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Suseranos, vassalos e camponeses no feudo Brasil
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Domingo,
01 de outubro
“-
Somos soldados.
-
Não, não são.
Soldados
lutam por uma causa.
Vocês
não têm uma.
Isso
os torna larápios.
Ladrões
comuns.”
(frase do filme Hobin Hood)
Eles
lotearam o Brasil. Fizeram do Brasil um grande feudo, e se proclamaram reis
quando eram apenas servidores da nação. E na indevida condição a que se alçaram
esqueceram que vieram para servir e mentiram e enganaram e roubaram.
Convido-os
a viajar para tempos longínquos, até a Idade Média, terra de castelos, reis e
princesas que ainda hoje povoam o imaginário popular, e inspiram sonhos,
filmes, e jogos... Uma era de sonhos e magia... Ah, mas não se enganem. A vida
naqueles tempos não era nada fácil se comparados aos tempos moderno. O conforto
era quase inexistente. Idem para tecnologia. Obviamente os mais abastados
tinham seus privilégios, mas o cenário geral era comum a todos.
Em
nossa viagem imaginária para a Idade das Trevas, como também é conhecida essa
época, podemos vislumbrar grandes quantidades de terra... Terra a perder de
vista. São os feudos. Estas terras estavam sempre sob o domínio de nobres que
detinham a posse delas, e era por isso eram chamados senhores feudais.
Havia
duas maneiras de se adquirir um feudo: por herança familiar ou por doação de
outro senhor feudal. Aquele que doava recebia o nome de suserano e quem recebia
era o vassalo. Deixemos de lado a primeira forma e nos concentremos na segunda.
A
terra, o feudo era doado entre “aspas”, pois aquele que recebia a doação, o vassalo,
precisava firmar um pacto militar com o suserano em caso de guerra com outros
senhores feudais. Na verdade, recebia-se a doação de um feudo na qual estava
implícita um pacto de lealdade.
Ah,
não nos esqueçamos dos famosos castelos com suas torres e fortalezas, que até
hoje povoam o imaginário popular. Era ele o centro de poder econômico e
político.
Ainda
no feudo habitavam os camponeses pobres: o elo mais fraco da corrente. Hoje,
diríamos os explorados, os esmagados na base da pirâmides. Aqueles dos quais
eram vertidos suor e sangue para bancar o luxo dos poderosos.
Esses
tinha uma vida muito difícil e o horizonte e o norte que enxergavam pela frente
não lhes vislumbravam grandes possibilidades de mudanças ou melhorias. Era mais
ou menos assim: eles olhavam e olhavam e o que viam era apenas um horizonte
cinzento.
Além
dos parcos recursos que experimentavam, esses ainda contavam com a vigilância
diária e severa do senhor feudal. Pobres camponeses... Trabalhavam a terra para
enriquecer o senhor feudal. Enquanto isso, havia uma família em casa precisando
de cuidados, havia uma casa a manter, habitação essa que, em geral era precária
e fria, que facilmente se deteriorava com o decorrer do tempo.
Por
causa dessa relação injusta entre senhor feudal e camponeses havia muitas
revoltas destes últimos que ora fugiam para as florestas e atacavam as
caravanas dos nobres, ora fugiam para outros feudos em busca de melhores
condições de vida.
Os
camponeses estavam perto da realeza, mas abandonados à própria sorte em uma
época em que não havia hospitais, nem escolas, nem delegacias, ou qualquer
benesse que lhes pudesse ser um alívio na caminhada.
Finalizemos
nossa breve e fantástica viagem pelos tempos dos reis, princesas, suseranos,
vassalos, camponeses pobres, e como num passe de mágica voltemos ao nosso tempo
presente, mais precisamente ao nosso barco chamado, Brasil.
Depois
dessa nossa curta estada em uma época completamente diferente da nossa,
voltemos ao presente e façamos um paralelo e nos parecerá que já se vão longe
os tempos em que os castelos eram o centro do poder econômico e político —
excetuando umas poucas nações onde isso ainda ocorre — entretanto as estruturas
antigas parecem ter reencarnado nas estruturas atuais, até mesmo dos países
ditos democráticos.
