0
Brasil: Um país na UTI
Posted by Cottidianos
on
00:29
Domingo,
03 de julho
Em
meados do mês passado, em cerimônia no Palácio do Planalto, o ministro do
supremo, Teori Zavascki, disse:
Estamos passando no Brasil, é
preciso reconhecer, momentos de grandes dificuldades. O país está enfermo, às
voltas com graves crises de natureza econômica, política e ética. Sem dúvida, é
preciso que as enfermidades sejam tratadas, como estão sendo, e tenhamos a
coragem de ministrar os remédios amargos quando necessário.
Refletindo
sobre a intensa atividade da Polícia Federal, que, do ano de 2003 até o momento
atual já realizou mais de já realizou mais de 1700 operações policiais, digo
que o Brasil não está apenas enfermo. Muito mais do que enfermo e a precisar de
remédios amargos, o Brasil está na UTI, em fase terminal. Só um paciente em
estado muito grave, precisaria de tantas operações.
Sendo-me
impossível falar de todas essas operações desenvolvidas pela PF, pois levarei o
restante do ano e mais outro inteiro para falar de todas, atenho-me apenas as
operações da PF realizadas nos anos de 2015 e 2016.
A
Operação
Pulso, comandada pela Polícia Federal de Pernambuco, e deflagrada em
dezembro de 2015, investigou um esquema de corrupção na Hemobrás (Empresa
Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia), situada em Pernambuco, e em uma
construtora de São José dos Campos, responsável pela obra. Foi um duro golpe
para a Hemobrás que teve cerca de R$ 30 milhões desviados de seus cofres.
As
irregularidades foram praticadas em diversos contratos da empresa. Um deles
envolvia um processo de armazenamento de plasma sanguíneo que é utilizado para fabricação
de medicamentos. Inicialmente o contrato foi firmado com uma empresa que
pagaria R$ 800 mil pelo serviço. Esse primeiro contrato foi encerrado e outra
empresa foi contratada ao valor de R$ 8, 3 milhões para realizar exatamente o
mesmo serviço.
Houve
ainda um superfaturamento em uma das obras de construção da Hemobrás, no
município de Goiana. O contrato da empresa subiu de R$ 22 milhões para R$ 74
milhões. Entre os envolvidos no esquema estavam o médico Mozart Sales, que
havia participado da gestão de Alexandre Padilha, ministro da Saúde, no governo
Dilma Rousseff. Foi Sales quem idealizou e coordenou a implantação do Programa
Mais Médicos. Na ocasião em que a PF deflagrou a operação, ele exercia o cargo
de diretor de Produtos Estratégicos e Inovação da Hemobrás. 170 policiais
estiveram envolvidos na operação, e foram realizados 28 mandados de busca e
apreensão em cinco estados.
Segundo
a PF a quadrilha teria cometido os crimes de peculato, corrupção ativa e
passiva, fraude na lei de licitações, lavagem de dinheiro e evasão de divisas,
e organização criminosa.
Em
abril de 2015, a Polícia Federal estava às voltas com a Operação Zelotes, que apura
uma dos maiores esquemas de sonegação fiscal já praticados na história do fisco
brasileiro. A quadrilha investigada pela PF nessa operação atuava junto ao Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), com o objetivo de reverter ou anular
multas.
Nessa
operação começamos a notar o Senado como inimigo da lei e da ética. Isso é
interessante, pois o Senado, na grande maioria das vezes, parece caminhar em
direção contrária a que lhe é direito. Essas manobras que têm sido feitas agora
para barrar a Lava Jato, com certeza já foram feitas na grande maioria das
operações feitas pela PF, apenas não nos eram apresentadas a nós de forma
clara. Tudo era feita às escondidas. Hoje entendemos, perfeita e claramente,
porque havia tanto interesse por parte dos políticos para que não houvesse apuração
dos casos de corrupção, e tudo acabasse em pizza.
Voltemos
aos desdobramentos da Zelotes. Apenas dois meses após a operação ter sido iniciada,
o Senado abriu uma CPI, apresentando o relatório em dezembro do ano passado,
mas sem citar o possível envolvimento de políticos na venda de medidas provisórias.
Em outubro do mesmo ano, um mandado de busca e apreensão foi realizado pela PF,
na LFT Marketing Esportivo, de propriedade de Luis Claudio Lula da Silva, filho
do ex-presidente Lula. A empresa funcionava nos Jardins, bairro nobre de São
Paulo. A Operação Zelotes, atualmente, continua em andamento.
