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Aos mestres com carinho
Posted by Cottidianos
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23:39
Terça-feira, 15 de outubro
Hoje é o Dia do Professor. Gostaria de deixar a
carrega como profissão a missão de ensinar. Profissão/Missão que poderia ser
bem mais valorizada em nosso país. A Severina dos Anjos, minha primeira mestra,
e a todos aqueles aperfeiçoaram em mim o saber e a educação. Meu muito
obrigado, de coração. Deixo aqui minha singela homenagem. Dedico a vocês a
letra da bela canção de Ataulfo Alves, Meus Tempos de Criança, e um texto do
Pe. Fábio de Melo.
Aos domingos, missa na matriz
“Eu daria tudo que eu tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança
Da cidadezinha onde eu nasci
Ai, meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino Miraí
Ai, meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino Miraí
Que saudade da professorinha
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?
Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?
Eu
igual a toda meninada
Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada
Eu era feliz e não sabia”
Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada
Eu era feliz e não sabia”
(Meus
Tempos de Criança - Ataulfo Alves)
O que da vida não
se descreve...
“Eu me recordo daquele dia. O professor de redação
me desafiou a descrever o sabor da laranja. Era dia de prova e o desafio
valeria como avaliação final. Eu fiquei paralisado por um bom tempo, sem que
nada fosse registrado no papel. Tudo o que eu sabia sobre o gosto da laranja
não podia ser traduzido para o universo das palavras. Era um sabor sem saber,
como se o aprimorado do gosto não pertencesse ao tortuoso discurso da
epistemologia e suas definições tão exatas. Diante da página em branco eu
visitava minhas lembranças felizes, quando na mais tenra infância eu via meu
pai chegar em sua bicicleta Monark, trazendo na garupa um imenso saco de
laranjas. A cena era tão concreta dentro de mim, que eu podia sentir a
felicidade em seu odor cítrico e nuanças alaranjadas. A vida feliz, parte miúda
de um tempo imenso; alegrias alojadas em gomos caudalosos, abraçados como se
fossem grandes amigos, filhos gerados em movimento único de nascer. Tudo era
meu; tudo já era sabido, porque já sentido. Mas como transpor esta distância
entre o que sei, porque senti, para o que ainda não sei dizer do que já senti?
Como falar do sabor da laranja, mas sem com ele ser injusto, tornando-o menor,
esmagando-o, reduzindo-o ao bagaço de minha parca literatura?
Não hesitei. Na imensa folha em branco registrei
uma única frase. "Sobre o sabor eu não sei dizer. Eu só sei sentir”
Eu nunca mais pude esquecer aquele dia. A
experiência foi reveladora. Eu gosto de laranja, mas até hoje ainda me sinto
inapto para descrever o seu gosto. O que dele experimento pertence à ordem das
coisas inatingíveis. Metafísica dos sabores? Pode ser...
O interessante é que a laranja se desdobra em
inúmeras realidades. Vez em quando, eu me pego diante da vida sofrendo a mesma
angústia daquele dia. O que posso falar sobre o que sinto? Qual é a palavra que
pode alcançar, de maneira eficaz, a natureza metafísica dos meus afetos? O que
posso responder ao terapeuta, no momento em que me pede para descrever o que
estou sentindo? Há palavras que possam alcançar as raízes de nossas angústias?
Não sei. Prefiro permanecer no silêncio da
contemplação. É sacral o que sinto, assim como também está revestido de
sacralidade o sabor que experimento. Sabores e saberes são rimas preciosas, mas
não são realidades que sobrevivem à superfície.
Querer a profundidade das coisas é um jeito sábio
de resolver os conflitos. Muitos sofrimentos nascem e são alimentados a partir
de perguntas idiotas.
Quero aprender a perguntar menos. Eu espero ansioso
por este dia. Quero descobrir a graça de sorrir diante de tudo o que ainda não
sei. Quero que a matriz de minhas alegrias seja o que da vida não se
descreve...”
Pe. Fábio de Melo
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