0
A força de um Guerreiro - II parte
Posted by Cottidianos
on
00:10
Quinta-feira, 10
de outubro
Apresento agora
a segunda parte da entrevista com o Maestro Urban. Nela, o maestro fala do
Coral Pio XI, do Coral Vozes Amigas (também regido por ele), da esposa Letícia
e dos filhos. Não podia deixar de fora dessa conversa, os filhos. E faço isso
trazendo um belo e verdadeiro depoimento de Márcio Urban, filho do maestro.
Márcio, que mora na cidade de Jundiaí. É médico ortopedista e cultiva a música
a música como hobby, exercendo esse hobby com excelência, a exemplo do pai e
dos demais irmãos. Esse depoimento é uma surpresa que faço ao Maestro. Quando
estava escrevendo o texto, tive a ideia de deixar a palavra com os frutos de
sua união com Letícia. Então, sem que o maestro soubesse, entrei em contato com
o Márcio e pedi que ele elaborasse um depoimento, falando em nome próprio e
também de seus outros dois irmãos: Marcelo que mora no México,- Marcelo, no
momento, está no Brasil passando uns dias – e Margareth, que mora na cidade de
Valinhos.
Foto cedida pelo Maestro Urban |
... José Flávio - E quanto à sua
chegada ao Coral?
Maestro Urban - Eu estudava
filosofia na PUC e soube do coral através de amigos. Eles me convidaram para
conhecer o coral e eu fui. Gostei muito de ser convidado, pois era para fazer
uma coisa que eu amava. Entrei no coral como cantor, mas depois, Antonio
Tavares Pimentel, que era o regente, ficou adoentado e teve que se afastar da
cidade e nunca mais voltou ao coral. Eu assumi e me pediram para ficar alguns
meses, enquanto ele ficava fora... E até hoje não vi o fim desses meses.
(risos). Aí começamos o trabalho com o Pio XI...
Cantamos anos e
anos seguidos na Matriz do Carmo, na missa das onze. Cantávamos um programa
todo em latim... Vinha gente de cidades vizinhas só para ouvir o coral. No meio
dessa história, há um fato bastante significativo que eu vou contar agora... Eu
trabalhei com um pastor evangélico, chamado Eliseu Narciso, do qual nós
cantamos duas músicas Cria em Mim Senhor
e Das Profundezas. Ele tinha um coral
chamado Dominus, formado por alunos
do colégio Presbiteriano, que ficava ali onde hoje é o Mackenzie. Ele mandava
os alunos dele assistirem à missa numa época em que protestante não olhava no
rosto de católico e vice-versa. Ele mandava os alunos irem à missa para ouvir o
coral e aprenderem a cantar e não fazia questão de esconder isso. Foi uma coisa
maravilhosa para nós.
José Flávio - Em algum momento
o Sr. pensou em desistir?
Maestro Urban - Não.
José Flávio - Mesmo nos
momentos de dificuldade?
Maestro Urban - Não. Ás vezes
ficava meio desanimado, mas o brio e ideal de manter o coral eram mias fortes.
Eu sempre fui muito lutador. Aprendi em casa, com os meus irmãos, e levo essa
característica pela vida afora.
José Flávio - Houve algum
momento em que quiseram dissolver o coral?
Maestro Urban - Foi uma época em
que começaram a faltar muito aos ensaios e sem frequência aos ensaios não se
pode fazer muita coisa. Então o presidente, Mário Candido Pedroso, que foi quem
fundou o coral, fez uma convocação e mandou uma circular para a turma,
convocando para decidirem se continuavam ou não com as atividades do coral. Se
fossem continuar tinham que frequentar os ensaios e tinham que sujeitar a um
regulamento, foi daí que surgiu o regulamento do coral. Quem faltasse
determinado número de vezes era eliminado do coral. Isso trouxe sangue novo
para o coral. Eu fiquei com receio de que o coral acabesse, mas sempre contei
muito com incentivo do pessoal, que motivava para não paralisarmos as
atividades porque era uma coisa muito bonita.
José Flávio - O Sr. vê alguma
diferença entre os coralistas de antigamente e os de hoje em matéria de
empenho, de dedicação?
