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Robin Hood às avessas
Posted by Cottidianos
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00:49
Segunda, 09 de abril
“Um país onde as leis são descartáveis
Por
ausência de códigos corretos
Com
quarenta milhões de analfabetos
E
maior multidão de miseráveis
Um
país onde os homens confiáveis
Não
têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas
corruptos têm voz e vez e bis
E
o respaldo de estímulo incomum
Pode
ser o país de qualquer um
Mas
não é com certeza o meu país”
(O Meu País - Compositores: Livardo Alves –
Orlando Tejo -
Gilvan Chaves
Interpretação; Zé Ramalho)
A
prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, está tendo grande
repercussão internacional, os principais jornais internacionais estampam em
suas manchetes a enrascada em que se meteu o ex-presidente. Uma das melhores definições para o que é o
Brasil atual, e em relação ao que nele acontece, foi dada pelo jornal El País
espanhol.
Na
quinta-feira, por ocasião da decretação da prisão de Lula, o referido jornal,
em uma de suas reportagens, chamava o país, de o reino do imprevisível. Dizia o
citado veículo de comunicação: “O Brasil é o “reino do imprevisível, dos
meandros burocráticos, das mais surpreendentes mudanças de última hora”.
E
reino do imprevisível tem sido o Brasil, principalmente, quando no referimos ao
campo político. A cada dia uma surpresa, a cada semana um fato novo. Na maioria
das vezes, nem bem terminamos de digerir um fato, e logo outro nos é empurrado
garganta abaixo.
Foi
exatamente o que ocorreu na semana passada. Quando os comentaristas políticos e
as conversas de esquinas, bares e botequins, nem haviam terminado de fazer suas
análises a respeito do julgamento do habeas corpus que impediria a prisão do
ex-presidente Lula até que se tivessem esgotados todos os recursos em
instâncias superiores, vem o Sérgio Moro e decreta a prisão do líder político.
Não
que o juiz tenha querido aparecer, ou pegar carona na cena político-jurídica
que se armou em torno do fato, de forma alguma, ele apenas deu continuidade ao
seu trabalho de julgador no curso do processo, qual seja, sentença dada, prisão
decretada, coisa que não havia sido feita ainda devido aos recursos
apresentados pelo defesa de Lula após a sentença.
Foi
após essa sentença de Moro que a defesa do ex-presidente, recorreu ao TRF-4 e,
em julgamento, três juízes daquela instância jurídica, decidiram aumentar a
pena dada por Sérgio Moro, de nove anos e meio de prisão para doze anos e um
mês.
Na
quinta-feira (5), após a decretação da prisão, o juiz permitiu ao condenado que
se apresentasse na sede da Polícia Federal, até as 17 do dia seguinte, na Superintendência
da Polícia Federal no Paraná, em Curitiba. Sem precisar ser algemado, nem todo
esse ritual recomendado no caso dos presos comuns.
Foi
aí que Lula resolveu transformar o momento em um desnecessário espetáculo. Após
a ordem de prisão do juiz, o ex-presidente resolveu se reunir com a cúpula do
PT no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, São Paulo. Lá fora
ficou a militância petista, e a expectativa pela apresentação do ex-presidente
no órgão da Polícia Federal.
Pelo
sindicato dos metalúrgicos passaram diversos integrantes do meio político, além
de gente do PT, e partidos aliados de Lula. O discurso montado pelo
ex-presidente, e pelos seus correligionários foi o mesmo adotado desde os
tempos do mensalão: perseguição política a um homem justo. Ao menos poderiam
ter se renovado nesta parte, mas preferiram seguir o script já, por tantas
vezes, adotado.
Passou
noite, passou madrugada, e veio a manhã de sexta-feira, e nada do presente
deixar o local para apresentar-se a PF. Mesmo não tendo se apresentado em dia e
horário determinado por Sérgio Moro, Lula não foi considerado foragido.
