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Jesus Cristo: O homem de um olhar que é expressão de amor pleno
Posted by Cottidianos
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01:54
Quinta-feira,
02 de abril
Essa
semana, a cristandade rememora a Paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo:
um homem que mudou a história da humanidade.
Sem
dúvida, Jesus deve ter sido um homem muito especial, desses que passam pelas
nossas vidas e nunca mais saem de nossa lembrança, ainda que tenhamos cruzado
com ele apenas uma vez. Realmente, eis um homem que gostaria de ter conhecido
pessoalmente. De ter apertado sua mão. Ouvido suas palavras de sabedoria. De ter
passeado com ele, às margens do Mar da Galileia, vendo-o e aprendendo com ele a
viver o dom de amar em toda a sua plenitude.
Uma
das cenas mais comoventes que vi a respeito desse homem, não faz parte de nenhum
filme bíblico, mas é uma clássica cena de um épico do cinema, chamado Ben Hur.
Ben
Hur é um rico mercador judeu que acaba, por acidente, derrubando uma telha do
telhado de sua casa, sobre a cabeça do novo governador de Jerusalém, no dia em
que este assumia o posto e desfilava pelas ruas da cidade. O “amigo” de
infância, Messala, que agora ocupa um cargo importante no governo, aproveita-se
desse incidente, e condena Ben Hur à condição de escravo, servindo ao império
no estafante serviço de remador das galés.
Amarrado
a correntes, Ben Hur e outros prisioneiros são levados, através do deserto à
dura e difícil vida nas galés. Os que não aguentam a extenuante jornada através
do deserto e morrem durante a travessia, têm seus corpos jogados ali mesmo, sob
a areia. Enquanto caminham sol escaldante do deserto, os corpos dos
prisioneiros reclamam por água.
O grupo
passa por uma pequena aldeia. Nessa aldeia, em frente a uma carpintaria, há um
poço. Para os prisioneiros sedentos, é como se encontrassem um oásis. Correm em
direção ao poço — com a mobilidade com que lhes permite a corrente amarrada aos
seus corpos, — sendo imediatamente afastados pelos soldados romanos. “Água para
os soldados! Os soldados primeiro!” Quanto aos prisioneiros, eles dizem: “Tire-os
de perto do poço!” Após beberem os soldados, é a vez de os cavalos beberem também
daquele precioso liquido. A boca dos prisioneiros parece salivar, enquanto
saciam a sede, soldados e cavalos. Habitantes da aldeia servem água para alguns
prisioneiros.
É a vez de Ben Hur beber do precioso e tão esperado líquido. Um menino leva uma vasilha d’água até ele e quando, o agora escravo leva a vasilha até os lábios, um soldado interrompe o esperado gesto, e diz para o menino: “Espere não dê água para ele”. Tomando, ele mesmo, soldado, a água que Ben Hur iria tomar. Desesperado o escravo chora, e cai ao chão, murmurando: “Deus, ajude-me.”, desmaiando em seguida. Um homem se aproxima dele. Não se vê o rosto do homem, apenas seus pés, calçados por um par de sandálias, e parte da túnica. Traz nas mãos uma vasilha d’água. O homem derrama a água sobre a cabeça de Ben Hur e afaga sua testa. O prisioneiro desperta e o homem dá-lhe de beber. Ben Hur olha para o rosto do desconhecido, como que a dizer: “Muito obrigado!”.
É a vez de Ben Hur beber do precioso e tão esperado líquido. Um menino leva uma vasilha d’água até ele e quando, o agora escravo leva a vasilha até os lábios, um soldado interrompe o esperado gesto, e diz para o menino: “Espere não dê água para ele”. Tomando, ele mesmo, soldado, a água que Ben Hur iria tomar. Desesperado o escravo chora, e cai ao chão, murmurando: “Deus, ajude-me.”, desmaiando em seguida. Um homem se aproxima dele. Não se vê o rosto do homem, apenas seus pés, calçados por um par de sandálias, e parte da túnica. Traz nas mãos uma vasilha d’água. O homem derrama a água sobre a cabeça de Ben Hur e afaga sua testa. O prisioneiro desperta e o homem dá-lhe de beber. Ben Hur olha para o rosto do desconhecido, como que a dizer: “Muito obrigado!”.