Maestro Urban - Olha, o que eu
tenho notado nas gravações que tenho feito, passando das fitas (de vídeo) para o DVD, muitas dessas fitas
gravadas em ocasiões em que o coral cantou, ou no Centro de Convivência ou no
Teatro Castro Mendes ou em outros tantos lugares em que nós cantamos,
celebrando o Papa, ou fazendo a Semana Santa, ou cantando em escolas, tem uma
porção de gravações, percebo que o nível e a interpretação que o coral dava era
diferente, era melhor do que é hoje. O coral já teve nível melhor do que o que
temos hoje, sinceramente. Ainda assim é um bom nível, eu reconheço, mas custa
um pouco eu conseguir que a turma contenha a voz, tem gente que canta tudo
muito forte, não observa os tempos fortes e fracos, canta disparadamente. Estou
encontrando dificuldade nesse aspecto.
Foto cedida pelo Maestro Urban |
(Na foto acima, Maestro Urban, a esposa Letícia e os filhos do casal; Márcio, Margareth e Marcelo)
José Flávio _ Eu gostaria
que o Sr. falasse um pouco da sua família, da sua esposa, Letícia... Qual a importância da família na sua vida? Como o Sr. conseguiu conciliar as
atividades do coral com a vivência familiar?
Maestro Urban - Eu gostava muito
de pescar, deixei de pescar para me dedicar ao coral. Antes nós ensaiávamos
três vezes por semana... Mas falando da Letícia, ela sempre foi uma companheira
muito boa, muito firme para mim. Só teve uma vez que ela “encostou a faca no
meu peito”, “Afinal de contas, ou o coral ou eu”, disse ela me pondo no aperto,
né? Daí eu falei “Hoje eu vou para o coral. Depois ela compreendeu. Ela sempre
foi muito colaboradora, muito animadora, me motivou muito e trabalhou muito
também para o coral. Nós tivemos há algum tempo atrás, o Departamento Feminino
no Coral Pio XI, que promovia festas, jantares, promoveu maravilhosamente a comemoração
dos 50 anos do coral e que convocava também as senhoras, era um grupo muito bom
esse grupo de senhoras comandado por ela. Fora isso sempre teve em casa
reuniões do coral para comemorar aniversario de um, aniversário de outro, meus
aniversários, aniversário do coral também. Geralmente nos reuníamos em casa e
ela preparava uma boa refeição que era muito apreciada pelos rapazes. Ela colaborou
muito. Meus filhos também entendiam muito de música, eles formaram o Trio Urban. Apareceram várias vezes na
televisão... me lembro de um programa chamado Gente Jovem, comandado por Fausto Canova, na TV Cultura. Um vez
foram com um violão que eu tinha mandado construir numa pequena industria que
havia em São Paulo de um polonês, não me lembro agora o nome dele..., mas ele
fez um violão maior, um contrabaixo,... e o Fausto Canova viu esse violão ...Era o Marcelo que tocava o
violão contrabaixo, enquanto o Márcio tocava o violão normal... E a Margareth
no piano, ou no órgão... Ele viu aquele instrumento, ficou todo maravilhado e
pediu para a gente lhe dar o endereço de quem tinha feito... Eles tocaram
muitas vezes, em muitos lugares diferentes, com muita satisfação para a gente.
O Trio era o meu orgulho. Agora eles só se reúnem quando coincide de o Marcelo
vir do México, pois ele mora por lá há mais de trinta anos, a Margareth mora
aqui pertinho, em Valinhos, o Márcio em Jundiaí, mas quando eles se reúnem,
geralmente, saí música. Também aprenderam música, são formados em
Conservatório. Tiveram uma professora maravilhosa que foi a D. Olga Normanha
que formou inúmeros pianistas... Margareth é formada em piano, Marcelo também.
E o Márcio é formado em violão clássico. Eles sempre me deram muita força.
Mesmo agora que ela (a Letícia) está de cadeira de rodas, nunca me impediu de
frequentar o coral. Ao contrário, muitas vezes, é ela quem me lembra dos
compromissos. Eu só tenho que agradecer a Deus, essa mão forte que ela me dá em
relação ao coral.
