0
Átimos de tempo
Posted by Cottidianos
on
00:30
Terça-feira,
24 de fevereiro
“A vida é agora,
No
velho albergue
da
Terra, e cada um num
quarto
e numa história, de manhãs mais leves
E
céus à margem de esperança e de silêncios de escutar,
E
te surpreenderás a cantar,
Mas
não sabes porque”
(La vita é adesso – Renato Russo)
O
que é a vida senão uma sucessão de instantes?
Os
centésimos de tempo vão se juntando e formando os segundos. Os segundos vão se
somando e formam as horas. As horas se avolumam e formam os dias. Os dias se
multiplicam e formam os meses. Os meses se juntam, ganham força e formam os anos.
Como as águas de águas de uma cachoeira
os anos vão rolando vida afora e tornam-se séculos, que por sua vez explodem em
milênios. Os milênios se juntam, como se juntam as estrelas que formam as
galáxias distantes, e em uma explosão multicor formam a eternidade.
E nós,
homens, mulheres, humanos, estamos no meio de todo esse turbilhão de movimento
como pequenas partículas cósmicas dotadas de vida. Corpos formados de 7 octilhões
de pequenas vidas, batizadas pelos cientistas com o nome de átomos. Tem ideia
do que sejam 7 octilhões? Não tem? Então escreva o numeral 7 e a ele acrescente
vinte e sete zeros à direita. Se dá trabalho apenas imaginar, imagine ver-se as
voltas com um número tão grande. Estas pequenas consciências de nós mesmos atuam
como eficientes centrais de informações, guardando segredos de nossos códigos
genéticos e formam o conjunto de organismos e sistemas que somos nós mesmos.
Talvez
por isso se diga da felicidade que ela é o instante. Ninguém é sempre feliz, bem
como, nem ninguém é infeliz para sempre. Nessa guerra de partículas de átomos
navegando no tempo, temos liberdade de escolher em que mar queremos navegar de
forma mais constante, se no mar da alegria ou no mar da tristeza.
Na
vida, tudo passa e nada fica... Inerte. O universo é uma força vibrante. Nele tudo
é movimento, tudo é movente. Já pensou se o sol resolvesse tirar férias em
alguma praia do Caribe, e deixasse de dar sua volta rotineira e diária em volta
da Terra? Quanto distúrbio planetário não nos custaria essas férias solares? Que
seria de nós se os rios parassem de correr para o mar? Se as flores parassem de
brotar? Se as estrelas parassem de brilhar. Mesmo quando a noite se vai e as
leva consigo, elas não perdem o brilho, apenas são ofuscadas pelo brilho do
astro-rei.
Olhe
para o seu corpo. Muito mais que olhar, tome consciência dele, perceba-o. Seu
corpo também é um constante movimento, quer você esteja dormindo ou acordado,
ele está sempre trabalhando. Continuamente, diurna ou noturnamente,
trabalhando. Já pensou se seu coração resolvesse tirar uns dias de folga? Que bom
que ele é bastante trabalhador, não é verdade?
Fiquei
a pensar estas coisas após grande susto que passei no sábado (21), à tarde.
Permitam-me partilhar com vocês está experiência desagradável.
Sábado,
havia saído de casa para o ensaio do Coral Pio XI. Sai um pouco mais cedo, por
volta das três e quinze da tarde, pois havia recebido comunicado do presidente
do coral, pedindo que chegássemos mais cedo, pois haveria uma reunião antes do
ensaio. Tranquila e prudentemente, peguei o meu capacete, calcei as luvas —
acho estranho dizer calcei as luvas, mas esse é o termo correto —, montei na
bicicleta, disposto a percorrer, em menor tempo possível, os três quilômetros que
separam minha casa da sede do coral.
Sábado
à tarde, é um dia em que o transito começar a ficar menos pesado. Fazia uma
tarde quente, porém, agradável. Desci, e depois subi a Rua Conceição, passei
pelo Centro de Convivência. Algumas pessoas aproveitavam a sombra de um Café e,
embaixo das árvores, tomavam um liquido refrescante e batiam um papo, proseavam
um pouco, aproveitando a calma vespertina. Entrei na Rua Maria Monteiro, pedalando
rápido, mas com certa tranquilidade, e sempre com prudência. No cruzamento da
Maria Monteiro com a General Osório, o sinal estava verde para mim e eu segui
com minhas pedaladas regulares.
Uma
quadra à frente um carro vinha subindo a Antonio R. de Melo, uma rua transversal
que termina na Maria Monteiro. Como a preferencial era minha, segui em frente, tranquilo.
A motorista que vinha na transversal, ao invés de parar, avançou, atingindo em
cheio a bike na qual eu estava. A bicicleta voou para um lado e eu para outro. Caí
no meio da rua, me contorcendo de dor. Consegui ficar sentado, mas não
conseguia me levantar. Por sorte, na hora da queda, o sinal de transito na
quadra anterior, estava fechado e, naquele momento, só estávamos nós, eu e a
motorista que me atropelou. Logo em seguida, chegou um jovem casal que ajudou a
levantar-me e me fez sentar-se na frente de um luxuoso prédio, desses muito
comuns no bairro do Cambuí. Disseram-me que eram médicos e chamaram uma
ambulância. Em seguida, chegou a motorista que havia me atropelado — que também
era médica — querendo saber se eu estava bem. A queda foi muito forte, porém, a
proteção de divina foi bem maior. Apesar de doloridas, as duas pernas, uma vez
que rolei no asfalto, sentia que não havia quebrado nenhum osso. Mesmo assim,
era recomendável que fosse o hospital para uma verificação mais segura.
Como
a ambulância estava demorando, o jovem casal de médicos teve que ir embora,
pois ainda tinham que trabalhar em um plantão. Fiquei em companhia da médica
que havia provocado o acidente. Passado mais alguns minutos, como a ambulância,
ainda não havia chegado, ela me levou no carro dela, ao hospital mais próximo. O
rapaz, chamado Lucas, antes de ir embora, havia guardado minha bike, no prédio
na frente do qual estávamos, e eu pude ir mais tranquilo ao hospital.
No
hospital, o médico fez alguns Raios-X, e para meu alívio, realmente, não havia
quebrado nenhum osso. Tomei uma injeção anti-inflamatória e fiquei mais cerca
de uma hora, até que a injeção fizesse efeito. Deitado na cama do hospital, só
pensava na pedalada que havia combinado com amigos, no domingo pela manhã. Quando
o médico me liberou, perguntei à ele:
—
Já posso pedalar uns cinquenta quilômetros, amanhã de manhã?
Ele
riu, e disse:
—
Vá com calma. Um pouco de cada vez.
Saí
do hospital ás sete horas da noite, andando ainda meio cambaleante, e voltei ao
local do acidente, para pegar a bicicleta que havia guardado no prédio
residencial. Após verificar que ela também não havia sofrido nenhum dano,
montei nela e rumei para casa, pedalando devagar e com cuidado.
À
noite, o machucado inchou e tornou-se mais dolorido. Tive que enviar mensagem
pelo celular, avisando aos amigos de que não iria pedalar com eles, nas belas
trilhas do Distrito de Joaquim Egídio. Fiquei em casa, em meio a medicamentos e
compressas de gelo. Ainda estou em meio a esses cuidados, mas estou aqui
contando a história.
Postar um comentário