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As relações promiscuas do poder público com o setor privado reveladas – Parte I
Posted by Cottidianos
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11:28
Domingo, 16 de abril
É domingo de Páscoa! Dia em que, segundo
o livro sagrado dos cristãos, Cristo venceu a morte, e ressurgiu glorioso da
tumba onde o haviam colocado. Por tudo isso, Páscoa significa vida nova.
Mas, lembremos que a vida nova, a
vitória do Cristo sobre a morte, veio depois de muita luta, muitos sofrimentos,
incompreensões, e traições.
Nós brasileiros estamos vivendo um
momento muito delicado, tanto no campo econômico, quanto no campo político, e,
principalmente, no campo moral. Como o mestre Jesus, experimentamos a traição
quando votamos em políticos desonestos, e que nada mais querem que satisfazer
sua sede de poder, luxo, e vaidade, sem se importar com a coisa pública.
Também como o Cristo carregamos a nossa
cruz quando pesa a cruz da inflação. Sentimos as espadas perfurando nosso
peito, quando vemos a situação em que se encontram nossas escolas,
universidades, e hospitais públicos.
Não se enganem caros leitores, e
leitoras, nesse meio político não existem os bons ladrões como Barrabás. Ao contrário,
as empresas agem como organizações criminosas, e os políticos inescrupulosos
como saqueadores.
Porém, ainda resta esperança de uma
tomada de consciência da sociedade brasileira, e de parcela da sociedade que
elegeu esses que aí estão, nos representando sem nos representar. E não
esqueçamos que apenas com leis mais justas e com uma vigilância mais atenta da
sociedade brasileira, e mais cuidado na hora de votar, é que poderemos ver o
Brasil ressurgir glorioso da tumba em que o colocaram.
FELIZ PÁSCOA, a todos!
E vamos a postagem de hoje.
***
A imprensa brasileira classificou as
delações da Odebrecht como as delações do “fim do mundo”... E para nossa
tristeza essas tais delações são mesmo as delações do fim do mundo. Humilham a
nós, brasileiros, e brasileiras, porque apresentam um Brasil terra de ninguém,
onde predominam os políticos corruptos e sem o menor escrúpulo. Sabia-se que
eles não estavam nem aí para o cumprimento dos objetivos e dois ideais para os
quais foram eleitos, e para o povo pelo qual e para o qual deveriam trabalhar. Mas
apesar de pensar que estávamos preparados para ouvir o que os delatores tinham
a dizer, descobrimos que não estávamos, pois o descaso para com o Brasil, e
para com os brasileiros é coisa estarrecedora. É o que mostram os vídeos dos
depoimentos dos delatores que começaram a ser revelados semana passada.
Os políticos avançavam em cima dos donos
e diretores da Odebrecht como urubus avançam em cima de carniça, e o cheiro de
podre começa a ser exalado para o Brasil, fazendo com que se perca o restinho
de respeito que tínhamos para com a classe política. Nós não os respeitamos
simplesmente porque eles não se deram ao respeito.
Mas, apesar dos pesares, depende do
legislativo, reconstruir um pouco da moralidade que a classe política deixou
escorrer pelo ralo.
A arrasadora dinamite atinge em cheio as
principais lideranças de nosso país, e os principais partidos. Segundo os
delatores, Lula, por exemplo, recebeu vantagens da empreiteira por anos a fio.
As benesses não eram apenas para o partido, mas para ele mesmo, e para seus
familiares. O irmão de Lula, o Frei Chico, recebeu mesada da empreiteira por
cerca de treze anos seguidos. Isso sem contar a “ajuda” dada ao filho do
ex-presidente, Luiz Cláudio, a reforma no sítio de Atibaia, a reforma do
apartamento no Guarujá, a “mãozinha” para a construção do estádio do Coríntias,
e sabe-se mais que vantagens o ex-presidente deve ter levado em cima da
Odebrecht.
Mesmo após a saída de Lula da
presidência, ele continuou sendo ajudado pela empreiteira como forma de recompensa
pelas vantagens em contratos ilícitos com o governo que a empreiteira havia
obtido.
Não só Lula, mas a ex-presidente Dilma
Rousseff também é citada pelos delatores. R$ 24 milhões teriam abastecido a
campanha dela em 2014, via caixa dois. Marcelo Odebrecht diz que, tanto Lula,
quanto Dilma, tinham conhecimento da dimensão que a Odebrecht dava a eles e ao
partido, ao longo dos anos. Marcelo, diz que, em 2015, já com a Operação Lava
Jato a todo vapor, mostrou para a ex-presidente a quantidade de dinheiro que
teria irrigado a campanha dela.
