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Após a tempestade vem a bonança?
Posted by Cottidianos
on
19:21
Domingo,
03 de junho
Depois
da tempestade vem a bonança, diz o ditado popular.
O
Brasil viveu, com a greve dos caminhoneiros, uma tempestade, e das grandes,
daquelas com direito a raios, trovões, e tornados. Não houve setor que não
fosse atingido por ela. Escolas, universidades, hospitais, mercados, templos
religiosos, de forma ou de outra sofreram as consequências da paralisação dos
caminhoneiros. Dos postos de combustíveis nem se fala. O caos. Com a falta de
combustível ou diante da ameaça dela, valeu a lei do mercado: maior procura,
preço nas alturas.
Alguns
aumentos foram realmente abusivos. Formaram-se filas quilométricas de carros
cheios de motoristas desesperados por abastecer o veículo. A rede de postos de
combustível em todo o país não suportou tal volume de pessoas e tal procura e
muitos deles fecharam por falta de combustível.
Enfim,
o país começa a retornar a normalidade, aos poucos, é verdade. Pois haja
combustível para abastecer tanto posto parado. Os produtores rurais que tiveram
enormes prejuízos com seus produtos que estragaram nas gigantescas filas de
caminhões formadas nos pontos de bloqueio de rodovias, tendem a repassar esse
prejuízo para os clientes.
Em
pronunciamento feito no domingo, 27, o presidente Michel Temer, anunciou um
novo acordo com a categoria. Em longa reunião feita no Palácio do Planalto,
ficou decidido entre o governo e os representantes da categoria, que o preço do
óleo diesel ficará congelado por dois meses. Após esse prazo o diesel será
reajustado apenas a cada trinta dias. O preço do diesel será reduzido em 0,46
centavos nas refinarias, e essa redução deverá chegar às bombas.
Ainda
em seu pronunciamento, o presidente anunciou três medidas provisórias a serem
tomadas. A primeira delas é isenção da cobrança de pedágio por eixo suspenso
dos caminhões nas rodovias do país. Pela segunda medida serão reservados 30% do
frete da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) para os autônomos. A
terceira Medida Provisória cria uma taxa mínima para o preço de fretes.
Mesmo
após o acordo, muitos caminhoneiros ainda relutavam em aceitar, continuando parados
em vários pontos do país, e, só aos poucos, foram liberando as rodovias e
desfazendo os bloqueios.
Sem
dúvida a paralisação dos caminhoneiros foi um desgaste enorme para um governo
já desgastado e impopular, o mais impopular desde a abertura democrática. É
fato também que o Palácio do Planalto não soube lidar com a situação que se
anunciava ameaçadora, como um tornado.
Quando
se tem notícias de que um tornado se aproxima o que faz um homem de bom senso?
Fica de papo pro ar? Senta no sofá e relaxa? Nada disso. Quando se tem notícias
de que um deles se aproxima há que agir, e rápido.
Tanto
para o governo quanto para o cidadão comum há uma série de cuidados que se deve
ter para que o gigante enfurecido passe sem causar maiores danos à vida humana.
No
caso da paralisação dos caminhoneiros o governo não foi sensato. Preferiu as
primeiras opções: ficar de papo por ar e relaxar.
Antes
da paralisação, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) informou ao
governo de que uma grande paralisação estava a caminho se as reivindicações da
categoria não fossem atendidas no sentido de compensar as perdas no frete
decorrentes da alta do óleo diesel. A equipe de governo simplesmente ignorou o
ofício enviado pela entidade. Guardou-o na gaveta.
No
dia 21 de maio, os caminhoneiros cumpriram o prometido: fecharam as rodovias do
país, impedindo que caminhões chegassem às refinarias para abastecer e
caminhões abarrotados de produtos agrícolas chegassem aos centros de
abastecimento.
Primeiro
dia de paralisação já começou forte. Segundo dia, as filas de caminhões nas
estradas aumentando. Terceiro dia, a situação começou a ficar tão quente quanto
o sol escaldante do deserto. E o governo? Sentado no sofá, só assistindo o
circo pegar fogo. Apenas no fim do terceiro dia ele se deu conta de que havia
um incêndio que era preciso apagar. Mas já era tarde demais as chamas já tinha
atingido a casa inteira. A paralisação já havia atingido o país e a ameaça de
desabastecimento se tornara real.
