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O brilho e a arte musical do Coral Pio XI
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Sábado,
05 de outubro
Foto: José Flávio |
A
Rua Rafael De Rosa, nº 187, Jardim das Paineiras, em Campinas abriga um espaço
abençoado. No terreno de cerca de 5.000 metros quadrados o tom predominante é o
verde. Há no local um imenso e belo jardim, não apenas um simples jardim, uma
vez que nele estão cultivadas centenas de plantas raras e exóticas oriundas do
Brasil e de diversas partes do mundo. Em meio à correria louca da cidade, com
seu vai e vem de carros e transeuntes, uma palavra serve para definir bem o
lugar: paz. Um Oasis de paz em meio a agitação característica da cidade É essa
a sensação que sinto quando meus pés pisam aquele chão e meus olhos se derramam
por sobre aquela paisagem.
Um
solo assim é propicio a que se plante e que nasça com pujança, sementes nobres
como nobre é a algazarra das crianças, a paz que brota de um coração em prece,
o bate papo informal entre amigos queridos. Uma terra assim tão fecunda também
propicia que as fecundas sementes harmoniosas e belas da música, brotem e
cresçam cheias de esplendor e vitalidade..
Esse
ambiente também abriga a Sede do Coral Pio XI, coral de vozes masculinas, do
qual também faço parte. Os ensaios ocorrem sempre aos sábados, das 17h às 19hs.
O lugar também abre as segundas-feiras para receber os ensaios de outro coral,
dirigido pelo mesmo Maestro Urban, chamado Vozes
Amigas.
Quantas
vezes, na qualidade de coralista do Pio XI já senti, durante alguma
apresentação, a emoção me dominar? Quantas vezes vi pessoas, ao final de alguma
apresentação, virem falar conosco com lágrimas nos olhos agradecendo e
parabenizando por tão bela apresentação? Para falar a verdade, não sei. Perdi a
conta.
Foto: Waldemar Zaratini |
Esse mês, o Pio XI recebeu uma agradável notícia: nosso maestro, Oswaldo Antonio Urban, entrou para o Ranking Brasil, como o maestro a conduzir por mais tempo o mesmo coral. São 65 anos à frente do grupo. O Ranking Brasil existe desde 1999, sendo o único sistema de homologação de recordes exclusivamente brasileiros. É uma empresa independente que atua em todo território nacional. Em seus 14 anos de existência o Ranking já homologou mais de mil títulos em diversas categorias, todos expostos em sua publicação digital. Para nós, integrantes dessa equipe, fazer parte desse ranking é um motivo de honra.
Abro um parêntese aqui, para dizer
que hoje não vou falar do Maestro Urban, esse jovem guerreiro, de 93 anos de
idade, por quem tenho grande admiração. Hoje, me dedico a falar do coral que
ele conduz. Na semana que vem, dedico a ele um capítulo especial em forma de
entrevista exclusiva, oportunidade na qual
apresentarei a vocês a figura impar que é o maestro Urban.
Sentado
à sombra de um baobá – árvore de grande porte, proveniente das estepes
africanas e regiões semiáridas de Madagascar -, saboreando deliciosas amoras
silvestres, colhidas ali mesmo, nos jardins do Pio XI, observo as folhas das
árvores dançarem ao som da brisa suave. Na quietude do momento, pergunto a mim
mesmo: Quando e como começou essa caminhada tão bela, trilhada pelo coral nas
sendas da arte musical? A brisa sopra de modo ainda mais agradável e os ventos
do tempo levam e elevam meus pensamentos ao ano de 1948.
Era
o dia 06 de janeiro daquele ano. A cidade estava em festa por ocasião do
feriado do Dia de Reis. Os amigos Mário Cândido Pedroso e Antonio Pimentel
Tavares já estavam com a ideia de formar um coral. Aproveitaram a data festiva
para um almoço na casa de Antonio Tavares. Como a ocasião era de festa, e festa
se faz junto com os amigos, convidaram para o almoço outros moços; Belmiro
Corrêa, Riardo Coppo, Jerônimo Feltre, Oswaldo Cardamone, Henry Jansen,
Francisco Libardi, Lúcio Archangelo, José M. Cuccatti e Durval Negri. Como a
ideia já vinha sendo amadurecida pelo grupo, foi fácil escolher de imediato a
diretoria. Quanto ao nome do coral, a escolha foi um pouco mais difícil. As
sugestões foram sendo dadas; Coral Santa Cecília, Coral Campineiro... E assim
foram se sucedendo nomes, porém, nenhum era consenso entre o grupo. Até que
alguém sugeriu: Coral Pio XI. O nome
logo agradou a todos, pois, o Sumo Pontífice, Pio XI, havia, recentemente,
restaurado o canto gregoriano nas igrejas demonstrando um desejo de melhorar o
canto durante as celebrações.
