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Idas e voltas do STF
Posted by Cottidianos
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00:13
Terça-feira,
03 de abril
“Eu só peço a Deus
Que a mentira não me seja indiferente
Se um só traidor tem mais poder que um
povo
Que este povo não esqueça facilmente”
(Solo le pido a Dios – Mercedes Sosa)
Seria
uma redundância dizer que esta semana é uma semana importante nos campos
político e jurídico em nosso país, afinal, de uns tempos para cá, todas as
semanas parecem ter fatos novos ligados a essas áreas, e que geralmente
arrastam esses temas para as páginas policiais, desembocando sempre no mar de
lama da corrupção.
Mas
esta semana, sim, temos decisões importantes a serem tomadas, uma delas é a
questão do julgamento do habeas corpus impetrado pela defesa de Lula no STF a
fim de que seja evitada sua prisão após terem sido esgotados todos os recursos
nos órgãos superiores.
Antes,
porém vamos a algumas considerações que, às vezes, em meio a tantas fatiadas
discussões parecem nos escapar a uma fria análise.
Talvez
tenha havido um tempo em que os homens públicos se lançavam candidatos a um
cargo simplesmente por acreditarem haver um modo de governar que ajudasse a
impulsionar o país em direção a uma plenitude na economia, na educação, na
cultura, e em outros campos fundamentais para que se pudesse fazer cumprir a
risca as promessas contidas na Constituição Federal de vida digna para todos os
brasileiros e brasileiras.
Hoje,
não. São muito suspeitas, por exemplo, a ânsia, o desejo, e a vontade do
ex-presidente Lula, e do atual presidente Michel Temer, de se lançarem
candidatos à presidência da República.
O
charme da cadeira presidencial para estas duas figuras públicas está longe dos
ideais de construção de uma nação soberana.
No
caso de Lula, pesa já sobre ele uma condenação por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro, e isso, conforme estipula a Lei da Ficha Limpa, o torna inelegível, a
ser não ser que, em algumas das reviravoltas da política, a justiça eleitoral,
declare que ele pode sim, concorrer às eleições presidenciais, mas isso é pouco
provável.
Aliás,
ele tem andado em caravana pelo país, com alguns sobressaltos, é verdade, no
que se configura uma tentativa de campanha eleitoral, ou pelo menos, um ensaio
disto.
Quanto
ao presidente Temer, este foi denunciado duas vezes pelo ex-procurador geral da
República, Rodrigo Janot. A primeira por corrupção passiva, e a segunda pelos
crimes de organização criminosa e obstrução da justiça. O presidente gastou boa
parte de seu governo tentando se livrar dessas denuncias, e, depois de derramar
rios de dinheiro aos seus comparsas, digo, aliados políticos, conseguiu se
livras das duas denuncias apresentadas por Janot.
Não
passou muito tempo até que se ele se visse envolto novamente no olho do
furacão, dessa vez pela suspeita de ter emitido decreto que beneficiava
empresas do setor portuário.
Na
semana passada, o governo levou mais um susto. A Operação Skala levou para a
cadeia amigos bem próximos do presidente Temer, dentre eles, o coronel João
Batista Lima Filho, o coronel Lima, dono do escritório de arquitetura Argeplan,
o advogado José Yunes, que também é ex-assessor do presidente Temer, e o dono
da Rodrimar, Antonio Greco, além de outros aliados. Após as buscas e apreensões
realizadas pela PF, e de serem ouvidos em depoimento, à exceção do coronel
Lima, que há meses se recusa a falar alegando problemas de saúde, eles foram
soltos a pedido de Raquel Dodge, procuradora-geral da República, que, aliás,
foi também quem entrou com pedido de prisão contra o grupo. A procuradora
alegou que o objetivo das prisões já tinha sido cumprido. A investigação
continua.
Se,
ao final, a PF e PGR decidirem que há elementos suficientes, então poderão
apresentar uma terceira denuncia contra Michel Temer. Pode-se dizer que o
governo de Temer é um governo de desassossego, que mais se defende de
acusações, do que governa.
Dito
isto de Lula e Temer, a cadeira presidencial está mais para refúgio contra a
prisão, do que do ideal de levar a nação ao patamar de equilíbrio de que ela
tanto precisa.
Lembrem-se
de que, ao assumir o governo, logo após o impeachment de Dilma Rousseff, Temer
afirmou, categoricamente, que não seria candidato a presidente ao fim do
mandato, mas os ventos mudaram... E que ventos fortes provocaram essa mudança...
Por
falar nisso, o presidente começou a semana com mudanças no ministério. Deu posse
aos novos ministros da Saúde, Gilberto Occhi, e dos Transportes, Valter
Casimiro, e outras mudanças virão.
Nisso
também as coisas mudaram. Se Temer pensou nessa reforma ministerial para ter os
seus novos ministros na condição de cabos eleitorais, agora, na iminência de
uma terceira denuncia contra ele, ele precisa mais é de fieis escudeiros que
afastem para longe o fantasma que ele tanto teme: que seja aberto investigação
contra ele, Michel Temer.
Quanto
aos anseios de Lula de chegar, novamente, a presidência, certamente, afastariam
para longe as pesadas correntes das condenações e acusações que pesam contra
ele.
O
que foi dito de Lula e Temer também vale para dezenas de deputados federais e
senadores que veem a reeleição como tabua salvadora. Todos eles envolvidos também
em acusações de corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Na
quarta-feira, 04, o STF o julga o habeas corpus preventivo através do qual o
ex-presidente quer evitar a prisão após condenação em segunda instância, até
que sejam esgotados todos os recursos no caso do tríplex do Guarujá.
A
questão é tão delicada que a presidente do STF, a ministra Cármem Lucia, fez
pronunciamento à nação, na noite desta segunda-feira (02), pedindo “serenidade para que as diferenças ideológicas
não sejam fonte de desordem social. Serenidade para romper com o quadro de
violência. Violência não é justiça. Violência é vingança, incivilidade. Serenidade
há de se pedir para que as pessoas possam expor as suas ideias e posições, de
forma legítima e pacífica”.
Havemos
que concordar com a ministra, mas convenhamos: paciência tem limite. E o povo
brasileiro já apanhou tanto na cara... E quem apanha muito e fica calado, uma
dia não aguenta e reclama, revida. Certamente não queremos violência, não
queremos praticar violência, mas também não queremos mais que as violências que
se derivam dos atos de corrução, sujem de sangue o chão de nossa pátria.
Essa
questão “Lula” que se decidirá no próximo dia 04, no STF, na verdade, é bem
mais abrangente. Julga-se um habeas corpus, mas na verdade, ele é apenas um
pano de fundo para uma questão muito mais ampla que é a questão da prisão após
condenação em segunda instancia, e isso afeta não apenas Lula, mas também
outros políticos corruptos que estão na mira da justiça, bem como todos os
outros presos que estão na mesma circunstancia. Desde 2016 o SFT tem pautado
seus julgamentos com base na prisão após decisão de colegiado de segunda
instância. Por que quer mudar agora?
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