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Lágrimas de crocodilo
Posted by Cottidianos
on
00:41
Domingo,
10 de julho
Eduardo Cunha |
Algumas
dúvidas, ou questionamentos, me tomaram de assalto ultimamente. Uma delas:
Câmara dos Deputados ou circo? Circo ou Câmara dos Deputados? Que me desculpem os
muito poucos deputados que não merecem ouvir isso, mas a Câmara dos Deputados
está se parecendo mais com um circo do que com um parlamento. Acho que ainda
enfeitei muito a situação, afinal, no circo existem palhaços, e palhaços nos
alegram o coração com suas risadas e truques abobalhados.
Reconsidero
meus questionamentos do parágrafo anterior. Não a Câmara dos Deputados não se
parece um circo. Definitivamente, ela não se parece com tal espaço dedicado ao
lúdico.
Com
que se parece ela então?
Deixe-me
ver... Huuummmm. Ufa! Até não foi difícil achar a resposta.
Covil
de bandidos e ladrões. É isso. Temos uma
Câmara dos Deputados que mais parece um covil de bandidos. Esses sim, não fazem
ninguém sorrir. Ao contrário, por onde eles passam, espalham morte, tristeza e
destruição. Infeliz do país e do povo que o habita, que tem um Congresso
Nacional parecido com um covil de bandidos.
Você
acha que estou pegando pesado demais? Então me convença do contrário. Mostre-me
argumentos robustos que me façam mudar de ideia.
A outra
dúvida sobre a qual tenho matutado é a seguinte: Onde foi que Eduardo Cunha
conseguiu fazer curso de arte dramática? E quem terá sido o professor dele? Não
sei quem foi, mas de uma coisa tenho certeza: pelo desempenho do aluno, o
professor deve ser muito fraco. Acho que vocês já sacaram do que estou falando.
Das lágrimas de crocodilo que Eduardo Cunha tentou derramar na semana passada. Eu
disse tentou, pois o que conseguiu foi apenas embargar a voz. Os atores têm
certos recursos para chorarem ao desempenhar uma cena, por exemplo, um desses
truques, dizem é descascar cebolas e aproximá-las dos olhos para que eles fiquem
marejados. Não sei se isso é verdade, mas Cunha bem que podia ter tentado esse truque.
Cunha
embargou a voz ao falar da família, que segundo ele, foi usada pelos seus
algozes com a finalidade de atingi-lo. A fala ocorreu por ocasião da renúncia
do deputado à presidência da Câmara dos Deputados, na quinta-feira (7).
Vocês
tem visto que o deputado, há tempos, e diante das inúmeras denúncias de
corrupção que envolve a ele a família dele, disse, inúmeras vezes, que não
renunciaria em hipótese alguma.
Pois
não é que essa semana, estranhamente, o deputado resolveu renunciar. Atitude nobre?
Reconhecimento de culpas? Querer reparar o erro? Duvido muito. Essas atitudes
só as têm os espíritos magnânimos. Coisa que Eduardo Cunha não demonstra ter.
Por
que o deputado renunciaria dois meses após o Supremo Tribunal Federal o ter
afastado da presidência da casa? Diz ele, Eduardo Cunha, que renuncia para
acabar com a instabilidade na Câmara. Ora, como pode ele dizer isso agora, se
ele mesmo causou instabilidade na Câmara, por tanto tempo.
Achei
hipócrita a fala de Cunha — assim como penso que ele é um retrato fiel da
hipocrisia — mas mesmo assim, vou reproduzir aqui uma pequena parte:
“Resolvi ceder aos apelos generalizados dos
meus apoiadores. É público e notório que a Casa está acéfala, fruto de uma
interinidade bizarra que não condiz com o que o país espera do novo tempo, após
o afastamento da presidente da República. Somente a minha renúncia poderá pôr
fim a esta instabilidade sem prazo. A Câmara não suportará esperar
indefinidamente”.
De
fato, a Câmara dos Deputados está sem chefe. Waldir Maranhão, sucessor de
Cunha, perdeu por completo a autoridade que poderia ter tido como presidente da
Câmara quando resolveu anular a votação da Câmara que resultou no
prosseguimento do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Logo em seguida
Maranhão voltou atrás em sua própria decisão, mas já era tarde demais, o
estrago já estava feito. Concordo que é bizarra a interinidade de uma Câmara
que não tem voz de comando. Agora, o cúmulo do absurdo é Eduardo Cunha dizer
que a passagem de Waldir Maranhão pela presidência da Câmara é “uma
interinidade bizarra que não condiz com
o que o país espera do novo tempo.”.