O soldado
se irrita e fala para o homem: “Você! Eu disse para não dar água para ele!”. E parte
em direção ao homem que socorre Ben Hur, de chicote em punho, disposto a chicotear
tanto o socorrente, quanto o socorrido.
O homem
então se levanta, não vemos o seu rosto. Ele aparece de costas e vemos apenas
que tem cabelos grandes que vão até a altura do pescoço. Nenhuma palavra. Apenas
um olhar. Profundo olhar. E o soldado se afasta, como que temeroso e
envergonhado.
Bem
Hur, termina de tomar a água e entrega a vasilha vazia para o desconhecido. Pela
primeira vez, olha para o rosto daquele que lhe salvou vida. Sim, porque quem
consegue sobreviver sem água em meio ao deserto, quando isso é tudo o que sua
boca mais quer? Mais uma vez, nenhuma palavra. Apenas o olhar profundo entre os
dois personagens. Um soldado se aproxima de Ben Hur, dá-lhe uma chicotada e o
manda voltar para o seu lugar. Antes de voltar prosseguir a marcha forçada, o prisioneiro olha para o homem, pela última vez.
Nenhuma
palavra é dita pelo homem daquela simples e humilde aldeia, perdida em meio ao
nada. Ninguém cita o nome “Jesus”, nem vemos o rosto dele. Mas a cena resume
todo o ensinamento de Jesus, quando diz aos seus discípulos, no evangelho: “Este
é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”.
Ainda
falando do filme, outra cena comovente é quando as ruas de Jerusalém estão
abarrotadas de gente, que acompanham o sofrimento de Jesus, carregando a cruz
ás costas, pelas ruas da cidade santa. “Salvem o rei dos judeus!”, dizem eles,
e escarnecem. Não aguentando o peso da cruz, o nazareno cai. Certamente, deve
estar com sede. Em meio à multidão, Bem Hur vê o sofrimento daquele homem. Ele,
agora novamente homem livre e influente no governo, consegue driblar os
soldados, mas antes de chegar a Jesus, os soldados e empurram e ele esbarra em
uma fonte. Aproveita a ocasião, enche uma vasilha d’água e corre até aquele caiu
e está de joelhos, ao chão. Ben Hur abaixa-se e dá de beber àquele que sofre. Então,
novamente, sem palavras, ele reencontra aquele profundo olhar, e reconhecer
naquele olhar, o homem que o havia ajudado há alguns anos atrás, quando, em
situação semelhante, ele, Ben
Hur, caminhava para o suplício. Nesta cena, novamente, não vemos o rosto de
Jesus.
Assim
também devemos fazer cada um de nós. Não precisamos sair por aí gritando o nome
de Jesus. Se nos amarmos uns aos outros como ele nos amou, apenas com essa
atitude teremos subido nas montanhas mais altas e pregado seu nome, e, assim, teremos
feito muito mais e agradado muito mais a ele, do que se ficássemos apenas nas
palavras.
O texto
que partilho com vocês abaixo, o ouvi pela primeira vez, no dia 22 de abril de
2013, na sede da ABAL (Associação Brasileira de Cantores Líricos), durante um
recital realizado na Associação Campineira de Imprensa, em Campinas.
Era
uma sexta-feira, à noite, e a ABAL apresentava o recital, Cantos da Paixão. Na ocasião,
o Coral PIO XI apresentou o Concerto Quaresmal,
sob a regência do maestro Oswaldo Antonio Urban. Os cantores líricos Vicente
Montero, Alcides Acosta e Ivany Pezzopani, com acompanhamento ao piano de
Carlos Wiik, também fizeram suas apresentações. A noite foi reflexiva,
maravilhosa e inspiradora. Entre uma das apresentações, Alcides Acosta, presidente
da ABAL, leu um belo texto sobre a pessoa de Jesus, tornando a noite ainda mais
rica. O texto é uma carta atribuída a certo senador romano, chamado, Publius
Lentulus. O Senador escreve ao imperador, Tibério Cesar.