Segundo
a PF, a empresa teria recebido repasses de uma empresa de lobistas, chamada Marcondes
& Mautoni, que atuou na aprovação da medida provisória que prorrogou, para
a indústria automobilística, a isenção de Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI).
O
nome da operação, Zelotes, refere-se àquele que finge ter zelo. Era isso que faziam
os funcionários do Carf: apenas fingiam ter zelo pelos cofres públicos, quando,
na verdade, os estavam dilapidando. Cerca de R$ 19 bilhões de reais foram
desviados dos cofres públicos através da atuação dessa quadrilha.
Em
maio de 2015 foi deflagrada a Operação Acrônimo, resultado de uma
investigação que teve sua origem em outubro de 2014. Na ocasião, a PF apreendeu
R$ 113 mil em uma aeronave que pousou no aeroporto de Brasília. A aeronave vinha
de Belo Horizonte, e nela estavam o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira
Neto, mais conhecido como Bené. O empresário já havia firmado mais de R$ 500
milhões em contratos com órgãos públicos federais.
No
voo também estava Marcier Trombiere Moreira. Moreira era assessor do Ministério
das Cidades, e, na época, havia pedido licença do cargo para trabalhar na
campanha de Fernando Pimentel (PT), ao governo de Minas.
Mais
uma vez, dinheiro advindo de fraudes em contratos públicos era usado para
abastecer campanhas políticas. Infelizmente é a prática que tem reinado no
Brasil: a conquista do poder a todo custo, e sem medir as consequências. É,
justamente, essa prática que queremos ver extinta em nosso país. Bené pagou
fiança e foi liberado dias depois da prisão, mas teve prisão preventiva
decretada em abril deste ano por suspeita de ser o operador de Pimentel no
esquema.
Ainda
no ano passado, tivemos as Operações; Andaime, que, deflagrada em junho de
2015, desarticulou uma quadrilha que fraudava licitações em obras de engenharia
no sertão da Paraíba; Asclépia, que investigou um esquema
de desvio de verbas que tinha como epicentro o Hospital de São Sebastião, em
Santo Antonio do Amparo, em Minas Gerais; Dupla Face, que investigou crimes
referentes à cobrança de impostos em Itajaí, Santa Catarina. Segundo a PF, as
falcatruas também aconteciam no desenvolvimento de obras e projetos. Funcionava
assim: a quadrilha criava dificuldades para os empresários que empreendiam
projetos de construção, e depois, lhes apresentavam facilidades em troca de
dinheiro.
E
o trabalho da PF continua a todo vapor este ano, com a continuação da Lava
Jato — operação que tanto tem feito tremer de medo e de pavor a políticos
de várias correntes partidárias, e de vários partidos — e de outras operações.
Agora,
você que lê este blog, imagine o oceano de dinheiro que foi desviado dos cofres
públicos nessas mais de 1.700 operações policiais realizadas pela Polícia
Federal, desde 2003. Bilhões? Trilhões? Não sei precisar ao certo, mas se toda
essa imensa fortuna roubada da nação brasileira, tivesse sido empregada para
servir ao povo brasileiro, uma coisa posso afirmar sem medo de errar: não
teríamos milhares de doentes sendo, vergonhosamente atendidos em macas em
corredores de hospitais públicos, não teríamos crianças sendo usadas por
adultos para cometer crimes, não teríamos medo de andar pelas ruas das grandes
cidades, principalmente à noite, não teríamos crianças estudando em escolas
precárias... Ah, caros leitores não teríamos tantas coisas do que reclamar...
Teríamos
sim, uma nação sem crises econômicas, sem desemprego, e um povo alfabetizado e
capaz de saber escolher os seus dirigentes políticos com mais critério.
Por
isso, digo, que a corrupção é uma arma silenciosa, um gás letal, que,
silenciosamente, vai ceifando vidas país afora. É preciso, com urgência, nos livrarmo-nos
dela e dos bandidos que dela fazem uso, sejam eles políticos, empresários, ou
funcionários públicos.
Há
pessoas morrendo no Brasil em consequência da violência urbana, porém a
corrupção mata muito mais. Encerro este texto com as palavras do procurador do
Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, falando sobre a corrupção em
entrevista à revista Época, “Ela mata
muito mais do que um homicídio. Ela mata quando tira R$ 200 bilhões dos cofres
públicos por ano no Brasil. Ela mata quando a estrada fica esburacada porque o
administrador corrupto não pode aplicar uma multa na empresa porque está com o
rabo preso com aquela empresa. Aquele buraco na estrada vai gerar uma morte. A
corrupção tem efeitos concretos e drásticos”.
Postar um comentário