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Mostras da corrupção
Posted by Cottidianos
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00:06
Quinta-feira, 16 de abril
Todas as formas de arte são belas e
todos os artistas recebem o sopro da inspiração divina ao dar forma as suas
obras. Porém, o homem que saber extrair poesia de uma matéria bruta como o
concreto e lhes dar ares e formas de extrema beleza e sensibilidade, mais que
um artista, esse homem é sublime. O Brasil tem a ventura de ter um desses
grandes nomes da arquitetura universal. Ele se chama Oscar Niemeyer, e suas
sofisticadas e ousadas linhas arquitetônicas tornaram-se famosas em todo o
mundo.
Dentre todas essas maravilhas da
arquitetura, verdadeiras obras de arte sob forma de concreto, construídas por
Niemeyer, está o belíssimo prédio do museu Oscar Niemeyer (MON), na cidade de
Curitiba, no estado do Paraná. Com 35 mil metros quadrados,o museu recebe
exposições de artes visuais, arquitetura, urbanismo e design. Essas mostras
tanto podem ser nacionais, quanto internacionais. O MON foi inaugurado em 2002.
Antes, porém, servia de abrigo à secretarias do governo estadual.
No dia 19 de março deste ano, o espaço
cultural viu-se em meio a grande movimentação. Dezenas de policiais rondavam o
local. Um forte esquema de segurança foi montado. Não era pra menos. Pois
naquele dia, chegavam ao museu, 139 valiosas obras de arte. Os quadros vinham
do Rio de Janeiro, em um caminhão, guardadas por forte escolta policial. Dentre
as obras, havia quadros de mestres da pintura como Miró, Djanira, Guignard e
Heitor dos Prazeres.
Todo esse valioso tesouro, essas obras
de grande magnitude, foram obras apreendidas na Operação Lava Jato. As obras
foram pagas em dinheiro em vivo. A Polícia Federal investiga, na aquisição das
obras, uma possível forma de lavar o dinheiro obtido, ilicitamente, no esquema
de desvio de dinheiro da Petrobrás.
Obras de arte parecem ser um meio
perfeito para esconder dinheiro obtido de forma ilícita. E ainda possibilitam
ao comprador, aparecer perante a sociedade como um homem sensível, culto e
amante das artes. Um disfarce perfeito para esconder os crimes praticados nas
sombras, nos esgotos da vida.
Ano passado, já havia chegado ao MON
uma remessa de 16 obras de arte. Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Cícero Dias… E
até um Renoir. Um luxo em obras de arte. O Renoir aparentemente é falso, e está
sob análise do museu. Se o quadro for verdadeiro, temos aí mais uma fortuna
comprada com dinheiro dos cofres públicos.
Em janeiro deste ano, o Museu Oscar
Niemeyer lançou uma exposição com as obras apreendidas da Operação Lava Jato.
Acho que os organizadores do museu já se davam por satisfeito com aquelas
preciosidades, quando chegou, em fevereiro mais uma remessa. Nessa segunda
remessa, chegaram ao museu 48 obras de arte. Os quadros, todos autênticos,
estavam em poder de Zwi Skornicki. Skornicki é dono da empresa Eagle do Brasil.
Porém a 10ª fase da Operação Lava Jato
revelaria outras surpresas aos curadores do museu. Foram apreendidas, em mais
uma fase da operação da Polícia Federal, que investiga o escândalo de corrupção
na Petrobrás, mais um lote composto por 131 obras, em março deste ano. Os
quadros estavam na casa de Renato Duque, ex-diretor da Petrobrás. A polícia
descobriu as “jóias” quando realizava o cumprimento da prisão do ex-diretor, na
casa dele, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Segundo a polícia, parte do
acervo estava escondida em um comodo secreto, com acionamento e refrigeração
própria.
Enquanto revistavam a casa de Duque, os
policiais desconfiaram do tamanho de um dos cômodos da casa. Resolveram
inspecionar mais a fundo e descobriram uma passagem secreta. Escondidos no
recinto, além das obras de arte, havia documentos capazes de ajudar a rastrear
as contas do ex-diretor da Petrobrás no exterior.
Tem coisas que a gente imagina que só
aconteça no cinema, quando a polícia faz toda aquela perseguição aos bandidos,
enquanto esses vão se escondendo atrás de paredes, túneis e passagens secretas.
Para surpresa nossa, certo dia, vemos essas cenas cinematográficas, saltarem
das telas e invadirem a realidade.
