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Samarco Mineradora: Vendendo peixe podre
Posted by Cottidianos
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00:28
Quinta-feira, 18 de fevereiro
Vivemos
em um país democrático e cada um realiza a campanha publicitária que bem entender
desde que não fira os princípios autorregulamentadores do Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária (CONAR). Muito embora a área publicitária no
Brasil tenha excelentes campanhas publicitárias, de vez em quando surgem algumas
que ofendem a nossa inteligência, e nos chamam, no mínimo, de idiotas.
Uma
destas campanhas publicitárias que, há alguns dias, tem sido veiculada em rede
nacional é a da mineradora Samarco. A mineradora é a responsável pelo maior
desastre ambiental brasileiro, que foi o rompimento da barragem de Fundão, em
Mariana, Minas Gerais. A tragédia que causou danos sem precedentes ao meio
ambiente nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, deixou um saldo de 19
mortos, inundou cerca de mil quilômetros do Rio Doce e seus afluentes com lama
e resíduos tóxicos, destruiu completamente o distrito de Bento Rodrigues, e
parcialmente, pelo menos onze outros, matou milhares de peixes, e prejudicou a
vida das populações ribeirinhas que viviam da agricultura e da pesca.
Só
para se ter uma ideia, A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do
Estado de Minas Gerais (Emater-MG), estimou que os agricultores das 195 propriedades rurais da região mineira
atingida pelo tsunami de lama de rejeitos de mineração, tiveram um prejuízo de
cerca de R$ 23,2 milhões. E os prejuízos não param por aí, ainda segundo a
Emater-MG foram 216 construções atingidas, causando um prejuízo de R$ 5,2
milhões, 161 quilômetros de cercas destruídas, com prejuízo de R$ 977 mil, há
ainda máquinas e esquipamentos estragados, animais perdidos ou mortos na
enxurrada de lama, produtores rurais que haviam financiado crédito rural junto
aos bancos e que agora não tem como pagar esse crédito, há também os prejuízos
causados ao setor de pesca, enfim os prejuízos são enormes tanto à natureza,
quanto aos que foram atingidos pela tragédia.
Após
o desastre ambiental, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA), exigiu que a Samarco Mineradora apresentasse um
Plano de Recuperação Ambiental. A empresa demorou em entregar esse plano, porém
apresentou o projeto no final do mês passado. O IBAMA avaliou e projeto e
concluiu que o plano era “genérico e superficial”, com pouca fundamentação e
sem metodologia cientifica. Em resumo, o
Plano Ambiental apresentado pela Samarco era muito diferente daquilo que o
instituto ambiental havia pedido. Por exemplo, o projeto apresentado pela
empresa não especificava quais espécies de flora foram afetadas, quais dela
apresentavam risco de extinção, ou quantas eram exclusivas dos lugares
atingidos pela lama. O plano elaborado pela mineradora também não especificava
a altura da lama depositada nas margens do rio, não apresentava estudos
conclusivos dos impactos da tragédia sobre as faunas aquática e terrestre.
Tendo em vista esse projeto — que podemos, com naturalidade, chamar de amador —
apresentado pela Samarco, o IBAMA concedeu até o dia de ontem (17), prazo para
a empresa apresentar novo projeto.
No
plano federal também foram movidas ações determinando bloqueio de bens da
empresa, e de ações de indenização às famílias vitimadas pela tragédia, mas até
agora não se tem noticia de que a mineradora tenha pagado essas indenizações.
Após
esse breve resumo do caso, volto a abordar a campanha publicitária a que me
referi no inicio deste texto, e que foi produzida pela Samarco. Bem pelo que já
foi exposto nos parágrafos acima, podemos concluir que não há o menor esforço
da Samarco em promover a recuperação da área, nem de ajudar as famílias
vitimadas por esse enorme atentado contra a natureza, mesmo assim, a empresa
tem veiculado campanhas publicitárias, primeiro nas redes sociais, e, mais
recentemente, no Youtube e em rede nacional de TV.
O
que se vê na peça publicitária é inacreditável. Sabe aquelas estórias do tipo
“Era uma vez...”? Pois é essa ideia que a mineradora tenta passar, uma história
de faz de conta. Claro, a empresa tem um time bem montado de profissionais na
área de comunicação, especializados em gerenciamento de crise. E sabemos que uma
campanha publicitária exibida em rede nacional de TV custa uma fortuna. A
mineradora não tem condições de elaborar um Plano de Recuperação Ambiental
digno, mas gasta fortunas com campanhas publicitárias. No meu entender, isso
significa, no mínimo, descaso e falta de respeito para com a natureza e para
com as pessoas atingidas pelo tsunami de lama.