Há
controvérsias quanto a autenticidade do texto. No site do Wikipédia, encontrei seguinte
afirmação: “A carta de Lentulus não tem credibilidade
por várias razões. Não se conhece nenhum Governador de Jerusalém ou Procurador
romano da Judeia chamado Lentulus, e um governador romano não poderia
encaminhar uma correspondência desse tipo ao senado. Além disso, um escritor
romano não empregaria as expressões "que pelo povo é inculcado o profeta
da verdade". Expressão pertencente ao idioma hebreu”.
Mesmo
assim, resolvi apresentar esse texto, pois, mesmo que a carta não seja
verdadeira, nem que o tal Publius nunca tenha existido, a descrição física, e
personalidade de Cristo, descritas nela, parecem em muito com o homem que
aparece na cena que vi no filme Ben Hur.
Espero
que apreciem a leitura, e que ela lhes sirva de reflexão para estes dias, nos
quais rememoramos o sofrimento a grande vitória de um home tão especial,
chamado Jesus Cristo.
***
Carta
do senador Públio Lntulus ao imperador Tibério Cezar.
"Sabendo
que desejas conhecer quanto vou narrar, existindo nos nossos tempos um homem, o
qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado Jesus, que pelo povo é
inculcado o profeta da verdade, e os seus discípulos dizem que é filho de Deus,
criador do céu e da terra e de todas as coisas que nela se acham e que nela
tenham estado; em verdade, ó César, cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse
Jesus: ressuscita os mortos, cura os enfermos, em uma só palavra: é um homem de
justa estatura e é muito belo no aspecto, e há tanta majestade no rosto, que
aqueles que o veem são forçados a amá-lo ou temê-lo. Tem os cabelos da cor
amêndoa bem madura, são distendidos até as orelhas, e das orelhas até as
espáduas, são da cor da terra, porém mais reluzentes.
Tem
no meio de sua fronte uma linha separando os cabelos, na forma em uso nos
nazarenos, o seu rosto é cheio, o aspecto é muito sereno, nenhuma ruga ou
mancha se vê em sua face, de uma cor moderada; o nariz e a boca são
irrepreensíveis.
A
barba é espessa, mas semelhante aos cabelos, não muito longa, mas separada pelo
meio, seu olhar é muito afetuoso e grave; tem os olhos expressivos e claros, o
que surpreende é que resplandecem no seu rosto como os raios do sol, porém
ninguém pode olhar fixo o seu semblante, porque quando resplende, apavora, e
quando ameniza, faz chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade.
Diz-se
que nunca ninguém o viu rir, mas, antes, chorar. Tem os braços e as mãos muito belos;
na palestra, contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele se aproxima,
verifica-se que é muito modesto na presença e na pessoa. É o mais belo homem
que se possa imaginar, muito semelhante à sua mãe, a qual é de uma rara beleza,
não se tendo, jamais, visto por estas partes uma mulher tão bela, porém, se a
majestade tua, ó Cézar, deseja vê-lo, como no aviso passado escreveste, dá-me
ordens, que não faltarei de mandá-lo o mais depressa possível.
De
letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém; ele sabe todas as
ciências e nunca estudou nada. Ele caminha descalço e sem coisa alguma na
cabeça. Muitos se riem, vendo-o assim, porém em sua presença, falando com ele,
tremem e admiram.
Dizem
que um tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em verdade, segundo me dizem
os hebreus, não se ouviram, jamais, tais conselhos, de grande doutrina, como
ensina este Jesus; muitos judeus o têm como Divino e muitos me querelam,
afirmando que é contra a lei de Tua Majestade; eu sou grandemente molestado por
estes malignos hebreus.
Diz-se
que este Jesus nunca fez mal a quem quer que seja, mas, ao contrário, aqueles
eu o conhecem e com ele têm praticado, afirmam ter dele recebido grandes
benefícios e saúde, porém à tua obediência estou prontíssimo, aquilo que Tua
Majestade ordenar será cumprido.
Vale,
da Majestade Tua, fidelíssimo e obrigadíssimo...
Públio
Lentulus, presidente da Judéia
Lindizione
setima, luna seconda.”
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