A mostra das obras de arte foi aberta
nesta terça-feira (14) e fica aberta a visitação do público até o dia 12 de
julho. Os amantes da arte poderão ver bem de perto, obras de grandes nomes da
pintura como Salvador Dalí, Orlando Teruz, Claudio Tozzi, Heitor dos Prazeres,
Vik Muniz, Nelson Leirner, Sergio Ferro, Daniel Senise, Carlos Vergara, Miguel
Rio Branco, Amilcar de Castro, Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Aldemir Martins e
Cícero Dias. Serão expostos quadros do primeiro e segundo lotes apreendidos e
levados para o museu. As obras apreendidas na casa de Duque ainda estão sob
análise do museu e ainda não tem data para serem expostas.
O primeiro lote de obras de arte recebido pelo
museu foi apreendido da doleira Nelma Kodama. Nelma foi presa no aeroporto de
Guarulhos, em São Paulo, quando tentava embarcar para a Itália. A doleira
pretendia sair do país com 200.000 euros escondidos sabem onde? Na calcinha!
Presa pela polícia, ela foi condenada a 18 anos de prisão pelos crimes de
corrupção ativa, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, operação de
instituição financeira regular e formação de quadrilha.
Segundos depoimentos de presos na
Operação Lava Jato, beneficiados com a delação premiada, Zwi Skornicki,
ex-gerente executivo da Petrobrás, do qual foi apreendido o segundo lote de
obras de arte, agia em conjunto com o tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Quanto a Duque, ex-gerente da
Petrobrás, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, disse à polícia que
Duque repassava 3% dos contratos que assinava, ao Partido do Trabalhadores.
Ainda segundo depoimentos, Duque teria transferido 200 milhões de euros, o
equivalente a 68 milhões de reais, de contas em bancos suíços para outras
contas em bancos no principado de Mônaco.
Na manhã desta quarta-feira (15), por
volta das 6h, na 12a etapa da Operação Lava Jato, a PF prendeu o
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Vaccari foi preso em casa, na Zona Sul de São
Paulo, sob a acusação de captar dinheiro da Petrobrás para o Partido dos
Trabalhadores, tendo, inclusive, captado dinheiro para as campanhas
presidenciais de Dilma Rousseff, nos anos de 2010 e 2014. Após prendê-lo, os
agentes da Polícia Federal do Paraná, o levaram direto para Curitiba.
O juiz Sérgio Moro, responsável pela
condução do caso na esfera judicial, afirmou à imprensa que a prisão de Vaccari
foi pedida tendo em vista que o tesoureiro poderia prejudicar as investigações,
caso estivesse solto.
Giselda Rousie de Lima, mulher de
Vaccari, foi ouvida pela polícia, em casa. A cunhada do petista, Marice Correa
Lima, teve prisão temporária decretada, e é considerada foragida. A PF suspeita
que ela também esteja envolvida no esquema de desvio de dinheiro da estatal.
O tesoureiro do PT é acusado por presos
na Operação Lava Jato de ser o operador do esquema de desvio de dinheiro da
Petrobrás, em benefício do partido. Um dos presos, o ex-gerente da Petrobrás,
Pedro Barusco, afirmou em depoimento à polícia, que Vaccari teria recebido
quantias entre 150 milhões e 200 milhões de dólares, em um período compreendido
entre 2003 e 2013. O tesoureiro sempre negou as denúncias.
O Partido dos Trabalhadores afastou
Vaccari das funções de tesoureiro do partido, após a prisão, mas em nota, Rui
Falcão, presidente nacional do partido, repudia a prisão do tesoureiro. Diz a
nota:
NOTA
OFICIAL DA PRESIDÊNCIA DO PT
O
Partido dos Trabalhadores manifesta-se a respeito da desnecessária detenção, na
data de hoje, do Secretário de Finanças e Planejamento, João Vaccari Neto, nos
seguintes termos:
1
– A detenção de João Vaccari Neto é injustificada visto que, desde o início das
investigações, ele sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar
qualquer esclarecimento que lhe fosse solicitado. Convocado, prestou depoimento
na Delegacia da Polícia Federal de São Paulo, em 5 de fevereiro desse ano. Além
disso, na CPI da Petrobras, respondeu a todas as questões formuladas pelos
parlamentares.
2
– Reafirmamos nossa confiança na inocência de João Vaccari Neto, não só pela
sua conduta à frente da Secretaria Nacional de Finanças e Planejamento, mas
também porque, sob a égide do Estado Democrático de Direito, prevalece o
princípio fundamental de que todos são inocentes até prova em contrário.