Vamos
a alguns comentários sobre a peça publicitária. Ela começa com um letreiro azul
em fundo amarelo que diz: É SEMPRE BOM OLHAR PARA TODOS OS LADOS. Com isso a
empresa tenta chamar a atenção da população de que ela está olhando apenas o
lado ruim do caso, mas há um lado bom nessa história? Para quem?
Em seguida entram os depoimentos de
funcionários da empresa. Um diz que tem 19 anos de empresa. Uma mulher diz que
tem 21 anos. Outra funcionária diz o óbvio: “Foi uma coisa muito séria o que
aconteceu, a barragem se rompeu”, como se ninguém ainda soubesse disso. “Foi
uma comoção total, a partir daí a gente já nem conseguia trabalhar direito”. Um
funcionário diz que foi uma comoção total para eles. Imaginem então para o povo
de Minas e do Espírito Santo. “A partir daí a gente já nem conseguia trabalhar
direito”, na verdade, eles já não trabalhavam direito há muito tempo, pois se,
realmente, estivessem fazendo isso, a barragem não havia se rompido, pois
alertas e avisos de especialistas não faltaram. “A gente abriu os braços e
disse: estamos aqui”. “Todo mundo vestiu a camisa e tá fazendo o possível para
minimizar os danos que a gente causou”. Se eles realmente estivessem
preocupados em minimizar os danos causados teria havido mais empenho em
apresentar um bom Plano de Recuperação Ambiental, e de indenização das vítimas.
A peça termina com o texto: FAZER O QUE DEVE SER FEITO: Esse é o nosso
compromisso”. Ora, isso é exatamente o que a mineradora não fez.
Em
outra peça publicitária, a Samarco apresenta um pescador, funcionário da
empresa que trabalha no monitoramento das boias que protegem a plantação para que
a espuma que desce rio abaixo, não atinja diretamente a vegetação. O
funcionário vem com o mesmo blá, blá, blá da outra peça publicitária, e diz que
quando tudo aconteceu à empresa já estava por perto para dar cobertura e
assistência, e que isso ajudou a amenizar a situação. Nesse ponto da fala do
funcionário há uma inverdade e uma incongruência: primeiro, lembro-me dos
depoimentos de pessoas atingidas pela tragédia, acontecida em 05 de novembro do
ano passado, e elas diziam que não haviam recebido nenhuma assistência da
empresa, e a incongruência é a de que, se a Samarco estivesse, realmente, por
perto, a tragédia nem teria ocorrido, pois cuidar da segurança da barragem era
de inteira responsabilidade dela.
Outro
nariz de palhaço que o funcionário tenta colocar no nariz da população é quando
ele diz que o rio está vivo, que tem água barrenta, mas que está livre de
poluição, que os peixes estão vivos, que ele vê, todos os dias, peixes pulando
no meio do rio, e coisa e tal. Ora, isso é totalmente o contrário do que dizem
os especialistas, segundo eles o rio, juntamente com sua fauna e flora, ainda
levará mais de uma década para se recuperar totalmente da tragédia. No final
ele ainda acrescenta: “No momento não é de preocupar não, em relação à água e
os peixes que em Regência tem aqui ainda”, reescrevo está frase, pois os termos
da oração invertidos no final da frase causam certa confusão a quem ouve, ou
lê: “No momento não é de preocupar não, em relação à água e os peixes que ainda
existe aqui em Regência”. É impressionante! Com uma tragédia ambiental dessa
magnitude, a empresa ainda diz que não há com o que se preocupar? É muita
irresponsabilidade por parte da Samarco. Irresponsabilidade. Falta de respeito
e consideração para com o Brasil.
Não
podemos mais olhar por olhar, ouvir por ouvir, temos que olhar a realidade com
consciência crítica para que não nos coloquem nariz de palhaço e ainda saíamos
com ele por aí, achando engraçado. Podemos até usar nariz de palhaço, mas por
pura diversão, nunca por imposição de alguém com o intuito de mascarar uma
realidade.
Há
outra campanha publicitária parecida com a da Samarco: É a que o Partido dos
Trabalhadores tem feito desde o inicio que ocupou posição de comando no Brasil.
Mas essa é outra história, porém o que disse aqui, também serve acolá.
Precisamos
abrir os olhos, não podemos mais aceitar tudo calados, quietos.
Abaixo
segue os links no Youtube para as peças publicitárias citadas:
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