Fora
das dependências do sindicato dos metalúrgicos, um país dividido. Os seguidores
do fundador do PT, o defendiam arduamente, e se insurgiam contra a prisão de
seu líder. De outro, a maior parte dos brasileiros esperava que o ex-presidente
fosse até a superintendência da PF e se entregasse, acabando de vez com aquele
suspense. Enquanto o primeiro grupo ardia em ódio e revolta, o segundo,
esperava, pacientemente, o desfecho do caso.
Os
militantes do PT foram, em diversos momentos, agressivos e violentos. Na porta
do Instituto Lula, um empresário manifestante contra o Lula foi agredido em
frente ao Instituto que leva o nome do ex-presidente. Ele provocou o líder do
PT no senado, Lindbergh Farias (RJ), enquanto este dava uma entrevista. Um
apoiador de Lula deu um chute no homem e o jogou para a rua no momento em que passava
um caminhão. O manifestante bateu com a cabeça na carroceria do caminhão e caiu
desacordado. Foi levado ao hospital com ferimentos graves na cabeça.
Em
Belo Horizonte, manifestantes pro Lula jogaram tinta vermelha nas paredes de um
prédio no qual a ministra presidente do Supremo Cármem Lúcia tem um
apartamento, sujando toda a fachada do edifício. Em outras regiões do país eles
também fizeram barricadas em estradas e rodovias, ateando fogo em pneus e
impedido a passagem dos carros. Também foram registrados ataques a jornalistas
de diversos veículos de comunicação. O clima ficou bastante tenso com essa onda
de violência promovida pelos simpatizantes de Lula.
O
tempo corria e nada do ex-presidente se apresentar aos órgãos competentes. Até
que, finalmente, na tarde deste sábado (07), o ex-presidente resolveu se
cumprir a ordem que determinava sua apresentação na PF.
Era
tarde de sábado, e Lula havia, finalmente, decidido, se entregar a PF, antes,
porém, fez um discurso indigno de um ex-presidente da República, no qual
disparou sua ira contra a imprensa e contra o judiciário. Um discurso perigoso
e altamente ideológico — reproduzido em seus trechos essenciais na postagem
anterior — no qual incita à militância à
violência, e agride o judiciário e a imprensa. As frases em itálico e em parágrafo
recuado são textuais de Lula.
O Globo mentiu quando disse que era meu.
A Polícia Federal da Lava Jato, quando fez o inquérito, mentiu que era meu. O
Ministério Público, quando fez a acusação, mentiu dizendo que era meu. E eu
pensei que o Moro ia resolver, e ele mentiu dizendo que era meu. E me condenou
a nove anos de cadeia.
O
jornal O Globo foi o primeiro a mostrar a ligação de Lula com a empreiteira
OAS, envolvendo o apartamento no Edifício Solares, no Guarujá. Como todos
sabem, um jornal de credibilidade e de grande circulação não faria uma denuncia
dessas sem apresentar provas concretas da ligação de Lula com a empreiteira. À
época em que o Globo apresentou a reportagem Lula não era investigado.
Foi
feita uma criteriosa investigação por parte do Ministério Público que fez parte de um processo embasado em provas
documentais, testemunhais, e periciais que serviram para que o juiz Sérgio Moro
proferisse a sentença que condenou Lula no caso do imóvel referido.
Dentre
essas provas documentais estão documentos apreendidos na casa de Lula e no
Triplex; documentos apreendidos na OAS; mensagens de celular de Leo Pinheiro,
ex-presidente da OAS, se referindo ao projeto do "chefe" e para
marcar com a "madame, dentre outras".
Eu acredito na Justiça, numa Justiça
justa, numa Justiça que vota um processo baseado nos autos do processo, baseado
nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta que tem a arma do
crime.
Ora, se o
processo no qual o presidente foi condenado, foi devidamente instruído, e
conduzido, em que justiça ele acredita então?
Eu tenho mais de 70 horas de Jornal
Nacional me triturando. Eu tenho mais de 70 capas de revistas me atacando. Eu
tenho mais de milhares de páginas de jornais e matérias me atacando. Eu tenho
mais a Record me atacando. Eu tenho mais a Bandeirantes me atacando. Eu tenho
mais a rádio do interior, a rádio do [inaudível]. E o que eles não se dão conta
é que quanto mais eles me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro.
