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Os deuses do futebol e o brilho fugaz
Posted by Cottidianos
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01:21
Segunda,
18 de junho
Os
deuses do futebol desembarcaram na Rússia. Vieram do Monte Olimpo, morada dos
deuses desde tempos imemoriais. Em suas galáxias de origem eles se reúnem entre
si para disputarem seus campeonatos municipais, estaduais, e nacionais. Também
se reúnem para disputas entre galáxias vizinhas nos campeonatos continentais.
Porém a grande festa, a grande celebração ocorre a cada quatro anos. A esse
grande duelo eles resolveram chamar de Copa do Mundo.
A
primeira edição desse grande evento aconteceu em 1930, e o planeta escolhido
foi o Uruguai. O evento foi realizado
entre os dias 13 a 30 de julho daquele ano. O motivo da escolha foi que o
Uruguai comemorava o primeiro ano do centenário de sua primeira constituição.
Um segundo motivo foi que a Seleção Uruguaia de Futebol havia conquistado a
medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 1928. A primeira Copa do Mundo
foi organizada pela FIFA, poderosa entidade no mundo do futebol. Desde então a poderosa
FIFA organiza o campeonato a cada quatro anos.
Como
país sede da Copa do Mundo de 2018, o planeta escolhido foi a Rússia. O país
dos czares. Pelo menos no período de 14 de junho a 15 de julho a Rússia está
com a bola toda.
As
32 naves espaciais repletas de atletas, técnicos, e auxiliares, que disputam a
edição do evento neste ano, desembarcaram naquele planeta, algumas com muita
pompa, outras com muita discrição, mas todas com muita esperança de levantar a
taça de campeão.
Entretanto,
nessa enorme galáxia chamada futebol, nem todas as equipes tem realmente a
chance de brigar pelo título de melhor do mundo. Apenas uma ostentará esse
título. Algumas equipes sabem que não tem a menor chance contra os gigantes do
mundo da bola, mas, enquanto houver campeonato, haverá esperança, e uma vez que
esta é a última que morre, e uma vez que, em Copas do Mundo, sempre há espaços
para as zebras e os azarões, todo mundo, as equipes mais fortes, e as mais
fracas também, continuam correndo atrás da bola com muito esforço e tenacidade,
na esperança de, ao final, ser coroadas com os louros da vitória.
Porém,
mesmo que não ganhem coisa alguma, restará para as equipes não favoritas, a
alegria de ter feito parte da festa, e o esforço de continuarem sempre
melhorando para, algum dia, quem sabe, estar entre o staff que já ganhou o
título de melhor seleção do mundo.
A
ascensão profissional, o sucesso, está para o mundo do futebol como o
espermatozoide está para o óvulo. No caso do segundo, há uma corrida feroz para
ver quem ver quem fecunda o óvulo e ganha o direito á vida. Envolvidos nessa
guerra estão milhões de espermatozoides, entretanto apenas um em 300 milhões
consegue a façanha e o milagre da fecundação — com raríssimas exceções mais de um
espermatozoide chega ao óvulo, é o caso dos gêmeos, e mais raros ainda, os
trigêmeos e os quadrigêmeos.
Portanto,
cada um de nós, humanos que somos, apesar de todas as adversidades que
enfrentamos na vida, pode bater no peito, e dizer: sou um vencedor. Ainda que
você mesmo duvide disso, pense nos 299 milhões que você venceu na corrida para
chegar ao útero de sua amada mãe.
No
mundo do futebol também é assim. A luta é constante. É coisa de matar um leão
por dia. Muitos garotos tem o sonho de ser astros do futebol, mas pouquíssimos
conseguem. Os campinhos de várzeas Brasil afora não nos deixam mentir. Até
mesmo para os que conseguem um lugarzinho nas categorias de base dos times
profissionais, mesmo para esses alcançar o estrelato é coisa difícil.
