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Maracanã: o abandono de um gigante
Posted by Cottidianos
on
01:15
Sexta-feira,
13 de janeiro
Na
noite de 05 de agosto de 2016 o Maracanã estava multicolorido e lindo para
receber as delegações desportivas que vinham participar dos Jogos Olímpicos. Foi
uma noite gloriosa na qual desfilaram pelo gramado do templo do futebol uma
síntese da cultura brasileira. Do samba ao funk, do maracatu à bossa nova, o
Brasil e o mundo assistiram encantados a uma cerimônia de abertura de Jogos
Olímpicos como o mundo jamais havia visto. Ah, e ainda tinha a presença da top
Gisele Bündchen, representando, divinamente, o charme e a graça da mulher
brasileira. O Maracanã era luxo só.
E foi
assim nos dias que seguiram aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Muito movimento,
muita badalação, muito esporte. Estrangeiros iam e vinha para lá e pra cá. Houveram
muitos problemas relacionados à infraestrutura, muitas delegações internacionais
reclamaram das péssimas condições da Vila Olímpica, porém, os jogos acabaram se
desenvolvendo em clima de harmonia.
Passaram-se
os momentos mágicos. Os estrangeiros foram embora. Os astros e estrelas do
esporte nacional e internacional se recolheram para se prepararem para as
próximas competições.
E o
Maracanã ficou sozinho. Abandonado.
Hoje?!
Nem sinal daquele gigante glorioso, cheio de luz e cor da noite de abertura dos
jogos. Quem entra em um dos maiores símbolos do esporte nacional, e palco de
inúmeros grandes e importantes eventos, nem acredita no que vê.
O gramado,
antes verdejante, encontra-se amarelo como a boca que exibe um sorriso sem
graça. Por todo lado se veem cadeiras arrancadas e encostadas num canto, que,
junto com outros móveis em estado de deterioração, formam uma vergonhosa
montanha de entulhos. Restos de comida, e garrafas vazias jogadas por todos os
lados, que atraem a presença de dezenas de gatos, terminam de decorar a tétrica
cena.
Como
terra sem lei, e em total abandono, o Maracanã ainda tem que assistir calado,
ao roubo de materiais e equipamentos. Até o busto do jornalista Mário Filho,
que dá nome ao Maracanã, foi roubado. Os ladrões aproveitam-se da falta de
energia elétrica no estádio que acontece desde o dia 30 de dezembro. Sem câmeras
a vigiar, ficou mais fácil sumir com o material.
Só
para lembrar: o Maracanã passou por uma reforma em 2014, por ocasião da Copa do
Mundo, que custou aos cofres públicos o equivalente a R$ 1,3 bilhão aos cofres
públicos.
E pensar
que havia a promessa de um legado olímpico que deixaria a todos nós,
brasileiros e brasileiras, orgulhosos...
Afinal,
que legado olímpico foi deixado pela Copa do Mundo e pelos Jogos Olímpicos, e
Paraolímpicos? As obras superfaturadas e inacabadas? Os elefantes brancos em
que se tornaram muitos dos estádios construídos para a Copa do Mundo? Onde está
afinal o tal legado?
Um
legado que, na verdade, não é legado, é dom, é a capacidade do povo brasileiro
de saber bem acolher quem pisa este solo, e da alegria de saber fazer uma
festa, mesmo com pouco dinheiro. Mas isso não é coisa dos governos, mas sim, da
alma do brasileiro.
Voltando
ao Maracanã.
Para
piorar as coisas, a temporada dos campeonatos estaduais e nacionais começa este
mês. E como ficarão os times do Rio?
A questão
que provocou todo esse imbróglio é a seguinte: uma queda de braço entre o
Comitê Rio 2016, organizador dos Jogos Olímpicos. Antes, e durante as Olimpíadas,
o Comitê dizia que estava tudo bem. Depois que as luzes foram apagadas, as
coisas não se revelaram tão boas assim. Fornecedores ainda não foram pagos, e
reembolso de ingressos ainda não foram feitos. A outra parte envolvida nessa
queda de braço é o consórcio Maracanã S/A.
O
Maracanã é de propriedade do governo do governo do Rio de Janeiro. Entretanto,
no ano de 2013, foi feita uma licitação que previa a exploração comercial e a
administração do Maracanã por um período de 35 anos. A licitação foi vencida
pelo consórcio Maracanã S/A, empresa pertencente ao grupo Odebrecht, que
protagoniza um dos maiores escândalos de corrupção no país.
Através
de negociações, o consórcio Maracanã S/A cedeu o gigante do futebol para o
Comitê Rio 2016, para realização dos Jogos Olímpicos. A cessão se deu do
período de 30 de março a 30 de outubro do ano em questão. A condição
fundamental exigida pelo consórcio era a de que o estádio fosse devolvido nas
mesmas condições em que foi entregue. A Rio 2016 não cumpriu essa parte do
acordo, e o consórcio se recusou a receber de volta o estádio, enviando uma
lista de reparos que deveriam ser feitas pela organização dos jogos. O prazo
para cumprir essa clausula do contrato expirou em 31 de dezembro do ano
passado.
Atolado
em dívidas, a organização dos jogos não conseguiu cumprir o que fora
estipulado. Alega que há outras prioridades que precisam ser cumpridas antes,
como o pagamento dos fornecedores, e reembolso aos torcedores que devolveram
seus ingressos.
O resultado
é que ninguém quer descascar esse abacaxi, e o Maracanã, uma das estrelas da
Copa, dos Jogos Olímpicos, e de tantos outros eventos importantes, vai ficando
abandonado, emoldurando mais uma triste cena de descaso, dentre tantos outros
descasos a que tem sido relegadas tantas questões em nosso Brasil.
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