O
nome também logo agradou a comunidade e, principalmente, aos religiosos. Ao saber da novidade, o Monsenhor Lázaro
Mutschelle, logo ofereceu as dependências da Matriz do Carmo para que ali fossem
realizados os ensaios. A primeira apresentação do Coral aconteceu em Elias
Fausto quando, na ocasião, o coral cantou uma Missa solene do compositor
italiano, Lorenzo Perosi, na Igreja Matriz daquela cidade. De lá para cá, o Pio
XI tem percorrido uma estrada vitoriosa no campo da cultura, nunca deixando de
ser fiel aos seus objetivos primeiros: cantar as glórias do Senhor e difundir a
obra do grande compositor e maestro, Antonio Carlos Gomes. Ainda referente a
esses primeiros tempos, é importante lembrar o mês de abril de 1948. Naquele
dia o Presidente do coral, Mario Antonio Pedroso, anunciou a entrada de mais
dois cantores no coral: Oswaldo Antonio Urban e Wilson Alves da Costa. Em 12 de
outubro daquele mesmo ano, Antonio Pimentel Tavares pediu exoneração do cargo.
O professor Urban foi nomeado para assumir o cargo. A proposta era que Urban
ficasse somente por uns três meses... Que se transformaram em 65 anos.
Foto cedida pelo Coral Pio XI |
Apesar
da forte tendência à música sacra e da dedicação a obra de Carlos Gomes, o
coral também tem em seu vasto repertório, músicas populares, músicas
escoteiras, líricas e músicas folclóricas de diversas nações. O grupo possui
ainda a peculiaridade de ser o único Clan Coral Escoteiro do mundo.
É
inegável a contribuição que o Pio XI tem prestado a cena cultural campineira.
Para ilustrar isso, trago à luz um fato interessante. A Matriz de Nossa Senhora
do Carmo tinha o desejo de ser elevada a categoria de Basílica. Para que isso
acontecesse, o Vaticano fazia duas exigências: a de que a Matriz tivesse um
órgão de tubos e a de que possuísse um coral masculino. A segunda exigência era
fácil de cumprir, uma vez que o coral já cantava nas missas daquele templo. A
primeira, entretanto, já era mais difícil, pois um órgão de tubo não era
barato. O Pio XI vendeu um terreno que possuía e doou o dinheiro para a causa.
Resultado: a Matriz foi elevada a categoria de Basílica, por decreto do Papa
Paulo VI, em 06 de novembro de 1975.
O
Pio XI viveu muitos momentos vitoriosos. Um desses momentos foi vivido em outubro
de 1964, no Teatro Municipal de São Paulo. A Prefeitura Municipal de São Paulo institui
naquele mês, um importante concurso de corais: o Concurso para Conjunto Corais
– Categoria vozes iguais – Masculino. E coral se inscreveu no evento. Foi um
momento de grande emoção para todos, quando foi entregue o Diploma ao Coral
“Pio XI” de Campinas, classificado em primeiro lugar. Pela façanha o coral
recebeu homenagens da Câmara Municipal de Campinas e da Assembleia Legislativa
do Estado de São Paulo.
Nos
dias atuais, o coral perdeu um pouco do esplendor daqueles áureos tempos. É
fato, porém, que não perdeu o brilho, nem deixou a chama se apagar. Conserva
ainda hoje força, vigor e vitalidade nas suas apresentações. O terreno no qual está a sede do coral foi
doado pelo município. Porém, como todo prédio tem seu custo de manutenção e o
coral é uma entidade sem fins lucrativos, o coral sobrevive à custa das doações
dos próprios coralistas. Mesmo com todas as dificuldades o coral já realiza um
belo trabalho... Imaginem se tivesse ajuda do poder público!
Assim
prossegue o Coral Pio XI em sua caminhada através do mar vermelho da música. E
o maestro Urban segue conduzindo o grupo com mão firme, como Moisés conduziu
com mão firme o povo hebreu.
(Link para visitar a página do Ranking Brasil com a homologação do recorde do maestro Urban http://www.rankbrasil.com.br/Recordes/Materias/0WH1/Maior_Tempo_Regendo_O_Mesmo_Coral)