3
– Os advogados que cuidam da defesa de João Vaccari Neto estão apresentando um pedido
de habeas corpus para que sua liberdade ocorra no prazo mais curto possível.
4
– Informamos ainda que, por questões de ordem práticas e legais, João Vaccari
Neto solicitou seu afastamento da Secretaria de Finanças e Planejamento do PT.
5
– O Partido dos Trabalhadores expressa sua solidariedade a João Vaccari Neto e
sua família, confiando que a verdade prevalecerá no final.
Rui
Falcão
Presidente
Nacional do PT
Mesmo após as investigações da PF, depoimentos
de presos envolvidos no escândalo que, por diversas vezes, atestam com
veemência a participação de Vaccari no esquema criminoso, além de documentos
que atestam a participação do petista no esquema, o PT continua a defender,
ferreamente, seu aliado.
Pergunto eu: E ao povo que espera por
serviços de qualidade nas áreas de saúde, educação e segurança, quem defenderá?
“E agora, quem poderá nos defender?” Não venham dizer-me que é o divertido e
atrapalhado herói mexicano, Chapolin Colorado, que eu não acreditarei, pois o
Chapolin partiu para a morada celeste, juntamente com seu criador, Roberto
Bolaños, em novembro do ano passado. Chapolin deve estar bastante ocupado em
suas aventuras celestes, certamente, acompanhado do Chaves, e não teria tempo,
nem vontade de voltar a terra, se lambuzar nesse mar de lama.
Poderia encerrar esse texto no parágrafo
acima, mas não poderia deixar de falar de um fato importante que pode influir
diretamente nos destinos desta investigação: A escolha do nome do advogado Luiz
Edson Fachin, para ocupar a cadeira vaga, deixada por Joaquim Barbosa no
Supremo Tribunal Federal. O advogado ainda terá que se submeter aos
questionamentos da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Após essa
formalidade, seu nome ainda terá que ser aprovado no plenário do senado
federal. Um fato muito questionado foi o apoio dado por Fachin, à Dilma
Rousseff, durante a campanha presidencial. Em um vídeo de campanha, ele aparece
lendo um manifesto ao lado de Michel Temer, atual vice-presidente, e dos
ministros José Eduardo Cardoso e Aloísio Mercadante, no vídeo, ele diz: “Tenho em minhas mãos manifesto de centenas
de juristas brasileiros que tomaram lado. Apoiamos Dilma para prosseguirmos
juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que signifique
desenvolvimento para todos”.
As opiniões se dividiram em relação a
esse fato. Álvaro Dias, senador pelo PSDB, defendeu a escolha do nome de
Fachin. “Ele manifestou uma posição
política, votou na presidente, assim como Fernando Henrique nomeou para o
Supremo Tribunal Federal um grande jurista, o Gilmar Mendes, que também havia
votado nele. O que deve prevalecer não é a opção política circunstancial. O que
deve prevalecer é o notório saber jurídico, a reputação ilibada e a
independência de quem vai julgar”, disse o senador.
Uma das opiniões mais sensatas que ouvi
em toda essa discussão foi a do líder do partido Democrata, o senador Ronaldo Caiado. “Magistratura
é imparcialidade. O símbolo da Justiça mostra isso. A pessoa com os olhos
vendados e com a balança na mão para poder ter toda a tranquilidade para
decidir. Não se pode ter parcialidade e muito menos ter uma visão ideológica no
momento de um julgamento. A corte, o Supremo Tribunal Federal é o guardião da
nossa Constituição. Então, os critérios, as definições e os parâmetros estão
ali estabelecidos. Não podem ser alterados por uma convicção de ordem pessoal e
muito menos ideológica”, disse ele.
Luiz Edson Fachin reuniu-se com Renan
Calheiros, presidente do senado. Após o encontro, ele deu uma entrevista à repórter
Zileide Silva, da Globo. “Eu tenho
certeza que na sabatina todos esses aspectos poderão ser esclarecidos e isso
também corresponde à minha atividade de mais de 30 anos de professor,
estimulando meus alunos a um exercício de cidadania, tomando evidentemente
posições sobre temas polêmicos e como todos os cidadãos em determinados
momentos da vida tomando também posições que são próprias do exercício da
cidadania. É claro que mais do que nunca saberei bem diferenciar esse momento
do exercício da cidadania, caso o Senado venha a beneplacitar a honrosa
indicação que recebi e o Senado me honrar com essa aprovação, eu saberei muito
bem diferenciar os momentos que nós vivemos e estou seguro que irei honrar as
funções da magistratura suprema desse país”, disse ele na entrevista.
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