer um passo adiante. Tentar
tirá-la do meio do caminho com algum galho de árvore recolhido às margens da
estrada? Bobagem! Você apenas quebraria, não apenas o galho, mas a árvore
inteira. Empurrar a pedra seria uma boa ideia! Que nada! Você apenas se
esgotaria em poucos minutos, gastaria suas energias e a pedra não estaria nem
aí para você, talvez, ainda risse de seus esforços.
O melhor
meio de lidarmos com uma pedra no meio de nosso caminho é pular por cima dela.
Simples assim: Pular por cima dela. Se ela for um pouco alta, podemos até
improvisar uma pequena escada com objetos recolhidos ao redor. Penso que quando
Drummond escreveu este singelo, mas, profundo poema, ele não se referia a uma
pedrinha qualquer. Mas as pedras complicadas, dessas que tiram o sono de
qualquer um. Se ele falasse apenas de uma pedrinha não precisaria nem fazer um
poema para dizer que havia uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho havia
uma pedra, pois a tal pedra nem seria sequer notada, quanto mais merecer um
poema que se tornou famoso.
Na
estrada do caminho da minha vida, não me lembro de ter havido pedras, talvez houvesse
essas pedrinhas sem graça que a gente nem nota, mas pedra, pedra mesmo, não
havia. Existiam, sim, muitas flores espalhadas pelo meu caminho, e isso eu
posso afirmar com certeza. Mas de uns tempos para cá... Começaram a aparecer umas
pedras grandes, depois apareceram umas pedras imensas bem no meio do meu
caminho. Confesso que fiquei assustado. Parei no meio da estrada. Fiquei ali, parado, pensando, até que, por
fim, resolvi perguntar pra Deus: “Deus do céu! Que é que eu vou fazer com uma
pedra desse tamanho no meio do meu caminho. Será que o Senhor não poderia tê-la
colocado de lado, só para facilitar um pouquinho?”
Sabem
o que ele me respondeu?
Ele
olhou para mim com uns olhos tão serenos e cheios de amor, e isso me tocou
profundamente, por fim, ele disse: “Se coloquei pedras tão grandes em teu
caminho, é porque sei que você pode ultrapassá-las. Portanto, seja forte. Pare de
se lamentar e continue a caminhada.”
Fazer
o quê, se o dono do universo, dá uma resposta dessas pra gente? O jeito é
continuar a caminhada, conscientes de nossa fortaleza, e tocar o barco pra
frente.
De
vez em quando, fico um pouco cansado de tanto pular essas tais pedras, confesso
que, às vezes, parece me faltarem forças. Não digo desanimar, pois quem tem um
Pai desse nível, não pode fazer com que os pensamentos andem na direção desse
abismo. Sim, pois o desanimo é uma via que conduz ao abismo, se não se toma
consciência disso. Nesses momentos em que me faltam as forças, sinto a presença
desse amoroso Pai, me pondo no colo, como se põe no colo uma criança a precisar
de cuidados, e assim ele me ajuda a atravessar os trechos mais difíceis da
estrada. Quando ele sente que recuperei as forças, me põe de volta ao caminho e
me pede para andar com minhas próprias forças, pedido ao qual, prontamente
atendo.
Dos
amigos que caminham ao meu lado, alguns sabem e outros não sabem das pedras
enormes que existem no meio do meu caminho Também os que não sabem dessas
coisas, não precisam, necessariamente, sabê-las. Basta que sejam meus amigos e
assim eles já estarão me ajudando a suavizar o peso desses obstáculos.
Ao
Deus que me guia, me conduz e me sustenta na caminhada, a minha eterna
gratidão.
Aos
amigos que caminham ao meu lado, sabendo ou não das pedras existentes, aos que
estão perto de mim, ou aos que estão longe, aos que, vejo constantemente, e aos
que raramente encontro, aos meus amigos crianças e aos meus amigos adultos, ofereço
o poema abaixo, de minha autoria, intitulado, Amigo.
Ofereço
este poema, em especial, a você que acompanha este blog. Que os raios de luz
daquele que governa o universo, se derramem na vida de todos vocês e de todos
nós.
***
Amigo
Subo a ladeira da estrada da vida
Cruzando o deserto, buscando nele um
oásis.
O sol forte do meio-dia queima minhas
faces,
Das quais teimam em escorrer alguns pingos
de suor.
Estas pequenas gotas escorrem pelos
sulcos
De minha pele, tornando mais pungente
meu caminhar.
A poeira vermelha a se espalhar pelo ar,
Não me permite aos meus olhos divisar
com nitidez,
As coisas que estão do lado de lá.
Nessa estrada não é possível ficar a
lamentar
Os espinhos cravados nas mãos,
Faz necessário apenas caminhar,
Se quiser chegar.
Olhos fixos no horizonte
Que se faz ponte para esse caminheiro
Que só traz no coração a esperança de
chegar
Ao fim dessa estrada com o coração cheio
de sol...
E com um sorriso no olhar a expressar.
A mochila que trago nas costas pesa um
pouco
Mas seu peso não me incomoda
Pois trago nela apenas sonhos
E a esperança de realizá-los.
Ergo meus olhos para os céus
E, ao elevá-los, elevou igualmente meu
coração
Numa doce prece de agradecimento aos
sábios
Por me terem feito para trás deixar
Todo o peso do ódio e do rancor.
Ao continuar a caminhar e para os lados
olhar
Um contentamento quase infantil me
invade o peito:
Comigo estás a caminhar.
Não estou sozinho esta estrada a
trilhar.
Não importa se chegaste ao raiar do dia.
Não importa se vieste ao meio-dia.
Nem muito menos se chegaste ao sol
poente.
És meu amigo e, contigo, renovo forças
Para o caminho continuar.
Postar um comentário