Aqui
o ex-presidente se apresenta como vítima de um complô. Já havia citado o
judiciário como tendo mentido e manipulado os fatos para que o incriminassem
sem provas. Agora cita a imprensa de um modo geral. Isso serve de base para que
ele diga, como já disse tantas vezes, que é o seu julgamento é político. Ora,
Lula não está sendo julgado pelos discursos que proferiu, nem pelos conchavos
que fez durante seu governo, mas sim, pelas atitudes que o colocaram no caminho
da condenação por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, ou seja, matérias do
direito penal e não do direito político.
Eu sonhei que era possível a gente
diminuir a mortalidade infantil levando leite, feijão e arroz para que as
crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era possível pegar os
estudantes da periferia e colocar nas melhores universidades desse país. Para
que a gente não tenha juiz e procurador só da elite.
Sem
dúvida, o governo Lula desenvolveu programas sociais que ajudaram muita gente.
Isso é indiscutível. Mas isso só foi possível porque durante seu governo o
mundo atravessava uma fase tranquila no campo econômico, não só o Brasil se
beneficiou disso, mas também diversos outros países o fizeram. Mas se os pobres
ascenderam no governo Lula, foram derrubados pelas desastrosas políticas
econômicas do governo Dilma Rousseff.
E eu
quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem
que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela.
Mais uma acusação grave contra a imprensa e
contra o Ministério Público. Marisa Letícia morreu, em São Paulo, aos 66 anos,
no dia 03 de fevereiro de 2017, vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Para uma militância inflamada isso soa como gasolina sobre palhas sobre a qual
se risca um fosforo.
É por
conta desse crime que já tem uns dez processos contra mim. E se for por esses
crimes, de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre comer
carne, pobre comprar carro, pobre viajar de avião, pobre fazer sua pequena
agricultura, ser microempreendedor, ter sua casa própria, se esse é o crime que
eu cometi, eu quero dizer eu vou continuar sendo criminoso nesse país porque
vou fazer muito mais.
Da forma como o presidente coloca a questão
parece que os ricos ficaram irritados com essa ascensão dos pobres durante o
governo petista. Isso, porém, não passa de uma forte dose de demagogia, pois o
que querem os empresários e comerciários? Que seus produtos vendam. E para isso
não importa que sejam pobres ou ricos a comprar, pois para eles o que lhes
interessa é o lucro, e, portanto, quanto mais gente comprando, mais lucro lhes
cai nos cofres.
Também é verdade que no governo Lula as
universidades, e os donos de universidades ganharam bastante dinheiro com as
políticas de financiamento que propiciaram que mais estudantes tivessem acesso
aos estabelecimentos de ensino.
É mais do que verdade que, quem mais lucrou
durante o governo do petista foram os ricos e poderosos. Quem era a apadrinhada
mais forte e a que mais recebeu benefícios e incentivos durante o governo do ex-presidente?
A Odebrecht. Uma das empresas mais poderosas do ramo empreiteiro que permitiu
que Lula obtivesse uma série de benefícios durante e após deixar o governo. A prática do clientelismo reinou solta durante
o governo do PT. Aquele clientelismo amigo, cujo objetivo era a associação do
governo com empresas privadas a fim de obter vantagens para ambas as partes
envolvidas. É bem verdade que essa troca de privilégios e favores não ocorreu apenas
no governo do PT, mas ocorreu antes e continua ocorrendo depois, e Lula, como
se anuncia um guardião da moralidade e defensor dos pobres teria a obrigação,
não apenas o dever, de fazer cessar tudo isso, mas agiu justamente o contrário,
tornando-se um Robin Hood às avessas, tirando dos pobres e distribuindo aos
ricos.
Certamente, também não foram os pobres a
dilapidar o patrimônio da Petrobras, mas sim, os integrantes da cúpula do PT, e
de partidos aliados, e esses, de pobres não tem nada. Por tudo isso, não dá
para se afirmar que o governo Lula foi exatamente um governo para os pobres. A
militância engole essa ideologia que lhes é apresentada com facilidade, pois a
militância é cega, não pensa, mas que, se pararem para pra pensar, verão que
esse prato é bem indigesto.