Foto cedida por Márcio Urban |
(Acima, foto atual da família Urban)
José Flávio _ E o Vozes
Amigas?
Maestro Urban - O Vozes Amigas é
um coral misto. O nome, Vozes Amigas, aliás, foi a Letícia que sugeriu. Faz
dezenove anos que começamos. Todas as segundas-feiras têm ensaios. Cantamos,
principalmente, em missas, mas também temos programas de música popular, música
folclórica. No Vozes Amigas criou-se uma amizade, uma verdadeira família, todos
se dão muito bem, raramente faltam aos ensaios e lá também eu exijo, como exijo
de vocês o lema, ou a nossa META SOM, onde cada letra dessa palavra tem um
significado que é:
M - manter o que
foi provado bom.
E- eliminar
aquilo que não prestou.
T- transformar,
fazer arranjos, para que o som fique melhor.
A- acrescentar o
que faltou em tudo isso que já foi feito.
S - selecionar
as melhores músicas.
O- otimizar.
M- maximizar,
não admitir coisas pela metade.
José Flávio - Para
finalizar, diga uma palavra para quem está querendo fazer um projeto bem feito.
Maestro Urban - Dedicação. Se dedicar inteiramente ao que vai fazer.
Procurar estudar o assunto, ter um objetivo a atingir e fazer o possível para
que o objetivo seja alcançado. A dedicação é muito importante. Você pode se
lembrar também daquela frase dita por Airton Senna, que mais ou menos se
assemelha à minha meta: “No que diz
respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço e à dedicação, não existe meio
termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz”. É isso aí. Em nosso
trabalho temos que agir assim. Não podemos nos contentar com meio a meio.
José Flávio - Obrigado
Maestro Urban pela entrevista.
A entrevista acaba aqui. O texto não. Deixo com
vocês com o belo e verdadeiro depoimento de Márcio Urban. O texto do Dr. Márcio
foi enviado por e-mail. Que ele sirva também como reflexão para o nosso próprio
agir em família.
(Na foto acima, Dr. Márcio Urban)
Foto cedida por Márcio Urban |
(Na foto acima, Dr. Márcio Urban)
"Nosso pai é um
exemplo pra nós em vários aspectos, com ele aprendemos a ser autênticos,
corretos e muito amorosos. Aprendemos o que é a música e como viver com ela. Se
não fosse assim nós não desenvolveríamos esse dom musical que temos. Assim que
aprendemos a tocar, quando ainda meninos, ele criou o nosso grupo: O Trio Mar
Urban relembrando nossos nomes: Márcio, Margareth e Marcelo e assim provamos o
quanto era gostoso tocar e cantar entre irmãos e posteriormente continuar
fazendo isso em nossas vidas, com os amigos e todos que fizeram parte desta
família de músicos. Ele também é um grande educador e tem o dom de ensinar,
pois brincando, ele sabia fazer com que o tempo passasse sem sentir, e nos
tivéssemos a vontade de que as aulas por ele ministradas, nunca acabassem. Nós,
eu e meu irmão, fomos alunos dele no Instituto de Educação Carlos Gomes e bem
me lembro das aulas de Moral e Cívica que lá aprendemos muito bem. O amor dele
por nós, filhos, sempre é muito evidente, pois tudo que ele fez, e ainda faz, é
por nós. O amor que tem por minha mãe é indescritível e visível em todos os
seus atos. E assim aprendemos até hoje o que é viver em família e como
dedicar-se a ela. Também não podemos deixar de citar, a dedicação, a grande
responsabilidade e a energia com que consegue até hoje dirigir tantas vozes,
sempre com determinação e perseverança, deixando-as tão afinadas que nos
deleitamos ao som das músicas que cantam. Isso para nós sempre foi um prazer de
ver o que nosso pai consegue e o quanto amor ele tem pela música. Finalizando
este breve relato, pois se fossemos escrever tudo, não caberia nesta página,
queremos dizer que grande parte do que sabemos e somos, é graças a ele.
Um grande beijo e
obrigado por tudo.
Seus filhos,
Marcelo, Marcio e Margareth".
Postar um comentário