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Terceirização: Quem paga o pato?
Posted by Cottidianos
on
16:50
Domingo, 26 de março
O governo está com déficit em suas
contas... A economia está em crise... O Brasil está de cabeça para baixo devido
a tantos e tantos casos de corrupção... Se a carne é fraca e podre, alguém tem
que pagar o pato... E quem paga esse pato tão caro aos brasileiros?
Pelas atitudes tomadas pelo governo no
sentido de solucionar os problemas nos quais o país está envolto, os mais
indicados para arcar com o prejuízo é sempre o trabalhador. Sim, o trabalhador,
esse que trabalha cinco meses por ano para pagar tributos ao governo, e não vê
o retorno desse pagamento em serviços essenciais, é que está na lista de
preferenciais pagadores do pato.
No Senado, e na Câmara dos Deputados — que,
quase sempre jogam junto com o governo, quando o assunto se refere a legislar
em causa própria, ou agir em benefício do empresariado — na quarta-feira da
semana passada, tomaram uma decisão que pode prejudicar direitos trabalhistas,
tão duramente conquistados.
Liberou geral. Foi isso o que fez a
Câmara dos Deputados ao aprovar o projeto de lei que torna irrestrita as
atividades terceirizadas nas empresas, e também em vários ramos do setor
estatal. Foram 231 votos a favor, 188 contra, e 8 abstenções. Uma vitória da
base aliada do governo que, dessa forma, dá vida a um paciente em coma desde
1998.
O tal paciente em coma é o Projeto de
Lei, no 4.302/1998. Esse Projeto de Lei trata da regulamentação das
atividades meio e fim, tanto para a iniciativa privada quanto para o setor
público. O PL foi proposto há 19 anos pelo ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), e já havia sido aprovado no Senado. Agora a nova lei segue para
ser sancionada pelo presidente Michel Temer.
Órgãos do Poder Judiciário, deputados de
oposição, e centrais sindicais, bem como diversos setores da sociedade se
posicionaram contra a medida. O argumento é de que haverá, se sancionada essa
nova lei por Michel Temer, uma precarização das relações trabalhistas, um
achatamento dos salários.
Por falta de uma lei que tratasse
especificamente da questão, a terceirização vinha sendo regulamentada pela Súmula
331, do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Através dessa Súmula, a Justiça do
Trabalho apenas permite a iniciativa terceirizada em atividades-meio, ou seja,
as atividades secundárias, não consideradas os objetivos da empresa. Hoje, uma
empresa pode, tranquilamente, por exemplo, terceirizar os serviços de copa,
cozinha, manutenção, e segurança. Ainda de acordo com essa Súmula, também são
permitidas as contratações de funcionários terceirizados nas festas de Páscoa e
Natal, por exemplo.
Com a nova lei, a coisa se torna mais
perigosa para o trabalhador, pois as a terceirização se estende das atividades
meios, para as atividades fins. Ou seja, para aquelas atividades que são a essência
da empresa.
Apenas para citar um exemplo dentre a
vasta gama de exemplos que se pode citar. Fiquemos com os bancos, a titulo de
exemplo. No caso de o presidente ratificar o que foi aprovado pela Câmara, uma
instituição bancária, poderia terceirizar, não apenas o serviço de limpeza, mas
também os operadores de caixa, os gerentes, e demais funções próprias de uma
instituição bancária.
No caso do setor estatal, o estado
poderia terceirizar professores, por exemplo.
É inevitável que haja perdas, e grandes
para os trabalhadores. As diversas categorias perderiam, a começar, no piso
salarial, e como efeito em cascata, em os benefícios concedidos ao trabalhador,
como vale alimentação, vale transporte, plano de saúde, participação nos
lucros, só para citar alguns.
Se alguém duvida disso, basta olhar para
a atividade terceirizada existente hoje no Brasil. Os terceirizados são os que
ganham o menor salário, os que sofrem acidentes de trabalho com maior frequência,
os que têm maior rotatividade no emprego, e os que padecem mais para receber
seus soldos ao final das rescisões dos contratos de trabalho. Será diferente
depois?
Como em toda batalha sempre há um lado
vencedor, nessa nova lei da terceirização também há. E quem é o vencedor nessa
história toda? Os empresários. São eles quem mais lucrarão com a mudança
radical na relação capital-trabalho que se operará no Brasil.
Coloquemos como se fosse numa balança as
vantagens e desvantagens na questão da terceirização, e vejamos a quem ela mais
interessa.
No prato A da balança, as vantagens:
diminuição dos custos, aprimoramento do sistema de custeio, lucratividade e
crescimento, maior poder de negociação, crescimento econômico sem grandes
investimentos, administração menos burocratizada.
