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Serial Killers, corrupção, e corruptos
Posted by Cottidianos
on
23:45
Domingo,
10 de junho
Sentar
confortavelmente em frente à telona ou à telinha... E tremer de medo e de
horror. Para quem gosta de filme do gênero terror é um prato cheio. Quem não se
lembra de ou pelo menos já ouviu alguma menção a Jack, o estripador, um homem,
cujo divertimento era atacar prostitutas em ruas desertas nas áreas mais pobres
de Londres, durante a solidão da noite, ou do fino, educado e meticuloso médico
Hannibal Lecter, em O Silêncio dos Inocentes, ou do terrível e assustador Freddy
Krueger, em A Hora do Pesadelo?
De
personagens frios, sanguinários e calculistas está recheado o cinema.
Respiramos aliviados quando o filme termina e os fantasmas vão embora. Trememos
de medo quando vemos que muitos deles foram inspirados em casos reais, como é o
caso de Jack, o estripador.
Ultimamente,
em nosso país, temos sentado em frente às nossas telinhas da TV, do computador,
ou em um sofá, ou banco de praça, lendo um jornal ou revista, e procurado se
inteirar do que acontece no mundo político. Arrepiamos os cabelos quando vemos
a grande quantidade de dinheiro que sai dos cofres públicos. Trememos quando
vemos do que são capazes os políticos, empresários, e até mesmo cidadãos comuns
quando se trata de levar vantagem em cima de outrem.
Gostaríamos
de respirar aliviados como se fosse um filme que termina e os fantasmas vão
embora. Infelizmente, a corrupção no Brasil não é filme cujos fantasmas se
esvaem ao final. Ao contrário, eles parecem jorrar aos borbotões, a cada dia.
O
que tem em comum os serials killers e os corruptos? Ambos são frios,
calculistas, despidos de qualquer remorso ou arrependimento. Também não há
neles aquele sentimento que faz com o que o homem perceba a luz no fim do túnel
e repare os seus erros: a culpa.
Alguém
por acaso já viu ou ouviu algum político admitir que tivesse praticado algum
ato ilícito? É quase certo que não. Todos eles, ao serem acusado, negam
peremptoriamente qualquer envolvimento. A história é sempre a mesma: não sei,
não vi. Mesmo quando são pegos de calças curtas, ou com fortunas dentro da
cueca.
Quem
também já não ouviu falar do famoso slogan “rouba, mas faz”, tão enfaticamente associado
a Paulo Maluf? Apesar de assim ser, Maluf, entretanto, não foi o criador desse
infame slogan. O bordão surgiu ainda na década de 50. Havia em São Paulo um
político corrupto chamado Adhemar de Barros. Os adversários dele o chamavam de
ladrão e os cabos eleitorais de Adhemar contra-atacavam dizendo que ele roubava
mas fazia. Ou seja, se ele roubava, pouco importava, o que importava mesmo eram
as obras e ações por ele realizadas. Roubar era apenas um detalhe.
E
Maluf roubou dos cofres públicos e muito. As obras por ele realizadas tornam-se
uma gota em meio ao oceano se comparado ao patrimônio amealhado por ele à custa
do dinheiro público. Enfim a justiça tardou, e tardou muito, mas conseguiu
chegar a esse figurão da política brasileira.
E
assim, aos 86 anos, exercendo seu quarto mandato como deputado federal, na
manhã de quarta-feira, do dia 20 de dezembro de 2017, antecipando-se a uma
ordem de prisão expedida pelo ministro do STF, Edson Fachin, Maluf entregou à
Polícia Federal.
Ele
havia sido condenado a 7 anos e 9 meses de cadeia, pelo crime de lavagem de
dinheiro quando ele ainda era prefeito de São Paulo entre 1993 e 1996.
Atualmente, ele cumpre prisão domiciliar. Apesar de condenado e preso, a Câmara
dos Deputados não cassou o mandato do deputado. Os deputados foram “solidários”
ao companheiro de parlamento, e apenas o afastaram de suas funções
parlamentares. E assim, o dinheiro público continua patrocinando um bandido.
São os contrassensos da política e dos parlamentares brasileiros. Isso nos leva
a crer que eles não consideram corrupção como crime grave, talvez quiçá, um
leve desvio de comportamento.
Seguindo
essa trilha chegamos ao ex-presidente Lula, também ele condenado e preso. Mesmo
assim, Lula ainda goza de muita popularidade entre os seus eleitores. Talvez,
consciente, ou inconscientemente, o raciocínio seja o mesmo aplicado ainda nos
idos de 1950 pelos cabos eleitorais de Adhemar de Barros: ele roubou, mas
desenvolveu muitos e bons programas sociais.
Pode
ser ainda que isso explique recente pesquisa do Datafolha que, na corrida
eleitoral, mostra Lula liderando a pesquisa com 30% das intenções de votos. A
pesquisa feita entre 2,284 eleitores, nos dias 06 e 07 de junho, em 174
cidades, repete o mesmo cenário da que foi feita em abril.