Em
nossa pátria, não temos castelos como centro de poder, mas temos o Palácio do
Planalto, e temos o Congresso Nacional.
O
Brasil, em seu imenso território, com mais de 207 milhões de habitantes e seus 8.516.000
km2 é um enorme feudo.
O
presidente da República, em nosso paralelo com o tempo dos feudos, funcionaria
como o nobre que é dono do feudo, e os deputados, senadores, e empresários como
os vassalos.
Aqui
tudo parece funcionar na base do “toma-lá-dá-cá”. O suserano doa, oferece
vantagens, mas em troca espera e exige lealdade.
O
povo, principalmente, a parcela da população mais necessitada, assemelha-se aos
camponeses pobres que eram explorados pelo dono do feudo. Os camponeses de hoje
pagam fortunas ao dono do feudo (o Estado) em impostos e não ver retorno do
pagamento dessas taxas. Em muitas localidades desse imenso rincão chamado Brasil
— principalmente, naquelas áreas esquecidas pelo Estado — não há escolas, e os
alunos tem que caminhar a pé por quilômetros se quiserem chegar a elas. Nessas áreas,
quando há transporte, ele é muito precário. E quando há escolas elas chegam a dar
vergonha em que tem consciência do que é educação e do que ela representa para
uma sociedade que se pretende desenvolvida. Idem para os hospitais públicos
Um
pequeno exemplo. Mau exemplo. O telejornal matinal, Bom Dia Brasil, mostrou uma reportagem em 22 de setembro, que
mostrava uma escola interior da Bahia improvisada, pasmem os senhores e
senhoras, dentro de um açougue. Isso mesmo aquele estabelecimento comercial no
qual vamos comprar as carnes saborosas que deliciam nosso paladar.
Durante
a semana funciona a escola e no domingo, o açougue. Nela estudam alunos
entre 8 e 13 anos de idade, filhos de camponeses pobres da região. Essa
situação perdura já há quatro meses quando a prefeitura transformou o espaço no
qual a escola funcionava em creche. A prefeitura resolveu então mudar a escola
para o açougue. Em meio a giz e quadro negro, também improvisado, ficam
ganchos, freezers, e troncos de madeira. A instalação elétrica é deficitária. Nem
banheiro há na escola. Os alunos usam um banheiro público próximo à ela. Procurado
pela equipe de reportagem, o secretário municipal de educação afirmou que, no
máximo dentro de dias, a situação seria sanada. Uma vergonha, pois a
manifestação do secretário só foi expressada depois da denúncia e de saber que
a situação daquelas pobres crianças seria mostrada em rede nacional.
Na
Idade Média não havia meios de reagir ao poder militar do senhorio, mas hoje há
a arma do voto. Porque não usá-la?
Outro
exemplo que mostra essa relação de vassalagem entre o governo o Congresso foi o
que aconteceu durante a primeira denúncia contra o presidente Temer quando ela chegou
à Câmara dos Deputados. Naquela ocasião, o governo liberou milhões de reais
para os deputados que votassem contra o prosseguimento da denúncia.
Apenas
no mês de julho deste ano, foram liberados cerca de R$ 134 milhões em emendas
parlamentares. Isso sem contar nos cargos que foram oferecidos pelo governo aos
partidos. Os deputados usaram como desculpa para votar contra o prosseguimento
da denúncia, desculpas hipócritas e demagógicas, afirmando que faziam aquilo
pelo bem do Brasil e para não prejudicar ainda mais a economia.
Agora,
quando da apresentação de segunda denúncia, as coisas parecem caminhar no mesmo
rumo. Levantamento feito pelo partido Rede Sustentabilidade mostra que o
governo liberou nesse mês de setembro, e já no segundo dia da denuncia, cerca
de R$ 65 milhões de reais em emendas parlamentares. Com certeza voltará também
o balcão de negócios de cargos no governo.
Isso
faz lembrar uma frase do empresário corrupto Joesley Batista. O empresário
disse em entrevista à revista Veja, quando do estouro do escândalo das
gravações comprometedoras dele com Michel Temer, que o presidente é uma pessoa
sem escrúpulos quando se trata de falar de dinheiro. Hoje, vemos que o
presidente parece ser sem escrúpulos também quando se trata de se manter no
poder a qualquer custo. Não estranhem os senhores e senhoras se, mais uma vez,
a Câmara dos Deputados votar contra o não prosseguimento da denúncia.