No prato B, as desvantagens: perca do
vínculo empregatício com a empresa, e consequente perda de identidade cultural
com ela, precarização das relações trabalhistas, diminuição dos salários,
aumento de carga horária.
Consideremos que no prato A da balança
estão os empresários, e no lado B, os trabalhadores. Quem saíra perdendo, e
quem saíra lucrando?
Os trabalhadores de todo o Brasil
precisam estar bastante atentos a essa questão, pois se corre o risco de que
uma montadora, apenas a título de exemplo, possa não ter em sua linha de
produção, funcionários da empresa trabalhando nela, mas sim, terceirizados,
sujeitos a um empresa terceirizada, a qual pode demiti-lo a qualquer hora.
No setor público, a preocupação também
não é diferente. Joga-se para as mãos de empresas terceirizadas, atribuições
que são exclusivamente do Estado, como manda a constituição. Poderão ser
terceirizadas atividades da Receita Federal, das escolas, dos hospitais.
Anuncia-se nos céus dos direitos do
trabalho no Brasil uma revolução às avessas: a revolução na relação capital-trabalho
que apenas privilegia aos empresários, jogando os trabalhadores ainda mais para
a base da pirâmide. Nessa relação, os detentores dos meios de produção
auferirão dos lucros, sem que tenham muito com que se preocupar com a linha de
produção, uma vez que esta estará sendo gerida por uma empresa terceirizada
que, como vampiro sedento de sangue, estará a sugar o esforço do trabalhador.
É coisa para se pensar: Por que estarão
os “nobres” deputados dando, de forma tão descarada, às costas ao povo
brasileiro. Estarão tentando jogar lenha na fogueira para desviar os olhos do
Brasil da Operação Lava Jato, que a tantos deles ameaça? Ou seria simplesmente
uma vingança contra uma sociedade que apoia a operação, pois que quer um Brasil
mais humano e mais justo?
São coisas a se pensar. A se pensar também
são as manifestações que ocorrem hoje por todo o país. O povo voltou às ruas. Este
blogueiro saiu às ruas para acompanhar os protestos aqui, na cidade de
Campinas, distante da capital paulista, cerca de 100 km, e fala a partir das
observações que fez neste recorte de realidade.
Reunidos no Largo do Rosário, os
manifestantes saíram pelas ruas da cidade gritando palavras de ordem, para
depois retornarem ao local de origem da concentração, onde se deu o
encerramento.
A adesão da população não foi tão
expressiva quanto das outras vezes. Havia bem menos gente, se considerados
outros protestos já ocorridos na cidade. O verde e amarelo estampados nas
roupas foram predominantes, como das outras vezes. Um dos organizadores do Movimento Brasil
Livre (MBL), chamava atenção para as eleições de 2018. Dizia ele que o
Congresso precisa ser renovado. É realmente, ano que vem, é a hora e vez, de
tirar de lá esse políticos que, em nada nos representam. A imensa maioria deles
está lá apenas para defender os próprios interesses, e os interesses de seus
grupos econômicos.
A eles, o que menos interessa é a
opinião pública. O importante para eles é a manutenção de uma situação pra lá
de injusta, na qual estão envoltos os interesses mais sórdidos. Não se enganem
também os brasileiros, seja simpatizante de partido A, B, ou C. Não é hora de
vestir camisa de partido. É hora de vestir a camisa da dignidade, da decência,
da moralidade, e da ética. É hora de vestir a camisa do futuro do Brasil.
É comum ouvirmos dizer dos políticos a
respeito das doações da Odebrecht, que foi uma doação legal. Abra os olhos caro
eleitor, caro cidadão, e cidadão brasileiros. Quem em são consciência acredita
que uma empresa como Odebrecht, por exemplo, envolvida até a alma nos lodaçais
da corrupção, venha a fazer doação legal para quem quer que seja? Se as empresas
citadas na Lava Jato fizeram alguma doação disfarçada de legal, é certo que
esperavam algo em troca. E os políticos que as receberam, tinha a certeza que
elas cobrariam o preço, mais cedo ou mais tarde, mesmo assim, venderam a alma
ao diabo, e agora querem, a todo custo, escapar do inferno da prisão.
Este blogueiro ficou um pouco
decepcionado com os movimentos que levaram o povo às ruas neste domingo, em
Campinas. Não se ouviu gritos de Fora Temer! Nem de outras figuras citadas em escândalos.
Pediram é certo, a prisão de Lula, como se Lula fosse o único político corrupto
do Brasil, e não houvesse mais corrupto algum além dele.
luta pelo restabelecimento da moralidade em
nosso país deve estar acima dos partidos políticos, e dos interesses partidários.
É uma luta mais nobre e mais digna de que todo esse covil de raposas no qual se
tornaram os partidos políticos.
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