Mas
não é que a reação tenha sido rápida. De forma alguma. Foi tipo aquela coisa:
Fulano tem algum extintor de incêndio por aí? Alguma mangueira? Não. Então, por favor, alguém vai compra o que
precisa. Ou seja, reação lenta demais.
Outra
grande bobeira do governo foi sentar-se à mesa de negociações sem antes exigir
o desbloqueio das estradas e rodovias. Ele deveria ter sido mais enérgico:
fazemos o acordo, mas antes vocês liberam as rodovias.
Erros
por cima de erros, o governo acionou as forças armadas como forma de ameaça.
Poderia ter conversado com os governos dos estados para que, cada qual, usasse
a polícia estadual.
Na
noite de quinta-feira, 24, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Carlos
Marun (Secretaria de Governo), Eduardo Guardia (Fazenda) e Valter Casimiro
(Transportes) anunciaram que, após seis horas de reunião com representantes dos
caminhoneiros, havia sido fechado um acordo para por fim a paralisação.
Veio
à manhã de sexta-feira e nada aconteceu. As estradas continuaram bloqueadas e
os postos sem combustível. De braços cruzados, os caminhoneiros diziam que quem
havia se sentado à mesa de negociação com o governo não os representava. Isso
apenas mostrou ainda mais despreparo do governo, pois nem, exatamente, com quem
negociarem eles sabiam.
E
assim erros e mais erros por parte da equipe governamental foram se sucedendo,
desgastando o governo, prejudicando a população, deixando descontentes os
caminhoneiros, e desvalorizando a Petrobrás.
O
ditado popular citado no início do texto: Depois da tempestade vem a bonança,
para os brasileiros, não serviu nesse caso.
Em
decorrência desse acordo feito com os caminhoneiros, o prejuízo para os cofres
públicos é de R$ 9,5 bilhões, segundo o ministro da Fazenda Eduardo Guardia. “Com
relação aos R$ 9,5 bilhões, nós faremos o seguinte: nós anunciamos no último
relatório bimestral de execução orçamentária e financeira um excesso de
resultado de R$ 5,7 bilhões, então, esses R$ 5,7 bilhões serão utilizados,
usaremos esta margem financeira e orçamentariamente, usaremos a reserva de
contingencia", disse o ministro. “Só que ainda faltam R$ 3,8 bilhões para
chegar aos R$ 9,5 bilhões. Estes R$ 3,8 bilhões serão obtidos através de corte
de despesa do orçamento. Nós teremos sim que cortar R$ 3,8 bilhões de despesas
da execução do orçamento deste ano para poder fazer frente a este gasto de R$
9,5 bilhões", concluiu ele.
Ou
seja, para as finanças de um país que já está com um enorme rombo no orçamento,
mais um é coisa nada agradável. Em janeiro, o presidente havia sancionado o
Orçamento para o exercício de 2018 com previsão de rombo na ordem de R$ 157
bilhões.
Após
a paralisação, os brasileiros não viram redução no preço da gasolina, ao contrário,
esta aumentou de preço nas refinarias, onde o litro ficou 2,25% mais caro. Isso
é sinal de as coisas andam mal das pernas quando se trata da política de preços
da Petrobrás.
Por
falar nisso, outra consequência da paralisação dos caminhoneiros, foi a queda
do presidente da estatal, Pedro Parente. Ele estava no comando da empresa desde
2016, e entregou o cargo na sexta-feira, 01. No lugar de Pedro Parente assumirá
Ivan Monteiro, um engenheiro elétrico que fez carreira no Banco do Brasil.
Monteiro participa da diretoria financeira da Petrobrás desde 2015. Foi ele
quem iniciou na companhia um programa de gestão de dívidas, jogando para 2020,
parte do excessivo do volume de vencimentos.
Depois
da dilapidação dos cofres da Petrobrás, esquema revelado pela Lava Jato, o
presidente da Petrobrás talvez tenha usado de remédios amargos demais para a
população de um modo geral, a fim de recuperar os prejuízos. Que o próximo não
repita a dose, pois a dor de cabeça acaba sobrando sempre para a população,
além de doer também no bolso.
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