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Se a carne e fraca, o leite também é
Posted by Cottidianos
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00:42
Domingo, 19 de dezembro
Todos os dias, somos bombardeados por
diversas notícias de corrupção no meio político. Ficamos horrorizados, nos
indignamos, nos irritamos, ficamos perplexos com toda a falta de compromisso de
quem deveria nos representar. O fato é que a classe política não está à parte
da sociedade, ao contrário, é parte dela, formou-se em meio a ela, e em meio a ela
desenvolve, ou pelo menos deveria desenvolver suas funções, em prol dessa mesma
sociedade.
Pensando dessa forma, pode-se afirmar
que a corrupção praticada nos altos escalões do governo, e nos pequenos também,
se reflete no meio que vivemos, respiramos, lutamos, trabalhamos, exercemos
nossa cidadania.
As mentes mais fracas e mais suscetíveis
de serem corrompida, ao ver toda essa dinheirama voando para cá e para lá, em
malas, meias, e até em cuecas, saindo do Brasil para os paraísos fiscais, e
depois fazendo o caminho inverso, podem normalizar em seus sistemas de valores
que isso é o agir certo, isso é a conduta ideal para os homens de bem.
Entramos então em outra questão, muito
debatida por sinal, mas que serve perfeitamente nessas presentes linhas. Vivemos
numa sociedade que valoriza o ter, e não o ser. O indivíduo vale que pelos bens
que ele ostenta, e não pelas qualidades morais e éticas, que são o fio condutor
de uma sociedade que se propõe justa. Esse fio condutor conecta-se a outro mais
perigoso. Os meios de conseguir esses tais bens materiais. Para quem não tem
sólidos valores morais, essa passa a ser então a porta de entrada do inferno da
desconstrução de valores.
Entra-se num jogo de vale tudo, no qual
as regras são mentir, roubar, enganar, trapacear, falsificar. A vida humana e
sua integridade são relegadas a segundo plano. Não importa se alguém morre na
porta do hospital implorando pela ajuda do médico que estava ali, a principio,
para salvar vidas, o importante era o plano de saúde que o paciente tinha, ou
que não tinha. Não importa se alguém passa mal, e até mesmo morre por comer produtos
estragados e alterados. O importante é o lucro que se obtém da venda deste
produto.
O diabo das pequenas corrupções está
todos os dias a nos tentar. Se formos fracos, se cedermos aos seus apelos, logo,
estaremos envolvidos na intrincada teia das grandes corrupções, e dela é
difícil sair. É como entrar para o crime organizado. Tente entrar e depois peça
para sair para ver o que acontece.
Ainda prosseguindo no tema tratado até
agora, quando pensamos que as coisas estavam ruins, elas conseguem ficar pior
ainda.
Falo da Operação Carne Fraca, que vocês
já devem ter ouvido falar, dada a frequência com que ela tem aparecido no noticiário
de sexta-feira para cá.
Pelos números envolvidos pode-se dizer
que Carne Fraca foi uma megaoperação; 1.100 policiais envolvidos, 309 mandados
judiciais expedidos, divididos em 27 de prisão preventiva, 11 de prisão
temporária, 77 de condução coercitiva, e 197 mandados de busca e apreensão.
Essa megaoperação desmantelou um
mega esquema de corrupção na qual estavam envolvidos grandes empresas
brasileiras do ramo alimentício, produtoras e exportadoras de carnes, e fiscais
do Ministério da Agricultura.
Ora, e o que faz um fiscal? A resposta
óbvia: fiscaliza. E se for um fiscal do ramo alimentício, fiscaliza para que
não sejam repassados à população produtos estragados e de qualidade duvidosa.
Mas dentro do esquema desbaratado pela
PF não era bem isso que acontecia. Os fiscais do Ministério da Agricultura
recebiam propina de grandes empresas, e também de pequenos frigoríficos para
que liberar para o consumidor, produtos em total desacordo com as regas
sanitárias. Os fiscais faziam vistas cegas a várias situações que deveriam
horrorizá-los.
Um dos artifícios usados pelas empresas
para tornar as linguiças mais robustas, cheinhas, e atraentes era acrescer a
fabricação delas o conhecido papelão. Em vez de embalar produtos, tiras de
papel eram esmagadas e entravam na composição da linguiça, e o consumidor,
inocentemente, comia papelão misturado com linguiça.
Era brincar com a vida humana o que
ocorria naqueles frigoríficos. Chegava-se a misturar ácido ascórbico, (vitamina
C) com carnes estragadas, a fim de maquiar a real situação do produto, a
apresentá-lo como carne saudável, e pronta para o consumo.
Era comum as empresas investigadas fazerem
um processo no qual o frango absorvia mais água do que o permitido por lei,
apenas para aumentar o peso do produto.
O que causou surpresa, — além desta
horrível prática de fazer de palhaços os consumidores — foi o fato de que entre
as empresas investigadas estão duas daquelas a quem o consumidor reputava como
empresas de “qualidade”, e que vendiam produtos “confiáveis”, a saber, a BRF,
detentora das marcas Sadia e Perdigão, e a JBS, detentora das marcas Friboi e
Seara.
Essa notícia seria detestável em
qualquer hora, em qualquer momento, e se torna mais relevante ainda, em um
momento em que o país atravessa uma séria crise econômica. O escândalo pode
afetar a importação de carnes brasileiras. Vários países já pediram explicações
ao governo brasileiro sobre a questão da maquiagem das carnes e sobre o
envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura no escândalo.
Seguindo na mesma esteira de descaso
para com os consumidores, no Rio Grande do Sul, a PF desmantelou uma quadrilha
que chegava até a usar soda caustica par adulterar o leite.
Essa Operação chamada Leite Compensado,
ocorreu também na semana passada em indústrias de laticínios no Rio Grande do
Sul. Água, e até mesmo soda caustica, eram usadas para reaproveitar produtos
vencidos.
Segundo o Ministério Público, uma
empresa, em Nova Araçá, reaproveitava leite condensado envelhecido, ou
estragado, colocando nele, neutralizantes que davam ao produto, aparência de
saudável.
Diante de tudo isso, fica a pergunta: em
quem confiar? Para os consumidores é difícil responder. O que sabemos é que não
podemos mais habitar uma sociedade apodrecida e estragada por falsos e
deturpados valores. Não podemos viver em uma sociedade em que foram sepultados
os princípios éticos e morais. Seria o caos.
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