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Boa Esporte Clube: Marketing agressivo ou pura burrice?
Posted by Cottidianos
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00:13
Segunda, 20 de março
O goleiro Bruno Fernandes, e a diretoria do Boa Esporte Clube |
Em meados do ano de 2010 o Brasil ficou
estarrecido diante das revelações do crime brutal de que foi vítima a jovem
modelo Eliza Samúdio. Na época, Bruno era goleiro titular do Flamengo, e sua
carreira estava em ascensão, com grandes possibilidades de trilhar uma carreira
internacional. Os caminhos de Eliza e Bruno haviam se cruzado em 2008, no Rio
de Janeiro. Do relacionamento amoroso entre os dois nasceu, em fevereiro de
2010, um menino. Bruno recusou-se a assumir a paternidade da criança. Elisa não
aceitando essa recusa, entrou na justiça com um pedido de reconhecimento de
paternidade. Em 04 de junho de 2010, Bruno convida Elisa para ir até um sítio
que o goleiro possuía em Esmeralda, Minas Gerais. Essa seria a última viagem da
modelo. Investigação policial revelou que ela havia sido morta com requintes de
crueldade. Segundo uma testemunha, a jovem morreu vitima de sufocamento, em
seguida o cadáver havia sido esquartejado e depositado sobre uma camada de
concreto. Outra versão é que, depois de esquartejado, o corpo havia sido jogado
aos cães. Na verdade, o que de fato aconteceu com o corpo de Eliza Samúdio, e
onde está o corpo da jovem, até hoje não se sabe. A criança, que também havia sido
levada ao sítio foi poupada, e encontrada numa favela em Ribeirão das Neves.
Ainda segundo as conclusões da
investigação policial, o goleiro Bruno foi o mandante do crime, e foi
determinada a prisão dele, em julho de 2010. Em novembro de 2012, foi iniciado o
julgamento de Bruno Fernandes, na cidade de Contagem, Minas Gerais, e de outros
envolvidos no crime. Foi um julgamento tumultuado pelas discordâncias entre
advogados de acusação e defesa. No terceiro dia do julgamento, a juíza
responsável pelo julgamento, atendendo ao pedido dos advogados de defesa de
Bruno, adiou o julgamento do goleiro para março de 2013. O julgamento continuou
para o amigo de Bruno, Luiz Henrique Romão, mais conhecido como Macarrão, e
para a ex-namorada de Bruno, Fernanda Gomes de Castro. Ao final do júri
popular, Macarrão foi condenado a 15 anos de prisão por sua participação no
sequestro, e assassinato de Eliza.
Em março de 2013, Bruno foi condenado a
17 anos e 6 meses de prisão em regime fechado, sob acusação de homicídio
triplamente qualificado (motivo torpe, asfixia, e uso de recurso que
impossibilitou a defesa da vítima). Foram acrescidas à pena, mais 3 anos e 3
meses em regime aberto pelo crime de sequestro e cárcere privado, e 1 ano e 6
meses por ocultação de cadáver.
No dia 24 de fevereiro deste ano, o
ministro do STF, Marco Aurélio de Melo, emitiu um habeas corpus, determinando a
soltura do goleiro. Como motivo mais forte para a soltura do mesmo, o ministro
acusou a demora por parte do Tribunal de Justiça de Minas, em julgar o recurso
de apelação apresentado em primeira instância. A partir de então, o goleiro
aguarda o julgamento do recurso em liberdade. A esse fator que determinou a
soltura, o ministro destacou ainda o fato de o réu ser primário, e ter tido bom
comportamento na cadeia.
O país teria ficado apenas indignado se
as coisas parassem por aí. Mas o fato posterior a isso deixou-nos a todos
perplexos.
“Sem noção”, “oportunista”, “burra”, que
substantivos mais poderiam ser aplicados à equipe de futebol que contratou
Bruno como goleiro? Com certeza, uma jogada de marquete, porém, talvez, o
marquete mais insensato do mundo dos negócios.
No início deste mês, a equipe de
futebol, Boa Esporte Clube, da cidade de Varginha, Minas Gerais, anunciou a
contratação do goleiro, gerando uma grande polêmica no próprio clube, na
cidade, nos patrocinadores, e no país de modo geral.
O Boa é uma equipe modesta de futebol
que conquistou no final do ano passado o direito de voltar a Série B do Campeonato
Brasileiro. O público das suas partidas, no geral, chega aos cerca de 700
torcedores por partida.