Ontem,
o presidente se reuniu com aliados para definir estratégias de defesa, quando
na verdade, e sem querer fazer trocadilhos, a melhor estratégia de defesa é a
verdade. Uma sutil estratégia de defesa de Temer foi transformar a Secretária-Geral da Presidência da República, em
ministério, o que garantiu a Moreira Franco, o status de ministro. O fato se
deu em final de junho deste ano. Moreira Franco também é citado nas denuncias
de corrupção que atingem o governo.
E
essa transformação do Brasil em feudo não se deu agora com o presidente Michel
Temer. Antes tivesse sido assim. Seria bem mais fácil acabar com essa prática
nefasta. Ao contrario, ela já vem desde os tempos do então presidente Fernando
Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, se bem que maneira ainda tímida, e
ganhou corpo e força durante os governos petistas de Lula e Dilma.
Falando
do ex-presidente, em vídeo que circula pelo Whattsapp, ele, em discurso, afirma
coisas estarrecedoras, dessas de deixar os cabelos em pé. No vídeo não há data
definida, e nele Lula afirma que as pessoas devem se filiar ao PT porque o PT
precisa convencer as pessoas a negar a política. “fascismo, nazismo, qualquer
outra coisa, menos democracia” afirma ele, no que parece ser uma palestra para
seus seguidores.
Lula
diz ainda no vídeo que se deve discutir política cultural apenas em época de
eleição, pois “o que menos interessa é o país”, diz ele. “Então o que eu queria
sugerir ao partido: qualquer outra coisa, menos democracia”, continua ele.
O
que esperar de um ex-presidente com esse tipo de pensamento, caros leitores e
leitoras? É desse tipo de pessoa no meio político que a população brasileira
precisa se livrar o mais rápido possível. Não podemos mais deixar o Brasil nas
mãos de quadrilhas que tomam de assalto o Estado brasileiro, sejam elas de
esquerda, de centro, de situação ou de oposição.
Por
falar em oposição, faz tempo que ela deixou de existir no Brasil em seu sentido
pleno. A oposição que se faz hoje ao governo é coisa de fachada, coisa “pra
inglês ver”, como diz o ditado popular.
Ora,
você já viram organizações criminosas se acusarem mutuamente em público, e uma
denunciar a outra à justiça. Não isso não acontece. Por mais que sejam
discordantes, as organizações criminosas agem dentro de um padrão “ético”.
Por
acaso, algum dos senhores e senhoras, em meio a toda essa explosão de escândalos
de corrupção, de malas de dinheiro que viajam pelo país, da dinheirama distribuída
em propina, algum dos senhores e senhoras, já viu, por exemplo, Temer acusar
Lula, Lula acusar Aécio, Aécio condenar a Dilma em público? O PSDB até
apresentou um recurso para tornar invalida as eleições presidências de 2014,
mas era tudo fachada, e o interesse no processo acabou quando Dilma sofreu impeachment,
e o partido ganhou sua fatia de poder no governo Temer.
As
organizações se protegem umas às outras porque todas usam dos meios nefastos de
ação. É triste perceber que no Brasil atual partidos políticos se transformaram
em organizações criminosas.
Também
achei interessante, compartilhar com os leitores e leitoras, a carta escrita
pelo ex-integrante do PT e um dos homens de confiança de Lula e Dilma. A carta
de desfiliação de Antonio Palocci do Partido dos Trabalhadores, liga Lula à
corrupção. É um documento importante para compreender mais uma parte importante
do momento político pelo qual o PT atravessa.
***
Carta
de desfiliação de Antonio Palocci do PT, íntegra.
Antonio Palocci |
Senhora
Presidente, (presidente do PT, Gleise Hoffmann)
Soube
pela imprensa da abertura do processo disciplinar pelo PT-RP, bem como de minha
suspensão pelo Diretório Nacional por 60 dias. Confesso minha estranheza sobre
o conteúdo do referido processo. Neste último período, havia me preparado para
enfrentar junto ao partido um procedimento de natureza ética frente à recente
condenação que sofri na 13ª Vara Federal de Curitiba, pelo DD. Juiz Sérgio
Fernando Moro. Pensava ser normal que o partido procurasse saber as razões que
levaram a tal condenação e minhas eventuais alegações. Mas nada recebi sobre
isso.
