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Caldo quente de carne podre
Posted by Cottidianos
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00:29
Terça-feira, 21 de março
Neste domingo (19), o presidente Michel
Temer se reuniu com ministros, empresários e embaixadores, em uma reunião de
emergência para discutir, dar explicações sobre o recente escândalo de carnes
maquiadas, e depois repassadas ao consumidor como carnes frescas.
Na verdade, uma tentativa de remediar a
situação, e tranquilizar os mercados, uma vez que o caso teve, está tendo,
grande repercussão nacional, e internacional. Temer disse aos presentes que o
número de frigóricos envolvidos no escândalo, em número de 21, era irrisório,
se comparados ao número de frigóricos existentes, que é de cerca de quase
5.000. E a conversa foi por aí, num sentido de botar panos quentes na situação
pra de lá de quente, e com cheiro de carne podre.
Esse presidente Temer deve ser mesmo um
brincalhão. Ao final do encontro, o que ele fez? Levou os convidados para
jantar em uma churrascaria, a fim de mostrar que tudo estava bem com a carne
brasileira, e que estava tudo sob controle em relação ao assunto. A piada nessa
história toda é que, segundo apurou o jornal O Estado de São Paulo, a
churrascaria que Temer escolheu para matar a sede de carne de seus ilustres
convidados para a reunião, não servia carne brasileira.
Um atendente da churrascaria Steak Bull
revelou à repórteres do Estadão, que o estabelecimento comercial só trabalha
com carnes de origem europeia, uruguaia, e australiana.
Ao final da reunião, Temer convidou os
participantes a irem a uma churrascaria comer carne brasileira, mas não disse a
eles que a churrascaria servia carne importada. Durante a reunião, o presidente
tentou minimizar os efeitos do escândalo, mas, ao partir para prática, preferiu
não correr o risco.
Após a repercussão da reportagem do
Estadão, o Palácio do Planalto divulgou nota, dizendo que, excepcionalmente,
naquele domingo, a carne servida para o jantar do presidente, ministros,
empresários, e embaixadores, era de procedência brasileira. Depois da nota
divulgada, pelo Palácio do Planalto, a churrascaria referendou o que foi dito
pela nota do Planalto. História no mínimo confusa essa, não acham?
Também em entrevista ao Estadão, Pedro
Camargo Neto, pecuarista, e vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira,
acusou a Polícia Federal de ter sido irresponsável ao fazer o anúncio do
escândalo da carne maquiada. Em outras palavras, ele afirmou que a PF fez
“tempestade em copo-d’água”.
Neto reconheceu que houve crime, mas que
foi uma coisa pontual, que não merecia o estardalhaço que a PF fez, e
mostrou-se preocupado com os efeitos do que isso poderia causar nas
importações, e no mercado nacional.
O pecuarista disse ainda que o
estardalhaço feito pela polícia era para o caso de ter havido uma zorra muito
grande, o que não o caso, e que essa zorra não existe, segundo ele. Ora se não
existe. O Brasil está uma zorra só. Escândalos de toda a sorte, e por todos os
lados. A zorra está armada, o circo está feito. Só não vê quem não quer.
É certo que pode ter havido um pouco de
exagero na apresentação da PF, ao tornar público o escândalo. Mas, será mesmo
que essas espetacularizações não são necessárias diante da conjuntura atual?
Será que não é preciso jogar holofotes onde as coisas estão erradas? Onde o
cheiro de podre exala forte?
O que os políticos querem mesmo é que as
coisas passem despercebidas. Eles querem empurrar o lixo para debaixo do
tapete. Mas agora não dá mais para fazer isso. O debaixo do tapete já está
entupido de lixo.
Além das preocupações com o mercado
interno e externo, Neto se mostra ainda preocupado com os produtores, que,
segundo ele, é “quem vai pagar o pato”.
O interessante é que, em nenhum momento,
ele fala do quanto o consumo de carnes duvidosas poderia afetar a saúde das
pessoas.
Os investigadores ligados à Operação
Carne Fraca, obviamente, não iriam ficar calados diante dos ataques feitos à PF
por Pedro Camargo Neto, e reagiram dizendo que há ainda muito material sob
sigilo, a ser revelado, e que isso terá posteriores desdobramentos.
Os investigadores também atacaram a tese
de que apenas um frigórico teria tido a carne periciada. Segundo eles, se a
perícia tivesse sido feita, simultaneamente, em várias empresas, isso
comprometeria o sigilo da investigação, o que faz todo o sentido. Os
investigadores são categóricos em afirmar que dispõem de provas do envolvimento
de outros frigoríficos no esquema.
De acordo com os investigadores, além
dos frigoríficos estarem envolvidos em mais este esquema criminoso, também os
laboratórios, credenciados pelo Ministério da Agricultura, e que fazem a
análise dos produtos para os frigoríficos podem estar também envolvidos no
esquema.
Durante uma cerimônia de posse do
Conselho da Câmara Americana de Comércio (Amcham), nesta segunda (20),
realizada em São Paulo, Temer voltou a minimizar a crise usando os mesmo
argumentos que havia usado na reunião de domingo. O presidente disse que dos
4.850 frigoríficos existentes no Brasil, apenas três foram interditados, e 19
estão sendo investigados. Em seu discurso, ele esqueceu-se de dizer, que, mesmo
o problema sendo pontual, poderia comprometer a saúde de milhões de
consumidores.
É possível também que todas essas
tentativas do governo de minimizar o problema nos joguem de novo no espiral da
corrupção que abastece os partidos políticos. Segundo declarações do delegado,
Maurício Moscardi Grillo, parte dos valores arrecadados pelos fiscais do
Ministério da Agricultura em propina, abasteceram os cofres do PMDB, e do PP.
Os investigadores não sabem ainda ao certo que motivos levavam os fiscais a
repartir as quantias com os partidos.
O efeito imediato desse escândalo para a
economia brasileira não é dos melhores. Grandes importadores de carnes
brasileira, a Coreia do Sul, a China, e a União Europeia, anunciaram a
suspensão temporária de importação de carnes brasileiras. Querem ter a certeza
de que apenas carnes de qualidade cheguem ao mercado europeu.
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