Imaginem
então num país como o nosso em que o apoio ao esporte é tão precário e relegado
a segundo plano. Infelizmente, ou felizmente — depende do ponto em que se
observe a situação — descobrimos, não faz muito tempo, como é que a banda toca
por aqui. Sabemos agora para onde vai o dinheiro que poderia ser investido nos
projetos e investimentos que poderiam transformar o país numa fábrica de
craques que nos orgulhassem em todas as áreas do esporte e não apenas no
futebol, infelizmente, para muitas crianças e adolescentes as aspirações a uma bem-sucedida
carreira esportiva são sonhos que morrem pelo caminho como a imensa maioria dos
espermatozoides que não fecundam óvulos.
Outras
nações, chamadas nesse artigo de planetas, dão prioridade a projetos esportivos
que incentivam e despertam os atletas e craques adormecidos dentro de cada
menino, de cada menina que deseja dedicar sua vida ao esporte. Esse países
aprenderam uma lição ainda mais importante: qualquer caminho para o sucesso e
para uma carreira sólida, passa pela educação. Então, se eles são grandes no
esporte, é porque antes foram enfáticos na educação de seus pequenos e
pequenas. Dessa forma, mesmo que os pequenos não se projetem no esporte, o
cidadão, ou cidadã, está pronto para se projetar em qualquer outra área.
Talvez,
essa falta de planejamento e investimento em estrutura no futebol explique em
parte a queda de rendimento no futebol brasileiro, coisa que se reflete nos
campeonatos estaduais e nacionais.
Ainda
falando dos deuses que desembarcaram na Rússia, alguns poucos atingiram o topo
da fama, sendo reconhecidos em qualquer parte dessa imensa galáxia chamada
Terra.
Neymar
Junior. Cristiano Ronaldo. Leonel Messi. Qual criança ou adolescente que sonha
com o estrelado no mundo do futebol não conhece esses nomes? Eles, como tantos
outros famosos jogadores, são amados, idolatrados, venerados, em qualquer canto
do planeta.
Esses
jogadores deixaram de ser meros indivíduos para se tornarem empresas. Empresas
que faturam milhões através dos contratos com clubes famosos e também com
merchandising.
Há
também os que já experimentaram o brilho e a glória dos estádios, e que já não
ouvem mais os aplausos e ovações, mas que deixaram seus nomes para sempre escritos
nos céus da bola. Esses deixaram seus legados através da carreira solida que
construíram e com a dedicação a que se entregaram ao esporte, como é o caso do
brasileiro rei Pelé, do argentino Maradona, do português Eusebio, do alemão Beckenbauer,
do italiano Platini, e tantos outros brasileiros e estrangeiros.
Até
meados de julho, o mundo acompanha o show de bola que acontece nos gramados
russos. Por lá desfilarão os deuses do futebol com suas jogadas, dribles e
defesas maravilhosas. Nos emocionaremos e nos decepcionaremos. Muitos atletas
derramarão lágrimas de alegria ou de dor. Todos brigarão valentemente. Mas
apenas uma seleção levantará a taça de campeã.
Melhor
seria se este vencedor, e todos os que participam deste campeonato se
lembrassem de todas as crianças que sonham com uma oportunidade na vida e no
esporte. Melhor ainda seria se as mãos deles fossem tão longas que pudessem
chegar à mão dessas crianças e as puxar para cima, para o sucesso, e que o
coração desses atletas fosse tão grande que pudesse iluminar essas crianças e
transformá-las.
A
apoteose seria se todos os deuses que desfilam pelos estádios russos, se
lembrassem de que as glorias humanas passarão, e que os aplausos cessarão algum
dia. E, no dia em que isso acontecer, eles se descobrirão tão humanos quanto
qualquer outro humano e, como tais, apenas uma gota ínfima no mar da vida, do
qual o Deus maior, o Deus verdadeiro, é o regente.
Façamos
votos de que todos, atletas ou não, compreendam que o deus da ilusão, pode até
ter nervos de aço, e o brilho da glória e do poder, mas eles terão sempre os
pés de barro, e que apenas se abandonando nos braços do Deus infinito, o homem
cumpre sua verdadeira essência, e encontra a verdadeira missão.
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