Nem o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso escapou da metralhadora de Emilio Odebrecht. Ele disse que foram feitos
repasses de dinheiro via caixa dois para a campanha do ex-presidente em 1993, e
em 1997. José Serra, Aécio Neves, também foram citados. Aécio Neves será alvo
de cinco inquéritos. Esses inquéritos visam apurar se ele favoreceu a
empreiteira em diversas situações, inclusive, se houve fraude na construção da
cidade administrativa, sede do governo de Minas. Corrupção, lavagem de
dinheiro, formação de cartel, e fraude à licitações são os motivos pelos quais
o senador vai ser investigado.
Geraldo Alckmin também teria recebido
repasse de dinheiro para duas campanhas eleitorais. Ele teria recebido R$ 2
milhões, em 2010, e R$ 8 milhões em 2014.
Em relação a José Serra, os pagamentos
teriam relação com irregularidades na obra do trecho Sul do rodoanel, que liga
as principais rodovias que passam pela capital paulista. O resultado das
licitações teria sido combinado pelas empreiteiras em troca de R$ 1milhão e 200
mil para campanhas eleitorais.
Em outro vídeo, o ex-delator da
Odebrecht, Henrique Valadares, deixa ainda mais claro a relação promiscua entre
empresas privadas e públicas. Falando de Furnas, ele fala da influencia de
grupos do PMBD e do PT na aera de energia. Dois diretores da estatal foram
indicados por políticos desses partidos. Havia interesse da empreiteira de que
esses dois diretores continuassem nos cargos. Para esse objetivo foi criado um
fundo de um montante de até R$ 20 milhões, apenas para que esses diretores se
mantivessem no cargo. Os dois diretores poderiam tratar com Valadares, se a necessidade
exigisse, até esse limite imposto por ele, que, diga-se de passagem, não é
pouca coisa.
O ex-executivo da Odebrecht, Rogério
Araújo, cita em sua delação um caso envolvendo o ex-gerente da Petrobrás, Pedro
Barusco. Quando percebeu que a PF poderia bater à porta dele com mandados de
busca e apreensão, pediu a Araujo que guardasse consigo 24 garrafas de vinho.
Detalhe, cada garrafa custava cerca de 10 mil dolares. Depois que já havia
feito a delação, e tudo já estava encaminhado, a esposa dele, apareceu na portaria
da residência de Araújo, dizendo que gostaria de reaver as garrafas de vinho.
A influencia maléfica da Odebrecht
influenciava até áreas impensáveis para uma empreiteira influenciar, nos
debates eleitorais de candidatos à presidência, por exemplo. Fernando Reis, em
sua delação, contou que, nas eleições presidenciais de 2014, a Odebrecht
acreditava no Pastor Everaldo, candidato por um pequeno partido, o PSC, e
resolveu investir nele. Foi Eduardo Cunha que apresentou os dois. A empreiteira
fez um primeiro pagamento ao Pastor Everaldo de R$ 1 milhão. Com esse dinheiro
o candidato a presidente começou a se estruturar, fazer a campanha dele. No
início de 2014, o Pastor Everaldo começou a aparecer nas pesquisas, ainda que
com um percentual muito baixo. Vendo esses bons resultados, o candidato começou
a pedir mais dinheiro para a Odebrecht. A empresa fez uma segunda contribuição
para ele, em mais R$ 1 milhão. Ao final,
da campanha haviam sido pagos R$ 6 milhões para o candidato do PSC.
Naquele ano, a trágica morte do
candidato Eduardo Campos mudou o rumo das eleições. Marina Silva, vice de
Eduardo na chapa, passou a concorrer como candidata a presidente. Isso fez com
que os eleitores do evangélico pastor Everaldo, migrassem para a campanha de
Marina Silva, também evangélica. Com isso, o Pastor Everaldo começou a sumir
nas pesquisas.
A Odebrecht viu então que o investimento
no Pastor Everaldo havia sido muito alto para pouco retorno. Tarde demais,
perceberam que ele não era o candidato certo. Como o dinheiro já estava pago, o
único jeito encontrado foi de que o Pastor Everaldo ajudasse a empresa,
ajudando o candidato do PSDB, Aécio Neves. Pastor Everaldo ajudaria Aécio em
debates televisivos, e com isso sobraria mais tempo de TV para o candidato do
PSDB.
O plano traçado era o de que o candidato
usasse o tempo do debate sempre para fazer perguntas para Aécio Neves, pois
assim o PSDB ficaria com mais tempo nos debates. As perguntas não precisavam
ser complexas, mas, podiam ser quase infantis para um debate de candidatos à
presidência. No debate exibido pela TV Globo em 02 de outubro, um dos temas
sorteados para perguntas foi sobre a Previdência Social. E a pergunta feita
pelo Pastor Everaldo a Aécio Neves foi: “Senador, o que o Sr. tem a dizer sobre
a Previdência no Brasil?” Pastor Everaldo riu ao fazer a pergunta, talvez se
lembrando de que era tudo apenas mais um ato no teatro que estava encenando.
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