Quando se pensa em quão prejudicada foi a
Petrobrás em toda essa história, em quanto se financiou, durante o governo do
ex-presidente, com dinheiro do BNDES, em obras milionárias no exterior, aí é o
caso de se perguntar: onde está o governo para os pobres?
Vamos
fazer definitivamente uma regulação dos meios de comunicação para que o povo
não seja vítima das mentiras todo santo dia. Eles têm que saber, que vocês,
quem sabe, são até mais inteligentes do que eu, e poderão queimar os pneus que
tanto queima, fazer as passeatas que tanto vocês [inaudível], fazer as
ocupações no campo e na cidade.
Aqui, Lula promove duas sugestões graves. A
primeira é a de que haja uma regulação aos meios de comunicação, em outras
palavras, censura a esses meios, que, segundo se depreende do seu pensamento,
despejam mentiras todos os dias sobre a população, sendo necessário, portanto
que sejam trazidos sobre rédeas curtas. Outro ponto grave nessa fala do
presidente é a incitação à violência. Lula conclama, claramente, aos seus
seguidores a continuarem quebrando pneus e promovendo quebra-quebra. E já que o mesmo falou tão mal da imprensa,
então segue-se, ainda segundo esse raciocínio de incitação à violência, que se
continue agredindo jornalista no pleno exercício de sua função, e quando não
disserem aquilo que o ex-presidente espera ouvir, bem como ao judiciário, quando
não fizer aquilo que esperava que ele fizesse.
Na postagem anterior o leitor encontrará a
reprodução dos principais trechos do discurso de Lula, em São Bernardo, berço
do PT, e da carreira política do ex-presidente.
É importante ressaltar que esse ataques a
imprensa não tem sido feitos apenas pelo ex-presidente Lula, e seus sectários,
mas também por outros partidos e por figuras notáveis a eles pertencentes. O
atual presidente Michel Temer parece ter lido na cartilha de Lula, e tem feito
ataques à imprensa e se afirmando perseguido por ela, apenas porque resolveu se
candidatar a presidência da republica para dar continuidade ao seu desastroso
mandato.
É bem verdade também que o mesmo discurso
adotado pela defesa de Lula, é o mesmo discurso adotado pela defesa de Temer,
bem como de todos os políticos envolvidos, ou denunciados em esquemas de
corrupção. Até mesmo o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, em julgamento que
negou o habeas corpus a Lula, disparou sua metralhadora cheia de magoas contra
a imprensa.
Sem querer usar de ideologias, mas já usando,
em nosso país, no cenário político, trava-se uma luta entre o bem e o mal, e os
políticos, ao que parece, não estou do lado bem, não. Se a Operação Lava Jato
fosse um ente vivente já teriam dado um jeito de fazer o avião dele cair no
mar, principalmente, em tempo ruim, para não deixar suspeita, e tudo parecer
que foi acidente.
Enfim, talvez chegue o dia em que o
ex-presidente Lula compreenda que não é o salvador da pátria, nem que é
onipotente, e que se fez o errado, tem que pagar por ele. Mas pedir que ele
tenha essa consciência talvez seja pedir demais.
Para finalizar, duas notas:
A primeira é que Lula diz em seu discurso:
E façam
o que quiserem, eu vou terminar com uma frase que eu peguei em 1982, com uma
menina de dez anos em Catanduva, que eu não sei quem é. E essa frase não tem
autor. A frase dizia: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas
jamais conseguirão deter a chegada da primavera”.
Essa frase Lula não ouviu de nenhuma menina
de dez anos. Ele deve saber muito bem de quem é essa frase. Essa frase é de
autoria de Che Guevara. Talvez ele não tenha querido revelar o autor para não
causar ainda mais polêmica.
A segunda nota é de que a alusão a Robin Hood
às avessas não se refere apenas ao ex-presidente, mas a todos os políticos
corruptos de nosso país.
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