Recebo
agora as notícias de abertura de procedimento ético em razão das minhas
declarações no interrogatório judicial ocorrido no último dia 6/9/2017, sobre
ilegalidades que cometi durante os governos de nosso partido.
O
procedimento questiona minhas afirmações a respeito do ex-presidente.
Sobre
isso, tenho a dizer que:
1)
Há alguns meses decidi colaborar com a Justiça, por acreditar ser este o
caminho mais correto a seguir, buscando acelerar o processo em curso de
apuração de ilegalidades e de reformas na legislação de procedimentos públicos
e na legislação partidária-eleitoral, que reclamam urgente modernização.
2)
Defendo o mesmo caminho para o PT. Há pouco mais de um ano tive oportunidade de
expressar essa opinião de uma maneira informal a Lula e Rui Falcão, então
presidente do PT, que naquela oportunidade transmitia uma proposta apresentada
por João Vaccari, para que o PT buscasse um processo de leniência na Lava Jato.
3)
Estou disposto a enfrentar qualquer procedimento de natureza ética no partido
sobre as ilegalidades que cometi durante nossos governos, as razões e as
circunstâncias que me levaram a estes atos e, mesmo considerando a força das
contingências históricas, suportar pessoalmente as punições que o partido
julgar cabíveis.
4)
Não vejo possibilidade, entretanto, de colaborar no processo aberto pelo
partido sobre minhas afirmações quanto às responsabilidades do ex-presidente
Lula nas situações citadas por ocasião do interrogatório de 6/9/2017. Isso
porque tais questões fazem parte do processo de negociação com o MPF, e tal
procedimento encontra-se envolto em sigilo legal. Foi por isso que naquela
oportunidade limitei-me a fatos relacionados àquele processo. Dito isto,
declaro minha disposição de responder aos questionamentos do partido sobre
qualquer tema, logo após os prazos legais.
5)
De qualquer forma, quero adiantar que, sobre as informações prestadas em
6/9/2017 (compra do prédio para o Instituto Lula, doações da Odebrecht ao PT,
ao Instituto e a Lula, reunião com Dilma e Gabrielli sobre as sondas e a
campanha de 2010, entre outros) são fatos absolutamente verdadeiros. São
situações que presenciei, acompanhei ou coordenei, normalmente junto ou a
pedido do ex-Presidente Lula. Tenho certeza que, cedo ou tarde, o próprio Lula
irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer no “mensalão”, quando, numa
importante entrevista concedida na França, esclareceu que as eleições no Brasil
eram todas realizadas sob a égide do caixa dois, e que era assim com todos os
partidos. Naquela oportunidade ele parou por aí, mas hoje sabemos que é preciso
avançar na abertura da caixa preta dos partidos e dos governos, para o bem do
futuro do país.
6)
Ressalto que minha principal motivação nesse momento é que toda a verdade seja
dita, sobre todos os personagens envolvidos.
7)
Sob o ponto de visa político, estou bastante tranquilo em relação a minha
decisão. Falar a verdade é sempre o melhor caminho. E, neste caso, não posso
deixar de registrar a evolução e o acúmulo de eventos de corrupção em nossos
governos e, principalmente, a partir do segundo governo Lula.
Vocês
sabem que procurei ajudar no projeto do PT e do presidente Lula em todos os
momentos. Convivi com as dificuldades e os avanços. Sabia o quanto seria
difícil passar por tantos desafios políticos sem qualquer desvio ético. Sei dos
erros e ilegalidades que cometi e assumo minhas responsabilidades. Mas não
posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da
política no melhor dos momentos de seu governo. Com o pleno emprego
conquistado, com a aprovação do governo a níveis recordes, com o advento da
riqueza (e da maldição) do pré-sal, com a Copa do Mundo, com as Olimpíadas, “o
cara”, nas palavras de Barack Obama, dissociou-se definitivamente do menino retirante
para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do “tudo pode”, do
poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que se acumulam
são apenas detalhes, notas de rodapé no cenário entorpecido dos petrodólares
que pagarão a tudo e a todos.