No momento em que o clube consegue dá um
passo para frente, com a possibilidade de jogar para públicos maiores, recua
três passos ao contratar um homem acusado de matar a ex-namorada, e mãe de seu
filho, com requintes de crueldade.
Os patrocinadores do clube, não querendo
ver suas marcas ligadas a um clube que contrata um atleta em uma situação
dessas, caíram fora do barco. Logo após o anuncio da contratação, cinco patrocinadores
importantes resolveram retirar seu apoio ao clube.
Que jogada de marquete seria essa que
afasta patrocinadores? Não dá para entender, realmente não dá para entender a
atitude da diretoria do Boa. Importante frisar que o goleiro foi contratado com
o maior salário do clube. E como vai se virar sem patrocinadores? Talvez a
diretoria esteja de olhos nos R$ 4 milhões que receberá das cotas de TV. Aí dá
para pagar o salário do goleiro. Mas um time de futebol funciona como uma
empresa, e uma empresa não abre mão de conseguir lucros, e patrocinadores
representam lucro.
O goleiro está há tempos sem jogar, deve
estar fora de forma. Isso se consegue reverter com apenas algumas semanas de
treino. Preparo físico resolvido, questão técnica resolvida. Mas e a questão
ética e moral, que o mais importante em toda essa discussão? Vale a pena
contratar um assassino apenas para ter visibilidade na mídia.
Sim, pois disputando pela Série B do
Campeonato Brasileiro, como já foi dito acima, o Boa disputara com muitas
outras equipes nacionais. Já pensaram no desconforto dos atletas de outras
equipes ao tomarem consciência de que estão lado a lado, com um atleta que
mandou assassinar a própria mãe de seu filho, e que, não contente com isso,
atirou pedaços do corpo delas aos cães para que os devorassem? E o pensamento
dos torcedores? E das famílias que assistirão a essas partidas na sala de casa?
Como explicar aos pequenos, apaixonados por futebol, tal situação. Sim, pois as
crianças prestam atenção às coisas. Elas estão envolvidas com seus brinquedos,
mas suas antenas estão conectadas com o mundo.
Por essas e outras, o site do clube foi
hackeado logo após o anúncio da contratação de Bruno. A página foi substituída
por dados sobre feminicidio.
Há também a questão de como o fato
repercute entre a própria equipe. Os outros jogadores vendo o goleiro recém contratado
ganhar salário mais alto que o deles, podem pensar, ainda que de forma
inconsciente: “O que esse cara fez para ganhar mais que a gente: matou uma
pessoa?”
Como goleiro do Boa, Bruno receberá o
salário de R$ 12 mil, nos meses de março e abril. Quando o Brasileirão começar
o salário sobe para R$ 30 mil. Durante a entrevista, por ocasião da apresentação,
o goleiro, acusado de assassinar, ou mandar assassinar, barbaramente, a
ex-namorada, estava tranquilo, agindo como se nada tivesse acontecido, e ele
tivesse se afastado apenas do futebol por algo menor. Imaginem, só, ele falou
de voltar para a seleção brasileira! E nem dá sinais de que tem apenas um
habeas corpus que lhe permite ficar em liberdade, e que, a qualquer momento
pode voltar para a cadeia. Puro comportamento de psicopata.
A contratação de Bruno frustra ainda
mais uma expectativa: a do goleiro, Luan Polli, titular da equipe antes da
contratação de Bruno. Luan, que vinha de uma passagem pela equipe do
Figueirense, era só expectativa para este de ano de 2017. Havia feito defesas
importantes e ajudado a equipe a voltar para a Série B. Vejam o que ele disse
em 08 de fevereiro do ano corrente: “Eu
não tive uma sequência ainda de muitos jogos, o máximo que eu consegui fazer no
Figueirense foram 10 jogos. Para minha evolução pessoal vai ser muito
importante, para o meu crescimento pessoal essa sequência no Campeonato Mineiro
e na Série B e consequentemente levar o Boa a disputar coisas boas dentro do
futebol brasileiro”. O jovem goleiro deve ter levado um banho de água fria.
O interessante é que mesmo depois de
toda a repercussão negativa causada pela contratação de Bruno, a equipe do Boa
nem dá sinais de que cometeu um erro, e quer desfazê-lo. Assim age como Bruno,
que mesmo depois de todas as evidencias dos autos, e dos depoimentos das
testemunhas, age como se não tivesse cometido crime algum. Talvez psicopata com
psicopata se entendam.
Se a intenção do Boa Esporte Clube era chamar para si
os holofotes da visibilidade midiática, ele conseguiu com maestria, tornando-se
hoje, o clube mais detestável do Brasil.
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