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Chapa Dilma-Temer: uma chapa sob suspeita

Posted by Cottidianos on 00:33
Quinta-feira, 09 de março


Em 10 de junho de 2014, em convenção nacional, o PMDB, decidiu apoiar a candidatura da presidente Dilma Rousseff, para as eleições que seriam realizadas em outubro daquele ano, reeditando, desse modo, a chapa que tinha Michel Temer como Vice-Presidente da República. Dilma agradeceu o apoio, elogiou as qualidades do vice como articulador dentro do PMDB, fato que havia proporcionado o sucesso daquele momento.

Tudo era felicidade. Todos eram apenas sorrisos. Não sabia Dilma que do mesmo jeito que o seu querido vice havia articulado para que concorresse na chapa, junto com ela como vice, mal sabia ela que esse mesmo poder articulador, daquele eficiente senhor, acabaria por lhe derrubar da cadeira presidencial, assumindo, ele mesmo, a presidência.

Convenção feita, o processo eleitoral andou, e pelo visto, com eficiência. Todos arregaçaram as mangas. PT e PMDB unidos na corrida pela cadeira presidencial. Responsabilidades divididas. Um não ficou de braços cruzados enquanto o outro trabalhava. Não de modo algum. Foram a lutas juntos. Pediram apoio juntos. Juntos esperaram... E juntos venceram as eleições.

Em fins de outubro daquele ano, eram colhidos os frutos doces de uma afinada parceria. Dia 26 de outubro, um domingo, Dilma era reeleita presidente da República, numa das eleições mais acirradas dos últimos tempos. E ao seu lado, o fiel escudeiro, Michel Temer.

Depois veio toda aquela história do processo de impeachment, e Dilma foi deposta. Antes disso, gritou e bradou aos quatro cantos do mundo, que estava sendo vítima de um golpe — e hoje, talvez se considere que estivesse com a razão, apesar de ter feito por merecer o pé na cadeira que lhe deram — mas os gritos não funcionaram.

Ai vem o depoimento de Marcelo Odebrecht botar mais pimenta nesse molho. Há cerca de sete dias, o empresário presidiário Marcelo Odebrecht, disse, em depoimento no Superior Tribunal Eleitoral, que havia doado R$ 150 milhões para a chapa Dilma Temer, por meio de caixa 2. Segundo Marcelo, o pagamento dessa fortuna foi negociado diretamente como ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Para não chamar muito atenção, o pagamento da propina teria sido feita no exterior a João Santana, marqueteiro da chapa na qual concorriam Dilma e Temer.

Ainda segundo Marcelo, ele discutiu o assunto de doações para campanhas eleitorais, pessoalmente, com Temer, durante um jantar no Palácio do Jaburu. Mas, coisa difícil de acreditar, nesse jantar não ter sido discutido valores. Marcelo diz acreditar que os valores foram discutidos em encontro posterior entre Eliseu Padilha — atual ministro licenciado da Casa Civil — e Claudio Mello ex-diretor da empreiteira. Este último, afirmou em delação premiada que o valor definido para essa transação teria sido de R$ 10 milhões.

Nesta terça-feira (07), o Superior Tribunal Eleitoral ouviu mais três delatores na ação que investiga o uso de caixa dois, e de abuso econômico na chapa Dilma Temer, a saber: Hilberto Mascarenhas da Silva Filho, Alexandrino de Alencar, e o já citado anteriormente, Cláudio Melo.

Hilberto foi o primeiro a ser ouvido. Chegou ao TSE tampando o rosto, mas um tampar de rosto esquisito. Parecia estar mais era debochando de uma situação, do que mesmo sentindo vergonha dela. Esse parecer é emitido no sorriso cínico do delator enquanto escondia o rosto. Ele era o chefe do departamento de propina da Odebrecht. É bom que reflitam os leitores e leitoras que a própria criação de um departamento de propina é algo fora de cogitação para uma empresa que pauta seus princípios pelos valores da ética e moralidade. Para disfarçar, deram a esse desonroso departamento o pomposo nome de “Setor de Operações Estruturais”. O serviço de Hilberto nele era arrecadar e distribuir propina.

Em duas horas, o delator explicou como funcionou o pagamento de propina na eleição presidencial de 2017.

O segundo a falar, Alexandrino de Alencar, falou apenas por meia hora. Era ele o elo entre a empreiteira, e os abutres, digo, políticos. Alexandrino falou da distribuição de propina ao PDT, PP, PRB, PCdoB e PROS — partidos que deram apoio à chapa Dilma-Temer. Segundo Alexandrino, cerca de 30 milhões foram distribuídos entre esses partidos.

Claudio Mello, falou do que já havia falado antes: do tal jantar no Palácio do Jaburu, em que estavam Marcelo Odebrecht, Michel Temer, e Eliseu Padilha. Ele afirmou que Temer, pessoalmente, pediu doação a Marcelo.

À época Temer era vice-presidente, e esse pedido deve pesado muito para o líder da Odebrecht. Difícil dizer não quando se está envolvido até o pescoço, e mais do que o pescoço, até a alma, num esquema criminoso desses. Ainda segundo Claudio, foi Marcelo quem definiu de que forma seriam repartidos os R$ 10 milhões: R$ 6 milhões para a campanha de Paulo Skaf ao governo de São Paulo, e 4 milhões ficariam para serem distribuídos por Eliseu Padilha, sendo que um endereço de parte dessa dinheirama foi no escritório de José Yunes, ex-assessor de Temer.

Como a história se repete sempre quando alguém é acusado de falcatruas na Lava Jato, também nesse caso, ninguém sabe de nada, ninguém conhece ninguém, ninguém nunca viu ninguém, e todos posam de anjinhos e juram inocência.

A grande questão desses depoimentos no TSE e na ação que apura o uso de caixa dois na chapa Dilma-Temer, é que a chapa pode ser cassada. Os advogado de defesa de Temer podem alongar a fase de apuração, pedindo que sejam ouvidas novas testemunhas, contestar o próprio andamento da ação, enfim, existem mil manobras que podem ser feitas pelos advogados de defesa do presidente para protelar a ação movida pelo PSDB.

Dilma já é carta fora do baralho, então todas as atenções se voltam para Temer, e, se as supostas irregularidades podem cassar seu mandado. Caso isso aconteça, uma eleição indireta na qual apenas votarão deputados e senadores escolherá um novo presidente.

Dizendo no popular: Temer quer tirar o corpo fora, e dizer que não tem responsabilidade sobre as ações da ex-presidente Dilma quando em campanha. Como pode haver separação, se antes do processo de impeachment eles eram “unha e carne” aliados fieis. E, se foram aliados fieis na vitória, porque não sê-lo também nas falcatruas, e na punição da lei?

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