Alguém
já disse que quando a luta pelo poder se sobrepõe à luta pelas ideias, a
corrupção prevalece. Nada importava, nem mesmo o erro de eleger e reeleger um
novo governo, que redobrou as apostas erradas, destruindo, uma a uma, cada
conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados,
sobrando poucas boas lembranças e desnudando toda uma rede de sustentação
corrupta e alheia aos interesses do cidadão. Nós, que nascemos diferentes, que
fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão
igual ao pior dos costumes políticos.
Um
dia, Dilma e Gabrielli dirão a perplexidade que tomou conta de nós após a
fatídica reunião na biblioteca do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as
propinas, no mesmo tom, sem cerimônias, na cena mais chocante que
presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país
construiu em toda a nossa história.
Enfim,
é por todas essas razões que não compreendo o processo aberto agora. Enquanto
os fatos me eram imputados e eu me mantive calado não se cogitava a minha
expulsão. Ao contrário, era enaltecido
por um palavrório vazio. Agora que resolvo mudar minha linha de defesa e falar
a verdade, me vejo diante de um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT.
Qual o critério do partido? Processos em andamento? Condenações proferidas? Se
é este o critério, o processo de expulsão não deveria recair apenas contra mim.
Até
quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do “homem mais honesto do
país” enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do
Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?
Afinal,
somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos
uma seita guiada por uma pretensa divindade?
Chegou
a hora da verdade para nós. De minha parte, já virei essa página. Ao chegar ao
porto onde decidi chegar, queimei meus navios. Não há volta. Depurar e
rejuvenescer o partido, recriar a esperança de um exercício saudável da
política será tarefa para nossos novos e jovens líderes. Minha geração talvez
tenha errado mais do que acertado. Ela está esgotada. E é nossa obrigação abrir
espaço a novas lideranças, reconhecendo nossas graves falhas e enfrentando a
verdade. Sem isso, não haverá renovação.
E
tenho razões ainda maiores. Nas últimas décadas, sempre me decidi pelo PT, pela
política, e minha família sempre aceitou, suportou e sofreu com isso. Agora
decidi pela minha família! E o fiz com a alma tranquila.
Desde
que fundei o PT há 36 anos, em Ribeirão Preto com um grupo de amigos, na sede
do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina, entre 1980/1981, dediquei-me
totalmente ao partido, à política e a nossos governos.
Tive
a honra e a felicidade de ser vereador e prefeito de minha cidade por duas
vezes. Tive a honra de servir aos governos de Lula e Dilma. Enfrentei como
Ministro da Fazenda uma das mais duras crises econômicas de nossa história, mas
a competência de meus assessores permitiu um trabalho com fortes e duradouros
resultados. Nunca supus que o governo tenha desandado com minha saída em 2006.
Na verdade, o caminho até a crise de 2008 foi, do ponto de vista do projeto de
desenvolvimento, de grande sucesso. Mas, como o ovo da serpente, já se via,
naqueles melhores anos, a peçonha da corrupção se criando para depois tomar
conta do cenário todo.
Coordenei
várias campanhas eleitorais, em vários níveis e pude acompanhar de perto a
evolução de nosso poder e nossa deterioração moral. Assumo todas as minhas
responsabilidades quanto a isso, mas lamento dizer que, nos acertos e nos
erros, nos trabalhos honrados e nos piores atos de ilicitudes, nunca estive
sozinho.
Por
isso concluo:
1)
Continuo a apoiar a proposta de leniência do PT.
2)
Após respeitar os prazos legais de sigilo quanto a minha colaboração com a Justiça, terei toda a
disposição para esclarecer e depor perante o partido sobre todos esses temas.
3)
Com humildade, aceitarei qualquer penalidade aprovada. Mas ressalto que não
posso fazê-lo neste momento e neste formato proposto pelo partido onde quem
fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para debaixo do
tapete.
Por
todas essas razões, ofereço a minha desfiliação, e o faço sem qualquer
ressentimento ou rancores. Meu desligamento do partido fica então à vossa
disposição.
Saudações
cordiais,
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