Entretanto,
com o líder nas pesquisas, preso em uma cela da polícia federal em Brasília, é
bem pouco provável que ele venha a ser candidato, e mais improvável ainda que a
justiça eleitoral lhe dê aval para que concorra nas próximas eleições
presidenciais. Aliás, essa é uma tecla na qual o PT tem batido insistentemente:
o de que o ex-presidente venha a entrar na disputa, esquecendo-se com isso de
lançar um plano indicando um candidato próprio que não seja Lula. Talvez quando
venha a querer a fazer isso seja tarde demais.
Em
um cenário em que o líder petista não concorra, Jair Bolsonaro (PSL-RJ) assume
a liderança com 19% das intenções de voto, seguido de Marina Silva (Rede) com
15%. Ciro Gomes (PDT) oscila entre 10 e 11%, e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin,
tem 7%.
Ainda
segundo a pesquisa, caso conseguisse driblar o veto da justiça a sua
candidatura, Lula seria imbatível, vencendo com diferença confortável seus
adversários. Numa disputa entre Lula e Alckmin, o petista teria 49% contra 27%
do peessedebista; com Marina ele teria 46% contra 31% da candidata da Rede; e
concorrendo com Bolsonaro Lula teria 49% contra 32% de Bolsonaro.
Mas
todo esse cenário pode mudar, pois há um complicador em todo esse cenário que
são os eleitores que ainda não tem preferencia por nenhum candidato. Estes
eleitores somam 21% com Lula concorrendo, e de 34% sem ele na disputa. Esses
eleitores podem desestabilizar o quadro apontado pelas pesquisas.
Sendo
mais conhecidas pelos eleitores, a candidata Marina Silva lidera as pesquisas
em um cenário de segundo turno sem Lula nas eleições. As posições de Marina
ficariam da seguinte forma: contra Bolsonaro, este teria 32% e Marina 42%, se o
adversário fosse Alckmin, Marina teria 42% contra 27% de Alckmin.
Ainda
segundo a pesquisa Datafolha, a avaliação que os brasileiros fazem do atual
presidente, Michel Temer piorou. 82% dos brasileiros consideram o governo dele
ruim ou péssimo. Com isso, Temer leva o troféu de presidente mais impopular
desde a redemocratização.
E
não é difícil entender essa impopularidade. Em primeiro lugar há os eleitores
do PT que ainda hoje levantam a bandeira de que Temer chegou ao poder através
de um golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff, da qual era vice na
chapa. Esses, certamente, não aprovarão o governo.
De
outro lado estão os brasileiros que querem um Brasil livre dos corruptos, e
Temer está envolvido até o pescoço nos tentáculos da corrupção. As denúncias de
corrupção contra ele não retrocedem apenas avançam. Esse grupo de brasileiros,
que não são poucos, também, com certeza, reprovam o governo.
Sorrindo
ironicamente para ele de outro lado, está a lenta recuperação da economia, e,
sem dar aviso de chegada veio a crise dos caminhoneiros, que pesou bastante na
balança da popularidade do governo.
Enfim,
o grande teatro das eleições no Brasil, com seus personagens que muito prometem
e pouco fazem se aproxima, e está cada vez, mas difícil prever como será o
decadente espetáculo no picadeiro do circo. A verdade é que desde a
redemocratização o Brasil ainda não escolheu aquele presidente do qual se possa
dizer: é o cara. Ao contrário, tentando escapar dos lobos tem ido parar
diretamente na boca deles. Escolhem a pior opção achando que estão escolhendo a
melhor.
Dessa
vez, também é de arrepiar, diante de tantas más notícias no campo da politica e
da economia, os brasileiros estão sendo tentados, novamente, a correr para a
boca dos lobos, e dessa vez, podem, realmente, ser engolidos por eles. Depois
não adianta chorar. O bom disso tudo é que as eleições estão longe e dá muito
tempo de mudar de ideia.
Ainda
falando de um dos serial killers que mais tem matados brasileiros nas últimas
décadas, a corrupção, a respeito desse monstro, disse ainda em junho de 2016, o
procurador Deltan Dallagnol, quando falava para a comissão da Câmara que
discutia as 10 medidas de combate à corrupção: “A corrupção mata, a corrupção é
uma assassina sorrateira, invisível e de massa. Ela é uma serial killer que se
disfarça de buracos em estradas, falta de medicamentos, crimes de ruas e pobreza”.
O
Brasil tem avançado no sentido de enfraquecer esse monstro. Já conseguiu alguns
avanços, mas muitos esforços ainda serão necessários pois o monstro é grande
demais. Se quisermos que o Brasil sobreviva, que saia ileso dessa luta é
preciso exterminar de vez o serial killer.
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