Ao
colocar em negrito o final da frase dita pelo deputado, quero dizer que acho
que, nesse ponto, que é ele quem está acéfalo, sem cabeça, sem cérebro. Afinal,
o que ele acha que seja um novo tempo que o país espera? Por acaso, seria um
novo tempo em que os corruptos pudessem reinar soberanos, sem serem incomodados
pelo Ministério Público, nem pela Polícia Federal, nem por qualquer instância
do poder Judiciário?
Deve
ser esse o novo tempo que o deputado quer para o Brasil. Nesse sonho, Cunha não
está sozinho. Lembre-se de Dilma Rousseff e Lula tecendo planos para abafar a
Lava Jato, lembre-se também que esses mesmos sórdidos planos também já foram
traçados pelo presidente do senado, Renan Calheiros, pelo ex-ministro do
Planejamento, Romero Juca, pelo ex-ministro da Transparência, Fabiano Silveira, pelo
ex-presidente, José Sarney, e sabe-se lá por quantos mais. Esse é o Brasil que
eles querem, não o Brasil que, nós, brasileiros, queremos.
Eu penso que tudo essa coisa da renúncia de
Eduardo Cunha, seja apenas mais uma orquestração, mais um desses planos sórdidos...
E planos sórdidos, geralmente se tramam em conjunto. Alguns deputados também dizem
que a renúncia é apenas uma manobra para adiar a cassação do mandato de Cunha. Mais
uma delas. A milésima, talvez?
E de fato, a característica de manobra não
demorou a ficar evidente. À Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ),
Eduardo Cunha apresentou um novo pedido, no qual alega que todo o processo de cassação
foi fundamentado no fato de ele ser presidente daquela casa legislativa. Agora,
segundo ele, a situação é outra. Ele não é mais presidente da Câmara, e o
processo deveria voltar para a fase inicial.
Deus do céu! Quanta asneira! Espero que os
deputados não sejam tão acéfalos assim. Espero que eles tenham a consciência,
ainda que mínima, de que o afastamento de Cunha da presidência da Câmara não
anula os seus atos criminosos. Pois é isso que nos leva a deduzir do argumento
de Cunha: não sou mais presidente da Câmara, logo, todo o meu passado criminoso
foi apagado.
À hipocrisia de Cunha alia-se a hipocrisia
dos seus aliados. Esses dizem que não houve manobra alguma, e que a renúncia de
Cunha à presidência da Câmara foi uma decisão pessoal, e um “gesto de grandeza”.
Que grandeza pode haver, senhores e senhoras, por parte de um dissimulado, hipócrita
e ladrão. Se houvesse grandeza por parte deste senhor, chamado, Eduardo Cunha,
ele já teria se retirado da vida pública há tempos.
Espero que os deputados tenham a decência de
prossegui com o processo de cassação, e enviar o processo para o plenário,
onde, finalmente, será decidida a questão.
Em todo esse caldeirão de lama, há ainda uma
preocupação dos deputados contrários a Cunha: a de evitar que o próximo
presidente da Câmara seja um de seus aliados, ou algum outro indicado por ele.
Outra dúvida que tenho, e que não foi
colocado no pacote de dúvidas do início do texto, é se o governo Temer estaria
de alguma forma, envolvido nesse plano de salvar o mandato de Cunha. Afinal,
achei muito suspeito o encontro que Temer teve com Cunha, no domingo, 26 de junho,
à noite. Por que cargas d’água, um presidente interino iria se encontrar com um
presidente afastado, em um domingo à noite, encontro o qual, certamente, deve
ter sido acompanhado de um belo e delicioso jantar? De acordo com a assessoria
do Planalto, o encontro serviu para discutir o atual cenário político
brasileiro.
Ah, sim. Discutindo o cenário político atual?
Um presidente interino sobre o qual pesam suspeitas de corrupção, e um
presidente afastado da Câmara envolvido até o pescoço em denuncias de corrupção.
Aqui se pode aplicar o ditado popular: “diz-me com quem anda, e eu te direi
quem és”. Assim fica mais fácil ver quem é quem.
A questão é que estamos de olho na Câmara,
nos deputados, na votação que escolherá o novo presidente daquela casa, e no
processo de cassação de Cunha. Afinal, novos tempos acenam para nos brasileiros.
E o novo tempo do que o Brasil precisa, passa bem longe do bem longe do nível
moral de Eduardo Cunha e seus aliados.
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